Arquivo do mês: janeiro 2020

VERBOS

MIRANDA SÁ (mirandasa@uol.com.br)

“Não importa o que tenhamos a dizer, existe apenas uma palavra para exprimi-lo, um único verbo para animá-lo e um único adjetivo para qualificá-lo” (Guy Maupassant)

Sempre procurei aprender línguas estrangeiras, mais para ler do que para falar. Como venho do tempo em que estudávamos no Ginásio, em três períodos, o Latim, não foi tão difícil entender as chamadas línguas neolatinas. Mas o verbo sempre constituiu um problema; na leitura acerta-se pelo sentido da frase, enquanto na linguagem falada é uma tremenda dificuldade.

O Fantasma do Verbo me persegue ainda mais nos idiomas anglo-saxônicos, grego e eslavos. Na sua presença é quase impossível superar a assombração desconexa, principalmente na língua inglesa falada nos EUA, onde as palavras são abreviadas.

A gente pula os obstáculos enfrentando ousadamente a conjugação dos verbos. É para isto que foram criados e se multiplicam nos dicionários especializados; no meu tempo tínhamos o “200 Verbos Franceses” de Maurice Huet, e dos ingleses, a edição portuguesa do Dicionário Académico.

O Verbo indica a palavra que situa as ocorrências temporais, uma ação, um estado, um fenômeno ou um processo sócio-político. Por isso, flexionam-se em aspecto, modo, número, pessoa, tempo e voz.

Dicionarizado, Verbo é um substantivo masculino que do ponto de vista semântico impõe o conceito de uma frase, oração ou pensamento. Nas expressões coloquiais, processam a conversação com alguns que os são adaptados quase instantaneamente, ou criados embora inicialmente com uso reduzido, mas se expandindo depois e aceitos pelo vocabulário oficial…

Pelo uso quase obrigatório da Internet, os verbos fortalecem o novo palavreado imposto pelo chamado “internetês” – a linguagem dos computadores -, e são muitos; e alguns deles passaram a ser correntes no dia-a-dia, como adicionar, blogar, bloquear, bombar, deletar, escanear, formatar, googlear, sextar, postar, tuitar, vazar e zipar…

Entre todos, se fixou o “Deletar”, tradução do inglês ‘to delete‘ – tão importante que tem um lugar especial no teclado universal pela amplitude do seu uso. Traduz-se como anular, apagar, cancelar, desmanchar, excluir, extinguir, suprimir.

O jornalismo atual, surfando na onda prevista por Joseph Pulitzer ao dizer que um dia teríamos “uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta, que formará um público tão vil como ela mesma”, adota a verbosidade ao próprio interesse. É useira e vezeira em usar o “deletar” como apagar, desmanchar, esconder e omitir…

Outro dia, recuperando-me da enfermidade que me levou à cama, folheei anotações feitas no ano passado sobre a implicação do cardinalato católico do Rio de Janeiro na Operação S.O.S, um desdobramento da Lava Jato. E este caso trouxe-me à lembrança o verbo deletar, para a delação premiada de Wagner Augusto Portugal, o ex-braço direito do cardeal Orani Tempesta.

Pela importância de se ligar ao esquema de corrupção implantado pelo ex-governador Sérgio Cabral na Saúde, registrou-se a Cúria pressionando por elevados pagamentos à entidade católica Pró-Saúde, administradora de vários hospitais estaduais do Rio de Janeiro, onde o delator, Wagner Portugal, era um dos representantes.

Seduzida e implicada com as ações criminosas da quadrilha Lula-Cabral no Rio de Janeiro, a Igreja Católica foi investigada por crime de peculato e outras irregularidades, e consta de depoimentos do arquicorrupto Sérgio Cabral.

Tudo neste capítulo da novela sobre a corrupção no Rio de Janeiro foi deletado, o que parece normal num Estado que tem quatro ex-governadores presos por corrupção e num País onde se mexeu com um órgão como o Coaf para favorecer achegados ao poder, onde se cria “juízes de garantia” para ajudar bandidos e se negaceia a abertura da “caixa preta” do BNDES por pressões políticas.

 

 

A VIDA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

                 “A Vida é uma palavra simultaneamente compreensiva e enigmática para os seres racionais” (A. Oparin)

Estudos científicos registram que o Planeta Terra se manteve milhões de anos sem vida após a sua formação; e que graças a fenômenos físico-químicos num determinado momento, surgiram os primeiros organismos vivos.

Pesquisas confirmam que a Terra foi bombardeada por meteoritos carbonosos e detritos de cometas; e continua ainda hoje recebendo substâncias orgânicas alienígenas que, com a poeira cósmica coberta de gelo, formam os hidrocarbonetos responsáveis pelo surgimento de seres aquáticos cartilaginosos.

O que é a Vida? Encontramos entre cientistas e filósofos inúmeras definições. A Enciclopédia Americana registra que nenhuma delas é satisfatória. Na verdade, há quem defenda que todos os reinos da Natureza, animal, mineral e vegetal possuem vida, e existe até quem a vê nas máquinas a combustão, computadores e robôs.

A maioria das opiniões científicas, porém, defende o princípio de que a Natureza se divide entre um mundo inorgânico e um mundo orgânico, isto é, entre a matéria inanimada e os organismos que nascem, se nutrem, reproduzem e morrem.

Aí se consubstancia a definição de vida, segundo a “Teoria Oparin-Haldane”, criada concomitante e independentemente na década de 1920 pelo cientista russo Aleksandr Oparin, nosso epigrafado, e o geneticista inglês J.B.S. Haldane, ambos aprofundando a teoria proposta por Thomas Huxley, no século anterior.

Esta teoria da evolução química, também conhecida como a teoria da evolução molecular, é uma das hipóteses mais aceitas pela comunidade científica para explicar a origem da vida e tornar evidente que na ordem natural o seu fim é a morte.

O sábio Aristóteles na antiga Grécia apontou que a qualidade essencial dos seres vivos é possuir a “Enteléquia”, a base da vida, que tem como termo final a morte. Defendeu a realização plena da potencialidade e da finalidade dos seres vivos no processo evolutivo.

Esta constatação inspirou Voltaire a escrever o seu próprio epitáfio: “O homem é o único animal que sabe que vai morrer um dia…. Triste destino! ”. Li-o no cemitério Père Lachaise, em Paris, com estes olhos que a terra há de comer…

Chegamos ao século 21 com avanços científicos impressionantes levando aos laboratórios as ciências dedicadas ao estudo aos organismos vivos, plantas, animais e seres humanos, aprofundando-se nas questões relacionadas, com a astrobiologia, os vários ramos da biologia, a bioética, a botânica, a citologia, a ecologia, a fisiologia, a genômica e a zoologia.

Estudos enciclopédicos, artigos científicos, exposições, filmes, fotografias e riquíssimos museus mundiais fixam a compreensão das disciplinas que observam a evolução molecular da vida.

O escritor e bioquímico Isaac Asimov, nascido na Rússia e naturalizado norte-americano, reconhecido mundialmente pelos estudos de astronomia, bíblia, matemática e robótica, nos deixou a uma reflexão com uma sensata crítica: “Os criacionistas fazem com que uma teoria pareça uma coisa que se inventou depois de beber a noite inteira”.

Este achincalhe cai como uma luva para quem não se resguarda em interpretar as belas simbologias dos textos religiosos como a Genesis – o primeiro livro tanto da Bíblia Hebraica e Bíblia cristã -, como nos ensinamentos budistas e de Confúcio.

Talvez por isso que Martin Luther King tenha alertado para que “A religião mal-entendida é uma febre que pode terminar em delírio”; e é o que ocorre com o indicado para presidir a Capes – um importante órgão educacional -, um presbiteriano que defende ‘criacionismo’ em ‘contraponto à teoria da evolução’…

Este cidadão quer uma volta à Idade Média enquanto eu, particularmente, volto-me ao que ensinou o sábio Einstein: “Apenas duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana, mas não estou certo quanto a primeira”.

 

 

ÓCULOS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

          “Quem não tem colírio usa óculos escuros/ Quem não tem visão bate a cara contra o muro…”   (Raul Seixas)

Os atualmente batizados como “moradores de rua”, sujos, vadios e viciados em drogas, alimentados por falsos humanistas ou ongueiros atravessadores de verbas públicas, nada têm a ver com os românticos mendigos do passado.

Dos mendigos, lembro de um que na Cinelândia se aproximava ostensivamente, estendia a mão e dizia: “Dê-me um óbolo! ”; e outro, que numa reportagem que fiz para a inesquecível “Última Hora”, revelando que usava óculos pretos não para fingir que era cego, mas ver a reação das pessoas a quem pedia esmolas.

O primeiro mostrava cultura usando a antiga palavra grega “óbolo”, designativa de moeda de baixo valor e posteriormente a expressão de esmola; o Papado criou o Óbolo de São Pedro para arrecadar dinheiro para o Pontífice manter pessoalmente a Igreja e auxiliar os pobres.

Aqueloutro, de óculos de lentes escuras, era um filósofo, que deduzia ao esmolar o comportamento humano pela observação.

Sobre a mendicância encontrei certa vez uma passagem com o escritor e novelista francês Jules Sandeau contando que após dar uma esmola na avenida Champs-Élysées viu sob o Arco do Triunfo o mendigo comendo ostras. Estranhando, perguntou-lhe porque gastava assim o dinheiro arrecadado. O mendigo respondeu: “Quando não tenho condições não como ostras, mas como as adoro, não perco a oportunidade de comê-las quando posso”.

Ver o mundo através de lentes leva-nos a meditar sobre o que traz Mateus (13:16.): “Abençoados são os vossos olhos, porque enxergam”. Existem, porém, pessoas que se recusam a enxergar o que se passa à sua volta; o genial Leonardo da Vinci escreveu que “há três tipos de pessoas: as que veem, as que veem quando lhes é mostrado e as que não veem”.

As lentes, instrumentos de óptica que permitem a passagem e a refração da luz. A palavra Lente vem do latim (Lens, lentilha), devido à semelhança de forma entre as lentes de vidro e aquele grão vegetal. Em inglês a palavra Lens significa “cristalino”, pela mesma razão.

As referências históricas sobre o uso de óculos corretivos chegam a 500 a.C.  Em textos do filósofo chinês Confúcio; e também levam ao Antigo Egito, quando se encontram pinturas retratando o seu uso. As lentes corretivas eram feitas com pedras semipreciosas cortadas em tiras finas, com grau para se ver de perto.

A palavra óculos surgiu com o termo (ocularium), na Antiguidade Clássica, usada para designar os orifícios das armaduras dos soldados da época para permiti-lhes ver.

Hoje temos lentes para corrigir problemas de visão de miopia (dificuldade de ver de longe), hipermetropia (dificuldade para ver de perto) ou astigmatismo (dificuldade para enxergar tanto de perto, quanto de longe).

Ao espiar com atenção a realidade é preciso não ser estúpido para cegar diante dos erros que se mantêm e se ampliam ao passar do tempo, principalmente na cena política, onde pessoas não veem o desastre que se avizinha.

O “conchavão” para livrar os bandidos de estimação dos três poderes da República, que são vilipendiados pelos patriotas por copiar em xerox os métodos narcopopulistas que pensamos sepultar quando derrotamos o PT nas eleições.

A derrubada da prisão em 2ª Instância, os juízes de garantia, os “fundos eleitorais picaretas” e o engavetamento dos pedidos de impeachment de ministros abusivos do STF, são elementos comprobatórios do descaminho para onde nos levam as vacilações dos cúmplices da corrupção.

É preciso usar óculos evitando usar aqueles de fundo de garrafa ou dos chamados “olhos grandes” com que os lulopetistas olham o seu objetivo de corrupção e impunidade.

 

OTIMISMO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Um otimista pode ver uma luz onde não há nenhuma, mas por que o pessimista sempre corre para apagá-la? ” (René Descartes)

Sob renováveis regras gramaticais, a língua portuguesa sofreu muitas reformas desde meus estudos da infância e juventude até hoje. Nas aulas de Teoria Geral do Direito, o catedrático da Faculdade Nacional de Direito (e reitor da Universidade do Brasil), Pedro Calmon – modelo de intelectual que é raro atualmente na sociedade brasileira –, ensinava: “tiraram o “P” de Ótimo e de OTIMISMO, mas quando vocês falarem OTIMÍSSIMO, não s’esqueçam dele; é castiço e elegante. Lembrem, é OPTIMÍSSIMO…”

Mostro com isto que a memória que vai se tornando a mais infiel das nossas capacidades mentais quando envelhecemos, ainda me permite lembrar as lições de quem mereceu respeito.

Otimismo é um atributo pessoal de ver as coisas pelo lado bom e mesmo enfrentando complicações, esperar sempre que surja uma solução favorável; há uma escola filosófica que o reconhece como a conciliação entre o máximo de bem e o mínimo de mal, o que traz o melhor possível para todos.

No seu clássico “A Utopia”, o pensador inglês Thomas Morus idealizou uma sociedade imaginária cuja perfeição é o ideal para o bem-estar dos seres humanos, uma visão otimista para o mundo do futuro.

Dicionarizado, o verbete Otimismo é um substantivo masculino. Sua etimologia vem de ótimo + ismo; e do latim (optimus), o que possui muitas “opes“, riquezas, dons, recursos.

Não desejo, nem me preocupo em convencer ninguém com o que penso, mas assumo a minha condição de otimista porque assisti, com estes olhos que o fogo transformará em cinzas, as convulsões populares, a repressão totalitária, ameaças de guerra civil e depois tudo voltando à normalidade.

Ainda menino, acompanhei os meus pais preocupados com a 2ª Guerra Mundial ouvindo pela BBC e pela Rádio Moscou o avanço dos aliados contra as forças nazifascistas e a vitória final. Participei das manifestações populares no Rio, aplaudindo nas ruas o regresso dos heroicos pracinhas da FEB.

Cumprindo o serviço militar ouvi palestras sobre a guerra da Coreia e o seu fim com o armistício que estabeleceu o Paralelo 38; e, mais tarde, o começo, o meio e o fim da guerra no Vietnã.

Com isto, fiquei com ojeriza à guerra e juntei o “ismo” do otimismo ao pacifismo… foi quando aprendi com Churchill que “o pessimista vê dificuldade em cada oportunidade; o otimista vê oportunidade em cada dificuldade”.

O contrário de otimista é pessimista, e os pessimistas são as pessoas que olham tudo pelo lado negativo, imaginando que tudo vai dar errado e esperam

sempre o pior. No meu caso, eu não poderia ser pessimista com as trombetas do apocalipse da mídia globalista anunciando ameaças de guerra mundial por causa da irresponsabilidade do presidente Donald Trump assassinando um dignitário iraniano em Bagdá com fins exclusivamente eleitorais.

Estive acamado enfrentando grave enfermidade, e lutando pela cura tomei conhecimento de que o Itamarati garantiu que o Brasil defende a paz no Oriente Médio e manterá comércio com o Irã.

Consolidei o meu otimismo e tranquilizei-me porque, como disse o general Eisenhower, o mundo pertence aos otimistas: os pessimistas são meros espectadores. Amanhã será um dia melhor!

ACROBACIAS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“O trapezista morre quando pensa que voa” (Mário Henrique Simonsen)

As acrobacias são movimentos de destreza corporal aos exercícios e às piruetas que realizam no solo e no ar. Diz-se que estes artistas na China e no Japão começam a se preparar após os 5 anos de idade usando anéis, argolas, balanços, pêndulos, pernas de pau, trapézio e rolamentos…

As crianças são acrobatas inatos. Dão naturalmente cambalhotas, paradas de mão e de cabeça, saltos mortais e as “estrelinhas”, indisciplinadamente. A profissionalização vem ao adquirir primeiro a habilidade, depois a técnica e por fim estabelecer a harmonia de equilíbrio e tempo.

O verbete Acrobacia é um substantivo feminino com origem na Grécia Antiga, (Akrobatos), – o exercício de acrobata, seja, o que dançava e fazia jogos de equilíbrio nas mãos e nos pés. Na modernidade designa também manobras de avião, arriscadas e perigosas, com piruetas, parafusos e voos rasantes.

Sinônimos de Acrobacia são inúmeros, como habilidade, astúcia, esperteza, e, figuradamente, virtuosismo, habilidade de efeito, perícia.

Na ginástica acrobática, uma modalidade olímpica, os ginastas mais habilidosos de cada país têm a oportunidade de mostrar quem é o melhor competidor.

Registra-se que estas manifestações de arte se originaram na Grécia no século 5 a/C, quando foram criados os primeiros Jogos Olímpicos. Pinturas rupestres encontradas em vários lugares do mundo indicam, porém, a existência de equilibristas e suas exibições.

Durante séculos, a acrobacia se limitou a apresentações circenses orientais, e no Ocidente a história do circo cita a Idade Média, quando muitos artistas ganhavam a vida fazendo apresentações nas casas de membros da nobreza e nas ruas. Alguns deles viajavam por toda a Europa espalhando sua arte.

É admirável a conquista do equilíbrio corporal. Tal destreza é cultivada mentalmente, com jogos de raciocínio e ilusões de ótica. A humanidade traz exemplos magníficos de personalidades que se destacaram neste campo, os geômetras e filósofos gregos, médicos muçulmanos, Da Vinci, Newton, Einstein…

Do lado negativo, temos atualmente os saltimbancos em toda política mundial, e que no Brasil reproduzem-se, multiplicam-se e propagam-se. Embora fáceis de se identificar escapam à Justiça graças aos seus semelhantes indicados por eles para ocupar os tribunais superiores.

O maior exemplo dessas acrobacias jurídicas foi a decisão do Supremo Tribunal Federal de acabar com a prisão após condenação em segunda instância para favorecer o ex-presidente Lula da Silva, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro. Esta sentença abriu as portas da prisão para mais de trinta corruptos julgados pela Operação Lava Jato.

Assim, o STF armou sobre o território brasileiro a vasta tenda da impunidade para os assaltantes do Erário, das empresas estatais e dos fundos de pensão. Este cenário circense da criminalidade apresenta um espetáculo que revoltantemente parece ser irreversível pelas novas variações surgidas no trapézio da politicagem.

Tivemos agora a absolvição do ex-prefeito do Rio Eduardo Paes, notório participante da quadrilha Lula-Cabral que assaltou o Rio de Janeiro. Além dos movimentos acrobáticos de assalto na Olimpíada, dos desvios e obras inacabadas Paes teria cancelado irregularmente pagamentos empenhados no valor de R$ 1,5 bilhão.

Está livre, porém. Até quando a Justiça malfeita abusará da nossa paciência?

 

 

 

 

A CHEGADA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Só podemos chegar ao impossível, se acreditarmos que ele é possível”
(Lewis Carroll –  Alice no País das Maravilhas)

Escreveu o jornalista e escritor italiano Pittigrilli na crônica intitulada “Sangue”, que “A equivalência moral dos homens na prática do mal, na violência, nas vinganças e represálias, é constante e imutável”.

Esta crueza nos leva a pensar nos campos de concentração nazistas e no traiçoeiro ataque japonês a Pearl Harbour, que absolveram os Estados Unidos por destruir Dresden e lançar as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki.

Na minha opinião, é chegada a hora dos brasileiros se unirem, acima dos interesses de grupos, para punir exemplarmente os corruptos e os seus cúmplices, instalados nos três poderes da República.

O ato de chegar 2020 é propício para despertar os corações de mentes para um novo ano e não para cair no engodo pseudocientífico da vinda de extraterrestres para a Terra; não nos interessa concorrer com os ETs de Varginha…

“Chegada” é um substantivo feminino, originário do latim, (“plicare”), dobrar, ordem para as velas do navio serem recolhidas, “dobradas” quando aportava. Daí temos nas línguas neolatinas, “Arribar” no espanhol e no português e “Arriver” no francês).

Nos seus relatos sobre a antiga Roma, o historiador Tito Lívio traz uma interessante passagem com o cônsul Appius Claudius Pulcher, que comandava a esquadra do Império Romano numa batalha mediterrânea.

Supersticioso, Appius Claudius pediu ao adivinho que o acompanhava para oficiar a cerimônia evocando os presságios das aves sagradas, que consistia em sacrificar um pássaro e, revolvendo as suas entranhas, ver nas vísceras os sinais divinos, favoráveis ou desfavoráveis.

O áugure (adivinhão) interpretou os sinais como negativos; mesmo assim, o almirante Appius não o levou a sério, entrou na batalha e venceu. Ao voltar para Roma, comemorando a vitória com seus oficiais, ordenou que cortassem a cabeça do profeta malogrado.

Interessante é que nos dias de hoje ainda se vê políticos acreditando em vaticínios sobrenaturais, ouvindo astrólogos, cartomantes e cartas de Tarô…. Comentava-se que Fernando Collor, quando presidente, fazia sessões de feitiçaria no Palácio da Alvorada e na Granja do Torto…

Referindo-se à política, o inesquecível cronista Fernando Sabino disse, magistralmente, que “Democracia é oportunizar a todos o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, depende de cada um”. Isto nos leva a concluir que astrólogos e horoscopistas não levarão o País a lugar algum…

Vemos, entretanto, que exploradores da crendice alheia, adivinhos e agoureiros se mantêm e se multiplicam no círculo do poder; os pés de chinelo ocupam cargos de porteiro, ascensorista e motorista, à disposição de parlamentares, magistrados e ministros….

Outros, com a ostentação de ocupar espaços na mídia, não assumem posições governamentais; ficam de fora, muito bem remunerados. Ouvi dizer – reservo-me a guardar a fonte –, que é de um desses oráculos que saem as justificativas de políticos poderosos para se desculparem pela falta de hospitais e de remédios; dos erros judiciários, da superlotação das cadeias, e até para legitimar absurdos como este tal “juiz de garantias”…

Esses “clarividentes achegados” que mergulham na posição de “eminência parda”, transitando nos corredores palacianos como fantasmas, assustam o que querem de melhor para o País porque têm o poder de nomear e demitir ministros de Estado, até por correspondência….

Se nós tivéssemos, pobres cidadãos comuns, o dom de embaralhar as cartas advinhatórias, poderíamos convencer o eleitorado ávido de truques que a maioria dos políticos profissionais repartem com os seus assessores intrujões, além dos contracheques, o descaso pela Nação, os equívocos nas votações do Congresso, atos administrativos e sentenças judiciárias.

Para chegarmos ao impossível nesta chegada de 2020, precisamos saber quem são as pitonisas no círculo íntimo dos presidentes das casas do Congresso, sob as bancadas do Supremo e nos porões do Planalto…