Arquivo do mês: julho 2015

Feitiço do Tempo

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br )

“A única razão para o tempo é para que não aconteça tudo no mesmo instante.” (Albert Einstein)

Einstein demonstrou que o tempo é relativo, numa dimensão variável conforme o espaço; seja, não é uma linha reta e imutável. Comprovamos essa relatividade na política brasileira assistindo a derrocada do projeto dos vinte anos de poder petista, por si só, implodindo pela incompetência e corrupção.

Esta conjuntura desastrosa foi considerada em editorial do jornal britânico ‘Financial Times’ como um “filme de terror sem fim”.  O realismo dos ingleses é tenebroso; tentando a mesma definição da situação nacional, prefiro a versão hollywoodiana de alta comédia através do filme de 1993 dirigido por Harold Ramis, ‘Feitiço do Tempo’.

A produção foi registrada como historicamente significativa pelo National Film Registry dos Estados Unidos. Adoro e recomendo aos amigos. Não me canso de assistír a correta interpretação de Bill Murray e Andie MacDowell.

Já vi umas dez vezes a história do repórter do tempo de canal de TV, Phil Connors (Murray), um chato de galocha que foi fazer a cobertura do Dia da Marmota na cidadezinha interiorana de Punxsutawney. A Marmota é sua homônima, também se chama Phil, e profetiza o fim ou a continuidade do Inverno.

Com a sua equipe, a produtora Rita (Andie MacDowell) e o câmera Larry –  que não suportam seu egocentrismo –, grava a cerimônia tradicional, mas fica preso em Punxsutawney por causa de uma nevasca; daí em diante fica repetindo o mesmo dia várias vezes. Sempre que acorda no dia seguinte, não é o dia seguinte, mas a repetição do Dia da Marmota.

A esta situação estranha de déjà vu, comparo com a degringolada do Partido dos Trabalhadores com seus membros e simpatizantes assistindo a cada dia o repeteco dos roubos do Erário pelos seus companheiros, descobertos pelo Ministério Público Federal e a Polícia Federal.

Começou muito antes, mas a nova série – a Lava-Jato – já está na 16ª temporada, no capítulo da Radioatividade, que ultrapassa o assalto e a ruína da Petrobras, com um trailer para a extorsão no setor elétrico, outra versão do ‘Mensalão’ e do ‘Petrolão’. É o começo do ‘Eletrolão’, que já levou um vice-almirante e vários executivos de empreiteiras para a cadeia.

Eu imagino como se sentem os membros da esquerda caviar acordando diariamente às seis horas da manhã com o rádio-relógio repetindo o estribilho da música de Lobão, trazendo notícias de mais corrupção descoberta pela PF.

São pelegos de sindicatos, diretores de fundos de pensão, grandes empreendedores com crédito no BNDES e ocupantes de cargos governamentais com altos salários. Estão no alto dos seus apartamentos de milhões de dólares, de frente para o mar, com a boca escancarada cheia de dentes mastigando slogans socialistas.

Deve ser um pesadelo repassar cotidianamente situações vergonhosas de um projeto que foi deturpado pela ideologia troncha da pelegagem. Não será confortável identificar-se com os ladrões do patrimônio público. Creio ser um castigo reviver situação de acumpliciamento com um partido que se tornou uma organização criminosa.

A cidade de Punxsutawney dos petistas pode ser Pelotas, Ponta Grossa, São Bernardo, Uberlândia, Maceió, Natal, Parnaíba ou Belém… Eles ficam sentados nas suas poltronas, esperando que a Marmota anuncie o fim do Inverno; mas, em vez disso, o animal sapiens sai da toca anunciando que não vai colocar meta.Vai deixar a meta aberta, e  quando atingir a meta, dobrará a meta. Ele não entenderá, mas aplaudirá irracionalmente.

Estes extemporâneos esquerdistas deveriam fazer como o repórter do Feitiço do Tempo, que reviu seu egocentrismo. Para escapar da nevasca criminosa do lulo-petismo, precisam repensar  a dialética idealista, a gravidez do sectarismo bastardo, o ruminar das idéias de Gramsci e a cumplicidade maléfica com o PT-governo em nome de um tempo que a muito ficou no passado…

Catilinária

Miranda Sá (E-mail: mirandasa@uol.com.br )

“Até quando, Catilina, abusarás
da nossa paciência? 
Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós?” (Marcus Tullius Cicero)

O embate de Marcus Tullius Cicero contra Lúcio Sérgio Catilina é envolta de muito mistério. Historiadores especializados em História Romana não conseguem unificar opiniões; e assim persistem controvérsias a respeito da adoção político-ideológica das duas figuras que tanto se projetaram, chegando à atualidade. A única convergência é que ambos são tratados apenas pelo primeiro nome: Cícero e Catilina.

O que nos chega ao exame dos fatos é a versão dos inimigos de Catilina, tal como nos ensinou o grande Machado de Assis no seu romance Quincas Borba: “Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”.

O vencedor, Cícero, é por demais conhecido; quanto a Catilina há apenas retalhos do seu perfil. Foi amigo de Júlio César e de Crasso, e seguiu a carreira política, como questor, pretor e governador da África.

A briga dos dois começou quando Catilina candidatou-se a cônsul e foi derrotado por Cícero. A derrota se deveu à acusação de que ele desejava a volta da monarquia, conspirando com jovens patrícios ambiciosos e com os gauleses insatisfeitos com a administração de Murena, indicado por Cícero.

Levando à nuvem a verdade histórica e mesmo a sua explicação, o que restou foram os discursos do orador ímpar que foi Cícero. Nos meus tempos de ginásio (2º grau) a gente estudava latim, e as peças mais apreciadas eram justamente as quatro ‘Catilinárias’, onde aprendíamos a força das palavras.

Nos vestibulares para Direito, também entrava o latim e, consequentemente, Cícero; e o verbete ‘catilinária’ compõe os dicionários como acusação violenta e eloquente, censura, repreensão veemente.

Quando cobri as sessões da Câmara dos Deputados, ainda no Rio, no Palácio Tiradentes, ouvi muitos discursos com frases tiradas das Catilinárias, e uma delas era repetida quase sempre: “Oh, tempos, oh, costumes”.

O tempo e os costumes de agora nos fazem lamentar a falta de um grande orador no Congresso Nacional. Falta alguém para traduzir o sentimento indignado do povo contra o domínio do mal representado pela dupla nociva de Lula e Dilma; falta alguém que acuse diretamente a roubalheira e a incompetência com a força da razão.

Lembro o capítulo da História do Brasil em que o paraibano José Américo de Almeida semanas antes do golpe de 1937 verberou contra o governo Getúlio Vargas: “É preciso que alguém fale, e fale alto, e diga tudo, custe o que custar!”

Reconheço que não faltam parlamentares oposicionistas atacando o insano governo Dilma. Há muitos, e eu até tenho me surpreendido com a qualidade de alguns jovens deputados e senadores que assisto pela TV. A falha está no uso de uma linguagem que o povo entenda, dizendo tudo, trocando em miúdos o que os assaltantes do patrimônio público fazem no Brasil.

É preciso traduzir para o povo as alianças espúrias do lulo-petismo com ditadores, terroristas e até com o crime organizado. A arte de discursar manifestando com discernimento precisa ser levada às massas.

Para desmascarar a pelegagem corrupta que ocupa o poder repudiado por 93% do povo brasileiro estaríamos melhor com a oratória elegante de um Carlos Lacerda, Flores da Cunha, João Mangabeira e Vieira de Melo ou a vibração contundente de um Leonel Brizola.

Lembro que a primeira Catilinária foi um improviso de Cícero cara a cara com Catilina, que poderia ser dirigida hoje à organização criminosa que domina o País e ao golpismo sórdido de Lula da Silva, com as mesmas palavras: “Não vês que a tua conspiração já está dominada por todos que a conhecem?”

 

Hermes Fontes

Jogos de sombras 
Sempre que me procuro e não me encontro em mim,
pois há pedaços do meu ser que andam dispersos
nas sombras do jardim,
nos silêncios da noite,
nas músicas do mar,
e sinto os olhos, sob as pálpebras, imersos
nesta serena unção crepuscular
que lhes prolonga o trágico tresnoite
da vigília sem fim,
abro meu coração, como um jardim,
e desfolho a corola dos meus versos,
faz-me lembrar a alma que esteve em mim,
e que, um dia, perdi e vivo a procurar
nos silêncios da noite,
nas sombras do jardim,
na música do mar…

Publicado no livro A Fonte da Mata…:

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A Mandioca

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

A mandioca é um arbusto da família das euforbiáceas (manihot utilíssima), cujas raízes são tubérculos grossos, alguns enormes, ricos em amido e considerável uso na alimentação. Dela também se tira uma espécie de vinagre, o tucupi, muito usado no Norte do Brasil; e uma aguardente indígena de forte teor alcoólico chamada tiquira, Canjinjin ou Cataia.

Do seu tipo venenoso se faz a farinha-de-mesa e goma para tapioca. Diz-se autóctone das Américas, onde já existia há 5.000 anos. Expandiu-se pelo mundo levada por navegadores e colonizadores portugueses e já era encontrada largamente na Ásia e na África no início do século 17.

Mesmo sem ter estudado Botânica sei que são várias espécies encontradas no Brasil, e pela vivência conheço muitos nomes dados à mandioca, como aipim, aipi, macaxeira, maniva, manivieira, pão-de-pobre, pão-da-tarde e uaipi. No completo Dicionário de Gíria de J.B. Serra e Gurgel encontramos o verbete ‘mandioca’: Subs. Fem. O pênis.

Como no largo e variado emprego na cozinha, a palavra mandioca é freqüentemente usada na linguagem popular, referindo-se ao órgão reprodutor masculino no palavreado chulo. Vem de longe na História, em que o pênis aparece cultuado como o deus Priapo, provedor da fertilidade dos campos agrícolas e dos jardins.

Esta divindade foi da Ásia Menor para a Grécia, onde se tornou filho de Afrodite e Zeus na mitologia. A lenda contava que ainda feto, Priapo teve a forma humana substituída no ventre da deusa por um fálus que passou a ser adorado como o deus do sexo.

Chegou a Roma como filho de Baco, e tornou-se o deus da libido ocupando uma posição de destaque nas festividades orgíacas, saturnais e bacanais, nada diferentes das que ocorriam na Ásia e na África, concentrações de praticantes desse culto. Nas Américas dos incas, maias e astecas também foram encontradas representações de falos, em desenhos, estatuetas e jóias.

No Brasil, os cultos africanos primitivos dedicavam as noites de lua nova ao orixá Okô, regente da agricultura e da colheita. Okô ainda é venerado nos candomblés da Bahia e é encontrado à venda como adorno, amuleto e talismã, e como estatueta humana de ferro com um enorme falo.

A mandioca, para a presidente Dilma, sacerdotisa do besteirol, “é uma das maiores conquistas deste País”, afirmou no discurso de lançamento dos Jogos Mundiais Indígenas, e nos deixou perplexo… Não sei onde ela foi buscar isto, criando uma vertente além nas civilizações do arroz, do trigo e do milho…

Claude Lévi Strauss, vanguardeiro da corrente estruturalista da Antropologia, jamais ensinaria isto, embora tenha abordado nos seus estudos, investigações e reflexões filosóficas da alimentação como base da cultura dos povos.

Lévi Strauss foi do mel às cinzas, da canja de arara ao cozido de tatu e da farinha de milho à farinha de mandioca. Escreveu “O Cru e o Cozido”, um trabalho sobre a alimentação indígena e, evidentemente abordou a mandioca; e jamais afirmou que o tubérculo seria “uma conquista” de quem quer que fosse…

Esta asneira presidencial, pronunciada na presença de indígenas de vários países, envergonha os brasileiros letrados. E foi pior; Dilma falou com o sorriso alvar dos presunçosos manuseando uma bola artesanal de folha de palmeira que ganhou de presente dos representantes neozelandeses.

Sobre a bola, não negou sua ignorância: “esta bola é o símbolo da nossa evolução porque nós nos transformamos em homo sapiens ou mulheres sapiens”… Contribuiu dessa maneira para a separação de gêneros na Antropologia, motivo de chacota nos círculos científicos no mundo inteiro.

A tal “mulher sapiens” prostra-se diante do altar da mandioca invocada pela Presidente; não sei se a introdução dessa ritualística levará os lulo-petistas à adoração da Euforbiácea como raiz ou como pênis. Por uma proposta democrática, deixo-lhes à vontade para escolher o jeito desta reverência…

Garcia Lorca

AR DE NOTURNO

Tenho muito medo
das folhas mortas,
medo dos prados
cheios de orvalho.
eu vou dormir;
se não me despertas,
deixarei a teu lado meu coração frio.

O que é isso que soa
bem longe?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu!

Pus em ti colares
com gemas de aurora.
Por que me abandonas
neste caminho?
Se vais muito longe,
meu pássaro chora
e a verde vinha
não dará seu vinho.

O que é isso que soa
bem longe?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu!

Nunca saberás,
esfinge de neve,
o muito que eu
haveria de te querer
essas madrugadas
quando chove
e no ramo seco
se desfaz o ninho.

O que é isso que soa
bem longe?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu!

 

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Ferreira Gullar

Poemas Neoconcretos I

mar azul

mar azul marco azul

mar azul marco azul barco azul

mar azul marco azul barco azul arco azul

mar azul marco azul barco azul arco azul ar azul

 

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Florbela Espanca

Saudades

Saudades! Sim.. talvez.. e por que não?…
Se o sonho foi tão alto e forte
Que pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?… Ah, como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão.

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar
Mais decididamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais saudade andasse presa a mim!

Florbela Espanca, in “Livro de Sóror Saudade”

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Prokofiev – Roméo et Juliette – Danse des Chevaliers

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Mahler – Symphony Nº 2

Haydn – Han Na Chang – Concerto No.1 para Cello