Arquivo do mês: novembro 2023

LIBERTAS QUAE SERA TAMEN

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Costumava-se exprimir frases latinas solenemente, para gravar um enunciado meritório; este “LIBERTAS QUAE SERA TAMEN”, por exemplo, foi o lema proposto por Tiradentes como senha para o levante contra a escorchante dominação da coroa portuguesa no Brasil.

Libertas quae sera tamem” vem de um poema latino e hoje está inserido na bandeira do Estado de Minas Gerais, branca, com um triângulo vermelho com este dístico no contorno. Traduzido, é “Liberdade, ainda que tardia”.

O colonialismo deixou uma chaga no corpo da nacionalidade brasileira inconformada com a exploração do seu trabalho e das riquezas naturais. Começou com a instituição de um imposto – A Derrama – para cobrar percentuais sobre o lucro dos engenhos de açúcar, e chegou mais tarde nas Minas Gerais com a descoberta de metais preciosos no chamado Ciclo do Ouro.

A mineração de ouro, prata e diamantes era feita na maioria por brasileiros chegados à região de várias partes do país, com o objetivo de enriquecer com a prospecção de jazidas e sua exploração direta.

Os dicionários generalizam o verbete “Derrama”. Apresenta-o como um substantivo feminino relativo a “tributo, imposto repartido pelos contribuintes, proporcionalmente aos seus rendimentos”. Omite o seu significado histórico de meio de exploração  de 1/5 do valor do trabalho cobrado à população.

A História registra como terminou a Conjuração Mineira levando ao sacrifício nossos primeiros patriotas.

Após a independência, o Império e a proclamação da República, a Derrama hoje adquire uma nova acepção com alcance antidemocrático. Temos os primeiros ensaios para impor uma Democracia Relativa ao gosto dos fascistóides lulopetistas e seus aliados de vasta amplitude, que vai das Ongs do Comando Vermelho ao STF.

O pessoal do CV, representado pela Dama do Tráfico que circula pelos ministérios do Governo Lula-Centrão, tem a direção própria de eliminar os adversários; enquanto os togados preferem a sutileza da linguagem jurídica fazendo a repressão às liberdades de expressão e de imprensa parecer “constitucional”.

Contra isto a Associação Brasileira de Imprensa – ABI, já fez um alerta denunciando, além dos assassinatos, agressões e ameaças a órgãos de Comunicação e profissionais de imprensa, o que ocorre agora vendo a gangue lulopetista investir contra os jornalistas que divulgaram as relações governamentais com o tráfico.

Também a Associação Nacional de Jornais – ANJ, levanta dúvidas quanto a decisão dos ministros togados em definir uma punição aos entrevistadores pela opinião de entrevistados, detendo para eles mesmos a definição dos motivos que levarão a isto.

Em verdade, fica para o STF a interpretação jurídica de qualquer indício de falsidade e a exigência do editor em proibir falas “ao vivo” num programa de televisão. Em qualquer país democrático seria considerado censura ou sua rima freudiana, loucura.

Conclui-se dessa maneira, pela versão do advogado constitucionalista André Marsiglia, que “a decisão da Corte levará, no mínimo, à autocensura nas redações”; e afirma que: -“o que o STF fez foi praticamente tornar a atividade jornalística uma atividade de risco, pois o exercício da liberdade de imprensa é um direito e transformar o exercício do direito num risco é absolutamente contraditório”.

Vê-se assim que a derrama repressiva do “andar de cima” à circulação pública da Informação é criminosa. Uma traição ao Estado de Direito que “elles” regurgitam defendendo; igualam-se, entretanto, a Joaquim Silvério dos Reis, que delatou os companheiros libertários de Tiradentes em troca do perdão de suas dívidas com a Coroa.

Registra-se assim um troca-troca de dívidas e favores entre o Legislativo e o Executivo; resta-nos então, no fundo da caixa de Pandora, a Esperança de que o Legislativo reaja contra isto.

 

 

 

 

 

LINGUAGEM DO SILÊNCIO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

As teorias além da vida humana na Terra para o Universo, leva muita gente a perguntar como seria a comunicação entre terráqueos e alienígenas; a resposta é de uma simplicidade contundente: – “por meio de gestos”.

Talvez por isto nos surpreendam a quantidade de estudos sobre os gestos. Esqueci a fonte, pesquisei e não achei, mas tenho na memória a teoria de um antigo filósofo grego enunciando que: “É caminhando que, na prática, se demonstra o movimento”. Está aí o resumo de uma definição pelo gesto. A linguagem corporal, segundo estudos, expressa muito mais uma resposta do que a linguagem falada e escrita.

Transmitimos essas mensagens pela postura e gestos com várias maneiras de atitude e mímicas, como coçar a cabeça, contrair a face, cruzar os braços, inclinar o corpo e olhares dispersos…. Temos até acenos obscenos de ofensas que chamo de “pornomímica” … rsrsrs.

Há uma teoria formulada pelo professor Alberto Mehrabian sobre comunicação, que obedece à regra dos 7%-38%-55%, seja, usamos 7% com palavras, 38% pelo tom de voz (velocidade, tom, volume) e 55% para nossos movimentos, gesticulações e expressões faciais.

Vemos pessoas que gesticulam exageradamente, até mesmo falando ao telefone, e se bem atentarmos para as exibições das suas contrações, olhares e trejeitos, podemos julgá-los de várias maneiras e até ser interpretá-los equivocadamente.

Também as expressões corporais podem ser confundidas e muitas vezes o são; na linguagem do silêncio, só a escrita não decepciona, e a milenar sabedoria chinesa atesta isto afirmando que um desenho explica muito mais do que mil palavras. É por isto que quando certas cabeças duras não conseguem entender um fato, a gente pergunta: “Quer qu’eu desenhe?”.

Então, desenhando a realidade que temos atualmente à nossa frente, os traços nos levam a George Orwell ao aconselhar pelo seu “1984” que no enfrentamento ambíguo e duvidoso da verdade com a inverdade, devemos nos conscientizar que ficando com a verdade, mesmo que todo mundo fique contra, não pense que está louco.

Diante desta conjuntura, transmito a minha experiência pessoal: ao ler qualquer texto, sinto na escrita a melhor forma comunicativa do silêncio; então exijo do autor uma explicação clara, direta e elementar. Tento da minha parte cumprir este preceito, e logrando conquistar eleitores, redobro meus cuidados.

Um deles é compreender a guerra como uma continuidade da política, e desta maneira desprezar o maniqueísmo midiático contemporâneo vendo que nos conflitos atuais que ocorrem mundo afora, não assistimos uma luta do bem contra o mal, mas entre o conhecimento e a ignorância, como ensinou Buda.

Os esclarecidos serão sempre vitoriosos, cedo ou tarde. Na linguagem do silêncio não há equívocos; e tenho como exemplo uma passagem em tecnicolor nas Mil-e-uma-Noites.

É o provérbio inserido na fábula do sábio que solicitou ao Califa sua participação entre os doutores que o assessoravam. Cochichos levaram o monarca a mostrar-lhe que o quadro estava completo, demonstrando isto com um copo cheio d´água até a borda; e, sobre ele, despejou com um conta-gotas um pingo, e a água transbordou.

O Sábio (não era por acaso um sábio) foi ao canteiro de rosas (o Califa despachava nos jardins do palácio) e colhendo uma pétala da flor colocou-a levemente flutuando no copo. Esta metáfora foi aplaudida por todos os presentes, e ele conquistou o cargo pleiteado e a certeza de como as expressões silenciosas são poderosas.

Entre elas, citei acima o gesto manuseado de um xingamento, que batizei de “pornomímica.” Aproveito-o com o meu dedo apontador hirto na direção dos ministros do STF, mandando-os se conformar de que não são senhores da verdade.

… E, com o mesmo gesto, para Bolsonaro e Lula enviando-os polarizarem “naquele lugar”.

HISTÓRIA & JUSTIÇA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

A História e a Justiça são dois sistemas que a civilização nos impõe. Podemos analisa-los como: primeiro, não se deve dizer: – “… se fará Justiça!” e, segundo, não falar tampouco – “a História julgará”.

Ocorre que a História, tal como é divulgada, é a história dos vencedores, certos ou errados, bons ou maus; os fatos armazenados não são expostos ao exame frio e meticuloso da documentação. Ficam escondidos sem ser transmitidos à posteridade.

Do outro lado, a Justiça tal como é, segundo quem a aplica, sofre da miopia que só vê verdade enuviada, embaçada, com a imagem distorcida pelo corporativismo e, no Brasil de hoje, pelo nepotismo.

Usando lentes impróprias, a magistratura confere o que alertou o humorista-filósofo Millôr Fernandes: “A Justiça só existe como ideal; levada ao tribunal é logo corrompida pelo invólucro da ideologia”.

Não muito diferente, a História que os livros escolares de todos os países trazem – quem a estuda sabe –, diz-se verdadeira, mas o texto tipografado traz sempre a versão oficial do momento; seu conteúdo político vem embrulhado em papel de celofane colorido e é dado de presente para as mentalidades ingênuas, ignorantes ou desavisadas.

Quando eu alisava os bancos ginasianos, assistia os historiadores discutindo sobre a passagem de Joaquim José da Silva Xavier – O Tiradentes – na História colonial; não se aprofundavam na cobrança dos escorchantes impostos de Portugal, mas discutiam a semântica que intitulava o capítulo, como deveria ser, “Conjuração” ou “Inconfidência”.

Contemporaneamente participamos da História que está sendo escrita. E sabemos que levará ao futuro a mesma marca da tatuagem antiga…. Os vencedores recolhem as batatas e os perdedores lamentam a perda do butim.

Ambos, porém, concordam em guardar o que ganharam e o que perderam, como se serviram à mesa do banquete do poder e quais foram as iguarias servidas. Fazem silêncio para garantir os benefícios na alternância eleitoral e os privilégios das lideranças.

É assim que se exibe o enredo político, judicial e legislativo no Brasil; os protagonistas na cena da dominação recordam-me uma piada que correu nos Estados Unidos anos atrás, contando que o fugitivo de um presídio de segurança máxima ficou revoltado por não encontrar ninguém que lhe orientasse no caminho da fuga, nem mesmo um policial.

A versão que temos aqui desta anedota é um preso condenado criminalmente por tráfico de drogas, ser liberado para assumir o cargo público a que foi aprovado por concurso. É assim que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, e chama atenção porque desta vez isto foi aprovado em sessão plenária e não numa sentença monocrática que costuma vir eivada de suspeitosas patranhas.

Um alerta; sabemos que o coletivo no plenário reúne semideuses caprichosos; mas, cada um em particular é um demônio fugido do inferno para vestir a toga preta. Não há exemplo melhor do que ocorreu com Dias Toffoli defendendo corruptos e corruptores condenados pela Lava Jato.

Da minha opinião, sinto que tanto faz o STF atuar no seu conjunto ou individualmente, pois de uma maneira ou de outra exorbitam muitas vezes o ideal da Justiça boa e perfeita, inscrita nos cânones do Direito.

Assim, nas veredas da História e da Justiça proclamamos e festejamos apenas a maior conquista da humanidade (nem sempre seguida em alguns países), a Declaração dos Direitos do Homem; e na modernidade inclusiva, poderíamos ampliá-la e rebatizá-la como Declaração dos Direitos Universais, abrangendo todos os gêneros, as plantas e os animais.

E, nesta amplitude, fortalecer a defesa do Meio Ambiente; e da nacionalidade que é sempre ameaçada pelos governantes populistas que se intercalam no poder.

 

 

 

40 ANOS PASSADOS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Dizem que o número quarenta dá sorte, mas não encontrei em nenhum estudo de numerologia tal afirmação; apenas me lembro que diziam na minha mocidade que “a vida começa aos 40” ….

Para mim, porém, a vida começou aos nove anos quando despertei para a realidade que nos cercava no ano do Senhor de 1942. Meu pai assistia toda noite o jornal da BBC em português e nós, mamãe, minha irmã e eu o acompanhávamos, porque torcíamos também contra o nazismo.

Numa noite de fevereiro ouvimos a notícia altissonante do “speaker” falando que os soldados alemães que ocuparam os subúrbios de Stalingrado haviam se rendido. Nos abraçamos alegres, pressentindo que a vitória do Exército Vermelho era o início da derrota do nazifascismo, o que de fato ocorreu dois anos depois com o suicídio de Hitler e a rendição alemã apresentada ao general Eisenhower.

No ano que que vem, 2024, festejaremos os 78 anos do triunfo dos aliados na 2ª Guerra Mundial, e também teremos  40 anos passados do ressoante libelo de George Orwell contra o totalitarismo do regime ditatorial de um partido único privilegiado e policialesco. Conheça-o melhor, pela indispensável a leitura do livro “1984’.

Girando em torno de um relacionamento amoroso de dois jovens (Winston e Júlia) que enfrentaram a rígida disciplina imposta pelo Grande Irmão; ditador onisciente pelo controle televisivo da cidadania e onipotente nas resoluções punitivas.

O namoro e o enfrentamento da repressão de Winston e Júlia acabou novelescamente com a prisão, a tortura e a lavagem cerebral dos dois. O triste final encontra Winston se embebedando de gin vagabundo num bar, de onde assistiu Júlia passando por ele, e ficou insensível. Na sua vulnerabilidade de autômato venceu a si mesmo, admitindo que o partido e o Grande Irmão estavam sempre certos…

Na ficção – com pedido de perdão a Orwell – criei uma fantasia levando Winston ao enredo da Revolução dos Bichos outro livro seu.  Este personagem encontrou na outrora tirânica Fazenda nova ordem republicana; os porcos que haviam se humanizado voltaram a ser animais e renunciaram às regalias que os fizeram “mais iguais do que os outros”.

Isto ocorreu após a morte de Napoleão – o porco ditador megalomaníaco que os levou ao extremismo zoolátrico. Um acordo aprovado na assembleia dos bichos trouxe o antigo dono de volta, mas sob algumas condições que ele aceitou.

A ração das aves seria farta e todas participariam do lucro com a venda dos ovos excedentes do choco; vacas, cavalos, carneiros, bodes e bois poderiam usar as pastagens quando quisessem e os cachorros nunca seriam presos em correntes. Os porcos, que eram a anterior casta dirigente, não voltariam ao chiqueiro de lama nem receberiam lavagem apodrecida como alimento e sim frutas e legumes mesmo um pouco passados.

A normalização democrática trouxe uma vantagem, a real igualdade entre todos os animais, sob o lema: “Todos por um cada um por todos”, fortalecendo uma união autêntica entre eles; nenhum gozou de privilégios, mas restabeleceu negativamente algo que havia sido banido com a revolução: o Fazendeiro deixou-se corromper pelos compradores dos produtos.

Por esta postura humana – como não poderia deixar de ser – o novo Patrão não foi honesto na contabilidade; apresentava dados e estatísticas falsas para iludir os bicho, tudo em favorecimento próprio, para si e sua nova esposa, vestindo-se, comendo e bebendo do bom e do melhor.

Em tal situação, os bichos despertaram e  fizeram críticas, protestos e até conspirações, convocando novo movimento revolucionário. Embora um porco indiano, seguidor de Gandhi, defendesse a não-violência, os porcos e cachorros jovens estudaram a “ação direta” dos anarquistas e os gatos tornaram-se espiões, vigiando e denunciando as ações delinquentes do Fazendeiro.

 

 

TRANSPLANTE DE CÉREBROS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

A consciente e duradoura atração pela literatura nos leva a explorar o conteúdo das obras clássicas. Faço-o de vez em quando, com cuidado de citá-las e inflacionar o uso de aspas; e sabemos que não agradamos a muitos.

É difícil para certas pessoas satisfazerem-se com a cultura alheia, e se assumem com ceticismo e rebeldia refutando o modo de pensar do outro. Encantam-se, porém, com os políticos que industrializam uma falsa religião para enganar as massas ingênuas com a fantasia maniqueísta da luta do bem contra o mal, e se assumindo, lógico, como o espírito do bem….

O dualismo demagógico e radical patina na politicalha que enlameia o Brasil e impõe a polarização eleitoral entre a falsa direita bolsonarista e a falsa esquerda lulopetista. É um sistema que estimula o culto da personalidade e o fanatismo sem princípios. Está mais para a torcida na Festa dos Bois Garantido e Caprichoso de Parintins ou no azul e encarnado das lapinhas natalinas….

Divagando sobre esta situação dos descerebrados corro para a bagagem erudita acumulada ao longo dos anos para tirar uma curiosa historieta. Está num texto de Anatole France, transcrevendo uma milenar lenda chinesa.

Conta que um gênio feioso, de cabeça grande e grandes olhos habita cavernas escuras, vagueia pelas noites em busca do prazer que consiste em divertir-se às custas dos mortais; a sua diversão é penetrar nas moradias e abrir cirurgicamente o crâneo dos dorminhocos.

A operação se realiza com a extração do cérebro da pessoa, trocando-o pelo de outra; assim, percorre pelas cidades repetindo várias vezes a proeza. Ao amanhecer, volta para o subterrâneo e se alegra por saber que o militar acordará com o misticismo de um monge, a prostituta terá ideias de magistrado; o político despertará como um moralista e a adolescente virgem estremecerá com a fissura de um drogado.

Já imaginaram se este gênio gozador chegasse no Brasil e se materializasse numa sessão espírita e saísse praticando um troca-troca de mentalidades?

Certamente não seria uma mudança como ocorreu com o sueco Alfred Nobel que depois de fabricar o mais hediondo meio de destruição e mortes e enriquecer com isto, dedicou parte de sua fortuna cientistas, intelectuais e pacifistas.

Aqui, com o transplante de cérebros, veríamos os picaretas do Congresso Nacional atribuindo-se o papel dos juízes, policiais e promotores da Lava Jato! Os togados do STF arrancando a venda da Justiça, fazendo-a condenar os crimes dos amigos; os dirigentes partidários e sindicais dispensando dinheiro público pela independência das entidades; os empresários criando empregos e remuneração justa e os intelectuais pensando um futuro promissor para as novas gerações.

Seria o sonho de uma noite de Verão…. Já imaginaram se pastores evangélicos e padres católicos passassem a acreditar que Deus é a energia cósmica e não a criação do homem, à sua imagem e semelhança, masculino, de barba e bigode?

Enfim, como eu gostaria que o Cabeçudo conseguisse mexer cerebral e coletivamente com o povo brasileiro e o fizesse abandonar a matreirice do conquistador português, a resistência passiva do africano e a cultura de caça e colheita do índio!

Então se concretizaria o lema que inspirou a nossa bandeira: “O amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim!”

PACIFISTA, SEMPRE

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Notícia vinda de Moscou fala que as Forças Estratégicas de Mísseis da Rússia realizaram o teste de um míssil balístico intercontinental, o Burevestnik, carregado com explosivos nucleares.

É assustador tomarmos conhecimento disto, num momento em que ocorrem guerras na Europa e no Oriente Médio que confrontam, além das partes diretamente envolvidas, os Estados Unidos e a Rússia.

Na Europa, repercute as consequências do conflito entre Israel e Hamas, mostrando de forma visível a transferência dos interesses do Complexo Industrial-Militar dos EUA para a ofensiva israelense na Faixa de Gaza.

Além do recuo político da França e da Alemanha no seio da Otan, que dirige as ações militares ucranianas contra a ocupação russa, vê-se o arrefecimento das concessões de novas armas e apoio financeiro a Volodymyr Zelensky.

Nos primeiros momentos o fornecimento de equipamentos bélicos pelos parceiros europeus da Otan era rápido e fácil, mas agora decaem visivelmente, ao tempo em que corre o boato de que as autoridades dos EUA e da União Europeia pressionam Zelensky a negociar com Putin, um cessar fogo razoável.

O governo ucraniano, porém, descarta qualquer tipo de negociação para a paz, mesmo coagido a fazê-la, e tenta retomar o apelo de ajuda sugerindo que a ameaça russa se faça contra os “valores democráticos” do Ocidente, prometendo retomar o território ocupado pela Rússia, incluindo a Crimeia.

Do outro lado se desenrola um cenário trágico na Faixa de Gaza, com mais de 12 mil pessoas mortas,  majoritariamente civis, em um mês de bombardeios aéreos intensivos que são movidos, segundo o governo de Israel, para destruir o Hamas, militar e politicamente.

Entretanto, o próprio comando militar israelense admite que a invasão terrestre será “longa e difícil”, enfrentando internamente um influente movimento que o constrange a se manter em sua fronteira, e tentar fazer um tratado de paz com a punição dos responsáveis do Hamas por atos terroristas.

Enquanto o cenário real mostra este desejo dos pacifistas em abaixar as armas nos campos de batalha, o apelo pelo entendimento se amplia internacionalmente e, sem dúvida, influi na opinião pública mundial.

Vemos assim que os fazedores de guerra e os arautos de um confronto ideológico do Ocidente e do Oriente estão coagidos, e que o trânsito em direção à Paz se fortalece a cada dia. Das palavras do papa Francisco à atuação da ONU neste sentido.

É preciso barrar o armamentismo e os “testes balísticos” dos dois lados, e tirar de nossos olhos a mortandade de crianças e dos nossos ouvidos os gemidos dos moribundos e os lamentos da viuvez.

A tristeza que nos traz as vítimas nos lembra duas sensíveis poesias. Do poeta turco Nazım Hikmet, o verso “Paz, novelo de lã em regaço de mulher solitária” e de autor cujo nome esqueci, “Pássaros metálicos/ Ensanguentaram os céus/ Desovaram bombas/ E se autodestruíram/ Restou um último homem/ Acalentando no peito uma pedra”.

Daí me assumo poeticamente como pacifista, e o serei sempre.

 

OS MALES DO MUNDO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Entre as desgraças contidas na Caixa de Pandora que a irresponsável soltou para o mundo por curiosidade, possivelmente estariam os crimes contra a honra contidos no direito positivo: calúnia, difamação e injúria.

Shakespeare nos legou a certeza disto, mostrando a cólera de Otelo pela calúnia lançada contra Desdêmona, reafirmando em Hamlet com a observação sobre a inevitabilidade desta desgraça.

Agora, na Era da Informática, é o computador que traz as adversidades contra a pessoa, multiplicando injúrias, difamações e calúnias com a vestimenta inglesa das fake news, as miseráveis notícias falsas produzidas por mentes perversas de terroristas e dementes.

Este desvario tem sido motivo de muitos estudos, pesquisa e produção de teses acadêmicas, pois encerra um tema cruel e impiedoso para o ser humano. Li, há muitos anos atrás uma parábola que lembra simplesmente a imposição acusatória contar o outro: É de Saadi de Xiraz, um dos três maiores escritores da literatura persa.

Fizeram a ele, autor do “Jardim das Rosas”, a pergunta: – “Se estivesses a sós com uma mulher deslumbrante em todos os sentidos, resistirias a tentação da amá-la?”.

– “Talvez suportasse” – respondeu – “mas ninguém acreditaria, pois é mais fácil resistir à tentação do que à calúnia”. Graças às fake news, a contaminação da opinião alheia foi ampliada. O contêiner das mentiras vem cheio calúnias, difamações e injúrias influenciando o entendimento e a análise dos fatos.

Na política brasileira estes males são uma mancha indelével, funcionam como metralhadora giratória mandando balas perdidas para todos lados; e, no cenário mundial, apresenta-se com uma insensibilidade gigantesca, através da mídia controlada pelo complexo Industrial Militar do Império Norte-Americano.

É o que vemos na Europa sobre situação russo-craniana e a seguir, também no Oriente Médio, na guerra injusta travada entre Israel e o Hamas.

Confesso-me blindado contra a artilharia dos enganos, fraudes e ludibrio que a mídia dispara. Por isto me abstenho de tomar partido por qualquer dos lados, exceto para condenar a influência imperialista e defender a paz.

Entristece-me é ver nomes conhecidos do jornalismo tornarem-se mercenários dos instigadores de guerras, deslizando no óleo derramado pelo Império em decadência entregue à comercialização da morte.

Quanto ao cenário brasileiro, as tramas malévolas, as alianças espúrias, os discursos de ódio e as repetidas fraudes, temos um quadro nefasto que faz as pessoas de bem desistirem de participar na política; por isto, apelo para não o façam, seguindo o conselho de Brecht: “Que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem”.

Da minha parte, mantenho-me firme na luta contra a farsa da polarização entre a direita reacionária bolsonarista e os populistas da esquerda lulopetista. Tenho um amigo que estranhou a continuidade desta ação incansável e me mandou descansar.

A este velho camarada e também a quem interessar possa, respondo que se abandonasse este combate, prestaria um favor aos polarizadores corruptos e negacionistas, e não teria mais que estudar nem escrever. Entregar-me-ia de mão beijada aos inimigos da nossa Pátria.

 

 

 

SETENTÕES, SUA EXPERIÊNCIA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Entre as inúmeras e esquisitas fantasias bíblicas, encontramos em Gênesis 5:21-32 que Matusalém, filho de Enoque e avô de Noé, viveu 969 anos. Vá lá que a antiga inflação nos permita cortar os zeros e deixar a idade dele em 10%, 96 anos e 9 meses. Mesmo assim teria sido uma vida muito longa naquela época.

Insistentemente, porém, os barbudos do Sinédrio “terrivelmente ortodoxos”  (ainda existe isto lá para as bandas de Israel?) creem ou fingem crer piamente nisto; é correto que se preservem os textos milenários, mas querer impô-los a alguém é insensatez.

Recuso-me acreditar nas oito centenas de anos de Matusalém, mas louvo os dez por cento estimados como a média da vida humana atualmente. Isto alegra e lembra a entrevista de antigo violinista do Teatro alla Scala a Milano, que participou em 1955, aos 23 anos, da apresentação de Toscanini em louvor aos 88 anos do maestro.

Descreveu o musicista que encerrada a execução da orquestra, à meia noite, Toscanini juntou-se aos jovens musicistas e confidenciou em voz baixa: – “Os velhos já estão indo para casa, então vamos nos divertir!”.

É o exemplo que temos encontrado nas redes sociais. Com a base em suas experiências os “setentões” e “oitentões” vibram e lutam pelas suas convicções. Antigamente expunham a vida do gênero humano em três fases, mocidade, maturidade e velhice. O desenho atual da margem de vida traz esquemas mais extensos.

O quadro que nos apresentam hoje é assim: Infância, até os 10 anos; Adolescência, dos 10 aos 20; Primeira mocidade, de 20 aos 30; Segunda Mocidade, dos 30 aos 40; Primeira Maturidade, dos 40 aos 55; Segunda Maturidade, de 55 aos 70; Primeira Velhice. dos 70 aos 85; Segunda Velhice, dos 85 até quando Deus quiser…

É claro que não vemos nisto uma exposição genérica; depende do DNA individual e, como disse Goethe, “uma alma forte, capaz de estabelecer uma renovação psicológica que dê ao corpo, mesmo frágil, assume a idade que quiser”.

Crendo nisto, constatamos a presença de setentões com vivacidade juvenil, assim como vemos jovens, de tenra idade, envelhecem prematuramente. Não sei se é por isto que maldigo os tempos que atravessamos.

Enquanto experientes de sessenta, setenta, oitenta anos, não conseguem emprego, abrem vagas para pessoas despreparadas ,sem noção da realidade e pensando apenas no “aqui e agora”; sem passado e sem futuro.

Daí, somos levados a pensar que é a experiência vivida e consolidada pela cultura é desprezada nos dias atuais; é no reinado da ignorância e da desinformação que leva o eleitorado a ver os fogos de artifício da demagogia populista. E na presença de brilho e cores, se divide entre os populismos corruptos “da direita bolsonarista” e “da esquerda lulista” numa polarização que estimula a injustiça social.

Em texto anterior sobre os oitentões – que me foi agraciado com a notificação e divulgação de 154 tuiteiros – ataquei essa partilha eleitoral lembrando a covardia “do mito” Bolsonaro sempre terceirando a sua delinquência, antes e depois de presidente; e seu sucessor, o pelego Lula, divertindo-se em viagens internacionais com a companheira das visitas intimas, sem se preocupar com a governança infestada de corruptos que reuniu à sua volta.

A experiência dos setentões sugere que ambos perdem popularidade a cada dia. Nas cabeças pensantes floresce a reação semeada pela conscientização das evidências. Uma pesquisa mostrou que a carga propagandista dos dois populistas aumentou consideravelmente; com as verbas públicas do lado dos pelegos que patinam na corrupção; e no extremismo de direita, através da fraude religiosa e a cegueira do fanatismo.

Não adianta. Quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir sabe que a Nação está farta da polarização fajuta entre ambos. Dos “socialistas” que cacarejam para a esquerda e desovam na direita; e da direita com hipocrisia evangélica e falso conservadorismo.