Arquivo do mês: agosto 2017

POLÍTICA

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“A revolução do futuro será o triunfo da moral sobre a política, e não a manobra de se aproveitar dos outros em proveito próprio”

O povo na sua sabedoria usa o termo “político” como uma pessoa esperta que tem a habilidade de relacionar-se com os outros para engana-los e obter vantagens.

A política, entretanto, é, na teoria, a arte ou ciência de governar e responsável pela organização, direção e administração de nações ou Estados. O verbete “Política” e dicionarizado como um substantivo feminino originário do grego antigo, politikḗ, ciência dos negócios do Estado.

A política seria uma atividade destinada a guiar ou influenciar o modo de governo, a organização de um partido, influir na opinião pública e conquistar eleitores. Como é exercida por políticos, cabe a eles essas tarefas. Por que o político (do grego politikós) ou estadista, é quem se ocupa da política.

Segundo Sócrates, político é um homem público que lida com a chamada “coisa pública”. Segundo Platão, é o filiado a um partido ou a uma “ideologia filosófica de conduta”.

Se escolhido pela vontade do povo, o político deveria atuar como membro ativo de um governo ou em oposição a ele, influenciando a maneira de como a sociedade deve ser governada. Abrange também especialistas e técnicos que ocupam cargos de decisão no governo.

Voltados para a verdade histórica, é inegável que o mundo anda carente desses representantes ou sub-representantes da sociedade. No Brasil de antigamente tivemos nomes de alto valor, até entre os bacharéis filhos de barões e depois dos coronéis, eleitos nas eleições de bico de pena…

Havia idealismo e não vassalagem ao poder e as benesses que o poder oferece. Hoje assistimos a corrida pelo dinheiro fácil da cooptação governamental ou das propinas empresariais, que levam o político a vender sua consciência e se corromper.

Seria fastigioso enumerar no Brasil os políticos detentores de foro privilegiado envolvidos em corrupção com denúncias acumuladas no STF, reservo-me a enumerar, os senadores, por ordem alfabética:

Antônio Anastasia, Benedito de Lira, Ciro Nogueira, Edison Lobão, Fernando Collor de Mello, Garibaldi Alves, Gladson Cameli, Gleisi Hoffmann, José Agripino, Lindbergh Farias, Renan Calheiros, Romero Jucá, Valdir Raupp, além da ex-senadora Roseana Sarney e seu pai “Imortal”…

Graças à patriótica Operação Lava Jato os corruptos vão caindo um a um como moscas alvos de DDT. E além dos deputados que pululam como sanguessugas na lama, ainda há governadores e ex-governadores às pencas.

É triste constatarmos que o autor da frase “quem vota em bandido não é eleitor, é cúmplice” está certo. Há uma espécie de gente, sobretudo pessoas fáceis de persuadir que adotam de forma desprezível o culto da personalidade, permitindo aos demagogos – camelôs do convencimento – aproveitar-se disto, prendendo-a com as algemas do fanatismo…

Não há exemplo mais do que perfeito nos adoradores de Lula da Silva, corrupto e corruptor. É uma fração constituída de indivíduos patinando no pântano do analfabetismo político, na cegueira cívica ou marchando mercenariamente como chaleiras do Pelegão.

São os chamados “lulopetistas”, que adoram ser enganados e têm o atrevimento de se indispor com os que combatem a corrupção de seus companheiros de partido que imagina subtraírem valores “em nome da causa”.

O filósofo Voltaire, lúcido, disse que “A política tem a sua fonte na perversidade e não na grandeza do espírito humano”. Nós vemos isto quando a política adentra nos tribunais…

GLOBALISMO

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“Vivemos tempos em que a guerra ideológica era capitalismo versus socialismo. Hoje vivemos na era do nacionalismo versus globalismo” (Matheus Marinho)

Relendo a coletânea de crônicas do economista e erudito baiano Armando Avena Filho, surpreendi-me mais uma vez com a inesgotável fonte de conhecimentos do autor, principalmente ao abordar “os incríveis pensadores e suas ideias maravilhosas”.

No seu livro, Avena vai de Marx a Adam Smith, perpassando pela evolução da teoria econômica à sua maneira, que qualifica como uma “obsessão de ‘deshermetizar’ o famigerado economês permitindo aos não-iniciados decifrar a linguagem cifrada dos economistas”.

É interessantíssima a colocação sobre o desastre da experiência marxista na URSS e nas burocráticas “Repúblicas Populares ” (lembrando que Marx disse: “Eu não sou marxista”), e a evolução do capitalismo do século XIX para cá.

Na verdade, a exploração dos trabalhadores à época do lançamento d’ “O Capital” era selvagem. E ainda haviam restos dessa grosseria nos albores do século XX, o que deu margem à desesperada proliferação das ideias socialistas com vários matizes.

Ao lado do movimento comunista internacional surgiram manifestações de caminhos nacionais para o socialismo, a começar do fascismo na Itália que inspirou Hitler e o seu Partido Nacional dos Trabalhadores Alemães na Alemanha.

O socialismo russo se burocratizou e instituiu uma ditadura policialesca; a Itália, enlouqueceu com sonhos de Mussolini pela restauração do Império Romano e, na Alemanha, descambou para o racismo e aliança com grandes industriais e empreiteiros na corrida armamentista e a guerra.

Enquanto isto, o capitalismo mostrou uma incrível adaptação aos novos tempos, cedendo às reivindicações da classe operária. Melhorando a qualidade de vida dos trabalhadores, com a redução da jornada do trabalho e o pagamento de salários acima do nível de subsistência.

As lutas operárias inspiradas da teoria marxista arrefeceram com as melhorias conquistadas pela classe trabalhadora, que além de um salário digno obtiveram o seguro desemprego e educação e assistência médica patrocinadas pelos estados de influência capitalista.

Nos estertores do chamado “socialismo real” da URSS, surgiram movimentos saudosistas do revolucionarismo nos países subdesenvolvidos. Guerra de guerrilhas e partidos extremistas pregando um populismo fascistóide com chamamento “socialista”.

Esses movimentos caricaturais usam táticas para iludir as massas populares das grandes cidades e até em setores rurais, serviram um caldo de cultura esquizofrênico, desligado da realidade. É o que assistimos na América Latina e o maior exemplo é o “cocalero” Evo Morales. No Brasil temos o Partido dos Trabalhadores que logrou assumir o poder e como se vê, fracassou.

Na conjuntura mundial, inspirado pelo capital financeiro e a indústria bélica, surgiu o “Globalismo”, prometendo de um lado o fortalecimento das empresas transnacionais e, do outro, instigando o ressurgimento do esquerdismo e até do terrorismo nos países ricos em petróleo.

O globalismo é uma palavra recém-criada. Um substantivo masculino dicionarizado como uma forma de propiciar uma interligação planetária com redes de comunicação internacional. Ainda oculta, a sua sinonímia leva à influência política de um cartel ideológico, o internacionalismo e o imperialismo.

Este engodo conquistou a despreparada “intelectualidade esquerdista”, os pelegos sindicais e a politicagem populista corrupta. Se Marx vivesse hoje, se envergonharia dos frutos pecos da árvore que plantou…

DE VOLTA

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“A corrupção dos governantes quase sempre começa com a corrupção dos seus princípios” (Montesquieu)

Como um filme, ainda passa nos meus olhos e na minha consciência, a luta que mantivemos nas redes sociais denunciando os roubos da quadrilha Lula-Cabral-Ricardo Teixeira-Paes nas Olimpíadas e na Copa do Mundo. Enfrentamos, além desta poderosa ORCRIM, a maré popular, ingênua e cega, encantada pela propaganda e um falso ufanismo.

É com alegria que vemos voltar à cena as denúncias de corrupção naqueles dois eventos, fazendo realidade a ficção exposta no excelente filme “De Volta para o Futuro” dirigido e escrito por Robert Zemeckis e a viagem no tempo de Marty McFly  com as invenções malucas do Dr. Emmett Brown.

Não é só aqui que estão pipocando memórias e delações premiadas. Conforme noticiou o Le Monde na semana passada, a Justiça francesa investiga suspeitas de pagamento de propina na escolha do Rio como sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

O pau já nasceu torto. Vimos Lula, no auge da sua popularidade, sempre cobiçoso, explorar a Copa do Mundo sediada no Brasil e se postou na linha de frente da gangue que corrompeu o Comitê Olímpico.

De braços dados com Ricardo Teixeira, o mafioso da CBF, e ao lado de Cabral, notório assaltante dos cofres públicos, Lula discursou em Johanesburgo dizendo que “A Copa será uma grande oportunidade para acelerar o crescimento em infraestrutura necessário para o desenvolvimento do nosso Brasil”.

Foi o aval necessário para a compra da eleição do Rio como sede olímpica. A transação foi executada por Arthur Cesar de Menezes Soares, amigo e sócio na roubalheira do ex-governador Sérgio Cabral.

É inegável que o assalto não teria se consumado se não fosse no palco da Fifa, a arqui-corrupta Federação Internacional de Futebol, e no COL, o não menos criminoso Comitê Olímpico.

Parafraseando Lula, na escandalosa roubalheira praticada pelos seus comparsas “foi uma grande oportunidade para estabelecer uma desenfreada corrupção e o fortalecimento da quadrilha que afundou o Brasil”.

É isto que agora aparece e se comprova de volta para o futuro. Assiste-se como era feito o favorecimento para empreiteiras, os sobrepreços, as propinas e o caixa dois. É com indignação e revolta que lembramos a construção e a reforma dos 12 estádios entre junho e julho de 2014. Desses 12, somente dois escaparam da sanha maldita dos quadrilheiros, o Beira-Rio, em Porto Alegre, e a Arena da Baixada, em Curitiba.

Delações da Odebrecht e da Andrade Gutierrez envolveram figurinhas carimbadas, além de Sérgio Cabral e Eduardo Paes. Entrou também na divisão do butim Eduardo Cunha, e Lula, este sempre poupado nas delações das grandes construtoras, embora tenha escorregado na lambança do Tríplex do Guarujá com outra beneficiária de obras, a OAS.

Ficou esclarecido o preço das propinas estabelecido por Sérgio Cabral: 5% do valor orçado nos empreendimentos, tanto em 2014 como em 2016. O montante do desvio criminoso, só na reforma do Maracanã, foi de R$ 30 milhões.  Nas listas do Departamento de Propinas da Odebrecht com o pseudônimo “Nervosinho”, Eduardo Paes recebeu R$ 15 milhões, e Cunha, segundo a Procuradoria-Geral da República, R$ 1,9 milhão.

Diante deste quadro horrendo, voltemos ao passado com Rui Barbosa: “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.

 

 

OS IGUAIS

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

    “Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres” (Rosa Luxemburgo)

Um presente sempre lembrado nos aniversários de pré-adolescentes, filhos e netos dos meus amigos, o livro “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell, é uma referência na minha estante. Li-o pela primeira vez em 1948, na edição portuguesa emprestada por um colega de colégio.

Só vim a possuir um exemplar 32 anos depois, o lançamento no Brasil em 1980 da Editora Globo S/A, de Porto Alegre. A “Revolução dos Bichos” é uma fábula moderna, digna de constar do panteão que homenageia Esopo e Fedro, os azes de ouro do gênero. Não canso de relê-la.

A fábula (do latim fabula, história, regras, lição) é uma narrativa que surgiu no Oriente e levada à Grécia no século VI a.C. através de um escravo chamado Esopo, improvisador de versos, tendo como personagens animais que dão lições de moral aos homens.

Os textos, escritos ou orais, são geralmente curtos. Mais tarde, renasceram através do francês La Fontaine, o escocês Robert Louis Stevenson, o russo Liev Tolstói, os portugueses Sá de Miranda e Bocage, e o nosso excepcional representante, o brasileiro Monteiro Lobato.

Na Revolução dos Bichos, Orwell abordou com muita ousadia o tema da igualdade, em 1945, no pós-guerra, quando o poder soviético atraía a curiosidade e conquistava a simpatia de muitos. E veio justamente do sistema stalinista, ditatorial e policialesco, traidor dos princípios da revolução de 1917, o estímulo criador para desmascará-lo.

A palavra “igual”, vem do latim aequalis. É adjetivo de dois gêneros designando aquilo que tem as mesmas características e o mesmo valor, seja legal, matemático ou moral. Numa Democracia, é, por princípio o direito de um povo. A Igualdade no Brasil é prevista no artigo 5º da Constituição Federal, chamado de “Princípio da Igualdade” e que diz serem todos iguais perante a lei.

É evidente que o texto constitucional não se trata de igualdade da matemática e da natureza, mas da igualdade política e social. Que se torna difícil de garantir por que relaciona os indivíduos comuns e os ocupantes do poder.

Desgraçadamente a sociedade é regida por leis que sempre têm brechas capazes de privilegiar alguns, por que são feitas por eles próprios. Esses “alguns” são aqueles que Orwell mostrou na sua “Revolução dos Bichos”, os porcos que lideraram a revolução sob a égide de sete mandamentos entre os quais “Todos os animais são Iguais”.

Comandada por um porco ditador, a burocracia política e administrativa da Granja dos Bichos foi-se acomodando, se corrompendo, e traindo todo o ideário da revolução, com os porcos se humanizando, abolindo os mandamentos e substituindo-os por uma só divisa: “Todos animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais do que os outros”…

Se ficarmos desatentos, tropeçamos nas valas do “todos somos iguais”. Começa com os possuidores do “foro privilegiado”, mais iguais dos que nós. Temos uma pá deles no Congresso Nacional com processos engavetados no Supremo Tribunal Federal; e não aparece um meritíssimo para julgá-los cumprindo a Constituição.

Nos tríplex dos andares de cima do edifício social há pessoas criminosas e sem ”foro privilegiado”, que também são mais iguais do que as outras… O julgamento deles dura o tempo suficiente para a prescrição dos crimes. Há uma enorme fila de espera para se safar como FHC e Sarney o fizeram… Lula está entre eles.

Na moral da fábula orweliana vê-se que a igualdade é associada à não-discriminação; e vem daí a dificuldade de implantá-la entre os humanos. Papai Balzac já dizia:  “A igualdade pode ser um direito, mas não há poder sobre a Terra capaz de a tornar um fato”.