Arquivo do mês: dezembro 2020

2020 – Um Ano Perdido

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Tudo crer é de um ingênuo. Tudo negar é de um tolo” (Jean-Jacques Rousseau)

Rompendo o costume de registrar e comentar os acontecimentos factuais do ano, a pandemia do novo coronavírus obriga-nos a reconhecer que 2020 foi um ano perdido e nada ocorreu que pudesse evitar a ocupação de todos os espaços com o coronavírus.

Saltando de 2019 para 2020, assustou-nos em janeiro o aparecimento de vítimas que consumiram lotes contaminados da cerveja Belorizontina, da Backer, em Minas Gerais, com várias mortes. Todos que gostam de uma cerva gelada se sentiram ameaçados.

Mas o perigo estava bem mais distante, na China, numa cidade pouco conhecida, Wuhan, que entra na História da Civilização como o polo originário do novo coronavírus, que fora descoberto em novembro de 2019, mas teve o anúncio em janeiro de 2020.

Em três semanas o vírus se espalhou pelo planeta levando a Organização Mundial da Saúde – OMS -, a convocar um comitê de emergência em 22 de janeiro e no dia 30 reconheceu o surto planetário alertando aos governos nacionais para “uma ação coordenada de combate à doença que deverá ser traçada nas diferentes realidades”.

As medidas de prevenção em âmbito internacional esbarraram em dúvidas e incertezas, culminando com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, embora ciente da transmissão do novo coronavírus, ficar contra as medidas defensivas propostas pela OMS, como o isolamento social e o uso de máscaras.

Dessa maneira, tristemente, a América do Norte enfrentou a crise com o governo contrário às orientações dos centros científicos mais adiantados do mundo. A “prescrição negacionista” de Trump impôs o perigo que os norte-americanos pagam hoje; e, muito pior, influenciou perversamente os governantes satélites, como Jair Bolsonaro, no Brasil.

Não se trata de fake news como dizem os “bolsotrumpistas”, grupo subserviente às ordens “de cima”.  Felizmente são poucos os que não aceitam a verdade exposta pelo próprio Trump em entrevista ao jornalista Bob Woodward, admitindo que sabia que o vírus era perigoso e mortal; mas decidiu esconder os riscos para evitar pânico.

Agora – derrotado nas eleições – Trump deu uma meia volta e o seu governo assumiu a vacinação em massa, no que não é lamentavelmente seguido pelo seu seguidor brasileiro Bolsonaro, que sequer abandonou a propaganda da ineficaz cloroquina aconselhada pelo líder imperial. E nisso é bovinamente apoiado por gente que inventa curas milagrosas com a medicação adequada à malária…

Revoltei-me na época da “Guerra da Lagosta” com o presidente francês De Gaulle dizendo que o Brasil “não era um País sério (n’est pas serieux”), hoje, entristece-me reconhecer que a referência cairia como um enorme “sombrero mejicano” nas nossas cabeças envergonhadas com o Presidente que temos…

A subalternidade hierárquica de Bolsonaro ao Negacionismo torna-se mundialmente ridícula pelos seus comentários sobre a maior pandemia desde a gripe espanhola, tratando-a como “gripezinha” e “resfriadinho”, em declarações ora negadas, ora desmentidas pelos seus fanáticos seguidores.

Este besteirol negacionista ocorreu em várias ocasiões com alusões, piadas de mal gosto e insinuações, até chegar ao fim deste ano de crise, com o Presidente sem máscara e provocando aglomeração, respondendo a um repórter que lhe perguntou sobre o atraso do Brasil em relação a países que já iniciaram a imunização vacinal: – “Não admito pressões, não dou bola para isso”.

Ao registrarmos a ida sorridente de Jair Bolsonaro para tomar banho de mar no Guarujá, vemos que pouco se lhe importa o grave problema educacional com a suspensão das aulas, nem o imenso número de desempregados. Para ele está tudo politicamente controlado com Ministério da Saúde e a Anvisa sob seu comando.

Ainda mais entristece neste final de 2020 é chegarmos perto de 200 mil mortes pela covid-19, vendo o luto dos familiares chorando a morte dos entes queridos. Esta triste despedida, porém, conscientiza a todos do desrespeito do Presidente da República com as vítimas da sua estupidez.

 

 

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PSICOLOGIA

MIRANDA SÁ (Email: nirandasa@uol.com.br)

            “Certamente você tem um revólver e eu, o conhecimento. Cada um na sua capacidade”.    (Wilhelm Reich)

Responsável pela derrubada do Governo João Goulart em 1964, o general Olímpio Mourão Filho, de indiscutível honestidade pessoal, registrou no seu livro de memórias “A Verdade de um Revolucionário”: “Ponha-se na presidência qualquer medíocre, louco ou semianalfabeto, e vinte e quatro horas depois a horda de aduladores estará à sua volta”.

A adulação com os ocupantes do poder é antiga entre nós, tendo começado com a carta de Pero Vaz de Caminha comunicando ao rei Dom Manuel sobre o “achamento” de terras deste lado do Atlântico, aproveitando, entre elogios, para pedir emprego para um parente…

Não há dúvida de que a degenerescência do regime comunista na finada URSS, teve como uma de suas causas o “culto da personalidade de Stálin”, lição não aprendida pelas caricaturas do stalinismo, com o culto dos chefes de Estado, como ocorreu em Cuba a divinização de Fidel Castro e ainda vemos nos dias de hoje com o ditador coreano Kim Jong-um.

O general Olímpio Mourão Filho não era um psicólogo, mas um acurado observador das pessoas e dos costumes; usou, consciente ou inconscientemente o método científico da Psicologia, de analisar, enxergar e pesquisar de cautelosamente o paciente. No coletivo, a massa inculta emprenhada de subserviência….

Dicionarizado, o verbete Psicologia é um substantivo feminino de origem grega, formada das palavras “psyché” (alma, espírito) e “logos” (estudo, razão, compreensão), que deram no latim clássico psychologia; psico + logia.  Os gregos antigos designavam-na com referência ao ar frio e à alma; os romanos como “estudo da alma”.

A Psicologia foi incorporada à terminologia médica criado em 1590 pelo teólogo alemão Felipe Melanchthon, um estudioso preocupado com problemas mentais na sua congregação.

Hoje considerada uma ciência, a Psicologia estuda a mente e o comportamento dos seres humanos, individualmente ou em grupos. Analisa a associação de ideias, emoções, avaliação autocrítica e visão crítica de fatos e das pessoas com o quê o indivíduo interage. Mesmo na Veterinária já se estuda também distúrbios de animais.

A psicologia adentrou nos meios políticos pela propaganda, principalmente os regimes totalitários. Wladimir Ilitch Lênin anunciou pelo rádio a vitória da revolução de 1917, e considerava a difusão radiofônica como estratégia de convencimento, tese mais tarde aproveitada por Adolf Hitler nas campanhas do partido nazista.

Aliás, a propaganda nazista, do ponto de vista psicológico, é profundamente estudada por Wilhelm Reich no livro “Psicologia de Massa do Fascismo”. Neste trabalho, Reich cita o próprio Hitler que escreveu no seu livro “Mein Kampf” (Minha Luta): “A voz do povo nunca foi mais do que a expressão daquilo que do alto se lançou sobre a opinião pública”.

A influência psicológica exercida pelos bancos, pelo Comércio e pelos governos exerce uma poderosa transcendência não somente nas massas, mas de uma forma especial sobre as classes médias.

No Brasil assistimos, por um paradoxo histórico, o exemplo das classes médias revoltadas contra a corrupção lulopetista, que engrossaram a campanha eleitoral de um desconhecido político do baixo clero parlamentar, Jair Bolsonaro, graças à propaganda sub-reptícia da direita populista com promessas inexequíveis.

As altissonantes palavras-de-ordem contra a corrupção (enaltecendo o juiz Sérgio Moro e a Operação Lava Jato), os acenos de mudanças com críticas à picaretagem parlamentar e a defesa das privatizações conquistaram mais de 30% dos votos….

Lembra-me o enunciado de Carl Jung: –  “quem olha para fora sonha e quem olha para dentro desperta”, confirmando o despertar da psicologia instintiva dos brasileiros revoltando-se pela traição e, pior, a inversão do combate à corrupção e ao crime organizado por interesse familiar.

Este repúdio cresceu e se manifesta mais vigorosamente com o negacionismo obscurantista do Presidente diante da pandemia, desdenhando da prevenção para a imunização criticando as vacinas. Neste cenário de quase faroeste, se trava a luta entre o revólver e o conhecimento…

PAPAI NOEL

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“A única pessoa que gosta de ficar de saco cheio é o Papai Noel” (Everton Medeiros)

Esperei, mas ainda não apareceu entre os auto-assumidos “direitistas” e pseudo “conservadores”, um que propusesse vestir Papai Noel de azul ou verde porque vermelho é cor de comunista…. Espero que não ocorra tal estupidez após a publicação deste texto….

Referi-me outro dia num dos textos polêmicos que de vez em quando escrevo, sobre as pessoas que insistem em deletar o passado. Entristecem-me por nunca terem lido o poeta Mário Quintana, sem tomar conhecimento do seu brilhante pensamento: “o passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente”.

O Vate Gaúcho foi maravilhosamente elucidativo, igualando-se à referência de Orwell ao “Ministério da Verdade” no “1984”…. Sempre foi de uso dos regimes totalitários várias maneiras de apagar o passado. A História registra a famosa fotografia dos revolucionários de 1917 em torno de Wladimir Lênin, que Stálin mandou os retocadores tirarem Trotsky, seu desafeto.

Nunca procurei saber (até fazer pesquisas para este texto) porque Papai Noel se veste de vermelho. O seu símile na Europa sob influência romana, São Nicolau, veste-se como bispo católico com a mitra na cabeça. Nos países nórdicos popularizou-se como Joulupukki, na Finlândia e Julenissen, na Noruega.

Atravessando o Atlântico, São Nicolau chegou aos Estados Unidos onde se transformou em Santa Claus (o nosso Papai Noel) graças ao desenhista Thomas Nast, que ilustrou o poema “Uma visita de São Nicolau”. Traçou uma caricatura do Santo tal como conhecemos Papai Noel: barbas brancas, barrigudo, com gorro e túnica vermelhos, botas e luvas brancas.

As transmutações do lendário personagem em tempo e espaço permitem que a qualquer época se proponha mudanças na sua imagem. No Brasil, na década de 1930, o líder integralista Plínio Salgado propôs que se usasse a figura do “Vovô Índio” no lugar de Noel, mas não colou, nem mesmo entre os seus partidários.

A tradição arraigada no consciente coletivo impede qualquer tentativa de mudar a conhecida figura; por isso aviso aos macarthistas brasileiros do século 21, que Papai Noel não é comunista.

Lembro-lhes que na finada URSS as festividades natalinas foram proibidas e que o Bom Velhinho (mesmo vestido de vermelho) foi exilado e substituído pelo “Ded Moroz” (em russo Дед Мороз), que significa “Avô Gelo”.

Assim, é muito bom que se mantenha a figura de Papai Noel como ela é, do mesmo jeito como devem ser preservados os personagens de Monteiro Lobato, as marchinhas carnavalescas, o frevo pernambucano, a lavagem das baianas na Igreja do Nosso Senhor do Bonfim, o Boi do Maranhão e as tradições gauchescas….

Por quatro ou cinco gerações a minha família – de ambos lados, materno e paterno -, manteve o costume de pintar ovos de galinha na Páscoa, escondendo-os para que crianças os achassem. Brinquei assim com os meus filhos e acho que eles mantiveram essa tradição.

Neste Natal, do Ano do Senhor de 2020, vivemos sob o medo de transmissão do novo coronavírus e a letal covid-19. Somos obrigados a enfrentar a pandemia sem as festividades que reúnem as famílias bem estruturadas; no meu caso, sofri bastante para encarar (telefonicamente) o meu filho mais velho, Henrique, abdicando da minha presença na festa que ele organiza todos os anos.

Felizmente Henrique concordou, e passaremos o Natal eu, minha mulher, Marjorie, e o nosso gato, Lennon, em casa. À mesa, uma salada de bacalhau, panetone e pudim de leite, todos feitos em casa, comporão a nossa ceia da saudade.

O nosso robô Alexa, será acionado para tocar canções natalinas e bonequinhos de Papai Noel movidos à pilha, que foram do meu neto Heitor quando pequenininho, dançarão para nós. Acenderemos uma vela, com o pensamento voltado para 2021, para um Natal livre da ignorância negacionista, portanto vacinados, e nos abraçando.

BOCA DE FORNO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Obedecei mais aos que ensinam do que aos que mandam. ”  (Santo Agostinho)

O avanço da tecnologia com o computador trouxe-nos a Internet e as redes sociais, facilmente ativadas pelos laptops e celulares. Com isto, estabelecemos a “aldeia global” preconizada lá atrás, na década de 1960 pelo filósofo canadense Herbert Marshall McLuhan, projetando redução das distâncias pela eletrônica.

Mais adiante, o professor Diego Beas, analista político, nos presenteou com um pensamento antológico: “A rede social dotou o cidadão de uma nova e magnífica ferramenta que necessariamente subtrai poder ao Estado”.

… E assim o Planeta Terra converteu-se numa cidadezinha do interior graças à informática, onde já se reinventou os costumes e muita coisa está sendo reinventada para que ocorra as necessárias mudanças estruturais que reflitam a realidade sócio-políticas das nações.

Isto alegra os defensores da Ciência, mas traz saudade dos tempos dos “jogos de botão sobre a calçada, quando a gente era feliz e não sabia” (Ataulfo Alves)…. Este sentimento nos afasta do mecanismo frio para afirmar que nem os videojogos nem a televisão mataram as brincadeiras infantis, como Amarelinha, Bafo, Boca-de-forno, Bota, Cabra-cega, Dança das cadeiras, Esconde-esconde, Estátua, Passa anel, Passa passa gavião, Pega-pega e Viuvinha…

Estes divertimentos lúdicos ainda estão vivos em muitas escolas, subúrbios metropolitanos e cidades do interior…

Quando a gente é menino, entretanto, sonhamos em tornarmo-nos adultos, adulteramo-nos…. E assim azedamos o doce aprendizado infantil exercendo a cidadania para analisar a Economia e procurar entender a Política, construindo uma personalidade independente, seguindo o pensamento do admirável filósofo, físico e matemático francês René Descartes, que resumiu a sua concepção da vida numa frase: – “Penso, logo existo”.

É claro que há muitos que pensam diferente do Filósofo; alguns, possivelmente, tentarão até denegri-lo, porque preferem “pensar” pela cabeça alheia na recreação “Boca-de-Forno” em que uma das crianças é escolhida para representar o Mestre, e os outros obedecem passivamente….

Lembram? A brincadeira começa com o Mestre dizendo em voz alta: – “Boca-de-forno”! … E a manada responde uníssona: – “Forno”! O Mestre então levanta: – “Tirando o bolo”. E os outros respondem: – “Bolo”! Aí vem uma palavra-de-ordem: –  “Farão tudo o que seu mestre mandar?” E o grupo se assume: -“Fazeremos todos! “. Nunca entendi o “fazeremos”, mas era assim que se dizia…

Então o jogo passa a ser levado pelo autoritarismo, com o Mestre dando ordens absurdas aos participantes que obedientes saem para cumprir as tarefas. O primeiro que volta se torna o mestre, e o último é castigado com bolos na mão dados por todos.

É claro que em nome da Democracia respeito o efeito preguiçoso de quem não “ousa pensar por si mesmo”, como preconiza Immanuel Kant. Mas, todavia, parece-me inadmissível usar as ferramentas tecnológicas das redes sociais tangidos pelas lideranças aceitas como “a voz do Mestre”.

Esta submissão “ideológica” torna-se perigosa quando sai da opinião xerocada no mundo digital e mergulha no pântano da fraude e da criminalidade, como vem sendo feito para defender condutas e orientações urdidas nos andares “de cima” do poder.

Isto se viu e se vê, desde que os “conservadores bolsonaristas” passaram a defender os “cartões corporativos”, a aceitar o “foro privilegiado”, a ficar contra à prisão na 2ª Instância, de isolar a picaretagem do Centrão e de adotar o negacionismo insano e genocida diante da pandemia do novo coronavírus.

Fazer tudo o que seu Mestre mandar deve se limitar aos jogos infantis. As redes sociais tão importantes para a construção de um futuro feliz de paz, ordem e progresso, não devem bater palmas para maluco dançar….

É melhor correr o risco de ser chamado “maricas”, virar jacaré, de homem falar fino ou de nascer barba em mulher, do que assumir o fanatismo subserviente ao obscurantismo anticientífico de um sociopata qualquer…

PIJAMA

MIRANDA SÁ (Email: (mirandasa@uol.com.br)

“Um soberano jamais deve colocar em ação um exército motivado pela raiva; um líder jamais deve iniciar uma guerra motivado pela ira” (Sun Tzu)

Na década de 1964 fui preso e processado por ter chamado certo militar de “coronel de pijama”. Na época, estudante jovem e abusado, usei a palavra “Pijama” como sinônimo de aposentadoria.

Eu tinha naquele tempo uma profunda admiração por dois políticos nordestinos, o pernambucano Cid Sampaio (que foi governador de Pernambuco) e deputado federal José Joffily, paraibano, líder da Frente Parlamentar Nacionalista. E numa palestra em que compareci ouvi a intervenção de uma pessoa, que se identificou como coronel do Exército, metendo o pau nos nacionalistas, entre eles Cid e Joffily.

Sabendo que o aparteante era da reserva, contraparteei citando-o, por ironia, como “militar de pijama”…. Não deu outra; pelo autoritarismo reinante na época, no dia seguinte fui detido e interrogado sobre o caso, sendo processado depois…. Para quem ficou curioso, fui absolvido no Supremo Tribunal Militar.

O verbete Pijama, dicionarizado, é um substantivo masculino e feminino, referindo-se ao vestuário caseiro, leve e folgado, próprio para dormir e usado por ambos os sexos. Sua origem é indiana, do hindi “pāe-jāmah” e foi adotado pelo dominador inglês da Índia, rebatizando-o como “pyjamas”.

Posteriormente soube que é doloroso para quem cumpriu o oficialato por trinta e tantos anos, cair na inatividade. Saudade dos colegas, saudade do quartel, saudade até dos toques de corneta nos movimentos de ordem unida….

Isto não ocorre com a maioria dos civis ao se aposentar. No meu caso, o pijama só me lembrou do tempo em que eu ia ao baile de carnaval “Um Pijama para Dois” no Hotel Colonial, lá na Avenida Niemeyer….  Só entrava casal: o homem com as calças do pijama e a mulher com paletó do mesmo…

Pijama para muitos é roupa de dormir. No meu tempo de mocidade as mulheres usavam camisola; depois apareceu o “baby doll”, advindo do livro “Lolita” de Vladimir Nabokov em 1955, que que mais tarde, em 1962, fez sucesso com o filme homônimo levado às telas sob a direção de Stanley Kubrick.

A belíssima atriz Marilyn Monroe perguntada por um entrevistador o que usava para dormir, respondeu: – Duas gotas de Ma Griffe… E, numa viagem à Itália para o Festival de Veneza, a atriz brasileira Bruna Marquezine publicou diversas fotos saindo às ruas trajando um pijama.

A importância do vestuário, que prestigia seus criadores, costureiras e costureiros, desde a antiga Suméria, aproxima a moda da etiqueta. A moda, como sabemos, surge espontaneamente e depois vira fonte de altos lucros no Comércio e na Indústria; e a etiqueta é uma formalidade que cria regras a serem seguidas.

Ao longo dos tempos, a moda elegeu as antigas “combinações” como roupa de saída e, embora escondidas, as calcinhas e as cuecas, são propagandeadas pela tevê e nas páginas de revistas. Agora, as cuecas servem também de cofre para os políticos corruptos.

A toga romana, por exemplo, foi a vestimenta básica para todas as classes sociais, mas os senadores obrigavam-se a usá-las impecavelmente brancas e os imperadores com uma sobrecapa púrpura, mantida pelos cardeais da Igreja Católica….

A etiqueta vigente na Roma Antiga chegava aos militares, entre os quais se distinguiam os oficiais e soldados de elite que formavam a Guarda Pretoriana que protegia os imperadores.

Com seus belos uniformes, os pretorianos adquiriam privilégios e troca de favores que garantiam a sua fidelidade, embora isto não os impedisse de urdir conspirações visando conquistar prestígio e comandos legionários.

No Brasil de hoje, as togas são de uso nos tribunais, e são pretas; e temos também nos corredores do Planalto e no Ministério da Saúde uma Guarda Pretoriana formada de oficiais superiores da reserva para criar ilusão de que o Presidente conta com o apoio das Forças Armadas….

Agora velho e ainda abusado, arrisco-me a considerar esta Guarda Pretoriana “de Pijama”; e que ela não reflete os quarteis nem faz jus à antiga intelectualidade militar da ESG, da Bibliex, da Revista do Exército, dos generais Aurélio Lira Tavares, Castelo Branco, Celso José Pires, Ferdinando de Carvalho, Golbery do Couto e Silva, Meira Matos e Lavenére-Wanderley….

Entristece-me a subalternidade envelhecida desses pretorianos, colaborando para a prioridade máxima do Presidente, defender o filho até usando a Abin incorreta e inconstitucionalmente, segundo a Revista Época.

 

 

DUPLICIDADE

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“A verdade que fere é pior do que a mentira que consola”  Chico Xavier

Já falei da bipolaridade em outro texto, mas este transtorno mental nada tem a ver com a duplicidade. Um se caracteriza por manias e depressões observados por terceiros e o portador não sente; o outro obedece a um comportamento refletido e velhaco diante de outrem.

A bipolaridade é uma doença, acompanhada por psiquiatras e psicanalistas. Os “duplos” assumem as suas atitudes passivas ou ativas, mas geralmente arrogantes ao tratar com as pessoas que gostam ou desgostam.

Provocada pela pandemia do novo coronavírus, a crise planetária pôs em evidência mudanças nos relacionamentos sociais. Comprova-se isto em todos os níveis de convivência, muito tristemente nas redes sociais, onde têm realçado a hipocrisia e má-fé que antes não se via.

Pelos fundamentos do “Bloco Universal”, passado, presente e futuro existem simultaneamente em dimensões diferentes… Esta situação tridimensional se aceita, decepciona e entristece ao mesmo tempo as projeções do que estão por vir no futuro. Que destino nos aguarda no pós-pandemia?

As crises existenciais que surgiram com o novo coronavírus no Brasil mudaram flagrantemente o comportamento das pessoas; na política, acrescentou-lhes o fanatismo, o medo e ódio, levando-as ao estágio inicial das crenças primitivas, temendo o desconhecido e submetendo-se ao comando superior do poder na paz e na guerra.

Estas síndromes, do fanatismo, do medo e do ódio, expõem-se às fraudes que negam as manifestações não identificáveis da Natureza, como, por exemplo, as vacinas antivírus. Fazem igual como os sectários religiosos Testemunhas de Jeová, que são contra a transfusão de sangue, mesmo para salvar as vidas dos pais, esposa e filhos.

Apareceu, também, no campo político, o padrão negacionista. As palavras-de-ordem do chefe, mesmo que seja reconhecidamente ignorante ou sociopata, é aceita como verdade absoluta, tornando-se um mantra nos grupos do WhatsApp…

Tudo isto decepciona e entristece, repito, principalmente na vivência da letal covid-19 que já ceifou a vida de cerca de 180 mil brasileiros, em sua grande maioria enlutando suas famílias graças ao negacionismo demonstrado pelo desdém do presidente Jair Bolsonaro pela pandemia, referindo-se a ela como uma ‘gripezinha” e um “resfriadinho”.

A psicopatia do Presidente, para completar, desdenhou novamente a pandemia, as infecções e mortes, dizendo esta semana no Rio Grande do Sul que a peste “está no finzinho”. E é desmentido pelos números do seu próprio governo, com o Ministério da Saúde registrando o aumento dos óbitos e das pessoas contaminadas…

Infelizmente, este desprezo arrogante do Presidente pela terrível doença tem seguidores ativos – minoritários, mas organizados e audaciosos –, aceitando o charlatanismo de remédios ineficazes, aplaudindo a administração da Saúde Pública incompetente e mentirosa, desrespeitando os fundamentos científicos reconhecidos mundialmente.

De sã consciência, considero o comportamento negacionista um desempenho conturbado e agressivo que carece de lucidez e tranquilidade emocional para debater os problemas advindos da pandemia.

Não me permito aceitar quem, em pleno século 21, não vejam os avanços civilizatórios da humanidade na Ciência e na Tecnologia. Condeno, e condeno veementemente, aqueles que em vez de apresentar argumentos objetivos e reais, caem na torpeza dos ataques pessoais; e há quem venha em seu favor.

No meu modo de ver, valorizo a Ciência e não regateio aplausos para as vacinas que estão sendo pesquisadas mundialmente por cientistas de várias nacionalidades, inclusive os brasileiros que trabalham com a AstraZeneca/Oxford na Fiocruz, Coronavac no Instituto Butantan, a Sputnik V no Instituto de Tecnologia do Paraná, e em vários hospitais universitários.

A estes patriotas, trabalhadores da Saúde, dedico a “verdade que fere” de Chico Xavier: declarando o meu respeito por eles, inversamente proporcional ao meu repúdio ao deboche anticientífico dos ultrapassados defensores da “Terra plana”…