Arquivo do mês: dezembro 2021

ÉTICA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“A maior decepção que o homem sofre advém das suas próprias opiniões”. (Leonardo da Vinci)

Não lembro bem, mas acho que já se vão dois anos que escrevi sobre a Ética. Entretanto, nesta época que atravessamos, vale a pena voltar a discutir o tema como um dever cidadão perante todos os seres da Natureza.

A polêmica é necessária porque em certos círculos, principalmente entre os membros da Confraria Internacional da Mediocridade, desprezam a participação humana como protagonista pensante no meio ambiente. Para oportunistas e carreiristas políticos e religiosos só há preocupação ética para usar o seu clone hipócrita no mundo da chicana.

Encontramos, por exemplo, a vertente diversionista nas religiões, cujas filosofias discursivas parecem diferentes, mas convergem na mesma defesa de um falso comportamento ético, “como um conjunto de coisas que as pessoas fazem quando todos estão olhando” conforme ironizou Oscar Wilde.

Perdoem-me os fanáticos pelas simulações feitas em nome da religião, mas a História da Civilização registra, não por simples coincidência, que muitas lendas e mitos da Bíblia são apenas cópias de textos antigos, como a passagem do dilúvio encontrada numa taboa sumeriana de 6.000 anos, que conta, tim-tim por tim-tim, a mesma história….

Por causa de um artigo que escrevi recentemente, uma senhora, até então por mim desconhecida entre os usuários do Twitter, escreveu que repudiava meus textos por serem contrários à religião.

Nunca foi preocupação minha discutir, e muito menos combater a religião. Discuto, às vezes, interpretações bíblicas, como o fiz comparando o Deus do velho testamento e o Deus cristão. Um vingativo e outro de infinita bondade. Então, encaminho a crítica recebida ao pensamento de Martin Luther King dizendo que “a religião mal-entendida é uma febre que pode terminar em delírio”.

Considero, portanto, que nenhuma manifestação de ignorante fanatismo pode nos dar lições de ética e muito menos de moral. Está na formação de cada um o comportamento pessoal diante do meio ambiente, pelo amor ao próximo, aos animais e às plantas.

É assim que deve se formar o caráter. Ética e Moral não estão à venda nas lojas de conveniência. Este modo de ver o comportamento parece ultrapassado para algumas pessoas, como as antigas valsas vienenses ou o maxixe, pai do samba, encontrados apenas nos velhos vinis da RCA Victor…

Quem não é filho de chocadeira e os que alisaram os bancos escolares, aprenderam que o “homo sapiens” atravessou 600 mil anos sem escrita, sem química e sem máquinas, vivendo exclusivamente do que a Natureza lhe oferecia.

Os que se julgam superiores sobre tudo, chegando a assumir presunçosamente uma imagem e semelhança de Deus, vivem apenas uma ilusão. São incapazes de racionar como o mestre em História Antiga, Ivar Lissner, que a pessoa humana não é de modo algum indispensável ao cosmos.  Lissner escreveu: ”A Terra continuará a girar em torno do Sol, mesmo que o homem deixe de existir”.

Quem admite esta visão científica admite, também, que a morte não interrompe a continuidade da vida dos demais; traz somente a lamentável constatação de que o homem é o único animal que sabe que vai morrer um dia…. Realidade que Voltaire lamentou: – “Triste destino! ”.

A pandemia do novo coronavírus trouxe esse destino violentamente ao Brasil graças à estupidez negacionista do capitão Bolsonaro feroz ativista anti-vacina e, por isso, acusado de genocídio.

Neste lamentável cenário deve-se desviar o olhar para a Natureza e ponderar que somente a Ética Universal é o caminho do bem. Àqueles que não respeitam o Meio Ambiente nem a vida humana, por convicções ideológicas, fanatismo religioso ou lucrativa ganância, estão fadados a sofrer o que está preconizado no Torá: “A própria consciência é o mais feroz acusador do culpado”.

FILANTROPIA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“O bom homem promete pouco e faz muito; o malvado promete muito e não faz nada”                       (Textos Judaicos)

Filantropia: o significado do termo está relacionado ao amor à humanidade e refere-se às ações sociais ou doações sem fins lucrativos praticadas por indivíduos, empresas ou instituições para entidades beneficentes.

Uma das minhas recordações infantis leva-me à caridade da minha avó Quininha sentada numa cadeira de balanço toda sexta-feira na calçada de sua casa, tendo do lado direito um barril com postas de bacalhau e do lado esquerdo um saco de farinha para distribui-los com pobres a quem conhecia todos pelo nome….

Esta generosidade com os carentes, envolvida pela pátina do tempo, era na verdade a filantropia da época. Hoje seria impossível realiza-la, pelo preço do bacalhau e da farinha e as fraudes que os maus políticos corruptos levaram a todos, sem distinção, pelo exemplo

Por causa das falcatruas vigentes atualmente, com a imunidade jurídica presente nos tribunais e os populistas “da direita” e “da esquerda” acumulando práticas corruptas, lembrei-me de uma anedota antiga (que foi engraçada, hoje entristece a gente pela banalidade).

É a história de uma benemérita senhora que também distribuía esmolas aos mendigos nos arredores da sua residência.  Numa dessas rondas, viu um pedinte desconhecido exibindo uma placa escrita “cego”. Cutucou-lhe com a sombrinha e exclamou irritada: – “Como? O senhor é cego e fica folheando uma revista? ”.

O sujeito levantou os olhos e se justificou: – “Minha senhora, eu não sou o cego que fica aqui; acontece que ele é meu amigo e me pediu para ficar no lugar dele para ninguém ocupar seu ponto…”

A altruísta vacilou, mas se conformou, indagando: – “… E o cego daqui, onde está? ”. A resposta foi surpreendente: – “Foi ao cinema”.  É assim que se assiste ao funeral da Filantropia, sepultada sem choro nem vela….

Como palavra dicionarizada, Filantropia é um substantivo feminino originário das expressões gregas “philos” e “anthropos” que conjugadas traduzem-se livremente como “amor” e “ser humano”. Os que praticam a filantropia com o seu semelhante assumem uma rica sinonímia, como benemérito, benfeitor, caridoso e generoso. Qualidades humanas em falta no mercado globalizado…

No Brasil, então, enquanto os falsos cegos leem revistas ou vão ao cinema, e os cegos verdadeiros trabalham para o seu sustento, os picaretas do Congresso enxovalham o Poder Legislativo aviltando seus mandatos com fundos partidários e eleitorais, e agora, no governo do Centrão, se lambuzam com o novo Mensalão, as “emendas de relator” no orçamento secreto…

Esta ambição criminosa vem acompanhada da falsa filantropia do Executivo no caso da Pec do Calote, pervertendo a Lei que diz ser para atender a pobreza através do Bolsa Família eleitoral do capitão Bolsonaro, cozinhada na Câmara Federal pelo presidente Arthur Lira, viciado em dinheiro público.

A fraudulência é feita as claras no vuco-vuco do “dá lá, toma cá”. Com isto, recorro ao pensador Millôr Fernandes, o futurista que nos alertou dizendo que “como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem! ”….

Não levamos o humorista filósofo a sério e elegemos Bolsonaro cuja definição não pode ser outra a não ser a deixada por Juan Montalvo:  “o pior dos homens que, sendo mau, quer passar por bom; sendo infame, fala de virtude e de pundonor”.

TRISTEZA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Não há maior desventura que a falta de alegria. ” (Francisco Gómez de Quevedo)

Faz pouco tempo que escrevi sobre o mistério da alegria, inspirado num debate sobre o governo JK e a intervenção auspiciosa do erudito tuiteiro Antônio Carlos Rosário lembrando a Era de Otimismo que o Brasil atravessou na década de 1950.

É fácil e emociona falarmos de alegria; é difícil, porém, encontra-la atualmente sob um governo oposto ao de JK, lúgubre, necrófilo, operando contra a vacinação na pandemia e sabotando a exigência do passaporte vacinal na entrada de pessoas vindas do Exterior.

Então achamos por bem abordar o lado difícil da dicotomia alegria e tristeza, falando da tristeza. Fui garimpar na Bíblia (que parece não é lida pelos pastores politiqueiros) e encontrar no Antigo Testamento o Livro de Jó.

Estudiosos deste texto polemizam sobre a autoria dos versículos pela impossibilidade de afirmar a exatidão das passagens relatadas, do tempo do patriarcalismo e registrando absurdos como o que registra Jó com 200 anos de idade!

Uma coisa, porém, é certa: embora poética, a narrativa é um hino ao conformismo diante de um Deus que permite o sofrimento dos justos. A mensagem traz, além da profunda amargura pelo martírio imerecido de Jó, a revisão de duas concepções do julgamento divino.

Conforme a interpretação da Justiça, o Deus de Israel é rigoroso e cruel, e o Deus cristão é de infinita bondade. Jeová foi implacável nas dez pragas do Egito, cobrindo homens, mulheres e animais de chagas, de piolhos, de fome, e condenando crianças à morte. O Deus anunciado por Jesus Cristo é justo e perdoa.

Em ambos casos, porém, a tristeza está presente. O problema de Jó, ocorrido 1.700 anos antes de Cristo, deu-se por uma aposta entre Jeová e Satã…. Lembrou-me até o filme “Trocando as Bolas” a comédia do mendigo Billy Ray Valentine (Eddie Murphy) e o empresário Louis Winthrop III (Dan Ackroyd ).

O enredo cinematográfico gira em torno da competição entre dois banqueiros esnobes numa aposta em que qualquer pessoa pode se tornar um respeitável financista, desde que se lhes deem uma oportunidade…. Assim, tornam um executivo miserável e um miserável CEO de suas empresas…. Os personagens envolvidos descobriram a trama e malograram lucrativamente a experiência, com um final feliz.

No caso bíblico, a aposta de Deus e o Diabo sobre a lealdade de um crente é o retrato da tristeza. Após perder tudo o que possuía por incitação diabólica, sofrer a desdita familiar, uma tragédia com os servidores, destruição da sua casa e perda dos seus rebanhos, Jó rasgou a roupa, raspou a cabeça, ajoelhou-se e exclamou:

“Nu sai do ventre da minha mãe e nu voltarei para o seio da terra. O Senhor o deu, o Senhor o tirou; bendito seja o nome do Senhor! ”. Assegurando dessa maneira um duplo infortúnio, impossível de passar pela cabeça dos mercadores do templo, padres, pastores ou rabinos….

A palavra Tristeza dicionarizada é um substantivo feminino de etimologia latina, “tristitia”, que designava “desânimo”, chegando ao português castiço como o estado mental da falta de alegria, pela adversidade, aflição e melancolia.

O escritor e poeta espanhol Francisco de Quevedo, nosso epigrafado, diz tudo sobre a tristeza. Sua apreciação reforça o julgamento das duas épocas históricas do Brasil.

A primeira, no tempo da alegre esperança que o Governo JK nos trouxe; e a outra, na tristeza que se abateu na pandemia do novo coronavírus condecorando a Família Bolsonaro com a comenda do desprezo pela vida humana e da inépcia administrativa na saúde pública.

O “futurista” Millôr Fernandes nos deixou a visão de que “toda alegria é assim; já vem embrulhada numa tristezinha de papel fino”; assim, por mais paciência que tenhamos diante da política e resignação perante a crença na divindade, não podemos aceitar a convivência da alegria com a tristeza.

Por outro lado, discordo do poeta Vinícius de Moraes que gastando o seu lirismo cantou que “a tristeza não tem fim/ felicidade, sim”; para mim, bastará darmos um basta no contratempo bolsonarista que o Brasil voltará a sorrir….

POLÍGRAFO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“A mentira não mata, apenas tortura quem acreditou. ”  (Clarice Lispector)

Polígrafo é o aparelho conhecido como ‘detector de mentiras’, usado pela polícia de alguns países em interrogatórios, e em certos programas de TV nos Estados Unidos e na Europa. É empregado para verificar a autenticidade de declarações dos entrevistados.

A polícia norte-americana utiliza o detector de mentiras e o seu resultado analítico é aceito pelos tribunais como prova nas acusações criminais, cíveis e mesmo trabalhistas. Lá, se considera que a aplicação do polígrafo garante, teoricamente, 92% de grau de acerto.

O aparelho realiza o exame através de sensores que medem o ritmo da respiração, da pressão sanguínea, dos batimentos cardíacos e do suor na ponta dos dedos da pessoa testada. No Brasil, a Polícia Civil gaúcha é a única que utiliza o software de fabricação israelense denominado Analisador de Voz Multicamadas.

O teste de polígrafo é conhecido como “exame de detecção psicofisiológica de fraude”, um estudo baseado na teoria de que as reações físicas e mentais dos indivíduos se alteram quando ele se contradiz ou foge à verdade.

Sem dúvida. Na tecnologia, o campo eletromagnético prevê reações fisiológicas dos gestos e entonação de voz; mas isto não quer dizer que identifique sentimentos da alegria ou tristeza, de desânimo ou euforia, da verdade ou mentira….

A avaliação analítica do comportamento humano feita pessoalmente tem resultados muitas vezes diferentes. E quando é levada para a lógica matemática verifica-se ser inusitada como o exemplo interessante que nos foi dado por Einstein.

Conta-se que embora sisudo e arredio, este gigante da Ciência comparecia mesmo a contragosto às reuniões sociais em que era homenageado. De poucas palavras, agradecia os cumprimentos, mas somente isto.

Num desses eventos foi importunado por um desses chatos que todos nós conhecemos. O sujeito aporrinhou-o insistindo que ele traçasse em termos matemáticos a fórmula da felicidade. Para se livrar do maçante, Einstein tirou um lápis do bolso e escreveu: “a=x+y  =z”, e definiu: – “a” é a felicidade; “x” é o trabalho; e “y” é a riqueza.

– “… E o “z” ?”, indagou o impertinente. O cientista cofiou o cavanhaque e respondeu: – “O “z” é o silêncio”.

Como o detector de mentiras poderia (ou poderá) interpretar o silêncio? É a arma mais poderosa dos fraudadores e mentirosos, que lhes é oferecida pelo arsenal do garantismo jurídico do STF, como os brasileiros em peso assistiram na CPI da Covid.

Aliás, é difícil saber de quantas maneiras o famigerado garantismo favorece a delinquência política! Para júbilo do Centrão bolsopetista, a Alta Corte soltou o falastrão corrupto Lula da Silva e devolveu-lhe o dinheiro ganho suspeitosamente, e atua abertamente para livrar o boquirroto Flávio Bolsonaro das desonestas rachadinhas….

Vê-se assim que tanto faz o silencioso como o falador num tribunal onde a política entrou pela porta dos fundos e a Justiça pulou envergonhada de uma janela….  Parece-me necessário levar o polígrafo para o plenário do STF e comprovar a honestidade de cada voto; e como bom republicano sugiro estender o seu uso no Executivo e no Legislativo.

Ouvindo o capitão Bolsonaro sofrerá, sem dúvida, um curto circuito, porque ele é um mitômano obsessivo, capaz de dar um “boa noite” pela manhã e um “bom dia” à noite, só pelo prazer de mentir.

Quanto a detectar mentiras parlamentares, valha-me Deus, será facílimo; difícil, quase impossível, será ouvir uma verdade dos presidentes das duas casas, o deputado Arthur Lira e o senador Rodrigo Pacheco.

Isto visto, de verdade, chega-nos o desejo de desmascarar a mentira, mãe de todos os crimes, da violência do assassinato ao roubozinho das rachadinhas…. Ainda espero que a hediondez da falsidade seja punida; pelo menos pelo voto consciente da cidadania.