Arquivo do mês: abril 2022

TELEGRAMA

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uolcom.br)

“Trame, planeje, calcule, postule…. E conte com isso! ” (Henry Miller)

Não faz muito tempo que escrevi uma crônica sobre as coisas que a Geração Web não conheceu, são tantas que nos obriga a selecionar apenas algumas, como apontador de lápis, caderno de caligrafia, caneta tinteiro, cartas, gravador portátil, máquina de escrever, telegrama…. Também o bom trato com os velhos….

A distinção com a terceira idade não desapareceu e ainda é respeitada pelos que não são filhos de chocadeira; quanto ao Telegrama, com a sua abreviação básica, teve um curto retorno  por uns tempos, quando o Twitter exigia dos micreiros 140 toques, ampliados depois para 280 em 2017.

O pensamento expresso sumariamente valorizava a expressão, dava-lhe qualidade e retratava a inteligência nos resumos, como no jornalismo temos as sinopses para atender os apressados.

Assim eram os telegramas. Meio de comunicação entre pessoas e instituições, com mensagens curtas e urgentes que eram entregues envelopados no endereço de destino; antes eram transmitidos pelo telégrafo, depois por telefone e agora temos um similar pouco usado via Internet.

Nos velhos tempos memorizava juras de amor; mensagens confidenciais, comerciais ou políticas; e comunicados funestos, noticiando acidentes e mortes. Temendo receber notícias tristes, muitas pessoas hesitavam em abri-los….

Parecia natural o temor por tomar conhecimento de acontecimentos telegramados. A gramática apresenta a figura da “preterição” que consiste em passar por cima de um texto, mas a curiosidade sobre o conteúdo de um telegrama era irresistível.

Antigamente era muito difícil manter sigilos. Os segredos eram um prato feito nas conversas familiares, almoços e jantares, bate papo de botequim. Tem até uma interessante resenha de Gore Vidal que diz: – “Quando alguém me pergunta se posso guardar um segredo, respondo: “Por que eu deveria, se você não pôde? ”.

Na Era da Mitomania Bolsonarista os sigilos fazem parte do discurso presidencial, uma breve simulação disto é espantosa: o capitão Bolsonaro fez segredo por 100 anos de um teste de vacinação; o Exército usou o mesmo período para dar conhecimento do julgamento do general Eduardo Pazuello por participar de comício partidário.

Tivemos a pouco um absurdo dos absurdos: o Governo Federal pôs sob sigilo as idas dos filhos do Presidente ao Palácio do Planalto! Assim, não é estranhável que um encontro de pastores evangélicos com Bolsonaro seja sigiloso; principalmente depois do escandaloso pastoril do gabinete paralelo no Ministério da Educação que revelou cobrança de propinas por pastores lobistas.

Talvez seja exibir demais de um governo do Centrão (como seria também de um governo lulopetista, porque os populistas são iguais), mas, em nome da Democracia e da Transparência na Administração Pública, os sigilos deveriam ser proibidos.

Perdoem-me os que pensam diferente por considera-los tolos. Não chegam a ser uns imbecis úteis como os alemães que apoiaram os nazistas e aplaudiram Hitler, embora contribuam para a disseminação do mistério na vida política dos governantes.

Além da manada cultuadora de personalidades, temos igualmente a omissão silenciosa dos garantistas togados e dos esgotados militares da ativa que apadrinham este tenebroso artigo de fé do sigilo.

Gostaria de fantasiar um pouco acreditando num Tribunal da Opinião Pública e num Exército do Patriotismo que, reunidos, enviaram o seguinte telegrama endereçado à Nação Brasileira:

“ACORDA POVO BIPT É IMPOSSÍVEL DORMIR NUM PAÍS ONDE SEGREDOS DOS OCUPANTES DO PODER SÃO LEGAIS PT O RUIDO DESTA MISTIFICAÇÃO LEVANTA SUSPEITAS VG NÃO SE ACUMPLICIE PT REAJA” ASS. A CONSCIÊNCIA

 

 

 

 

 

 

 

FAKE NEWS

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“A tradução literal do inglês para o português é ‘notícias falsas’” (Wizard)

Insistentemente os ficcionistas dos “deuses astronautas’ falam do encontro submerso na costa turca de um artefato semelhante ao computador; da minha parte, considero isto apenas uma ansiosa vontade de provar fantasias; prefiro aceitar o registro histórico de que ele foi estudado na década de 1939 e exitoso na 2ª Guerra Mundial.

Assim, considero o computador uma coisa nova, a internet novíssima, e as redes sociais, excepcionalmente recentes…. Mas as fake news são muito mais antigas do que a nossa imaginação alcança.

Há quem afirme que têm a sua origem nos Vedas, livros sagrados do hinduísmo, e estudiosos ocidentais dizem que foram copiadas nas histórias do Antigo Testamento entre 1800 e 500 a.C..

Já no Ocidente tivemos em Roma o filósofo Tito Lívio, que sofreu pesadas críticas por desacreditar da veracidade de uma Loba que amamentou os fundadores de Roma, Romulo e Remo. Considerava-a uma mentira fantástica, seja, aquilo que hoje chamamos de fake news….

As notícias falsas nasceram de absurdos, dos mitos (que persistem na cabeça dos palermas), das sátiras e de zombarias. Batizadas de fake news, chegaram aos subúrbios da politicagem, disseminando maldades; e esta presença agigantou-se nas eleições brasileiras de 2018, e se tornou perversa e desumana na pandemia do novo coronavírus.

Mensagens desvirtuadas falsas e pervertidas foram usadas contra a Ciência Médica pelo negativismo bolsonarista, apelando emocionalmente para pessoas ingênuas, ou de crenças distorcidas, ou dos fanáticos cultuadores de personalidades políticas.

Entre os operadores de fake news encontramos mercenários criadores de conteúdo comercial ou político nas redes sociais; outros são agentes políticos convictos ou profissionalizados para defender pautas de movimentos e partidos; e temos os indivíduos e grupos brincalhões com pegadinhas realistas ou humorísticas, paródias, piadas e sátiras.

Há também os “trolls”, que criam histórias absurdas para criar confusão e, tristemente, encontram sempre quem concorde, se emocione e se interessem em divulgar as suas mensagens insidiosas e pérfidas. Alguns cretinos se engajam espontaneamente ou são recrutados para a vulgarização de posts, sites e vídeos fraudulentos entre os usuários das redes sociais.

Na sua maioria são “usuários comuns” das redes, contratados por empresas ou organizações políticas para espalhar desinformação e informações mentirosas sobre entidades, fatos, pessoas públicas, pesquisas científicas e projetos econômicos. O resultado obtido enaltece ou desmoraliza artistas, intelectuais e políticos e reforça campanhas publicitárias.

Há muita gente paga para fazer isto, mas a pior disseminação das fake news vem da inteligência artificial, o uso de robôs acionados à distância que realizam intervenções em massa. Estes “bots” (diminutivo de robôs) conhecidos nos meios de dissimulação no webinário (“web-based seminar“) como Internet bot ou web robô, simulam a atuação humana padronizada e repetidas vezes.

Aí reside o perigo ameaçador de conquistar adesões, principalmente agora, iniciando-se sub-repticiamente ou burlando a vigilância do TSE, está nas redes sociais a campanha eleitoral polarizada entre os dois maiores grupos divulgadores de fake-news. Os bots e robôs de carne e osso vêm ensaiando desde 2014, e foram usados massivamente em 2018.

Para enfrentar a desinformação e a salvação da Democracia nas próximas eleições, o TSE criou em 2019 o Programa de Enfrentamento à Desinformação; e no Congresso parlamentares patriotas enfrentam os criminosos defensores da fraude.

Assim o País se mobiliza para combater e penalizar as notícias falsas contumazes dos agentes populistas de direita e de esquerda; e revoltante é haver estúpidos nas redes sociais defendendo embustes e mentiras como fossem “liberdade de expressão”. Só camisa-de-força.

 

 

 

 

SEMPRE

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“Há duas palavras que não se podem usar: uma é Sempre; a outra é Nunca” (José Saramago)

No universo esquizofrênico do fanatismo, a mistura de fantasia e realidade dá o caldo da estupidez. Recentemente, ao surgir o escândalo do pastoril bolsonarista no Ministério da Saúde, apareceu como defesa da cumplicidade do capitão Bolsonaro com os parceiros propinistas a expressão: – “Sempre se fez assim”.

Muitos dos que votaram no Presidente, votaram porque ele prometeu que não seria sempre assim. Mentiu, e se revelou um mitômano incurável. Dizia-se contra o Centrão, falando pela boca do fantoche general Heleno, defendeu a Lava Jato nomeando Sérgio Moro para a Justiça e nos primeiros comentários sobre as rachadinhas dos filhos falou “se fizer merda, pagará”.

Hoje assume ser do Centrão com a concordância de Heleno; é contra qualquer investigação sobre corrupção, e troca delegados da PF para defender a “Famiglia”, comprometida até o gogó com as rachadinhas.

Vergonhoso é o caso a Wal do Açaí. Denunciada como funcionária fantasma no gabinete de Bolsonaro quando deputado em Brasília, ele jurou em cruz que ela cumpria os deveres regulamentares; agora que ela assumiu nunca ter ido à Brasília, p Mitômano se desmente “assumindo” a delinquência. Mas se justifica dizendo ser uma prática comum na Câmara Federal.

“Sempre se fez assim”. O filósofo grego (323 a.C.), Diógenes – O Cínico – andava pelas ruas de Atenas em pleno dia com uma lanterna na mão dizendo que procurava “a verdade” ou “um homem honesto”…. Hoje no Brasil, religiosos bolsonaristas andam com uma Bíblia padronizada atrás de propinas.

Bolsonaro defende os lobistas corruptos da Educação acumpliciando-se com eles, e conta com o apoio cego dos cultuadores da sua personalidade. É pena ver-se entre estes baba-ovos pessoas alguns com formação acadêmica. A reação vem somente dos que se assumiram em oposição diante deste desmando.

Combater os repetidos escândalos nos alvos mais críticos do destino nacional, primeiro na Saúde e agora na Educação, é prova de verdadeiro e corajoso patriotismo.

Lembre-se que Buda lutou contra a estupidez formalista dos Brâmanes; Jesus Cristo atacou vigorosamente os escribas e fariseus hipócritas e Martin Luther King foi imolado por defender os direitos civis.

Nenhuma destas figuras históricas fez o que sempre se faz…. E para a Federação Única da Idiotia, a palavra Sempre tem o sentido de eternidade; usam-na como continuadamente, repetidamente, reiteradamente, perpetuamente.

Como verbete dicionarizado, a palavra Sempre, é gramaticalmente múltipla; aparece como advérbio, conjunção coordenativa adversativa e substantivo masculino de origem latina, “semper”. Significa tudo que se refere ao tempo: durável, contínuo, duradouro, eterno, infindável, longevo, perdurável, perene, permanente, prolongado e perpétuo.

Sobre tal definição de Sempre há controvérsias: uma é do português Saramago, meu epigrafado, impedindo o seu uso; outra é de Pittigrilli, escritor ítalo-argentino que lhe deu o sentido de mudança: – “Cada segundo é tempo para mudar tudo para sempre”.

Que tal, se por licença poética usássemos a palavra Sempre como mutável, no caso dos escândalos ministeriais de Milton Ribeiro e seus pastores? É fundamental se lhes diga que em nenhum momento é possível implantar-se um sistema educativo inclusivo vendendo bíblias, construindo templos e cobrando ouro por liberação de verbas…

Bolsonaro em vez de ouvir Michele, para quem o pastor Milton Ribeiro é um santo, precisa aprender os antônimos de Sempre: Nunca, jamais.