Arquivo do mês: outubro 2019
NEOLOGISMO
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
“A imaginação é essencialmente criadora e sempre procura uma forma nova”. (Oscar Wilde)
Não tenho certeza se o aforismo é do poeta e fabulista francês La Fontaine, porque não me lembro de onde tirei e o tenho apenas de memória; mas tenho quase certeza de que é dele: “O mundo jamais careceu de charlatães e a charlatanice é até reconhecida como ciência por alguns juízes”.
E por falar em charlatanice (perdoem-me os doutores laureados pelo estudo da linguística na sua forma escrita), eu gostaria de ser um grafólogo para analisar as sentenças dos supremos ministros do STF. Será que suas letras tremem ao escrever barbaridades para salvar seus bandidos de estimação? Ou para mentir descaradamente pelo mesmo motivo?
Mas os tempos são outros, a caligrafia já era… eles usam o teclado do computador, sempre criando dificuldade para o estudo dos seus escritos. Sabem que a frieza impressa não revela emoções. Para conhecer o caráter deles, somente pelo voto oral, que ainda podemos acompanhar pela TV-Justiça…
Neste caso, sem as letras manuscritas, louvamos Gutenberg – o inventor da prensa de tipos móveis –, por termos nas mãos livros, e o livro “Código da Vida”, memórias autobiográficas do advogado Saulo Ramos, ex-consultor-geral da República e ex-ministro da Justiça no governo Sarney.
O livro desnuda a falsa moral reinante no Supremo e em particular de Celso de Mello, cheio de fricote com as críticas do presidente Jair Bolsonaro, mas que se calou covardemente quando o presidiário Lula da Silva disse que os ministros do STF estavam acovardados.
Sobre Celso, conta Saulo um episódio curioso no julgamento do pedido de impugnação da candidatura de Jose Sarney pelo Estado do Amapá, em que Celso votou pela impugnação. Covarde, apressou-se em justificar com Saulo o voto dado: -“Doutor Saulo, o senhor deve ter estranhado o meu voto; – “Claro! ”, disse Saulo, “O que deu em você? ”
Aí Celso tentou justificar: — “É que a Folha de São Paulo, na véspera da votação, noticiou que o presidente Sarney tinha os votos definidos favoravelmente e o meu nome como um deles; e então estando garantida a vitória dele, não precisava mais do meu, então decidi desmentir o jornal…”
Saulo não se conteve. –“Então você votou contra o Sarney porque a Folha de São Paulo noticiou que você votaria a favor? … E se o Presidente não estivesse garantido ao chegar à sua vez, você votaria a favor dele? ”.
Celso se animou e garantiu: -“Sim, exatamente; o senhor entendeu? ” Saulo então foi curto e grosso: — “Entendi. Entendi que você é um juiz de merda! ”.
Voltando aos presente, vimos que o presidente Jair Bolsonaro teve um rompante para se defender dos ataques que vem sofrendo, divulgando um vídeo zoológico (que depois apagou) onde ele aparece como um leão enfrentando uma manada de hienas nomeadas como o STF, o PSL, a OAB e a Mídia, entre outras.
Não sei se o cidadão Jair Bolsonaro é afeito à zoologia, a ciência que estuda a vida animal; eu não sou, mas sei bem o que são metáforas e neologismos, para que servem, atingindo a quem se quer atingir.
Bolsonaro desenhou uma audaciosa metáfora; e eu atrevi-me a enfrentar o grande Diderot, que disse: – “Só Deus e alguns gênios raros continuam a avançar nas inovações” Então criei a palavra “deshienação”, usando-a para uma caprichada limpeza nas instituições brasileiras, limpando-as, para que a Ética e a Justiça imperem no Brasil, tão necessitado delas!
OS NOMES
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
“Está comigo, está perdido comigo o teu nome, em alguma gaveta” (Ferreira Gullar)
Encontrei outro dia uma historieta interessante que ilustra a música popular brasileira, fora dos padrões impostos pela meia dúzia de três ou quatro que assumiu o seu domínio em favor dos mesmos de sempre. Passou-se com o excelente compositor e letrista Pedro Caetano, ainda na memória dos que gostam da boa música.
Conta-se que ele estava numa festa quando uma garota lhe pediu que fizesse um samba para ela. Encantado pelo sorriso e a graça do brotinho perguntou-lhe pelo seu nome, que era Maria Madalena de Assunção Pereira.
Soou tão musical e perfeitamente metrificado, que ele pegou o violão e iniciou os primeiros versos: – “Maria Madalena de Assunção Pereira / teu beijo tem aroma de botões de laranjeira”… O cantor Cyro Monteiro ouvindo, pediu para gravar o samba e no sábado seguinte lançou-o no Programa de César Ladeira, na Rádio Mayrink Veiga, com retumbante sucesso.
Quando foram gravar o disco, a censura proibiu-o alegando que o nome completo feria a privacidade da pessoa. Então Pedro Caetano e Cyro Monteiro ouviram a sugestão de César Ladeira substituindo o nome por Maria Madalena “dos Anzóis” Pereira…
Assim um nome arranjado entrou no folclore para designar pessoa desconhecida ou que não se quer nominar.
No suceder das gerações vê-se como os nomes próprios pessoais saem e voltam à moda. Eu sou um exemplo disto: Com sessenta anos, caminhava pela Praia de Ponta Negra, em Natal, ouvi uma voz gritando “Henrique! ”; era uma jovem mãe chamando o filho pelo meu nome de infância e juventude, que para mim ele tinha ficado fora de uso.
Nunca mais ouvi os nomes das meninas dos meus tempos de colégio, Alice, Bernadete, Dejanira, Leda, Margarida, Marli… Nem dos meus colegas Ademar, Bento, Hipólito, Honório, Sebastião, Ubirajara.
Há uma lenda em torno do nome Cristóvão, esquecida. Ele era um jovem desobediente às regras sociais, andante sem destino, que foi castigado a transladar pessoas de uma margem para outra num rio. Descansava um dia, quando ouviu uma voz infantil pedindo-lhe ajuda para atravessar a corrente. Era um menino franzino que lhe deu pena e levou-o sobre os ombros para o outro lado.
Estranhou que a criança pesasse demasiado, inusitadamente, quando ouviu dela: – “Pelo teu nome, transportastes sobre as águas Aquele que pelo sacrifício livrou-te dos pecados”. Foi assim que Cristóvão ficou sabendo que o seu nome quer dizer “portador do Cristo”.
Houve uma época em que eu, nacionalista extremado, estranhava que a política brasileira fosse dominada por pessoas de sobrenome estrangeiro, italianos, na sua maioria, havendo também muitos libaneses, sírios, turcos, espanhóis, judeus e japoneses. Apareceram depois, cheios de letras dobradas, dáblios, ipsilones, russos e até búlgaros…
Eu devia ter aprendido com Oscar Wilde que “a experiência é o nome que damos aos nossos erros”. Errei por pura besteira na xenofobia patronímica, porque nenhum dos descendentes dos emigrantes que ajudaram a levantar o Brasil é melhor ou pior do que os Barros, os Calheiro, os Carvalho, os Costa, os Queiroz, os Rego, os Ribamar e os Silva…
Apesar do nepotismo surfar nas ondas do favoritismo e dos privilégios, não é o nome que faz o político, como fez com São Cristóvão, o protetor dos condutores e motoristas, santo venerado por católicos romanos, ortodoxos e como Xangô, um poderoso orixá da Umbanda
Faz bem o judaísmo que não reconhece e evita falar o nome de Deus. Os que não sabem, dizem que é Jeová, mas este nome, entretanto, é usado somente por algumas denominações evangélicas.
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IGNORÂNCIA
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
“O que nos causa problemas não é o que não sabemos, mas aquilo que temos a certeza que é verdade” (Mark Twain)
É assustadora a obrigação de tomar conhecimento da Lei, conforme ordena a Introdução ao Código Civil, que traz no seu artigo 3º: “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”.
Isto atinge em cheio, calculando por baixo e com muito otimismo, 80% da população brasileira, onde, sem excluir bacharéis em direito e até mesmo doutores diplomados na variedade dos cursos universitários, maioria é formada por pessoas que não sabem sequer escovar os dentes, como disse o general João Batista Figueiredo.
Trata-se, porém, de uma presunção legal absoluta que atropela a ignorância inocente e vulgar. Fico às vezes pensando como é torturante sujeitar milhões de pessoas honestas a conhecer e entender o incomensurável universo das leis federais, estaduais e municipais…
Imagino que a própria Constituição de 88, tão citada, um catatau enciclopédico vindo de egos vaidosos dos constituintes mal saídos de um regime de exceção, dissidentes e ex-colaboradores querendo parecer mais democratas e mais humanistas do que os outros.
Essa Constituição é tão abrangente ao enumerar direitos e tão lenitiva com os criminosos que nos leva a perguntar, como fez o grande Dostoiewski; “Porque, seus ignorantes, haveis de praticar fraudes fora da Lei? Há dentro dela muito espaço para fazê-las…”
Os políticos e magistrados corruptos sabem disto muito bem. Os ignorantes que restam continuam sendo presos por uma barra de chocolate, enquanto se trama nos porões dos três poderes a impunidade para o chefe da Orcrim política, Lula da Silva, condenado e preso por corrupção e lavagem de dinheiro.
Assistimos o STF encenar a sua própria interpretação constitucional do artigo que reza “todos são iguais perante a Lei”, admitindo, pelo favoritismo, que os seus protegidos são “mais iguais do que os outros”.
Na tribuna diante dos divinos ministros, advogados são milionariamente pagos por saberem explorar a diferença entre o desconhecimento da lei e o erro de interpretação do texto. E com a mesma sutileza capciosa dos julgadores livram seus clientes de colarinho branco.
Do lado de cá, passando pelo túnel que evita contato dos deuses togados com o povo, vive a Ignorância, um sonoro substantivo feminino de origem latina, (ignorantĭa,ae) interpretado como a condição do indivíduo sem instrução, que não tem cultura, experiência ou prática em alguma coisa.
A ignorância é classificada de três maneiras: ignorância factual (ausência de conhecimento de algum fato), ignorância objetual (não-familiaridade com algum objeto) e ignorância técnica (ausência de conhecimento de como fazer alguma coisa).
A primeira, em relação ao arcabouço jurídico, é do povão; a segunda, das classes médias letradas, fugindo da realidade; e a terceira, a secular e repetida prática dos que ocupam eventualmente o poder.
Pela incultura e desinformação das massas, o teólogo e orador sacro Martin Luther King construiu um belo pensamento: “Nada no mundo é mais perigoso que a ignorância sincera e a estupidez consciente. ”
E é assim que o Brasil se divide, não pela Geografia Física, mas entre a ignorância e a estupidez. Numa banda, ficamos enfrentando a desinformação dos cúmplices da corrupção que aliena o povo; na outra banda, sobrevoam os corvos grasnando um latinorum bacharelesco para favorecer seus bandidos de estimação.
RELATIVIDADE
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
“A ‘Genebra’, se chamares Genebra, é bebida do povão; se disseres ‘Gin’ é bebida de burgueses” (Pittigrilli)
Curioso e ávido por conhecimentos, li muito sobre o aspecto científico da relatividade e divirto-me muito com a linguagem popular de que “tudo é relativo”. Descobri assim que relativismo é uma moeda, cujas faces no levam a pensar sobre a realidade em que vivemos.
Dicionarizado, o verbete “Relatividade” é um substantivo feminino expressando aquilo que é acidental, casual, fortuito e o que pode ser comparado ou proporcional. Para a Ciência, a “Relatividade” nomeia a teoria revolucionária do genial Albert Einstein, levando à Física novos conceitos de tempo, espaço e movimento.
Einstein defendeu primeiro que tempo e espaço são relativos e estão profundamente entrelaçados; e mais tarde desenvolveu que também a matéria e a energia estão ligadas igualmente como espaço e tempo.
Os curiosos acham a Teoria da Relatividade complicada, por causa da equação matemática, E = mc2 (energia = massa x a velocidade da luz ao quadrado); mas o seu Autor explicou que é fácil entendê-la sentindo que ao lado do seu amor uma hora parece um minuto; mas um minuto parece uma hora quando sentado nu num formigueiro…
Do tempo em que jornalismo era exercício de jornalistas, Carlos Heitor Cony escreveu sobre a relatividade, dizendo que: “Todo conhecimento humano é relativo. Cada subida prepara a queda proporcional. Cada fossa abre espaço para a altura equivalente. No final da estrada estamos no mesmo ponto de onde saímos, no zero, no nada. ”
Acho que os políticos brasileiros deveriam raciocinar sobre isto e deixar de praticar falcatruas, pois quanto mais alto imaginam subir, a inevitável queda se torna maior; entretanto, como a ganância lhes impede pensar, o que lhes resta são as transações para impedir que se investigue os crimes cometidos contra o País e o seu povo.
É preciso atentar para a relatividade das coisas, aprendendo com a simplicidade de Exupéry que escreveu: “É o mesmo sol que derrete a cera e seca a argila”. A cera do poder é efêmera sob o brilho abrasador da realidade, e a argila de que nós somos feitos nos torna rígidos contra o crime organizado e a corrupção.
Por isso, lutamos em defesa da Lava Jato e do Pacote AntiCrime do ministro Sérgio Moro, assistindo o choque entre duas tendências na atual conjuntura sócio-política.
Vemos de um lado, os que querem a volta do status instituído dos governos corruptos do PT e, do outro lado, um vozerio tumultuado com discursos vazios que sabotam a faxina ampla, geral e irrestrita no que resta do antigo regime corrupto e corruptor.
Os saudosistas da Era da Pelegagem mostram-se dispostos a manter a leniência com o crime; são os congressistas eleitos pelo voto cúmplice de eleitores ignorantes e/ou viciados, e ministros alçados aos tribunais superiores pelo favoritismo político.
Contra esta claque que quer brandura para corruptos, levanta-se a maioria patriótica dos brasileiros recusando-se a tomar os amargos xaropes que o relativismo político-jurídico tenta nos ministrar, com a bula do Mateus: “Primeiro os Teus”.
Mantenho-me coerentemente contra as filigranas discursivas dos que abusam da paciência do povo, seja a qual partido pertençam ou da ideologia que dizem defender. Os programas político-partidários e a ideologia são relativos: deles só podemos afirmar que tiveram um começo e fatalmente terão um fim.
O TRIÂNGULO
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
“A geometria é a ciência de todas as espécies possíveis de espaços” (Immanuel Kant)
Havia na Grécia antiga uma escola filosófica em cujo frontispício se lia: “Quem não souber geometria não entre por esta porta”. Nos meus tempos ginasianos tive um professor que nos inculcou postulados e teoremas com tanta insistência que nos enlouquecia…. Mas por isto, sei de cor até hoje os postulados da geometria plana, os teoremas pitagóricos e de Tales, e a relação do triângulo com as retas e paralelas…
Geometria, como um verbete dicionarizado, é um substantivo feminino de etimologia do grego antigo, γεωμετρία; geo- “terra”, -metria “medida”. Uns a classificam como ciência, outros como um ramo da Matemática. Significa comumente, estudo da medida das linhas, das superfícies e dos volumes.
Em todos estudos científicos os vários tipos de geometria estão presentes influenciando pesquisas e seus resultados. É indispensável na arquitetura, na astrologia, na astronáutica e na navegação. Newton nos mostrou com precisão os planetas sobre as tangentes das suas órbitas…
Na geometria, o mistério da esfera, a complexidade do cone e a perfeição da circunferência se rivalizam com o triângulo equilátero. Estas figuras fizeram Euclides dizer que “Deus fez geometria por toda parte”; projetando do seu tempo para os nossos dias o reconhecimento de um deus com precisão matemática…
O triângulo equilátero é mágico. É usado como símbolo reverenciado desde a antiguidade; aparece em todos os textos sagrados das chamadas grandes religiões, sacralizando o número 3 ao representar a divindade pela trindade.
No antigo Egito adorava-se Ísis, Osíris e Hórus; o hinduísmo tem Brahma, Vishnu e Shiva; e o cristianismo e o islamismo possuem Pai, Filho e Espírito Santo.
O ocultismo venera o Delta Luminoso, um triângulo duplicado trazendo no centro o Olho de Rá que tudo vê, e é adotado pela Franco Maçonaria, reverenciando o Grande Arquiteto do Universo no Painel da Loja.
O Triângulo além de aparecer nas artes, nas ciências e nas religiões, também está presente no dia a dia das pessoas, como tese, antítese e síntese; trazendo os ângulos positivo e negativo da convivência, do bem e do mal na vida social.
Oferece-nos o discernimento da realidade e o conhecimento dos indivíduos que nos cercam, particularmente na triarquia dos poderes republicanos, este triângulo obscuro que contraria o que preconizou Montesquieu, pois são iguais apenas nos desígnios do auto favorecimento e privilegiando os achegados.
É o que assistimos, infelizmente, no Brasil, vendo a livrança dos corruptos pelo Executivo, Judiciário e Legislativo. Só não enxergam isto, os que sofrem da cegueira do fanatismo ou são comprometidos com os esquemas da corrupção do lulopetismo, esta praga que atravessou o tempo e é aproveitada ainda hoje por corruptos que vieram depois.
As figuras que controlam as casas do Congresso e transitam nos corredores palacianos mostram diuturnamente as suas tendências para o avanço na coisa pública. Resta-nos a esperança de que a Geometria lhes ofereça a clareza do raciocínio e estimule a reconquista dos valores éticos negados pelos que pregam a falácia do “quanto pior, melhor”.
Que se faça tudo, e se faça com patriotismo em novas ações populares para derrubar os falsos deuses que ocupam nichos da catedral dos nossos sonhos, substituindo-os pelo triângulo do Amor, da Ordem e do Progresso.
FAKE NEWS
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
“A falsidade é susceptível de uma infinidade de combinações; mas a verdade só tem uma maneira de ser” (Jean-Jacques Rousseau)
Sonhei que por todo o Brasil haviam outdoors com a mensagem “MANTENHA O SISTEMA – Chega de investigações”, foi um pesadelo assustando-me como defensor da guerra contra a corrupção que a Lava Jato vem cumprindo patrioticamente.
Quando acordei, lembrei-me do livro de Orwell, “Keep the Aspidristra Flyng”, cujo título adotado no Brasil pela Hemos Livraria Editora foi exatamente “Mantenha o Sistema”; e pensei que os corruptos e seus cúmplices estão exagerando na campanha que empreendem contra os procuradores, policiais federais e juízes da Lava Jato.
Também me veio à mente a locução “Mutatis mutandis” a expressão latina que significa “mudando o que tem de ser mudado” que nos orientou nas últimas eleições presidenciais. É-me inesquecível o que fizeram os integrantes das redes sociais contra a tentativa de volta dos corruptos e corruptores do lulopetismo.
Alegro-me porque não perdi a lembrança das manifestações populares em todo País. A luta contra as ameaças totalitárias do narcopopulismo, os assaltos praticados na Petrobras, demais empresas estatais e bancos públicos, milhões de brasileiros hastearam civicamente a Bandeira Nacional.
Nas ruas, o não-conformismo popular com a roubalheira institucionalizada pelos governos da pelegagem tomara conta da cabeça dos brasileiros e terminou levando Jair Bolsonaro à presidência da República.
Todos aplaudimos o início de governo com um ministério indicado fora dos padrões populistas implantados anteriormente como “governo de coalizão” que na verdade era o troca-troca devasso entre libertinos ocupantes do poder e os picaretas do Congresso Nacional.
Apesar de alguns poucos ministros serem fracos por motivos vários, a força do Governo Bolsonaro está assegurada nas pastas principais, será fastigioso citá-las todas, mas destacam-se a dos Direitos Humanos, Economia, Educação, Exterior e Justiça, postos aqui em ordem alfabética…
Os avanços, embora lentos, são transparentes à vista até dos desconfiados; apesar disto, o Planalto e o Presidente sofrem uma virulenta campanha interna e externa, movida pela chamada grande mídia, pelos aparelhados nos três poderes e pelos que foram privados de mamar nas tetas do Erário.
A tirania do dinheiro – na maioria das vezes oriunda de fraudes, propinas e trapaças – mantém redes televisivas e jornais tradicionais, cujo material jornalístico é característico do “jornalismo marrom”, manipulado, seletivo e sensacionalista.
E na cauda deste cometa da órbita do mal, vêm as fake news, noticiário com notícias falsas divulgadas contra a ordem e o progresso do Brasil. Dizem tratar-se de um fenômeno social e mundial, mas são, na verdade, uma ferramenta de corruptos, criminosos e terroristas.
Para alguns, este termo fake news, de língua inglesa, traduzido para nós como notícia falsa, é novo; entretanto vem de longe, como registra o dicionário Merriam-Webster, é usada desde o final do século XIX.
Inicialmente trazia um objetivo comercial, propagandístico, o que chamamos de propaganda enganosa, mas depois passou a ser usada na política e por “celebridades” escolhidas para criar boatos e reforçar campanhas negativistas por meio de mentiras e disseminação de ódio.
Precisamos estar atentos para estas investidas, sem renunciar aos nossos direitos de expressão, da crítica e das denúncias, presentes na consciência de cada um de nós resistentes contra os defensores do pensamento único.
Não esqueçamos o que Shakespeare pôs na boca de um dos seus personagens: “O diabo pode citar as Escrituras quando isso lhe convém”.
CALIDOSCÓPIO
MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)
“Há um tempo para todos, se eles apenas aprenderem, que o caleidoscópio distorcido nos mova por sua vez”. (Elton John)
A idade avançada traz lembranças inabituais… Estive rememorando a atração que sentia, quando menino, pelo Calidoscópio, que consiste num tubo, tipo de luneta com terminal de vidros espessos superpostos cujo espaço entre os dois encerra fragmentos de vidro colorido.
Visto através de um triângulo de espelhos para a claridade externa, cria um número infinito de mandalas coloridas na medida em que se gire o instrumento. A triangulação dos espelhos formando ângulos de 60º refletem a cada virada quatro imagens duplicadas.
Cheguei a fabricar muitos deles de vários tamanhos para os meus filhos. Catava pela rua pedaços de vidro. A cor mais difícil era o azul, que a gente só achava nos vidros de magnésia de Philips…
Quando eu era menino, cursando o Primário, se escrevia com “K” e a grafia era Kaleidoscópio, hoje o “K” sumiu, mas ainda se usa a versão antiga, Caleidoscópio, com “C” e o ditongo “ei”. Todo mundo dizia que este brinquedo era chinês, porém foi inventado pelo físico escocês Dawid Brewster em 1817, e o seu uso virou uma moda pelo mundo afora.
Dicionarizado atualmente, o verbete Calidoscópio é um substantivo masculino, etimologicamente formado pela combinação de três palavras gregas kallós (“belo”, “bonito”); eidos (“imagem”); e skopeo (“olhar para”, “observar”), com o sentido de “ver belas imagens”.
Passou de instrumento recreativo para fornecer inspiração de desenhos artísticos e publicitários e o seu nome também passou a ter um amplo sentido figurado, referindo-se a imagens bonitas, coisas em constante movimento, mudanças rápidas de comportamento humano e referências poéticas.
Conheci um político paraibano (está morto, vou respeitá-lo omitindo o seu nome) que ficava sempre ao lado do governo mesmo sendo eleito do lado contrário. Um seu adversário escreveu um artigo chamando-o de “caleidoscópio” – um “vira folha”.
Por causa de gente assim, dá um medo danado de ficarmos apegados a uma personalidade e ter de dar explicações se ele mudar de posição, abandonando o discurso eleitoral depois de eleito.
Não são poucos os congressistas que se comportam assim; aliás, pensando bem, me parece que são maiorias na Câmara e no Senado. Agora mesmo a cobertura jornalística do Congresso noticiou que 13 senadores governistas traíram o Presidente votando contra a reforma da Previdência.
Não haverá uma traição maior da que sofreram os obreiristas da USP que fizeram Lula da Silva, um pelego sindical, presidente da República acreditando que “um trabalhador” faria um governo para os trabalhadores e o viram governando para os banqueiros e empreiteiros…
Muito pior, Lula se associou com os 300 picaretas que condenava anteriormente e passou a roubar muito mais do que eles, liberando os filhos, parentes, hierarcas do seu partido, enquanto assaltava o BNDES e a Petrobras.
Uma virada no calidoscópio da vida, os brasileiros derrotaram nas urnas com cores e formas diversas, o lulopetismo corrupto e corruptor.
Uma coisa é certa: as imagens deles nunca se repetirão – só por milagre ou fraude – como os números sorteados na Mega Sena… Assim espero que seja impossível também a tentativa sectária de alguns “direitistas” de trocar uma ideologia por outra, inda que seja diametralmente oposta…
REMÉDIOS
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
“A história exata é sempre vista como paradoxal. O bom historiador está sempre em contradição com o seu meio” (Nietzsche)
Fui hóspede de um querido amigo em Natal, no Rio Grande do Norte, e numa conversação à mesa, a mulher dele reclamou que ele não estava tomando os remédios prescritos pelo cardiologista após a colocação de stents em artérias do coração.
Eu, que me submeti ao mesmo procedimento médico quase ao mesmo tempo que ele, tomei um susto, pois rotinizei obrigatoriamente a medicação diária. Como o meu amigo imprudente, conheço muita gente que é contra os remédios; mas ainda não tinha visto alguém se recusando a cumprir uma prescrição médica vital.
Partindo do ditado “pimenta nos olhos dos outros é refresco”, há também pessoas que negam os avanços da farmacologia e a eficiência dos medicamentos. Eu tenho um primo vegano defendendo “ideologicamente” que os remédios “só fazem bem aos laboratórios estrangeiros…”
Confesso em que houve uma época que eu também refutava as “bolinhas” até o dia em que precisei delas… Combatê-las é, a meu ver, um contrassenso; não reconhece a milenar prática medicinal negando através dos tempos, desde os xamãs europeus, videntes indianos e tibetanos, curandeiros africanos e pajés brasileiros.
No nosso rico País onde a Natureza é pródiga, a fitoterapia estudada entre os indígenas pelo etnólogo amazonense Nunes Pereira, revela a existência da farmácia da floresta, o mítico Noçoquén – horta de plantas curativas –, que, segundo a lenda, é guardada “por uma jovem e bela mulher conhecedora de processos curativos e da oração pela defesa do mundo vegetal”.
A mitologia das tribos Apiacá, Maué, Munducuru e Mura, ensina-lhes como remediar as doenças com a flora, assim como fizeram os geniais Pasteur e Hahnemann, patronos da Medicina moderna.
Antiquíssimo, vive ainda nos nossos dias o Buda da Cura tibetano, apontando o caminho da salubridade com o chá de certas ervas mágicas e a meditação. Além de salvar o corpo físico, o budismo ensina a cura e a evolução da alma pelas sucessivas reencarnações, trazendo o exemplo evolucionário do próprio Sidarta Gautama – O Buda –, na sua passagem pela Terra.
Conta-se que Sidarta pregava sobre a conquista da santidade pelo espírito assumindo uma nova vida material após a morte, quando um dos presentes lhe indagou qual fora a sua primeira encarnação, e ele respondeu: – “Foi uma lebre”.
… E relembrou: – “Caminhando pelo campo, vi um pobre homem botar uma panela no fogo com um pouco d’água. A água ferveu e o miserável nada tinha para acrescentar-lhe; tive pena dele e pensei que uma lebre lhe serviria; então atirei-me à panela”.
Este comportamento altruísta é raro no mundo, pois necessita de ações voluntárias de solidariedade humana, pessoais e coletivas, como o Cristo enfrentou o martírio e a cruz para salvar a humanidade.
Pelo visto, é contraditória a visão terapêutica dos povos ditos primitivos e a desconfiança atual pela farmacologia, seja alopática ou homeopática, que é indispensável no combate de inúmeras enfermidades.
Na verdade, ocorre que só não há remédio para a morte e muito menos para o crime antissocial. Nem o altruísmo budista, nem o sacrifício da autoflagelação de algumas seitas impedem o castigo para os bandidos, traficantes, ladrões, corruptos e corruptores que desrespeitam, infringem e violam os direitos da cidadania.
Que o falso humanismo dos cúmplices da corrupção não nos impeça de sugerir que sejam ministradas aos corruptos, milicianos e traficantes doses cavalares de curare, ao contrário do que fazem alguns ministros do STF, remediando com a impunidade presos condenados pela Justiça em instâncias inferiores.
Manoel de Barros
O apanhador de desperdícios
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
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Manuel Bandeira
Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
— Respire.
— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
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