Arquivo do mês: outubro 2023

AMOR IMPLÍCITO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Quando eu alisava os bancos ginasianos levava a sério as lições de respeito aos símbolos nacionais, a Bandeira, o Hino, as Armas e o Selo. E o Dia da Bandeira, 19 de novembro, era feriado.

Mais tarde, cursando o 2º ano da Faculdade Nacional de Direito, participei de uma confraternização entre acadêmicos brasileiros e paraguaios em Assunção. Coincidiu com o Sete de Setembro e convidados pelo nosso embaixador no Paraguai fomos às comemorações na Embaixada. Acercando-nos o prédio, vi de longe nosso pavilhão tremulando: me arrepiei todo, nunca esperei tanta emoção.

A nossa Bandeira foi instituída logo após a Proclamação da República pelo Decreto nº 4, de 19 de novembro de 1889; criada pelo filósofo e matemático brasileiro, Teixeira Mendes, que sob a influência positivista, dominante à época nos círculos militares, apôs nela o célebre princípio de Auguste Comte “O amor por princípio a ordem por base e o progresso por fim”.

Não sei o porquê do Amor ser suprimido do dístico no círculo central azul entre as estrelas que representam os estados da federação, restou apenas “Ordem e Progresso”.

O Amor, entretanto, ficou implícito na nossa vã filosofia…. E é instintivo para os humanistas o relacionamento patriótico do altruísmo com a ordem e o progresso. Na minha educação doméstica recebi sugestões da doutrina positivista cooperativa, solidária, e totalmente antagônica dos instintos naturais do egoísmo.

Diferentemente desta visão humanista, o subconsciente humano traz restos animalescos; foram atenuados na vida em sociedade e deveria ser disciplinado pela educação doméstica e escolar. Não sendo aprimorado assim, preocupa, externando muitas vezes um comportamento selvagem.

Esta estupidez está exemplificada na agressão infame do canalha Erick D´Ávila, empurrando brutalmente uma senhora idosa de 86 anos. Este criminoso era professor de canto no Clube Paulistano e foi demitido; mas a punição deve ser ampliada penalmente.

Não sei se pessoas deste tipo professam alguma religião. É provável que o faça como demonstração hipócrita; mas milita certamente em movimento político, adotando alguma ideologia extremista. E daí nascem os terroristas, cruéis inimigos da humanidade.

É o que se vê deste lado do Planeta, onde o pensamento dominante é a doutrina-judaica-cristã e sua vertente islâmica que prega um Deus Único, onipotente, onisciente e onipresente. Entretanto, a divindade é vilipendiada por frações incompatíveis com o Amor pregado pelo Cristo e inserido nos chamados “livros sagrados”.

Curiosamente, uma religião sem deus, o Budismo, nos adverte para o amor ao próximo, abnegado, desinteressado e filantrópico. Os monges do Tibet dão provas desta devoção. Quando a neve e os temporais provocam desabamento nas encostas e tornam impraticáveis as trilhas, eles se juntam recortando figurinhas de cavalos de papel jogando-as do alto dos mosteiros para que o vento as leve.

Piedosos, eles creem que Buda vai inspirar os perdidos nas montanhas a seguirem os cavalinhos coloridos e encontrarem o caminho que os livrará da intempérie.

O papa Francisco, guia espiritual da Igreja Católica, reza e pede orações pela paz na Europa e Oriente Médio, seguindo a lição do Cristo e manda os católicos amarem o próximo como a si mesmos. Na prece sincera, o amor está implícito.

 

O VALOR DA VIDA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

A liberdade de opinião tem dessas coisas: há no Twitter quem aprecie e aplauda, e outros que estranham e consideram dispensável o meu refrão “Viva a Vida!” nos bons dias que dou diariamente na rede social.

Ao exaltar a vida, penso que não o faço sozinho; todo ser humano possui no seu íntimo a consciência do valor da vida no correr da existência. É a mais bela louvação espiritual da civilização.

Enaltecer a vida é renascer; o culto da morte, pelo contrário, é fruto de uma doutrina antiga, mumificada no tempo e enterrada dentro do sarcófago de crendices medievais, do catolicismo ultramontano e do evangelismo comercializado.

É claro que a morte faz parte da vida; fazê-la presente no dia-a-dia, porém é negação; e o pessimismo é um suicídio prolongado e torturante. O que é real, é a evolução da humanidade a cada geração e presentear-nos com as maravilhas que a Natureza oferece e as descobertas da Ciência.

Lembro que nos meus tempos colegiais ouvíamos dos professores que os sentidos humanos eram cinco, visão, audição, paladar, olfato e tato; hoje sabemos que estão em estudo cerca de 19 outros, da premonição à telepatia.

Também parados no tempo, os professores de química nos ensinavam que o ouro não podia ser fabricado, era apenas uma fantasia dos antigos alquimistas; hoje sabemos que pesquisadores da Universidade Estadual de Michigan, Estados Unidos, criaram ouro de 24 quilates em laboratório, com uma pureza superior a 99,99%. Sai muito caro, não vale a pena, mas que se fabrica, se fabrica….

É ou não é um motivo para nos alegrarmos? Acho que sim, e me entusiasma ainda mais a velocidade com que a ciência médica avança, como vimos na criação da vacina para a covid-19, que salvou milhões de vidas na pandemia.

Assistindo a marcha da humanidade para o futuro incerto, favorável ou adverso, uso o presumível sentido da premonição para delinear o advir e as suas contradições, como desprezo ao Meio Ambiente.

Esta análise vai do ambiente poético dos peixinhos de aquário às organizações mundiais que defendem animais e plantas ameaçados de extinção; mas o problema não é de órgãos privados; cabe aos governos atuar obrigatoriamente neste sentido. Sem demagogia nem plebiscitos; com disposição de enfrentar as adversidades.

É revoltante constatarmos que ocorre o contrário. Os governos são o próprio “sistema de exterminação”. A preocupação dos políticos se limita aos discursos eleitorais, não adota princípios nem ideologia; a sua única disposição é se manter no poder quando o alcançam.

Infelizmente é o que ocorre no Governo Lula-Centrão, da mesma forma como ocorreu no governo antecedente. Bolsonaro deixou as populações indígenas à míngua e agora Lula quer explorar petróleo na foz do Amazonas.

Isto calou e cala os “liberais da direita bolsonarista” e os “ambientalistas da esquerda lulista”, fanáticos atraídos pelo imã do culto da personalidade dos seus líderes. Antes

exaltavam a morte pelo negativismo da Ciência, pregado “religiosamente”; atualmente escondem a incapacidade de enfrentar o crime organizado.

As limalhas de ferro enferrujado da falsa direita e da falsa esquerda, se imantam junto aos laboratórios que fabricam ouro e vacinas; é a avidez dos pelegos lulopetistas por dinheiro, e, lado-a-lado a estupidez anticientífica do bolsonarismo.

QUESTONÁRIOS & CONCLUSÕES

MIRANDA SÁ (Email: @mirandasa.uol.com.br)

A turma que veio do Tweet deve ter notado o surgimento e a multiplicação de questionários no “X” propondo-se a avaliar conhecimentos específicos e gerais. São os Quizzes antigos que haviam desaparecido e ressurgem com postagens diferentes.

O “Quiz” vem de longe como arguição ou enquete usando uma antiga palavra inglesa significando “enigma, pergunta”, dicionarizada pelo Oxford English Dictionary em 1843, e o interessante é tem uma origem anterior, datada de 1781, querendo dizer “pessoa estranha”, e mais tarde foi usado como “brincar com” ou “sacanear” ….

No nosso idioma, o verbete Quiz aparece como um substantivo masculino indicando exame, prova e verificação para testar o conhecimento de alguém com perguntas sobre Esportes, Cinema, Geografia, História, Literatura, Matemática e Personalidades.

Trocando em miúdos, trata-se de um jogo mental para definir o saber e a proficiência do pesquisado. Parece-me que sempre foi usado, e lembro uma passagem com Pedro 1º de Castela, que deixou o seu nome gravado na Espanha como – O Justiceiro.

Conta a lenda espanhola que o Rei para indicar um juiz prudente e sensato (coisa que tem faltado no Brasil, infelizmente), fez os candidatos ao cargo passarem diante de uma mesa sobre a qual colocara uma laranja; e apontando para a fruta fez uma pergunta genérica: – “O que é isto?”.

– “Uma laranja”, respondeu o primeiro, observação seguida por mais meia dúzia de conseguintes; e houve ainda outros mais afirmando ser uma laranja; quase no final da fila, um deles pediu licença para examinar mais de perto. Concedida a petição, aproximou-se e após uma volta pela mesa, declarou: – “Meia Laranja”. Pedro 1º havia partido a fruta na encenação, e nomeou o arguto pretendente para a Corte.

A História não se estende deixando-nos sem saber se o nomeado vestindo a toga julgou conforme a Lei; mas “mutatis mutandis. (com as devidas mudanças), uma coisa é certa: rareiam no Brasil os magistrados capazes de enxergar a meia laranja….

Por isso, em nome da verdade, o que existe entre nós como Justiça é consequência das prescrições constitucionais contidas na “democrática” Carta de 88, ampla, concedente, frouxa e leniente.

Nossa Constituição é um palavreado exuberante grito preso na garganta nos anos do silêncio ditatorial. Institui prodigamente os poderes republicanos; traz o Judiciário com liberdade de fazer Justiça, tal como vem funcionando. Daí temos assistido os absurdos das sentenças controversas, mesmo suspeitosas, em todas as instâncias judiciais e nos tribunais superiores.

Também reconhecemos com tristeza e revolta que este estorvo da Lei Magna não é uma exclusividade do Judiciário, pois se estende ao Legislativo e ao Executivo de onde se emite igualmente a falta de respeito com a Nação.

O Legislativo está sob o domínio “dos 300 picaretas do Congresso” assim referidos como tais por Lula da Silva, que depois como presidente terminou por se entregar e se misturar com eles, assumindo desse modo a qualificação criada por si próprio.

O seu oponente na desgraçada polarização, capitão Bolsonaro, foi um dos 300 picaretas na Câmara Federal, logicamente classificando-se assim também, com a mesma insanidade moral e desenvoltura. Sopesando estas duas figuras é inegável que se igualam pelo avesso, um se assumindo “de esquerda” e o outro, “de direita”.

De ambos, como se comportam, concluímos: Será que passariam num Quiz que lhes indagasse: “se três gatos, em três minutos, matam três ratos, em quanto tempo cem gatos matariam cem ratos?”.

Possivelmente não responderiam, mas certamente lamentariam, por compulsão, a morte dos ratos.

 

ESTRATÉGIA & TÁTICA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Como a memória dos meus primeiros estudos não esmaeceu, recordo o princípio filosófico de que a improvisação não tem lugar num estado de guerra; o conflito armado entre dois países é tão importante que não admite improvisos… É por isto que produziu (ao que sei) três livros com o mesmo título: “A Arte da Guerra”.

O mais antigo, de Sun Tzu, traz as famosas “Quatro Lições” baixadas sob o preceito de “Conheces teu inimigo como conhece-te a ti mesmo; e não perderás a batalha”; outro trabalho com o mesmo tema, é de Maquiavel, que descortinou no Ocidente uma nova ideia de organização do exército, da hierarquia de comando e até então desprezada, a formação de soldados.

A terceira obra, que se fez presente até a 2ª Guerra Mundial é de Carl von Clausewitz, militar e pensador alemão que estabeleceu a doutrina de que a guerra é a extensão da política, conceito que o levou a admitir civis no Estado Maior do Exército.

Esta teoria – que passou à prática – é também do estadista francês, Georges Clemenceau, de quem citei num dos meus artigos por ser um grande admirador dele. Clemenceau escreveu: “A guerra é um negócio muito importante para ser deixada para os soldados”.

Na Era Atômica e o acelerado avanço da tecnologia dos foguetes, satélites, drones e a presença humana na Lua através de robôs, os conceitos do passado se modificam, sem abandonar, porém, dois princípios básicos da arte da guerra e dos estados maiores: a Estratégia e a Tática.

Em tese, atualmente, Estratégia e Tática estão intimamente relacionadas; aplicando as ferramentas da inteligência artificial faz-se pesquisa e se observa a distância, tempo e poder. Não mais para batalhas terrestres, mas para a conquista do espaço aéreo e as profundezas dos mares.

Hoje, o planejamento e a condução que antecedem uma guerra dependerão de uma tática que consiste em valorizar o papel da informação, fundamental para determinar a estratégia de movimento: seja para incursão inesperada pelo inimigo ou na ação retardadora como prevenção da própria defesa.

Para ver que nada há de extraordinário nisto, constatamos tais ações no dia-a-dia das nossas vidas em sociedade, e pela observação que fazemos, na sistemática política; vem dar razão à Clausewitz atestando a preeminência dos objetivos políticos em relação às guerras.

Fui cobrado semana passada por um colega tuiteiro sobre a defesa que faço para o diálogo e a paz afim de encerrar o trágico capítulo da guerra na Faixa de Gaza. Respondendo-o, declarei-me “um inveterado pacifista”. E sou.

As estratégias e táticas que conduzem a guerra são insensíveis e inclementes. Temos na História o exemplo de Winston Churchill – o herói inglês da 2ª Guerra – dizendo num discurso aos compatriotas que “na guerra os meios empregados não têm importância, já que é preciso causar o maior mal ao inimigo”.

Churchill não inventou nada. Aprendeu a lição dos antigos gregos e a estratégia de usar o cavalo oco para surpreender e derrotar os troianos e ocupar a sua cidade.

Enquanto isto, os exemplos da estratégia e da tática pelos polarizadores eleitorais no Brasil atual são tragicômicas: o capitão Bolsonaro usou generais de pijama para tramar um golpe; sem apoio da tropa, incentivou uma pá de babacas fanáticos irem para as portas do quarteis e fracassou. Seu rival, o pelego Lula, foi mais malandro; infiltrou agentes ideologizados no STF para anular suas condenações por corrupção em três instâncias jurídicas, e conseguiu, mas desmoralizou a Justiça. Para sempre.

 

 

 

TATUAGEM DO POPULISMO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

O frontispício do Templo de Delfos, na Grécia antiga, ostentava um convite: “CONHECE-TE A TI MESMO”. Segundo Platão, foi este aforismo que inspirou Sócrates a desenvolver a sua filosofia.

Como se sabe, não há nada escrito por Sócrates; suas ideias e postulados chegaram até nós graças aos seus discípulos, entre eles Platão, que identificou o sistema socratiano como divisor de águas na Filosofia Antiga, ao adotar o postulado da busca da verdade em todas proposições.

O empenho em encontrar a verdade é o caminho da ascese, o controle do corpo e do espírito, seguindo a lição de Sócrates e o convite para nos conhecer a nós mesmos;  a busca da verdade é a negação da mentira gerada pelo improviso, a tatuagem que identifica a maioria dos políticos brasileiros.

Tempos atrás, conheci um deputado que “decorava” improvisos…. Jogava-os em série de frases feitas, com lembranças passadas e projeções para o futuro do agrado da massa. Ensaiava gestos diante do espelho e como tirar o lenço do bolso e passa-lo na testa; e – por incrível que pareça –, mantinha um parceiro que o aparteava, com uma resposta pronta para o aplauso!

Esses truques não eram exclusividade dele e vigoram até hoje nas assembleias, nos comícios e nos plenários legislativos e judiciários. Os menos preparados e pouco inteligentes macaqueiam as performances dos outros.

Nos governos populistas, o improviso é uma máquina de fabricar dificuldades aparentes para fingir que as resolverão; chegam a difundir males inexistentes para se aproveitar da Ciência ou até mesmo para negá-la.

O cenário internacional das guerras que assistimos, focaliza o repugnante uso do improviso pelo império norte-americano em decadência. Mostra a expansão dos mercados de armas atuando em todos continentes; seja pela provocação da Otan para chegar à fronteira russa, ou pelo terrorismo incendiário do Hamas servindo como argumento de Israel para ocupar a Faixa de Gaza.

Circunscritos às nossas fronteiras, considero emblemática a pergunta formulada outro dia por um tuiteiro, querendo saber se a vida das crianças israelenses e palestinas valem mais do que as crianças ianomâmis. Desenvolvendo-a, indagamos se os incêndios destruidores que as guerras produzem causam mais prejuízos do que está ocorrendo no Amazonas.

Tais preocupações deveriam chamar a atenção como foguetões de estouro e não como fogos de artifício, brilhantes e coloridos para iludir as massas. Se alcançássemos a maioria do eleitorado, afastaríamos da cena política a estupidez que a polarização entre os populistas “de direita” e “de esquerda” imprime desgraçadamente.

Talvez com isto traríamos de volta ao exercício da política pessoas dignas e honestas, mas não de messias e heróis.  Esteve certo Brecht ao dizer que são miseráveis os povos que precisam de heróis. Por não os termos vamos a uma passagem histórica de Georges Clemenceau, jornalista francês responsável pelo L’Aurore, jornal que publicou o “J’accuse” de Émile Zola sobre o “Caso Dreyfus”.

Quem conhece História avalia a grandeza de Clemenceau tornado estadista na França; e, nesta investidura, visitou uma escola onde por gracejo perguntou a uma garota – “quanto são dois e dois?”.

A estudante surpreendeu a professora e o visitante pedindo que ele se explicasse melhor, e acrescentou: – “Se os dois algarismos estiverem um embaixo do outro, são quatro; se postos lado a lado, são vinte e dois”. Com integridade e honradez, Clemenceau curvou-se diante de uma classe do ensino básico: – “Tens razão”, disse, – “Eu deveria ter evitado o improviso e dito, ‘dois mais dois’; nunca esquecerei esta lição”.

Clemenceau não era tatuado com a marca do populismo esnobe dos polarizadores Lula e Bolsonaro.

 

 

 

OS MALES DO MUNDO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Entre as desgraças contidas na Caixa de Pandora que a irresponsável soltou para o mundo por curiosidade, possivelmente estariam os crimes contra a honra contidos no direito positivo: calúnia, difamação e injúria.

Shakespeare nos legou as certezas para isto, mostrando a cólera de Otelo pela calúnia lançada contra Desdêmona e a observação sobre a inevitabilidade desta desgraça em Hamlet.

Agora, na Era da Informática, é o computador que traz as adversidades contra a pessoa, multiplicando injúrias, difamações e calúnias com a vestimenta inglesa das fake news, as miseráveis notícias falsas produzidas por mentes perversas de terroristas e dementes.

Este desvario tem sido motivo de muitos estudos, pesquisa e produção de teses acadêmicas, pois encerra um tema cruel e impiedoso para o ser humano. Li, há muitos anos atrás uma parábola que lembra simplesmente a imposição acusatória contar o outro: É de Saadi de Xiraz, um dos três maiores escritores da poesia bucólica persa.

Fizeram ao poeta do “Jardim das Rosas” a pergunta: – “Se estivesses a sós com uma mulher deslumbrante em todos os sentidos, resistirias a tentação da amá-la?”.

– “Talvez suportasse” – respondeu – “mas ninguém acreditaria, pois é mais fácil resistir à tentação do que à calúnia”. Graças às fake news, a opinião alheia é contaminada. O contêiner das mentiras vem cheio calúnias, difamações e injúrias influenciam o entendimento e a análise dos fatos.

Na política brasileira estes males são uma mancha indelével e funcionam como metralhadora giratória, mandando balas perdidas para todo lado; e, no cenário mundial apresenta-se com uma insensibilidade gigantesca, através da mídia controlada pelo complexo Industrial Militar do Império Norte-Americano. É o que vemos na Europa sobre situação russo-craniana e a seguir no Oriente Médio, na guerra injusta travada entre Israel e o Hamas.

Confesso-me blindado contra a artilharia dos enganos, fraudes e ludibrio que a mídia dispara. Por isto me abstenho de tomar partido por qualquer dos lados, exceto para condenar a influência imperialista e defender a paz.

Entristece-me ver nomes conhecidos do jornalismo tornarem-se mercenários dos instigadores de guerras, deslizando no óleo derramado pelo Império em decadência, entregue à comercialização da morte.

Quanto ao cenário brasileiro, suas tramas malévolas, suas alianças espúrias, os discursos de ódio e as mentiras repetidas, apresenta um quadro que leva muitas pessoas a desistirem de participar da política; apelo para não o façam, seguindo o conselho de Brecht: “Que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem”.

Da minha parte, mantendo-me firme na luta contra a farsa da polarização a direita reacionária bolsonarista e os populistas da esquerda lulopetista. Tenho um amigo que estranhou a continuidade desta ação incansável.

Ao curioso e a quem interessar possa, respondo que se abandonasse este combate, prestaria um favor aos polarizadores corruptos e negacionistas e não teria mais que estudar e escrever. Entregar-me-ia de mão beijada aos inimigos da Pátria.

ILUSÃO VAI À GUERRA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Repete-se com várias versões a definição cinematográfica do que é ilusão; e uma delas nos leva à Hollywood quando uma grande companhia rodava o filme de guerra com um cenário à lá Cecil B. DeMille.

“Protagonizavam a fita centenas de figurantes que por seu caráter militar estavam fardados; diversos soldados, cabos, sargentos e oficiais. Num intervalo da filmagem, todos se dirigiram ao restaurante para o almoço.

“Sem qualquer tipo de orientação, a ilusão coletiva levou à refeição o elenco dividido: os soldados de aglomeraram num canto, oficiais subalternos noutro, os oficiais ficaram mais afastados e o general comeu sozinho.”

Vê-se que a ilusão da hierarquia funcionou coletivamente. Se é ficção. pouco importa; o que fica valendo é que em várias situações a ilusão domina o ser humano. Agora, na guerra das entidades judaicas e árabes, assistimos uma grande ilusão imposta pela cultura popular secularmente enraizada.

Trata-se de um devaneio que seduz, sugestiona e praticamente impõe o partidarismo entre os torcedores alheios. É palpável, à disposição das cabeças pensantes, o antissemitismo e a aversão aos muçulmanos.

O primeiro nasceu quando o cristianismo foi cooptado pelo Império Romano tornando-se a religião oficial como Igreja Católica Apostólica Romana; e, como uma corporação imperialista livrou com seus cânones a culpa romana pela crucificação de Jesus Cristo.

O catolicismo condenou os judeus, esquecendo-se de que o Cristo, ele próprio, era judeu; tornou este povo um associado de demônios malévolos, e, no rastro desta estupidez estimulou pogroms na Europa Oriental e, porque não dizer, influenciou Hitler no holocausto e morte de milhões de judeus.

Trata-se de um crime contra a humanidade, que deve aos judeus grande parte da sua evolução civilizatória. Do outro lado temos a repetição perversa deixada como herança pelo clericalismo romano.

Veio com as cores e a cruz das bandeiras das cruzadas promovidas pelo Papa Urbano II para combater os “infiéis” que ocupavam a Terra Santa, e os “infiéis” eram os muçulmanos. Pelo bandidismo desenfreado, as cruzadas só não horrorizam mais do que a criminosa Inquisição.

Vemos hoje uma verdade histórica: a contribuição do Islã para a Ciência e a Cultura mundiais que todos também deveríamos reverenciar.  Na obscuridade da Idade Média foram os árabes o alambique em que se destilou as maiores descobertas da astronomia, da matemática, da medicina e da química. Deles adquirimos a mais notável invenção da aritmética, desde Pitágoras e Einstein:  o Zero.

Desvanecendo as ilusões, devemos examinar a História e usá-la como ferramenta para propor o entendimento e a paz entre estes dois povos, sem ódio e sem rancor. Enquanto muitos tuiteiros andam na esteira corrente da mídia controlada ideológica e financeiramente por dois lados interessados no conflito, eu, da minha parte, ocupo-me a refletir, lamentando o que está ocorrendo.

Sofro vendo que dentro das nossas fronteiras a política desvairada dos extremistas importa o noticiário da guerra com os horrendos traços de massacres. E com isto, promove a secessão nacional, omitindo nossos próprios problemas, como o surgimento do neonazismo, o abandono dos indígenas, as queimadas amazônicas e o descontrole da Economia conduzida pela demagogia populista.

… E esquece a multiplicação de seitas inquisitoriais pretensamente cristãs, iludindo a massa ignara com uma “teologia mercantil” ….

 

 

FÁBULAS: HOMENS E ANIMAIS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Ao meio das calamidades e tragédias que toda guerra ocasiona, sempre há lugar para o humor; humor cáustico, mas humor. No conflito mundial de 1939-1945, após Hitler ter conquistado quase toda a Europa e impondo a sua supremacia sobre os aliados do Eixo, desagradaram-nos, e eles passaram a criticar a Alemanha.

Por sua vez, os italianos, para não negar os 3.000 anos da civilização romana, inventaram uma fábula que abriu as mentes dos militares patrícios. Criaram uma situação em que três representantes da aliança nazifascista viajavam num bimotor quando piloto anunciou que um dos motores pifara e era necessário aliviar o peso do avião.

Daí, o japonês exclamou “Banzai!” e se atirou no vácuo; o italiano emocionado imitou-o, dando um viva à Itália. Ficando só, o alemão – nazista de carteirinha – foi à cabine, matou o piloto jogou o corpo fora e assumiu o controle da aeronave.

É isto aí: a disputa hegemônica na política ocorre sempre: Assassinatos de quem ameaça o poder; expurgos partidários para assumir o comando; e, abertura de novas frentes para conquistar novos aliados.

Infelizmente é o que vemos  no Brasil. Na luta pelo poder adota-se a experiência que a Bíblia relata sobre a guerra dos israelitas contra os filisteus: “Sansão caçou 300 raposas, ateou fogo na cauda dos pobres animais e soltou-os na lavoura dos inimigos.

Este episódio fantástico encerra a luta pelo “espaço vital”, em que o mais forte quer conquistar. Na 2º Guerra foi argumento de Hitler para invadir a Tchecoslováquia, e se repete com a disputa da Faixa de Gaza por judeus e palestinos.

Terror à parte, visto e condenado pelas ações do Hamas e repetido oficialmente como resposta pelo governo de Israel. Guerra é guerra, instrumento de destruição e morte. E este desastre catastrófico horrendo para os amantes da paz, como eu.

Para piorar esta situação, o noticiário chega aqui politizado pelos polarizadores da falsa direita bolsonarista e a falsa esquerda lulista. É triste constatar esta verdade; somente as pessoas independentes falam em diálogo e propõem um entendimento que acabe com a devastação e a mortandade.

Se há criminosos de guerra, devem ser julgados; se são computadas as vítimas letais e os prejuízos materiais, que sejam compensados. Isto pode parecer calculismo frio e materialista, mas é o que me passa pela cabeça. Se desagrado, desculpem-me.

O vértice das desavenças não deve ferir a liberdade de opinião, assim como a informação não pode vir distorcida para convencimento dos descuidados e ingênuos. É justamente a catarata abundante de fake news que impõe uma visão despida de partidarismo. A mentira tem um alto preço, até a condenação da morte.

É o que lembra a fábula do Rei e da Pomba. – “O soberano de certo país sofria de úlcera gástrica e os seus médicos o aconselham uma dieta com filhotes de pombos ainda no ninho e implumes.

Cortezões saíam em campo a procurá-los; um dia uma pomba aproximou-se do rei e implorou que evitasse a caça ao seu filho; ele se comoveu e perguntou como poderiam identifica-lo; – “Não é difícil, majestade”, disse a ave, – “é o pombo mais lindo, mais sadio e mais forte que fica no pombal do Sul”.

As dores atrozes continuaram e o monarca manteve a dieta, sem esquecer da promessa feita. Então ao seu cozinheiro que preparasse os borrachos mais feios e depenados encontrados no pombal do Sul.

Após a refeição recebeu, de novo, a visita da pomba, que lamuriosa que disse: – “Comeste o meu filho, senhor!”. Pobre dela, sofria de “Catatimia”, perturbação mental que confunde o amor com a aparência.

NA UTI DAS IDEIAS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Inspirou-me uma tuitagem que passou quase despercebida, mas que repassei por considera-la um exemplo da velocidade de como as ideias se enfraquecem para ceder lugar aos fatos recentes. Foi uma pergunta: “A guerra declarada por Israel significará o abandono dos EUA à Ucrânia?”.

A importância desta indagação está na diminuição, quase abandono, do noticiário sobre o conflito europeu. O interesse imperialista da Otan caiu para o segundo plano, e em breve a terceirização militar comandada por Zelenski estará enterrada na cova das coisas esquecidas.

Nos artigos, comentários e crônicas que publico, gosto muito de citar palavras que se enfraqueceram no coloquial e digo, “fui buscar a palavra tal na UTI da Gramática”. Para preservar a riqueza linguística evito a extinção de alguns vocábulos que adotei na mocidade como precisos e até poéticos.

Entre as lições que recebi da cultura popular mantenho o princípio de que “recordar é viver”. Isto tem uma força tão grande que a filosofia positivista afirma que uma pessoa só morre realmente quando se esquecem dela.

Assim, procuro manter na memória os ensinamentos domésticos e escolares. Com a morte da minha irmã Lúcia no ano passado, perdi uma ressonante referência do que vivemos quando crianças. A nossa educação doméstica e escolar foi de um valor incalculável.

Trago sempre na mente o aprendizado da Ciência, da Geografia, da História e da Matemática. Considero lamentável quem o perdeu….

Compreendo que muito poucos tiveram a oportunidade que tive profissionalizando-me como jornalista, um exercício quase forçado para o cérebro. A leitura permanente, a pesquisa aprofundada e isenta e a análise fria dos acontecimentos são, para a memória, uma verdadeira ginástica.

O aprendizado no dia-a-dia funciona como um gravador eletrônico; e é durável. Os estudos da anatomia humana mostram que diferentemente dos demais órgãos que compõem nosso corpo envelhecendo em ritmo constante e célere, as células nervosas mantêm-se ativas mesmo na idade avançada.

É, por isto, que devemos alimentar o nosso cérebro com a ambrosia da lembrança. Usar com afinco e prazer a cabeça em vez de nos preocupar com artifícios para remoçar o corpo, massagens, maquiagens e operações plásticas. Deixemos isto para os novos ricos ou os pelegos que chegam ao poder….

Caminhando no labirinto da política brasileira vimos a diferença das suas armadilhas para aquele da mitologia grega, o Labirinto de Creta, que encarcerava o Minotauro, dando-lhe anualmente como alimento o corpo de catorze adolescentes, sete moças e sete rapazes.

No nosso labirinto, o monstro hediondo não tem cabeça e rabo de touro; trata-se da abominável fake news, a figura mascarada de notícias falsas e da informação distorcida. Expostos ao sacrifício – todos nós –, não podemos esquecê-la por um minuto sequer, e somente assim estaremos resguardados da falsidade política.

Enveredando na galeria da política intricada, encontraremos apenas a falsidade das calúnias, difamações e enredos como apresentam agora descrevendo a guerra dos israelitas e palestinos. Tirando da UTI das Ideias, trazemos o pensamento do marechal prussiano Otto von Bismarck: – “Nunca se mente tanto como antes das eleições, durante uma guerra e depois de uma caçada”.

 

OS PERIGOS DA LÍNGUA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Como parte corpórea dos animais e particularmente da anatomia humana, a língua é órgão móvel ligado à epiglote, ao osso hioide, palato mole, faringe e laringe, que se estende na região próxima aos dentes incisivos inferiores.

Lexicamente dicionarizada, a palavra língua é um substantivo feminino com ampla definição que vai da anatomia animal ao sistema de comunicação oral. Do ponto de vista fisiológico, língua faz parte do aparelho digestório servindo à deglutição e ao paladar. Pelo aspecto humano relaciona-se à fala.

Parece incrível, mas quem melhor definiu o aspecto vocálico da comunicação foi o escritor grego da antiguidade clássica Esopo, a quem se atribui a criação literária da fábula, sendo ele próprio, autor de várias delas tornadas populares mundo afora.

Pelo seu nome, há historiadores que dizem ter ele nascido na Etiópia, e chegou à Grécia vendido como escravo e comprado filósofo Xanto. Da convivência dos dois é que se registrou fabulosamente o conceito da língua, que li na tenra juventude e por sorte recuperei entre os livros de referência que mantenho.

Quase um milagre. Fui surrupiado em quase 500 livros pelo “exército revolucionário de 64” por se tratar de literatura subversiva, incluindo-se filósofos gregos antigos, enciclopedistas, Monteiro Lobato e, como já contei como piada, “Nosso Homem em Havana” uma humorística ficção do romancista inglês Graham Greene, passada em Cuba na pré-revolução, tendo como personagem um vendedor de aspiradores de pó….

Depois disto, ao me mudar de Natal, Rio Grande do Norte, onde vivi 30 anos, de volta ao Rio, dei aos amigos e doei para bibliotecas interioranas cerca de 3.000 livros. Assim, o que me restou foram diretrizes, biografias, informações e saudosismo. Foi deste último que sobrou a fábula viva de Esopo. Conta que:

“Xanto, dono de Esopo, ainda não o célebre fabulista, mas um simples escravo, que fosse ao mercado e de lá trouxesse as melhores especiarias para servir num banquete que ofereceria a amigos.

“No jantar, foram servidos pratos frios com língua preparada de várias maneiras, de triviais a exóticas. Meio decepcionado, Xanto admoestou Esopo com severidade diante dos presentes: – ‘Pedi-lhe para trazer o que havia de melhor e só trouxeste língua?’

“Esopo, com altivez, respondeu: – ‘Não querias, meu patrão, uma iguaria excepcional que o mercado oferece?’; e justificou: – ‘Te obedeci. Nada é melhor que a língua; é o elo da vida social, órgão da verdade e da ciência, discurso que empolga assembleias?’ Os comensais o aplaudiram e Xanto se conformou.   

“Para novo convescote desta vez com adversários, Xanto recomendou ao Escravo para adquirir o menos conveniente acepipe, o que tivesse de pior no mercado. De novo, repetidamente, Esopo ofereceu vários pratos de língua, desta vez quentes, com molhos agridoces extravagantes contrastando com pétalas de rosas e folhas de louro.

– “O que é isto?”, perguntou Xanto espantado, – “Vais servir apenas língua?’. – “Senhor, tu me ordenaste a comprar o que houvesse de pior no mercado e eu acredito que só pode ser a língua!’; e explicou: ‘A língua é o que acarreta todas brigas, promove inimizades, arma traições, executa calúnias e perjúrios e falsos testemunhos. Até motiva guerras.’ Xanto calou-se e deu-lhe liberdade, tornando-o um cidadão livre.

Eu gostaria que esta lição fosse expandida em todos seguimentos sociais para alertar sobre os bens e males que a língua traz. Assim, quem sabe, os ministros Dino e Simone poderiam se conter em usá-la, e Bolsonaro e Lula não mais a usassem para mentir.

Também para pedir uma reflexão sobre a polarização entre os extremismos, para denunciar as falsas direita e esquerda do populismo, e defender o Centro Democrático!