Arquivo do mês: dezembro 2019

ATA DO FIM-DE-ANO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Quanto mais para trás você olhar, mais adiante irá enxergar” (Winston Churchill)

Antes do espocar das rolhas do espumante e acesas as velas da esperança por um ano melhor, é bom que revisemos os acontecimentos que vivemos no Ano do Senhor de 2019, porque, como disse Confúcio, “A experiência é uma lanterna dependurada nas costas que ilumina o caminho já percorrido. ”

No último artigo do ano passado gravei a costumeira lista dos “10 Mais”; hoje registro uma ata de fim-de-ano, que trago de memória ajudado por uma vista d’olhos em informações da imprensa escrita, televisada e, principalmente inseridas nas redes sociais….

Como todos sabemos uma Ata resume os anúncios, as declarações, esclarecimentos, fatos, julgamentos, manifestos e revelações. Registram-se nela os acontecimentos e as observações sobre os assuntos de interesse pessoal ou coletivos.

O verbete Ata, dicionarizado, é um substantivo feminino que significa um registro escrito e figuradamente qualquer texto que traz uma narrativa. Como termo usado na Botânica refere-se ao fruto da ateira, fruta de conde, pinha… e curiosamente às formigas cortadeiras do gênero Atta conhecidas no Brasil como saúvas.

A palavra se identifica no latim (acta) associada à (actum), que se refere a um ato propriamente dito. Entra no Direito Romano como o documento juntado ao processo, referida como a expressão (apud acta).

É interessante, para nós, tuiteiros, a apresentação feita pela professora Flávia Neves como terminologia da Internet “Ata, ah tá ou atá”, corruptela de “Ah, está! ”, ou a sua forma abreviada “Ah, tá! ”, significando concordância com sentido irônico ou para encerrar um assunto aborrecido ou desagradável.

Espero que esta Ata seja vista como opinião e visão política, pessoal e transferível apenas para quem estiver de acordo com elas; aos que se posicionem em contrário peço licença democrática ao direito de expressão do pensamento.

O ano começou com a posse de Jair Messias Bolsonaro, eleito o 38º presidente da República no 2º turno das eleições de 2018 obtendo 57,8 milhões de votos tendo como vice-presidente Hamilton Mourão na chapa que derrotou o candidato do lulopetismo Fernando Haddad.

Uma coisa boa: o seu ministério foi formado sem ingerência político partidária, destacando-se entre os seus titulares o paranaense Sergio Fernando Moro (Justiça e Segurança Pública), os cariocas Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura) e Paulo Roberto Nunes Guedes (Economia).

Com ineditismo, 30 militares ocupam cargos no Governo, entre eles os ministros Fernando Azevedo e Silva (Defesa) e na área civil, Augusto Heleno, (Gabinete de Segurança Institucional), Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Júnior (Minas e Energia), Marcos Pontes (Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações), Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo) e Wagner Rosário (CGU).

Goste-se ou não do estilo e da pessoa Jair Bolsonaro, o fato é que o seu governo atuou este ano com competência. Aprovou a Nova Previdência, que se julgava impossível; reduziu a violência e conquistou um recorde na apreensão de drogas; lançou a MP da Liberdade Econômica; firmou um acordo entre Mercosul-UE e criou 841,5 mil empregos formais.

Jair Bolsonaro estaria correndo para o abraço e levantar o troféu, não fosse os problemas criados pelos seus filhos que municiam os adversários: Carlos competindo com a Comunicação, Eduardo, insistindo ser embaixador e Flávio, suspeito de envolvimento com a corrupção na Alerj.

Estes males consanguíneos acarretam prejuízos para o Presidente que se vê obrigado a achegar-se à trinca Dias Toffoli, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, prejudicando o seu Governo.

A resenha anual mostra que mesmo atendendo aos que o chantageiam e ameaçam, o presidente Jair Bolsonaro sofre uma oposição interna incomum e um inusual combate do Exterior, com visível articulação da esquerda bolivariana e os antifas norte-americanos, surfando do globalismo.

Internamente, com o lulopetismo criminalizado e destroçado, vê-se a oposição do STF e do Congresso; de um lado com as cobranças de Dias Toffoli, pela defesa de Flávio; e do outro, a pressão dos picaretas que emperram as propostas governamentais, rasurando as medidas econômicas, distorcendo o Pacote AntiCrime e engavetando a prisão em 2ª Instância.

Com este cenário visível até para os indiferentes, hajam idas-e-vindas e muitas concessões do Presidente. E assim, infelizmente, viu-se no fechar do ano a sanção da proposta lulopetista do “Juiz de Garantia” um juiz que não é um só, mas dois, com um cortejo de assessores, peritos, pesquisadores e burocratas para arrastar processos de interesse dos advogados do crime organizado e dos corruptos.

Esta aberração, filha da impunidade, foi coordenada por Rodrigo Maia e os picaretas que querem a volta do “troca-troca da governabilidade”, contando com a visível intenção do STF em acabar com a Lava Jato.

  • Acrescente-se a esta Ata, como memorando, notícias que me entristeceram ao consignar o obituário de personalidades que me fazem falta, como a diva do teatro brasileiro, Bibi Ferreira, do poeta e teatrólogo Maurício Sherman, o crítico de cinema Rubens Ewald Filho, o jornalista Ricardo Boechat, o inspirador da Bossa Nova, João Gilberto, os atores e comediantes Lúcio Mauro e Zilda Cardozo (Dona Catifunda) da escolinha do Professor Raimundo, o popular apresentador de televisão Gugu Liberato, diretor de teatro Antunes Filho, cantora Beth Carvalho e o músico Ubirajara Penacho, o ‘Bira do Jô’.

Isto declarado, assino e dou fé.

Haroldo de Campos

Gênese I [fragmento]

No começar Deus criando
O fogoágua e a terra

E a terra era lodo torvo
E a treva sobre o rosto do abismo
E o sopro-Deus
Revoa sobre o rosto da água

E Deus disse seja luz
E foi luz

E Deus viu que a luz era boa
E Deus dividiu
Entre a luz e a treva

E Deus chamou à luz dia
e à treva chamou noite
E foi tarde e foi manhã
Dia um

***

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ADIVINHAÇÃO

MIRANDA SÁ (Email: mirandadasa@uol.com.br)

                        “Brincando de adivinhar/ Qual será o beco escuro/ Que um político vai se corromper” (Pablo Gabriel/Ribeiro Danielli)

Todos os curiosos dos jogos de adivinhar o futuro, podem até negar, mas são supersticiosos; e por temor de um castigo imanente ou de uma maldição misteriosa que poderá lhe recair, terminam vítimas de charlatães.

Não são poucos os golpes aplicados por intrujões fingindo-se médiuns ou cartomantes, iogues ou babalorixás. Usam vários meios para explorar a astrologia, augúrios, baralho cigano, búzios, interpretação dos sonhos, I-Ching, Iubaça (jogo da cebola), Opelê, Quiromancia (leitura das linhas das mãos), Tarô, Zoomancia… etc.

Uma das minhas avós interpretava situações, a pedido, estudando o café, coado, saído do fogo, ou à moda árabe, pela borra no fundo da xícara. Praticava sem o saber, a Cafeomancia, como faziam as odaliscas no império muçulmano que ocupou a Península Ibérica com os califados.

O charlatanismo nos jogos adivinhatórios não é único. Os “contos”, do bilhete premiado, do ouro de tolo e, o mais famoso de todos, o conto do vigário, chegam diariamente às páginas policiais dos jornais.

Já contei num artigo anterior, a história folclórica do Conto-do-Vigário, vinda das Minas Gerais. Conta a disputa dos vigários das paróquias do Pilar e da Conceição, em Ouro Preto, por uma imagem de Nossa Senhora. Para atender os devotos, um dos padres propôs que pusessem a imagem na cangalha de um burro que seria solto entre as duas igrejas e, para qual ele se dirigisse, ali ficaria a santa. A ideia foi aprovada e assim se deu: o animal se encaminhou para a igreja do Pilar. Descobriu-se mais tarde que o jumento pertencia ao pároco de lá; e assim nasceu o “conto-do-vigário”…

Penoso, ou melhor, revoltante, é constatarmos que o conto-do-vigário vem sendo passado à Nação Brasileira pelos políticos vigaristas que ocupam os três poderes da República, principalmente no Legislativo, com a Câmara Federal entregue a picaretas trapaceiros.

Diz o provérbio que “é comparando que se entende”. Então, comparemos o que fazem os parlamentares e os juízes togados com o trabalho que alguns ministros do governo federal vêm realizando neste primeiro ano de governo.

Por mais que a chamada “grande imprensa” omita sob o manto globalista, é inegável que o combate às drogas aumentou e a violência diminuiu. Na Economia, o desemprego caiu, os juros atingiram recorde de baixa, impostos de muitos remédios foram zerados, e se permitiu que os indígenas deixem de ser peças de museu e possam explorar as riquezas da sua terra.

Só não veem ou não querem ver isto as viúvas do lulopetismo que o combate à corrupção prejudicou. E só fazem oposição radical os corruptos e seus cúmplices, acuados, jogando as cartadas finais no Congresso e no STF.

Lula, condenado de Justiça por corrupção, esbraveja insignificâncias tentando polarizar eleitoralmente com o Governo, sabendo como pelego sindical que a consciência do povão está no bolso, por debaixo dos panos articula sabotagens contra a política econômica do ministro Paulo Guedes que estão dando certo.

O frenesi oposicionista só se amplia quando investe contra as medidas AntiCrime do ministro Sérgio Moro, porque é grande o número de corruptos parasitas da burocracia e usufrutuários de propinas. Por isso, não foi difícil adivinhar porque o juiz Napoleão Nunes Maia Filho, nomeado por Lula para o STJ, soltasse o corrupto com sobejas provas Ricardo Coutinho, ex-governador da Paraíba.

Na realidade, não é preciso pôr as cartas na mesa para saber que o segredo da política é revelado à vista dos brasileiros honestos. Sem fraudes, o lulopetismo, uma quadrilha criminosa, tem os dias contados.

 

RETRATO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Um bom retrato é uma biografia pintada” (Anatole France)

A palavra Fotografia levou a palavra Retrato à UTI DA GRAMÁTICA em estado terminal…. Somente os maiores de cinquenta anos, chamam de retrato a imagem captada por câmeras e reveladas em certos métodos em quarto escuro (com exceção das antigas máquinas instantâneas Polaroid e as novas Kodak e Fujifilm Intax).

O verbete Retrato, dicionarizado, é um substantivo masculino importado do italiano “ritratto” para o português, e tem origem no latim (retractus), particípio do verbo (retrahere). Mas ninguém se refere a ele nem mesmo aos corriqueiros e necessários 3×4.

Hoje é fotografia, ou simplificando, foto, a imagem ou figura humana reproduzida em pano, papel ou plástico. Há também, os autorretratos, massificados graças ao celular que estimulou as “selfies” (do inglês self, “a si mesmo”) a reflexão da própria pessoa.

Alguém escreveu – perdi quem foi na memória –, que a passagem do homem na vida produzirá um autorretrato; ele jamais poderá esconder o que não quer revelar… Os políticos, como homens públicos, genericamente, porque “mulher pública” é outra coisa, têm a sua carreira fotografada.

Um senador, meu amigo pessoal – e cujo nome vou omitir -, contou-me em Brasília coisas cabeludíssimas que se passam no Senado sob a batuta de Davi Alcolumbre e a sua corte. Começou por dizer que acredita piamente na teoria que este suburbano sortudo foi uma invenção de Renan Calheiros, certo que iria derrota-lo pelo voto…

Eis que, deslumbrados com a vitória presidencial, os Bolsonaro, embora tendo recebido a sugestão de um tertius na eleição da mesa do Senado, jogaram suas fichas no amapaense, de quem poderiam desconfiar se não fossem precipitados que se tratava de uma cria de José Sarney…

Alcolumbre foi deputado do DEM participando do Centrão, onde sorrateiramente vestia a capa medíocre do chamado “baixo clero”. Assim, anônimo, já aprontava algumas. O seu perfil, conforme jornalistas bajuladores, descrevem-no como membro de uma família judaica rica dona de empresas nascidas de uma pequena loja de peças e acessórios para carros. Omitem como os negócios se multiplicaram após a participação política deles.

A expansão comercial dos Alcolumbre vai de postos de gasolina a salas de cinema, passando por lavanderias (de roupa), pizzarias e, como não podia deixar de ser de rede de comunicação, conquista comum dos políticos astutos do Norte e Nordeste.

Sentado na cadeira presidencial do Senado, Davi Alcolumbre manteve o odioso sigilo das notas fiscais comprovantes de gastos dos senadores que prometera acabar. Ele esconde os seus próprios gastos (e são muitos altos) e dos seus parceiros esbanjadores do dinheiro público.

Em nome da verdade, somente um restrito número de senadores – alguns recém-eleitos -, se mantêm com a verba indenizatória, que já é uma safadeza; enquanto a maioria dissipou na última legislatura mais de R$ 100 milhões. Estes são o alvo da ameaçadora funda de Davi, para engavetar as demandas sociais, como o Pacote AntiCrime, a prisão na 2ª Instância e, principalmente, porque tem o rabo preso, o impeachment de Ministros do STF.

O dramaturgo francês Molière botou na boca de um dos personagens de suas peças teatrais que “os pensamentos são retratos das coisas da mesma forma que as palavras são retratos dos nossos pensamentos ”.

Assim retratei nessas mal traçadas linhas o meu pensamento, doa a quem doer; e faço questão de lembrar aos políticos que desprezam a opinião pública que em breve serão apenas “um retrato na parede” como se referiu o poeta Carlos Drummond de Andrade à Itabira, cidade onde nasceu e passou a infância…

 

 

 

Olavo Bilac

Nel mezzo del camin…

 

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E alma de sonhos povoada eu tinha…
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
Hoje segues de novo… Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.”

ESTRATÉGIA

MIRANDA SÁ (mirandasa@uol.com.br)

“A estratégia é a ciência do emprego do tempo e do espaço. Sou menos avaro com o espaço do que com o tempo. O espaço pode ser resgatado. O tempo perdido, jamais. ” (Napoleão Bonaparte)

A doutrina militar de Estado Maior orienta a organização das forças armadas para a guerra baseada na estratégia e na tática. A estratégia indica um planejamento de atuação; pelas Forças Armadas para a guerra, e, na paz, pelos órgãos de Segurança para a defesa nacional.

O mentor da estratégia militar, Carl von Clausewitz, define-a como a condução do movimento das tropas nas batalhas aproveitando os erros do inimigo para combate-lo, e assim obter a vitória.

A tática é a ferramenta para se chegar à estratégia; uma arte de proceder manobras imediatas, compondo o plano que tem a finalidade de se atingir o objetivo final. Aliar a tática à estratégia forma a combinação perfeita para agir diante do inimigo, seja no campo de batalha, seja nas relações da governança civil.

Enquanto a estratégia visa a conjuntura completa, a tática particulariza cada situação em relação ao todo; por isso, seu estudo teórico é necessário para se defender o País.

Dicionarizada, a Estratégia é um substantivo feminino derivado do grego, estratego, comando de um general com objetivos claros e o planejamento correto. A Tática também é um substantivo feminino, igualmente de etimologia grega (taktiké ou téchne), significando recursos empregados para alcançar um resultado positivo.

A apreciação deste aprendizado é necessária, tanto no sentido militar como político, nesta conjuntura em que o Brasil atravessa um período de choques que acontecem com as propostas de mudanças estruturais, enfrentando manobras judiciais e sabotagens parlamentares.

Neste momento, por exemplo, estivemos diante de uma ameaça de nova greve dos caminhoneiros incentivada pela CUT, braço sindical do lulopetismo. Trata-se de uma tática do corrupto José Dirceu, solto pelos seus aliados do STF para orientar as frações radicais do narcopopulismo.

O Governo Federal considerou o movimento grevista sem chance de ocorrer, pelas informações de que as lideranças individuais estão divididas e que a greve não contaria com o apoio da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos. Avaliou-se assim que a possibilidade da greve incentivada por grupos organizados de WhatsApp não alcançaria êxito, e foi no que deu.

Na data marcada não se assistiu sequer manifestações pontuais, porque o fracasso do movimento ocorreu justamente pelo apoio da CUT, que provocou desavenças e protestos entre os caminhoneiros autônomos.

Os observadores governamentais estavam certos; entretanto, há que se levar em consideração as novas estratégias e táticas que estão sendo movidas em toda América Latina pelo bolivarianismo, com apoio de Cuba e da Venezuela. Não podemos relaxar; o Brasil não é diferente do Chile e da Bolívia, nem está livre das tentativas, felizmente frustradas, que ocorreram no Equador. Essas manifestações narcopopulistas são promovidas visando a derrubada dos governos liberais e democráticos.

Não podemos subestimar as minorias organizadas semi-militarmente que atuam na AL, insistindo em manter o continente sob o esquerdismo bolivariano corrupto, corruptor e ineficiente.

Entre nós, os agentes militantes ativos subsistem infiltrados em todas as áreas do poder, no parlamento, nos tribunais superiores, na universidade, na administração pública e até entre os militares.

Diante deste quadro, é preciso que acordemos para o que nos dá esta visão “macro” da realidade social e política do País. Dos que apregoam a exigência de um Brasil democrático, justo e desenvolvido, exigimos táticas inteligentes, sem diversionismos casuais, para enfrentar o perigoso inimigo.

Adélia Prado

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.

Mulher é desdobrável. Eu sou.

A PRAGA

MIRANDA SÁ (mirandasa@uol.com.br)

      “A política é uma praga tal que eu aconselho todos a não se meterem nela”   (Thomas Jefferson)

Não vou citar os nomes dos dois participantes do Twitter, com presença constante, me fizeram críticas – bem-educadas e simpáticas, sem dúvida -, sobre a praga que roguei aos capangas da bandidagem de colarinho branco, num dos últimos artigos: “Que paguem as suas consciências imundas no mármore do inferno”…

Escrevi e escreveria de novo, não para constranger as pessoas de boa vontade, cuja percepção acredita ingenuamente que o crime não compensa. Entre esses, os críticos que respondo, destacando um deles que se revelou religioso.

Se for devoto do Menino Jesus de Praga, adianto-lhe que esta imagem nada tem a ver com a minha maldição; apenas recebeu o nome da cidade de Praga, capital da República Tcheca, aonde teve início o seu culto; se for evangélico, que releia na Bíblia as pragas do Egito que o Deus de Israel mandou contra o Faraó através de Moisés, para libertar os judeus.

Estão no Êxodo as ameaças e a execução divina das dez pragas. A última foi a morte dos filhos primogênitos de homens e animais, que ocorrendo matou o filho do próprio Faraó, desesperando-o e convencendo-o a deixar livres os hebreus.

A palavra Praga, dicionarizada, é um substantivo feminino de origem latina (plaga), com referências a doenças que produzem chagas como o sarampo e a lepra, e/ou o ato de lançar uma maldição a alguém. A sua sinonímia vai de calamidade à imprecação e maldição.

O amaldiçoar é encontrado comumente na literatura. Quando eu era jovem e me metia a fazer teatro, escrevi um jogral baseado no poema “Maldição”, de Adalgiza Nery, que até hoje sei de cor. Um dos versos traz uma praga espetacular: “Quando olhares o teu neto/ Que vejas no seu rosto/ Os traços de minha face”.

Incorporando os orixás, pais e mães-de-santo do Candomblé e da Umbanda, nos rituais de “fechar o corpo” enfrentam as pragas; e o povo na sua sabedoria usa o ditado “praga de urubu não pega em cavalo novo”.

A gíria brasileira tem na palavra “praga” a designação de pessoas más, e fala da praga como um desejo de que tudo dê errado…  Dicionários de Gíria acumulam referências como “praga de mãe”, “praga de madrinha” e “praga de sogra”.

O genial compositor Geraldo Pereira no seu samba “Escurinho” gravou o seguinte verso: “O escurinho era um escuro direitinho/ Que agora anda com mania de brigão/ Parece praga de madrinha ou macumba/ De alguma escurinha que ele fez ingratidão”

Vejam. Se a Bíblia registra pragas do Deus de Israel, a poesia consagra-as como vingança e o samba acredita nelas, quem sou eu para evitar um desabafo contra a bandidagem que assola o País?

O pensador democrata e ex-presidente dos Estados Unidos Thomas Jefferson, epigrafado, aconselha para gente não se meter em política que considera uma praga; mas eu, que tenho o corpo fechado, amaldiçoo os picaretas do Congresso que nos assaltam com os desgraçados fundos partidário e eleitoral.

Também rogo pragas ao politicamente correto, essa perversa invenção ideológica contra a liberdade de pensamento, instigando o divisionismo social, exaltando o vitimismo e a reação violenta das minorias.

Encontrei nas páginas do doutor Google, um pensamento de Leandro Flores: “A maior praga de todos os tempos chama-se corrupção”; e Xico Graziano alerta que “A praga da desinformação na imprensa está correndo solta”.

Se os corruptos lançam pragas contra nós, porque não podemos usá-la contra eles?

Manuel Bandeira

Poética

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o
cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora
de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário
do amante exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

– Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

A FORÇA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Se os fracos não têm a força das armas, que se armem com a afirmação do seu direito” (Rui Barbosa)

A “História Oculta” – sim, porque nem sempre a História Escrita registra fatos que ocorreram –, nos informa que em 1438 um aventureiro (o nome não foi registrado) contou a um curioso mecânico alemão, Johannes Gutenberg, que na China eram usados tipos móveis que, carimbados imprimiam várias vezes a mesma escrita.

Um ano depois, Gutenberg desenvolveu um sistema mecânico aproveitando-se dos tipos móveis, e com ele alcançou duas proezas: acabou com o monopólio dos monges que manuscreviam livros e popularizou a Bíblia.

Embora por séculos se ensine que é do Alemão a invenção da imprensa trata-se de uma falácia. A tecnologia de impressão revolucionou a divulgação de livros, mas os jornais já eram conhecidos séculos anteriores na Fenícia, em Cartago e Roma.

Na própria Alemanha, muito antes de Gutemberg, circulavam na Cidade Livre de Hamburgo jornais manuscritos em forma de panfletos anunciando chegadas e saídas de navios e, principalmente, informando, estoques e preços de mercadorias.

Um herói anônimo do jornalismo introduziu nas comunicações comerciais notas sobre viagens de personalidades, missas, falecimentos e legislação. Daí o nascimento do jornal como se conhece hoje…

No Brasil há uma polêmica danada – quase ideológica – sobre o surgimento do primeiro jornal impresso no País. Um lado defende que foi a Gazeta do Rio de Janeiro, outro, que foi o Correio Braziliense.

Cronologicamente, porém, sabe-se que a Gazeta nasceu com a transmigração da Corte Portuguesa quando foi fundada a Impressão Régia, em 1808; o Correio Braziliense, também chamado Armazém Literário chegou antes, mas era impresso em Londres sob a direção de Hipólito José da Costa.

“Força”, como se sabe, é substantivo feminino de origem latina (fortĭa,is) ‘força’ e ‘forte’. Na Física, a força é um dos seus principais componentes relacionados com as três leis de Newton. Definições à parte, a imprensa é uma força. Na minha juventude – que já vai longe –, era considerada o Quarto Poder da República.

O jornalismo foi considerado assim pela sua condição política de arbítrio, ascendência e autoridade. Mas isto depende do jornalista vocacionado e consequentemente qualificado, honesto e independente, uma espécie em extinção; presença rara nos grandes jornais em circulação no País.

Não é de se exigir que o jornalista seja um herói das histórias de quadrinhos como He-Man, que tem a força e os seus cultuadores da banda Trem da Alegria cantaram: “ele nasceu para o bem!”. O que queremos dos jornalistas é a responsabilidade com a informação, um direito inalienável do povo.

Ocorre que no quadro atual de decadência ampla, geral e irrestrita no mundo, temos no Brasil a mediocridade locupletada nos poderes republicanos, na universidade e na Academia Brasileira de Letras. Na imprensa não seria diferente.

Hoje, a força está nas manifestações populares nas ruas, aqui, no Chile, no Iraque, na França ou em Hong Kong… Chegando à Ásia, lembro o que disse a Madre Teresa de Calcutá, respeitada por todos, católicos, espíritas, evangélicos, umbandistas e até ateus: “A força mais potente do universo é a fé”.

Guardo a fé de que o povo brasileiro se una e se mobilize para conquistar o futuro que todos desejamos, democrático, justo, sem corrupção e desenvolvido economicamente.