Arquivo do mês: novembro 2024
DO FASCISMO
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
É fascista o grupo político que adota o slogan “Deus, Pátria, Família” da Ação Integralista Brasileira, partido criado por Plínio Salgado como uma cópia tupiniquim do Partido Nacional Fascista (Partito Nazionale Fascista), de Benito Mussolini. É também verdade que no Brasil as esquerdas lulopetistas se fascistizaram namorando com o totalitarismo.
Pela adoção de camisas pretas o mussolinismo, e depois seus imitadores nazistas ficaram conhecidos como “fascistas negros” e, pela adoção das tradicionais bandeiras vermelhas da esquerda, o lulopetismo pode ser batizado de “fascismo vermelho”.
O que vem a ser “Fascismo”? Pela História, é a representação de uma ditadura totalitária, de grupos políticos, econômicos e financeiros. Nasceu na Itália (1922) e teve a sua maior expressão na Alemanha com o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei, NSDAP). Daí teve seguidores em vários países, notadamente na Bulgária, Espanha, Hungria, Polônia, Portugal e Romênia.
Na Itália, atuou como imperialista levado pelo ímpeto personalista de Mussolini, querendo reviver o Império romano; e na Alemanha, pelo racismo e o conceito da “raça superior”, na Bulgária, Espanha e Finlândia com caráter militar; na Hungria e em Portugal, com base na mística do catolicismo ultramontano.
Aonde se estabeleceu no poder, o fascismo usou a máscara de “nacional socialismo” para disputar com a influência comunista, socialista e social-democrata entre os trabalhadores; e estes opositores ideológicos foram presos, torturados e assassinados.
Sob o manto nacional-socialista houve uma disposição comum, nacionalismo extremado, racismo e anticomunismo. Criou-se uma cultura própria que influenciou os círculos científicos, culturais e estudantis.
Seria exaustivo enumerar os malefícios trazidos pelo nazismo, estendendo-se do antissemitismo ao ódio letal aos ciganos, chegando ao horror dos campos de concentração, das câmaras de gás e a escravização de prisioneiros russos e de outros povos eslavos.
Hitler e Mussolini, divinizados e cultuados pelos seus seguidores discursavam para as massas verbalizando um “revolucionarismo verbal”, mas, na verdade, praticavam internamente, a corrupção e uma vida íntima próxima à oligofrenia mantida por drogas.
Encontramos nos discursos dos mandatários fascista e nazista, Mussolini e Hitler, coisas curiosíssimas. Em discurso o Duce vociferou: – “Muitos italianos ainda conservam o pensamento podre de uma Democracia; nego a estes senhores o direito de falar em liberdade”. Quanto ao Führer, temos no seu livro Minha Luta (Mein Kampf) a loucura:
“As causas exclusivas da decadência de antigas civilizações são a mistura de sangue e o rebaixamento do nível da raça” e chega a uma conclusão criminosa por quem tem cabeça de pensar: – “Só depois da escravização de raças inferiores será para eles ter a mesma sorte dos animais domesticados”.
A predisposição autoritária dos líderes do “Fascismo Negro” veio acompanhada de promessas de uma “ruptura radical com o passado”, e copiou a “Ditadura do Proletariado” da URSS stalinista.
Esta legenda de fachada foi, na verdade, uma ditadura unipessoal com juntou, assemelhou e misturou Hitler, Mussolini e Stálin. As atrocidades dos dois primeiros estão descritas acima e, do “Pai dos Povos”, é mostrada no livro “A Revolução Traída”, de Trotsky, publicado m 1937, e posteriormente, em 21 de junho de l955, no “Relatório Kruschev”, a personificação do Fascismo Vermelho…
Há cópias histriônicas e façanhudas dos dois tipos de fascismo pelo mundo afora, sempre danosas pelas práticas de mentiras e ameaças. A experiência histórica registra no Brasil a triste caricatura populista dos dois fascismos polarizando eleitoralmente com Bolsonaro e Lula. Só eleitoral, pois são iguais no avesso das cores….
DO SOCIALISMO
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
A minha visão do Socialismo é científica; vou ao laboratório e levo o prisma político e ideológico à mesa, com a luz da liberdade explodindo em cores…. Aí lembro 1864 e a fundação da AIT – Associação Internacional dos Trabalhadores, também conhecida como Internacional Socialista ou Primeira Internacional.
Abrindo as janelas, após uma tarde chuvosa, vejo uma cortina de poeira líquida também refletindo o arco-íris multicolorido do socialismo original pela convergência dos fundadores da AIT, representando diversas correntes ideológicas da Esquerda: anarquistas, blanquistas, comunistas, cooperativistas, democratas radicais, lassalianos, owenistas, sindicalistas revolucionários, socialistas agrários e reformistas.
Nada mais atraente para os jovens. Seis anos depois, em 1870, a organização possuía mais de 200 mil membros na Europa, verificando-se entre 1871 e 1872, 50 mil na Inglaterra, 35 mil na França e na Bélgica, 6 mil na Suíça, 30 mil na Espanha, 25 mil na Itália e 17 mil na Alemanha; atravessando o Atlântico, 4 mil nos Estados Unidos.
No interior da organização, com a crescente influência de Bakunin, ficaram explícitas as divergências entre seus partidários e os de Karl Marx. O anarquista foi veemente na defesa do individualismo contra o coletivismo proposto por Marx. O confronto atingiu o seu auge em 1872, após a realização do congresso de Haia, ocasionando a ruptura entre as duas correntes; os anarquistas continuaram na AIT e os marxistas, liderados pelo alter ego de Marx, Friedrich Engels, criaram a Segunda Internacional.
No correr dos anos, tanto a “Primeira” e a “Segunda” decaíram pela brutal reação dos governos e, internamente, pelas crises ideológicas e cisões organizativas. A decadência das duas entidades acabou o que havia de mais importante na época, a convivência para o debate entre as inúmeras tendências de esquerda.
E pior. Mais tarde, assistiu-se o fim do prisma ideológico sob as botas stalinistas contra a livre expressão do pensamento, fundou-se a Terceira Internacional. A partir de então imperou o chamado “centralismo democrático”, a voz de comando do PCUS para seus membros cativos, os partidos comunistas estipendiados por Stálin.
Aí, as correntes de opinião discordantes passaram a ser criticadas, os críticos foram chamados de “colaboradores do capitalismo” e execrados politicamente como “reformistas”. O mais destacado opositor do “pensamento único” foi Eduard Bernstein (1859/1932), um dos principais teóricos alemães. Revisionista do marxismo, foi o idealizador da social-democracia, e merece ter a suas teorias estudadas….
Os aprendizes das lições bernsteinianas adotaram a convergência do socialismo para o Centro Democrático, apoiando-se nos princípios pela paz entre os povos, a defesa do meio ambiente e por uma economia proporcionadora do bem-estar; com isto, traços tecnocoloridos e vigorosos pintaram o quadro da social-democracia no Norte Europeu.
Em contraposição, tristemente, ressuscitaram da putrefata ideologia stalinista, múmias vagueando mundo afora fazendo a cabeça dos Meninos Perdidos que não conseguiram sair da Terra do Nunca; metáfora para os que passaram dos 35 anos com o stalinismo na cabeça, em vez de assumir a vida adulta, pensante e realizadora.
O comportamento infantil dos herdeiros da “ditadura do proletariado” fechou-os numa bolha que descambou para a chula teoria “Woke”, nascida nos guetos afro-americanos de Nova Iorque significando “acordar, despertar”, usado contra o racismo sofrido dos encapuçados da progênie Ku-Klux-Klan….
A adoção de significados mais amplos do Woke pela boemia intelectual dos EUA, inspirou palavras-de-ordem de protesto contra “todas as injustiças”; e terminou se enredando nas causas das minorias, principalmente dos imigrantes ilegais, desempregados pontuais, LGBT+, descontentes em geral e peripatéticas sombras da contracultura. Deixaram para os pastores evangélicos a luta contra o racismo….
Assim, luta de classes e os princípios de liberdade, igualdade e fraternidade do ideal socialista mergulharam sob o tsunami wokeísta e a esquerda de fancaria dividiu-se como “direita” e “esquerda” por discordâncias eleitorais, mas semelhantes pela intolerância acreditando serem intelectualmente superiores aos demais.
Infelizmente é este restolho politiqueiro do populismo ianque que desembarcou no Brasil trazendo na bagagem toda sorte dos malefícios em que a esquerda se envolveu e, por cretinice da militância lulopetista, acrescentou-lhes a linguagem neutra e o politicamente correto….
Desta maneira, temos triste fim dos policarpos quaresmas socialistas, convivendo e contribuindo com a grotesca polarização dos populistas corruptos Bolsonaro e Lula; e os Meninos Perdidos das tornozeleiras eletrônicas do baixo QI, fanáticos seguidores da dupla, alimentam com a ração Woke a fraudulenta disputa dos dois.
Cecília Meireles
Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
mais nada.
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DAS LIÇÕES
MIRANDA SÁ (mirandasa@uol.com.br)
Como não podia deixar de ser, foi nos Estados Unidos, que nesses inícios do século 21 os ideais sociais democráticos de justiça trabalhista, liberdades cidadãs e progresso econômico se desviaram pelos atalhos áridos, empedrados e espinhosos como mostravam as antigas estampas do caminho do céu….
Desta vez levou para o inferno com a submissão do pensamento social-democrático tornando-se servil de minorias políticas agressivas. Esta situação retratou, em 2024, o termo “Woke”.
Quem sabe tenha sido abertura dos armazéns do subconsciente de um país onde a escravidão negra foi mais explorada, castigada e com revoltante consequência na História Contemporânea pela formação de uma cultura racista marcada nas pegadas das sinistras cavalgadas da Ku-Klux-Klan.
O uso do termo “Woke”, passado do verbo Wake, surgiu de uma gíria usada pelas comunidades afro-americana com o significado literal de “acordar, despertar”. Depois queria dizer “estar alerta para a injustiça racial” e processualmente se ampliou para “todas as injustiças”….
Sofreu, em empo e espaço, mudanças multifacetadas, referindo-se às diferenças raciais e sociais mais agressivas naquela época. É fácil encontrar-se isto no filme “Faça a Coisa Certa”, de 1989 – uma tragicomédia escrita e dirigida por Spike Lee, que veio a ser um clássico que mostra as tensões num bairro negro de Nova Iorque. Profetizou o caso ocorrido com a morte de Rodney King, três anos depois, 1992.
Resumindo, foi uma revolta nascida pelos protestos de um ativista inconformado em ver a decoração de uma pizzaria apenas com artistas brancos, quando deveria exibir atores afrodescendentes, com o quê, o proprietário italiano “Sal” Fragione, não concordava; e, numa confusão nascida de protestos, chegam policiais e matam Buggin’ Out, um negro que arrancou algumas estampas na parede do estabelecimento.
Ainda no cinema, cinco anos depois, temos a espetacular película Forrest Gump – O Contador de Histórias, dirigido por Robert Zemeckis, com roteiro de Eric Roth, com Tom Hanks no papel-título, coadjuvado com Robin Wright e Gary Sinise, mostrando o lado da despreocupação popular quando se tem emprego e comida na mesa.
Exalta o pacifismo do povo norte-americano protestando contra a Guerra do Vietnã e a expulsão de Forrest, um herói, pelos panteras negras, por socar um agressor de sua namorada.
Causou espécie entre os “wokeístas” a imponente corrida de Gump de Oceano a Oceano, acompanhado ao meio por admiradores. Repórteres de tevê e rádio perguntam a ele se fazia um protesto e qual o motivo político e social para isto. A reposta foi curta e grossa: – “Corro porque tive vontade de correr…”.
Dividiu-se a opinião pública (e por incrível que pareça, acadêmica) sobre a adoção do Woke como sinônimo de políticas liberais relativas à justiça social e racial, sendo que o termo – já dicionarizado pelos dicionários Oxford – (“DESPERTO!”).
Então, caiu nas graças dos socialistas novaiorquinos (como seriam aqui, os do Leblon) levantando palavras-de-ordem pela igualdade racial e social, feminismo e o movimento LGBTQIA+.
O pior de tudo foi o ódio desta auto-assumida esquerda contra a indiferença pelas suas tentativas de impor uma agenda nacional exigindo normas culturais deles próprios. Quem não concorda com eles é fascista, preconceituoso, racista ou transfóbico…. Isto levou as pessoas simples, tratadas pelo identarismo como “minorias” e não como cidadãos ou trabalhadores, a votar nos republicanos. Alguém escreveu que “Trump faturou esse sentimento”.
No palco realístico da política brasileira, a cultura Woke foi uma sopa no mel no prato lulopetista. Não poderia deixar de ser; o partido não adota uma ideologia a não ser o oportunismo, pois nasceu da genialidade do general Golbery para evitar a expansão do PCB de Prestes e o PTB de Brizola.
É esta a lição: criou-se o PT com o pelego da Volkswagen Lula da Silva cultuado pelos obreiristas da esquerda católica, filha de um conúbio do Tomismo e a Rerum Novarum de Leão 13. Agora adota o wokeísmo que que o levou à acachapante derrota das últimas eleições, que nem ocorreu nos States…
DOS SONHOS
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
Reconhecido como um dos pilares da cultura mundial, o filósofo grego Aristóteles desenvolveu várias teses no campo do conhecimento da sua época; com ele, a Filosofia foi definida como “amor à sabedoria”, a Ciência das ciências.
Aristóteles considerou que o aprendizado da infância e juventude deveria se basear na imitação tendo como exemplo os adultos, somando-se à observação das coisas ao seu redor. Para ele, “nada está no intelecto sem antes ter passado pelos sentidos”.
Uma passagem curiosa do ensino aristotélico foi sua reprimenda aos escolásticos, dizendo que eles eram como aranhas, tecendo teias com fios que saíam das próprias cabeças sem consideração com a realidade.
Hoje, passados dois mil e quinhentos anos, os “especialistas em tudo” da informação televisiva fazem a mesma coisa, expandindo pela telinha da tevê conceitos extraídos dos interesses das empresas em que trabalham pouco ligando para a conjuntura.
São analistas da bolha em que vivem sem ter a mostram de ser independentes e adotar a razão de ser e de haver. Fogem do “sono da Razão que produz monstros”, que o pintor, gravador e filósofo Francisco Goya citou, referindo-se aos quadros que pintava retratando os horrores da guerra.
Do sono que produz monstros, apelamos para a interpretação dos sonhos de Freud, que os considerou produtos de perturbações que levam à realização onírica de desejos inconscientes.
Em confronto com esta visão freudiana, o crítico do politicamente correto, o filósofo esloveno Slavoj Zizek, concebeu críticas, dizendo que sonhar significa fantasiar para evitar o enfrentamento com o real, mesmo aceitando o princípio de que “o sonho é um exemplo privilegiado de um processo primário produzido pela diminuição das necessidades físicas e o desligamento do exterior”.
Esta dedução é uma das armas que a psicanálise freudiana ensina que para entender o inconsciente, para analisar os sentimentos, as emoções e mesmo os pensamentos íntimos de cada um; e nada melhor do que os sonhos para desvendar os seus significados.
Nossa modernidade encontrou no cinema diversas exposições sobre a perspectiva dos sonhos, como temos num dos filmes pioneiros do tema – “Spellbound” (Quando Fala o Coração) -, rodado sob a direção de Hitchcock em 1945. No seu roteiro, mostra a amnésia e o uso da psicanálise para estudar a guarda de um segredo. O famoso sonho no filme foi desenhado por Salvador Dalí, refletindo a influência do surrealismo.
O pastor da Igreja Batista no Alabama, imolado pela intolerância racista nos Estados Unidos, usou na sua retórica discursiva o sonho para defender a união e a coexistência harmoniosa entre negros e brancos no futuro do seu país.
Os brasileiros também sonham em ver a Pátria quebrar as algemas das desilusões, da demagogia, das mentiras e das promessas vãs que a politicagem reinante imprime. Nós sonhamos em ampliar o protesto efetivo dos mais de 30% do eleitorado que votou em branco, anulou o voto ou se absteve de votar.
Isto surpreendeu o TSE, que vive na escuridão das abstratas interpretações pessoais dos seus componentes, sem reconhecer o desejo de libertação dos brasileiros que assistem os direitos constitucionais cederem lugar à formação ideológica dos juízes togados; e assim, para eles assistirem, levamos ao palco do pensamento o clássico dos clássicos, Hamlet, de Shakespeare:
“Morrer — dormir; dormir, talvez sonhar — eis o problema: pois os sonhos que vierem nesse sono de morte, uma vez livres deste invólucro mortal, fazem cismar. Esse é o motivo que prolonga a desdita desta vida”.
O Dramaturgo insiste, com o seu Macbeth que o sonho é o principal alimento no banquete da vida; e, da minha parte – e muitos pensam como eu –, diante da infame formação jurídica e política que temos, achamos que o sonho é uma doce sobremesa na mesa frugal da Esperança.
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