Arquivo do mês: maio 2008
Poesia
A PULGA
Nota esta pulga, e nota, através dela,
Que o que me negas é uma bagatela;
Tendo sugado a mim, e a ti depois,
Nela se mescla o sangue de nós dois;
Sabes que isso não pode ser chamado
Defloração, vergonha, nem pecado;
Ela, no entanto, rude e ousada,
De sangue duplo se deforma empanturrada,
E, perto disso, o que desejo, ai! não é nada.
Pára! Três vidas poupa este momento,
Onde houve quase… oh, mais que um casamento.
Somos a pulga, e a nós ela é perfeito
Templo de núpcias e de núpcias leito;
Contra ti e teus pais, a união se deu
Nesse claustro murado em vivo breu.
Matando-me pela honradez,
Praticarás o suicídio a uma só vez,
E o sacrilégio,três pecados pelos três.
De púrpura manchaste, sem demência,
As unhas com o sangue da inocência?
Essa pulga seria tão daninha,
Só por te haver sugado uma gotinha?
Porém, exultas porque após tal morte
Nenhum de nós se mostra menos forte.
Bem, vê como o temor é ruim;
Perderás tanto de honra ao vires para mim.
Quanto de vida porque a pulga teve fim.
John Donne
Trad. de Jorge de Sena
O Poeta
Nascido em Londres numa rica família católica e depois convertido ao anglicanismo, John Donne (1572-1631) é um dos expoentes da chamada “poesia metafísica” inglesa. De início, vale observar com cuidado essa denominação. O termo metafísico, nesse caso, não corresponde ao seu significado atual. No início do século XVII, metafísica queria dizer, mais ou menos, “filosofia”. Portanto, eram poetas “pensadores”. Obviamente, não poderia ser metafísico, com o significado de hoje, um poema erótico como “Elegia: Indo Para o Leito”.
É verdade que esse erotismo situa-se mais no campo da imaginação que da experiência. Convertido ao anglicanismo, John Donne tornou-se também um clérigo da nova fé. Em 1624, foi nomeado deão da catedral de São Paulo, título que manteve até a morte. São famosos, mais que sua poesia, os sermões e outros textos de inspiração religiosa que ele escreveu. Um deles é amplamente conhecido e citado, embora nem sempre quem o cita saiba associar o texto ao autor.
É o texto que contém a célebre frase: “nunca mandes indagar por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.”Trata-se da “Meditação 17”, escrita por Donne em 1624. Nessa página, assim como em outras 22 meditações, ele reflete profundamente sobre a morte, motivado por uma severa enfermidade, da qual se recuperou. Sair dessa doença, escreveu Donne, foi, como nascer de novo. Transcrevo aqui o trecho mais conhecido dessa meditação. A “Meditação 17”, de Donne, inspirou o título do romance Por quem os sinos dobram, de Ernest Hemingway, publicado em 1940.
Outra curiosidade: parte da tradução de “Elegia: Indo para o Leito”, de Augusto de Campos, foi musicada por Péricles Cavalcanti e gravada por Caetano Veloso no disco Cinema Transcendental (Polygram, 1979). Mais uma dica: todo o conjunto das Meditações de Donne foi reunido agora numa edição bilíngüe, lançada no Brasil pela Editora Landmark. A tradução é de Fabio Cyrino.
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FRASE DA VEZ_3/31
“Qual o brasileiro que não sente saudade do Brizola?”
Pedro Porfírio, jornalista
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HISTÓRIA
Hitler no Brasil
De repente, no palanque, Hitler e seu bigodinho preto, discursando com seu alemão gutural de sotaque austríaco. Os cadetes explodiram numa vaia poderosa, seguida de assovios e gritos: “Fora, palhaço”! O filme foi interrompido, acenderam-se as luzes e falou o capitão Menezes Cortes:
“O comandante coronel Fiúza de Castro está decepcionado com o procedimento dos senhores. Manda avisar que quem tomou parte na vaia não será mais digno de usar o espadim de Caxias. Vamos descobrir quem começou essa molecagem. A luz vai apagar e o filme voltará a ser exibido”.
Voltou. E, mal Hitler reapareceu, as vaias também voltaram ainda mais estrondosas. As luzes reacenderam, os cadetes foram abruptamente retirados, levados para o pátio da escola e postos virados para o sol, por mais de duas horas. E o capitão Menezes Cortes desfilando e ameaçando:
“Só sairão daqui quando soubermos quem começou a vaia”.
Nunca souberam. Dedo-duro no Exército foi invenção do golpe de 64.
Sebastião Nery, jornalista
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Comentário (III)
Cuidados
Voltou o presidente Lula, esta semana, a bater na mesma tecla de que o seu governo é único na História do Brasil, que pela primeira vez os pobres têm vez, que nenhum antecessor cuidou deles, desde a proclamação da República.
Já nos acostumamos a essas demonstrações de, com todo o respeito, soberba e empáfia. Afinal, constituiu-se o nosso passado numa mentira, apesar de muitos ex-presidentes terem desprezado os menos favorecidos, governando apenas para o andar de cima? Nesse caso, quem poderá garantir que o futuro será uma verdade?
Melhor faria o presidente se daqui por diante se abstivesse de jogar pedras no passado, utilizando todas elas para construir o futuro. Afinal, de Deodoro da Fonseca a Getúlio Vargas, de Juscelino Kubitschek a João Goulart, sem esquecer os generais-presidentes, muitas almas aflitas devem estar querendo voltar para esclarecer os fatos…
Carlos Chagas, jornalista
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VERGONHA
Sob pressão de Blairo Magggi, Minc recua
O ministro Carlos Minc, do Meio Ambiente, assinou ontem uma portaria que reabre crédito a produtores de 100 municípios onde há desmatamento, fazendo-o sob pressão da área econômica e de governadores, capitaneados por Blairo Maggi.
Vergonhosament, o Ministro flexibiliza uma portaria anterior, assinada em março pela então ministra Marina Silva e divulgada oficialmente durante o 1º Fórum dos Governadores da Amazônia Legal, em Belém.
(TI/MS)
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PROCESSO NO TSE
Governador e vice de SC ameaçados de cassação
O Diário Oficial da União de segunda-feira vai estampar a decisão do último julgamento do processo de cassação contra o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira, no Tribunal Superior Eleitoral cujo acórdão deverá oficializar a rejeição dos argumentos da defesa de Luiz Henrique, que pediu o arquivamento do caso no último dia 27 de março.
O pronunciamento da instância superior é aguardado com ansiedade pelos advogados de ambas as partes. Com a publicação na segunda, a defesa de Luiz Henrique terá três dias para contestar o acórdão, caso não fique claro no texto a possibilidade do governador apresentar nova defesa.
O processo contra a diplomação de Luiz Henrique da Silveira (PMDB) e do vice Leonel Pavan (PSDB), foi movido pela coligação adversária na eleição de 2006, com a denúncia de abuso do poder político e econômico durante a campanha, o que teria desequilibrado a disputa e tornado a eleição inválida.
(Robson Banin/Zero Hora)
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CHAMEM O EXÉRCITO!
40 deputados cariocas apóiam a corrupção
Quarenta deputados estaduais votaram a favor do decreto legislativo que determinou a imediata revogação da prisão do deputado Álvaro Lins (PMDB), acusado, na operação Segurança Pública S/A, de chefiar um esquema de corrupção em delegacias. Outros 15 parlamentares votaram não, contra a medida.Lins foi chefe da Polícia Civil nos governos Anthony Garotinho e Rosinha Matheus.
Dos 55 deputados presentes, 40 votaram sim e 15, não. Era necessária maioria absoluta de votos para a revogação da prisão. Dos 70 deputados, 33 estão na mira do Ministério Público Estadual, do Tribunal de Justiça, do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e até do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), denunciados por diversas acusações – estelionato, improbidade e até formação de quadrilha e homicídio.
(Extra/Noblat/MS)
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UTILIDADE PÚBLICA
Desconto em vôos para AL de até 80%
A partir de deste domingo (1º), as empresas aéreas poderão conceder descontos de até 80% sobre os preços das passagens para vôos com destino a qualquer país da América do Sul. Pela nova resolução da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), o limite de descontos aumentará de forma gradual, até a adoção de um regime de liberdade tarifária total, em 1º de setembro, quando as companhias poderão cobrar qualquer preço pela passagem.
Anunciada em fevereiro pela Anac, a medida faz parte da liberação gradual das tarifas dos vôos que saem do Brasil com destino a 11 países da América do Sul –Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana e Suriname– e Guiana Francesa.
As tarifas de vôos para a América do Sul tinham descontos limitados a um máximo de 30% do valor de referência da Iata (associação internacional de transporte aéreo), patamar que em março passou a 50% e, agora, poderá ser de até 80%.
(FolhaOnline)
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Robert Rauschenber
Robert Rauschenber nasceu em 1925, em Port Arthur, no Texas e estudou no Kansas City Art Institute, no Academie Julian em Paris, e com Josef Albers no Black Mountain College na Carolina do Norte, antes de se fixar em Nova York onde estudou no Art Students League e onde desenvolveu relações mais profundas com Cy Twombly, Jasper Johns , John Cage, e Merce Cunningham.
É considerado um dos artístas de vanguarda da década de 1950, pois foi nessa época que, depois das séries de superfícies com jornal amassado do início da década, o artista deu início à chamada combine painting, utilizando-se de garrafas de Coca-Cola, embalagens de produtos industrializados e pássaros empalhados para a composição de uma pintura composta por massa pigmentária como estes objetos. Estes trabalhos foram precursores da Pop Art.
Rauschenberg assim une a pintura à comunicação, desprovendo esta (em sua opinião) de sua “aura” – conceito desenvolvido nas obras de Walter Benjamin- e dizia não confiar em idéias, preferindo os materiais, pois eles o colocariam em confronto com o desconhecido. O artista, mais jovem, fez parte do movimento Dadá em Nova York, assim empregando ” processos de collage fotográfico e serigráfico, produzindo impressões diretas de objetos imagísticos sobre placas sensibilizadas”
Acreditava ele que a pintura se relacionava com a vida e com a arte, assim buscando agir entre estes dois pólos. Nessa perspectiva o artista em Bed pinta o que acredita-se ser sua própria coberta, tornando a obra tão pessoal e íntima quanto um auto-retrato, confrontando assim o pessoal de uma cama arrumada como tal, com o meio artístico, ao pendura-la em uma parede, na vertical. Assim ainda que a cama perca sua função, ela ainda pode ser relacionada à atividades íntimas nela exercidas.
Nesse marco, os limites entre a pintura e a escultura são tensionados até sua ruptura, bem como os limites entre o cotidiano e a arte. Os elementos inclusos em seu trabalho fazem referências à cultura popular, enfatizando a teoria de Rauschenberg sobre objetos diários e a arte.
Na década de 60 Rauschenberg usou o silk-screen para imprimir imagens fotográficas a grandes extensões da tela, unificando a composição através de grossas pinceladas de tinta e ganhou reconhecimento internacional na Bienal de Veneza de 1964.
Morreu em Tampa, na Flórida, no dia 13 de maio aos 82 anos. Tinha exposto recentemente no Museu de Serralves, no Porto.
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FRASE DA VEZ 2/31
“O fígado faz muito mal à bebida.”
Barão de Itararé, o Aparício Torelly, jornalista, escritor
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