PALAVRAS

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MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Há três coisas que não voltam atrás; a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida” (Provérbio chinês)

Tenho definido muitas palavras que intitulam meus artigos, mas nunca dicionarizei, nem estabeleci a etimologia do verbete “Palavra”… Emprego-a agora inspirado numa antiga locução que anda sem uso nos dias de hoje: “Dou a minha palavra”.

Em português, “Palavra” deriva do latim parábola, que por sua vez deriva do grego parabolé. É um substantivo feminino, uma unidade da língua escrita com o significado de nota ou comentário que foi registrado, anotado; anotação, apontamento, registro.

Aldous Huxley escreveu que “apenas pelas palavras o ser humano alcança a compreensão mútua. ” Por isso, aquele que quebra sua palavra atraiçoa toda a sociedade humana.

Assim vou abranger a sinonímia de palavra no sentido de acordo, ajuste, combinação, compromisso, pacto e promessa; enfim, vê-la como obrigação. Preocupa-me a falta de palavra nos poderes da República: falta-lhes respeitar os juramentos e voltar atrás do que estabelecem.

Entristece-me em ver que após a legislação que deu fim à famigerada contribuição sindical, o governo Temer insista em doar às centrais sindicais dominadas por pelegos, R$ 500 milhões do dinheiro público.

Aflige-me ver a bandalheira reinante no Congresso Nacional, com os parlamentares tratando apenas de interesses próprios e partidários e não dos anseios nacionais.

Indignava-me – o verbo agora vai no passado –   como vinha sendo feita a Justiça em nosso País, principalmente nos tribunais superiores, com julgamentos seletivos e privilégios a personalidades condenadas.

Minha indignação morreu nas prainhas do Rio Guaíba com o forte eco da sentença proferida pelos três desembargadores do TRF.4, confirmando à unanimidade a condenação de Lula da Silva pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

A sessão jurídica calou o grito rouco do lulopetismo pedindo provas. O desembargador João Pedro Gebran Neto, relator do processo, foi de uma transparência cristalina: Há provas, sim, “testemunhais e documentais” de que o ex-presidente é dono do imóvel, e que a OAS é apenas “laranja” dele.

Os votos dos desembargadores Leandro Paulsen e Victor Laus que se sucederam ao Relator, destacaram também a culpabilidade de Lula como agravante para o aumento da pena, pelos crimes terem sido praticados por um ex-presidente da República.

É por isso, que lembro o grito do libertário Bertold Brecht realçando o esquete de François-Guillaume “O Moleiro de Sans-Souci”: “AINDA HÁ JUÍZES EM BERLIM! ”. Substituo-o por “AINDA HÁ JUÍZES NO BRASIL!”.

As palavras gravadas em ferro e fogo nos votos dos desembargadores, sustentando a decisão do juiz Sérgio Moro no processo movido pelo MPF, lembram a história de Frederico II, rei da Prússia, visitando a construção do seu palácio, quando não gostou de um casebre na paisagem e mandou que pagassem ao dono para demoli-lo.

O proprietário, um moleiro, não aceitou a proposta e desafiou o rei a expulsá-lo, com as palavras: “Há Juízes em Berlim”, indo ao encontro da lição de Rui Barbosa “A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade”.

Dessa maneira, já não me angustia esta primeira etapa do processo. O Brasil não acabou e fica esclarecido que o lulopetismo perdeu a força; manifestações convocadas fracassaram e a antiga militância perdeu a fé…

Para Lula e aos que ainda o acompanham com o espernear de uma defesa fraudulenta, repito com Mark Twain: “Nestas circunstâncias, um palavrão provoca um alívio inatingível até pela oração”…

 

4 respostas para PALAVRAS

  1. Lucia Bezerra de Paiva disse:

    O mais perfeito e “tranquilo” texto que li depois da Feliz Sentença: Palavra de Honra!

  2. Tenho certeza que apesar dos pesares da nossa justiça o primeiro passo foi dado no dia 240118, mas não podemos achar que é o suficiente, salvo engano Lula, foi condenado apenas por 02 crimes e ainda restam 69 agora, só cabe os embargos de declaração, ou seja, não muda mais nada referente ao mérito!
    Mas, como no Brasil, em se tratando de justiça, muita coisa pode acontecer…

  3. Irene Mattos Felix disse:

    My lord,
    Fiquei emocionada ouvindo a sentença , Bicudo comentou que se sentiu de alma lavada Quem neste país que queria ver isto não se sentiu ?
    Comento que há muitos Moros l e isto salva o Brasil Os três desembargadores foram elogiados por promotores e outras pessoas da área jurídica , falaram que uma nova geração de juízes está tomando conta do Brasil Pena que o STF e o STJ façam vistas grossas a eles , deveriam seguir o exemplo
    Li muito sobre pessoas parabenizando os três desembargadores, não achei que a PALAVRA certa fosse esta Na minha mísera opinião é GRATIDÃO

  4. Vivian Fauvel disse:

    Belo texto. Estamos unidos pelo mesmo sentimento