NA UTI DAS IDEIAS

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MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Inspirou-me uma tuitagem que passou quase despercebida, mas que repassei por considera-la um exemplo da velocidade de como as ideias se enfraquecem para ceder lugar aos fatos recentes. Foi uma pergunta: “A guerra declarada por Israel significará o abandono dos EUA à Ucrânia?”.

A importância desta indagação está na diminuição, quase abandono, do noticiário sobre o conflito europeu. O interesse imperialista da Otan caiu para o segundo plano, e em breve a terceirização militar comandada por Zelenski estará enterrada na cova das coisas esquecidas.

Nos artigos, comentários e crônicas que publico, gosto muito de citar palavras que se enfraqueceram no coloquial e digo, “fui buscar a palavra tal na UTI da Gramática”. Para preservar a riqueza linguística evito a extinção de alguns vocábulos que adotei na mocidade como precisos e até poéticos.

Entre as lições que recebi da cultura popular mantenho o princípio de que “recordar é viver”. Isto tem uma força tão grande que a filosofia positivista afirma que uma pessoa só morre realmente quando se esquecem dela.

Assim, procuro manter na memória os ensinamentos domésticos e escolares. Com a morte da minha irmã Lúcia no ano passado, perdi uma ressonante referência do que vivemos quando crianças. A nossa educação doméstica e escolar foi de um valor incalculável.

Trago sempre na mente o aprendizado da Ciência, da Geografia, da História e da Matemática. Considero lamentável quem o perdeu….

Compreendo que muito poucos tiveram a oportunidade que tive profissionalizando-me como jornalista, um exercício quase forçado para o cérebro. A leitura permanente, a pesquisa aprofundada e isenta e a análise fria dos acontecimentos são, para a memória, uma verdadeira ginástica.

O aprendizado no dia-a-dia funciona como um gravador eletrônico; e é durável. Os estudos da anatomia humana mostram que diferentemente dos demais órgãos que compõem nosso corpo envelhecendo em ritmo constante e célere, as células nervosas mantêm-se ativas mesmo na idade avançada.

É, por isto, que devemos alimentar o nosso cérebro com a ambrosia da lembrança. Usar com afinco e prazer a cabeça em vez de nos preocupar com artifícios para remoçar o corpo, massagens, maquiagens e operações plásticas. Deixemos isto para os novos ricos ou os pelegos que chegam ao poder….

Caminhando no labirinto da política brasileira vimos a diferença das suas armadilhas para aquele da mitologia grega, o Labirinto de Creta, que encarcerava o Minotauro, dando-lhe anualmente como alimento o corpo de catorze adolescentes, sete moças e sete rapazes.

No nosso labirinto, o monstro hediondo não tem cabeça e rabo de touro; trata-se da abominável fake news, a figura mascarada de notícias falsas e da informação distorcida. Expostos ao sacrifício – todos nós –, não podemos esquecê-la por um minuto sequer, e somente assim estaremos resguardados da falsidade política.

Enveredando na galeria da política intricada, encontraremos apenas a falsidade das calúnias, difamações e enredos como apresentam agora descrevendo a guerra dos israelitas e palestinos. Tirando da UTI das Ideias, trazemos o pensamento do marechal prussiano Otto von Bismarck: – “Nunca se mente tanto como antes das eleições, durante uma guerra e depois de uma caçada”.

 

4 respostas para NA UTI DAS IDEIAS

  1. BOA TARDE,
    MIRANDA!
    LEMBRE – SE ” TODA GUERRA É UMA DERROTA.”

  2. Cidinha Moreau disse:

    Grandes verdades.

  3. José Carlos Oliveira disse:

    Meu caro!
    Sua observação é perfeita sobre o tema. Eu só não sei quem gira a roda do mundo que muda com assanhado vexame as coisas da vida. Também não mensuro que necessidade há de assim proceder pois, se tais coisas desajudam não repousa no mundo valor qualquer. De sorte que a falsidade se engajou (com perdão do advérbio) à cultura dos povos em toda sua plenitude -tal qual a violência existe e nos cega ante o olhar mais meticuloso- as fake news negam o mundo por pura perversão. Porém, se não há mal que sempre dure nem tristeza que não se arremedie (com a vênia do Mia Couto) tais infortúnios hão-de passar (…)(Com afeto e carinho. Do colega jornalista José Carlos Oliveira. Natal-RN.

  4. Excelente reflexão, gostei das lembranças com a sua irmã!