Arquivo do mês: agosto 2020

VENDILHÕES

MIRANDA SÁ (mirandasa@uol.com.br)

“O meu templo será casa de oração. Mas vocês transformaram-no em caverna de ladrões. ”  (Lucas 19:45-46)

Está no Novo Testamento, Jo 2,13-25: “Jesus Cristo foi a Jerusalém na véspera da Páscoa, e indo ao Templo revoltou-se com a feira ali instalada, fez um chicote de cordas e empunhando-o expulsou os vendilhões, derrubando as mesas dos cambistas e espalhando as moedas pelo chão. Irado, esbravejou: “Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio! ”

Ah, se ele voltasse e viesse ao Brasil! Certamente convulsionaria os crentes castigando padres católicos, pastores evangélicos e médiuns espíritas que exploram suas religiões ditas cristãs transformando as suas igrejas numa retalheira varejista.

Dois meses atrás, ficamos pasmos tomando conhecimento de que o bispo evangélico Edir Macedo, pontífice da Igreja Universal do Reino de Deus, estava processando um ex-sócio, dissidente que criou nova denominação, pelo uso da “marca Jesus Cristo”, uma patente que lhe pertence…

Simultaneamente assistimos atônitos e confusos nos casos de estupro e malversação de recursos tendo como protagonista o médium João de Deus, cujo Centro tinha uma afluência imensa, com visitantes até do Exterior.

É recente o caso do padre Robson de Oliveira Pereira, famoso em Goiás, investigado e denunciado por diversos crimes, apropriação indébita de campanha de caridade, lavagem de dinheiro e transações imobiliárias suspeitas. Segundo reportagem publicada pela revista Época, este sacerdote chefiaria uma organização criminosa.

Chocantes também as investigações policiais que denunciaram como assassina do próprio marido, a pastora, cantora gospel e deputada federal Flordelis, chegada aos Bolsonaro e “irmã em Cristo” da ministra Damares Alves…

Agora, quase virando rotina, o pastor político Everaldo, presidente nacional do PSC, foi preso, acusado de desvio de recursos públicos da Saúde no Estado do Rio de Janeiro, corrupção e lavagem de dinheiro. Curiosamente, foi essa figura que batizou Jair Bolsonaro em 2016 nas águas do rio Jordão, em Israel.

Todos esses casos de página policial dos jornais envolvem pessoas hipocritamente religiosas ligadas à política, todas no cardápio da salada mista da corrupção, servida com azeite amargo da picaretagem parlamentar nas câmaras de vereadores, assembleias legislativas e influente no Governo Bolsonaro.

Relembrando que Jesus Cristo derrubou as mesas dos cambistas, espalhando as moedas pelo chão, um dos excelentes frasistas que a gente encontra no dr. Google, Fernando Reis Luís, mostra com realismo o que se vê: – “O dinheiro é uma hóstia metálica/ Que se usa para pagar/ Aos vendilhões do templo. ”

Quando senadora, a alagoana Heloísa Helena discursando contra um determinado projeto disse mais ou menos isto: “no Congresso está montado um balcão de negócios sujos onde se distribuem cargos, prestígio e poder, de forma safada – sofisticada, é verdade -, mas desprezível e desrespeitosa”…

Bate com que o evangelho de Lucas (19:45-460) traz: “A Sagrada Escritura diz: o meu templo será casa de oração. Mas vocês transformaram-no em caverna de ladrões”; aprendendo esta lição, não será blasfêmia dizer que o Congresso, o STF e a presidência da República deveriam ser os templos da Democracia. Infelizmente, porém, seria uma metáfora disparatada no Brasil, conhecendo as personalidades que assumem esses poderes republicanos.

Vendo as sedes do poder como cavernas de ladrões, assegura-se o pensamento subtraído dos cânones cristãos, aos quais adiciono Buda que ensinou: -“onde quer que se viva, esse é o seu templo, se o tratar como tal”.

… E como os políticos tratam mal os seus “templos”! Seus caracteres duvidosos criam muralhas em volta da gente, nos cercam por todos os lados com os seus privilégios, tratando-nos como cidadãs e cidadãos de segunda classe…

Vamos lavar esses valhacoutos, não na contrição com que os baianos lavam a Igreja do Senhor do Bonfim, mas com ódio aos que erguem o ídolo maléfico da impunidade!

 

 

João Cabral de Melo Neto

Tecendo a Manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

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FUSOS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso” (Provérbio popular)

Os costumes tradicionais – parece redundância, mas não é –, levam muitas vezes a absurdos. Um amigo meu, cônsul português no Rio de Janeiro, contou-me que num vilarejo do Norte de Portugal uma viúva, atendendo ao pedido do falecido marido, não usou luto; e por isso sofreu agressões das mulheres locais nas ruas e teve a porta de sua casa coberta de piche.

É o que sugere o ditado popular, epigrafado, conhecido em várias nações sobre os costumes sociais e tradições respeitadas pelos seus povos. Isto se manifesta no comportamento pessoal e também nas relações regionais, nacionais e internacionais, cada local usando o lado negativo deles.

Uma vez a minha mulher teve o celular roubado em Buenos Aires, na Caje Florida, e ao darmos queixa na polícia, o plantão da delegacia lamentou e se desculpou dizendo que a cidade estava cheia de “bolivianos”; também em Santiago do Chile recebemos o conselho de tomarmos cuidado com os pertences porque haviam muitos argentinos batedores de carteira…

Na linguagem diplomática há um (ou seria “uma”?) “troca-troca” de referências sobre retiradas de reuniões sem justificativa: Os ingleses falam de “despedir-se à francesa”, e os franceses de “retirar-se à inglesa”.

“Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso”. Como sugere o ditado popular, cada região, das metrópoles aos povoados interioranos, têm as suas tradições comuns adaptadas à própria realidade, da linguagem aos costumes, nos relacionamentos sociais, ritos de passagem, festas familiares e populares.

“Terra”, como solo, território, país e pátria, todos nós sabemos o que é, e os agitadores sociais, formadores de opinião e políticos, não se cansam de enaltece-los e defende-los da boca para fora, por pura demagogia.

Entretanto, “roca” e “fuso” neste século 21, são referências que devem parecer estranhas para as novas gerações; a Roca é a avoenga dos teares, que encontramos atualmente nos museus; é um equipamento mecânico composto de uma roda e uma vara que leva um bojo na extremidade para enrolar fios de algodão, lã ou linho, para tecer. Como substantivo feminino designa também penhasco, rochedo; e na linguagem náutica é uma peça de madeira que reforça o mastro de uma embarcação; ainda temos “roca” como presente do indicativo do verbo rocar, ato de fazer um roque no jogo de xadrez.

O Fuso, um substantivo masculino com vários significados é mais conhecido. Para quem estuda geografia ou viaja, lida com os fusos horários, cada uma das 25 áreas em que se divide a Terra, marcando no espaço de cada uma, a hora legal. São meios planos na Matemática, e, na Geometria o sólido formado pela revolução de uma curva. Além desses, dá-se o nome dos moluscos gastrópodes de concha longa e pontiaguda.

O nosso Brasil é dividido territorialmente por regiões bastante distintas, que cartografando encontraremos no mapa relações fusiformes políticas se encaixando como um parafuso no meio ambiente, estabelecendo distintos padrões de cultura da vida cotidiana, interação e relações sociais.

Assim, estamos assistindo no Nordeste um fenômeno político vendo a massa eleitoralista que era do corrupto Lula da Silva pendendo agora para Jair Bolsonaro; mostram assim os nordestinos que nenhum dos dois é dono dos votos, mas os seus cabos eleitorais “bolsa-família” e “auxílio emergencial”…. Naquela região as rendeiras do Sertão Paraibano e os fabricantes de redes do Seridó Norte-rio-grandense ainda usam rocas e fusos…

Quando falo do Nordeste, lembro-me do excelente livro do grande intelectual paraibano Allyrio Wanderley, “As bases do Separatismo”, um estudo sociológico que me fez conhecer o que chamávamos antigamente de Nordeste Meridional, a faixa geográfica que se estende do Rio Grande do Norte às Alagoas.

Allyrio revolve historicamente a Revolução Pernambucana de 1817, mostrando a importância regional nacionalista com uma proposta separatista que teve grande repercussão na Região Sul e a divulgação do livro impedida pela ditadura Vargas.

Mais tarde, a venda do livro foi proibida dizendo-se na época que a medida se deveu ao capítulo “Soldadinhos de Ouro”, analisando o custo do Exército em relação à Educação e Saúde públicas.

Este fuso geométrico na curva econométrica continua preocupando. Repercute na crise econômica acelerada pelo novo coronavírus, com os poderosos dos três poderes republicanos exigindo sacrifícios do povo, sem abrir mão dos seus privilégios, o que daria um exemplo de empenho altruísta.

Tecendo nesta roca, relembro que na última campanha presidencial, votei num candidato que criticava os cartões corporativos e o foro privilegiado; hoje gasta mais com os cartões do que os governos anteriores; e enaltece o fuso do “foro” em defesa dos seus…

 

 

 

 

Carlos Drummond de Andrade

Convite Triste

 

Meu amigo, vamos sofrer,
vamos beber, vamos ler jornal,
vamos dizer que a vida é ruim,
meu amigo, vamos sofrer.

Vamos fazer um poema
ou qualquer outra besteira.
Fitar por exemplo uma estrela
por muito tempo, muito tempo
e dar um suspiro fundo
ou qualquer outra besteira.

Vamos beber uísque, vamos
beber cerveja preta e barata,
beber, gritar e morrer,
ou, quem sabe? beber apenas.

Vamos xingar a mulher,
que está envenenando a vida
com seus olhos e suas mãos
e o corpo que tem dois seios
e tem um embigo também.
Meu amigo, vamos xingar
o corpo e tudo que é dele
e que nunca será alma.

Meu amigo, vamos cantar,
vamos chorar de mansinho
e ouvir muita vitrola,
depois embriagados vamos
beber mais outros sequestros
(o olhar obsceno e a mão idiota)
depois vomitar e cair
e dormir.

(Em: Brejo das Almas)

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Mario Quintana

SIMULTANEIDADE

– Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!
– Você é louco?
– Não, sou poeta.

ESTUPIDEZ

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

                              “A diferença entre o ignorante e o estúpido: quando explicada, o ignorante entende”   (via Julio Sonoda)

Aqui no Brasil, a palavra Estúpido quase morreu na linguagem coloquial; ficou na UTI da Gramática muitos anos, mas como o funcionamento do idioma tem os seus mistérios, voltou a ser usada, até com certo exagero, graças ao escritor, documentarista e crítico norte-americano, Michael Moore, graças ao seu best-seller “Stupid White Men”.

Classificado como livro-reportagem e traduzido para o português por Paulo Bezerra, Moore dispara uma rajada de críticas contra o ex-presidente George W. Bush (na época exercendo o cargo), e se mantém até hoje criticando os ocupantes do poder.

Ele tem uma afirmação que considero um princípio político a ser seguido, quando afirma: – “Eu, você, todos temos que ser ativistas políticos. Se não formos politicamente ativos, a democracia deixa de existir”.

Tendo como base esta lição, seremos todos antônimos de estúpido, este que se assume gramaticalmente como adjetivo e substantivo, aparecendo adjetivado como boçal, bruto, grosseiro, rude e tacanho; e substantivado como “indivíduo pouco inteligente, que tem dificuldade em compreender ou discernir”. Vem do latim, stupidus, a, um: imbecil.

Carlo M. Cipolla, professor italiano de História Econômica da Universidade da Califórnia, tem um livro “As leis fundamentais da estupidez humana” onde afirma que sempre haverá mais pessoas estúpidas do que você pensa; uma redundância do dizer de Mark Twain que quatro quintos da população mundial representam a estupidez do gênero humano.

A estupidez é o comportamento e/ou a ação grosseira de uma pessoa ou sua falta de inteligência. Às vezes, as duas atitudes se completam no hábito de muita gente. Quem nunca sofreu agressões gratuitas confirmando indelicadezas e incorreções de um estúpido?

No seu livro “Ressurreição”, Leon Tolstói comenta que um dos preceitos sociais mais sólidos é a crença de que os homens possuem em si qualidades positivas ou negativas imutáveis: que há homens bons ou maus, inteligentes ou estúpidos, enérgicos ou apáticos, e por aí adiante.

Passeando pelo teleférico das pesquisas históricas podemos imaginar que Lutero e Calvino ícones do protestantismo, devem se remexer nos seus túmulos vendo no Brasil os pastores evangélicos politiqueiros cometerem bestialidades em nome da religião, como ocorreu a pouco no caso do aborto de uma criança que engravidou por estupro…

Aqui também encontramos a brutalidade do pelego mal-educado Lula da Silva dizendo que a cidade de Pelotas é “exportadora de viados”; e atitudes mais recentes, do puxassaquíssimo Onix Lorezoni (que desmente a altivez gaúcha) atacando o COAF para defender Flávio Bolsonaro, pondo-se contra um órgão público respeitável que rastreou os desvios de dinheiro investigados pela Lava Jato.

Ímpar é a estupidez do presidente Jair Bolsonaro ao agredir um repórter expressando raivosamente a vontade de “encher tua boca com uma porrada”, como resposta à pergunta sobre os cheques repassados pelo ex-assessor do seu filho 01, Fabrício Queiroz, para a conta bancária da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

E como a emenda é pior do que o soneto, manifestando a personalidade que foi definida pelo inolvidável dramaturgo inglês Bernard Shaw: – “Quando um estúpido faz algo de que se envergonha, diz sempre que esse é o seu dever. ”

Não será dos filhos que formam o Trio Numeral dos Desacertos que ele pode se aconselhar; nem dos militares da reserva remunerada que lhes cercam, e muito menos dos novos aliados do Centrão.

Se tivesse, talvez, uma assessoria ética que o alertasse, também não adiantaria nada, porque como disse Ary Souza: – “Para o estúpido nenhuma explicação é precisa”; e para os cultuadores da sua personalidade:  – “Para o fanático nenhuma explicação é admissível“.

 

 

 

PROCESSOS

MIRANDA SÁ (mirandasa@uol.com.br)

“O mundo tal como criamos é um processo do nosso pensamento. Não pode ser alterado sem alterarmos a nossa maneira de pensar” (Einstein)

Por uma questão de visibilidade histórica, todos conhecemos dois comoventes processos ocorridos na França. Neles viu-se uma significativa perseguição aos réus, cada um à sua época, e motivos diferentes: Foram julgados o grão-mestre dos Templários, Jacques De Molay, e o tenente-coronel do exército francês, Alfred Dreyfus.

De Molay e outros 138 cavaleiros foram alvo da cobiça do rei Felipe 4º – O Belo, pelas riquezas trazidas do Oriente pela Ordem dos Templários. O soberano era devedor de grande fortuna desperdiçada na guerra contra a Inglaterra e na briga contra o pontífice Bonifácio 8º com a transferência da sede papal de Roma para a França.

Registra-se no processo contra os templários, falsos testemunhos, falsas confissões, tortura e condenação à mote na fogueira.

O Caso Dreyfus, acusado de traição nacional (espionagem em favor da Alemanha) teve uma clara conotação racista sofrendo ataques antissemitas, pois era judeu; um tribunal militar com juízes escolhidos a dedo, condenou o Tenente-Coronel à prisão perpétua na Ilha do Diabo, Guiana Francesa.

Uma carta aberta do intelectual Émile Zola ao presidente Félix Faure, publicada na primeira página do jornal “L’Aurore”, sob o título garrafal de “J’accuse” (Eu Acuso), obteve tamanha repercussão popular que reabriu o processo e reabilitou Dreyfus.

Estes episódios jurídicos terminaram; o dos templários, com o confisco de todos os bens da Ordem pelo Rei, e a consagração de Émile Zola pelo impacto mundial antirracista.

Antes, muito antes, a ditadura papal romana que se impôs ao cristianismo popular, como se fora a “vox dei” – a voz de Deus -, instituiu o “Tribunal do Santo Ofício” para julgar “heréticos”, ou seja, para sentenciar aqueles que fossem contra o Pontífice.

Este tribunal episcopal, conhecido como “Inquisição”, cometeu crimes inolvidáveis; suas atrocidades eram comuns, obtendo sob tortura confissões de fatos inventados pelas próprias autoridades eclesiásticas.

Esta loucura arbitrária serviu de exemplo para a criação dos chamados “tribunais de exceção”, uma marca desabonadora na História da Justiça. Viu-se nos “Processos de Moscou”, num tribunal controlado por Stálin que condenou à morte os velhos revolucionários leninistas, Zinoviev, Kamenev, Rykov e Bukharin.

Da Alemanha nazista nem é preciso falar. Os desatinos e escamoteações dos juízes do chamado “Tribunal do Povo” levaram-nos ao banco dos réus em Nuremberg, pelos desvios maléficos da Justiça. Os facinorosos julgamentos hitleristas condenaram críticos do regime, maçons, pacifistas e testemunhas de Jeová. Ciganos, eslavos e judeus eram aprioristicamente condenados pela Gestapo.

Num dos seus discursos históricos,  Martin Luther King alertou: – “Não esqueçam que tudo o que Hitler fez na Alemanha era legal para os juízes daquele País”, constatando que  até hoje, em pleno século 21, a primeira coisa que fazem os ditadores (que persistem, infelizmente) é intervir nos tribunais pondo no lugar de juízes, bezerros de presépio.

As tentativas de manejar a Justiça ocorrem também nas frágeis e cambaleantes democracias, com magistrados das altas cortes e procuradores gerais indicados pelo presidente da República, passando apenas pelo crivo fajuto do Poder Legislativo.

É por isso que a História da Civilização capitula dezenas de exemplos nefastos de distorções judiciais como, entre nós, em pleno Estado de Direito, contrassensos jurídicos revoltantes.

Se os juízes inquisidores condenavam as “bruxas” à fogueira, e os tribunais stalinista e hitlerista mandavam os opositores para os campos de concentração e as câmaras de gás, há magistrados no Brasil que concedem impunidade para os políticos corruptos, e aos seus bandidos de estimação.

É inadmissível ver-se, por exemplo, a 2ª Turma do STF (conhecida pela seletividade) excluir a delação do ex-ministro lulopetista Antônio Palocci do processo da Lava Jato contra o arqui corrupto Lula da Silva, o pelego que institucionalizou no seu governo a corrupção e as propinas

É mais revoltante ainda, ouvir-se um dos togados defender que este bandido, condenado em três instâncias judiciais, poderia ser candidato à presidência da República.

Precisamos impedir as investidas dos corruptos e dos seus cumplices, sejam da direita ou da esquerda, contra a Operação Lava Jato e querer deletar da História o juiz Sérgio Moro, que sentenciou o ex-presidente cultuado pela esquerda bolivariana.

 

ALICE

Miranda Sá (Email: mirandasa@uol.com.br)

                        “Todas as artes só produziram maravilhas: a arte de governar só produziu monstros”  (Louis Saint-Just)

Como um crítico falou, “Alice no País das Maravilhas” é uma “história infantil com fantasias sem nexo ou conexão temporal”; mas na minha opinião, que reli várias vezes o livro  para os meus filhos, e já recentemente para o meu neto Heitor, incluo nesta observação o recado especial para os adultos em cada diálogo dos personagens antropomórficos.

O livro do matemático britânico, Charles Lutwidge Dodgson, que adotou o pseudônimo de Lewis Carroll, nos leva além da singeleza, a situações fantasiosas com fatos significativos para especulação.

Alice, é uma menina curiosa e crédula, que se vê num lugar exótico, povoado de criaturas peculiares e animais humanizados que a tratam como um deles. Segue um Coelho Branco janota, de colete e relógio cebolão, e entra na toca dele.

Daí em diante a história se desenrola num mundo estranho onde existe um país governado por uma carta de baralho, a Rainha de Copas, uma tirana que mantém o poder pela repressão de uma guarda pretoriana com todos os naipes do baralho.

Passeando alheia à política local, a garota tomou chá com o Chapeleiro Louco, que nunca se levanta da mesa, e se encontra com uma Lagarta que lhe aconselha a tomar chá de cogumelo, que a faria aumentar ou diminuir de tamanho; com os experimentos, conhece o sorridente Gato de Cheshire, uma figura misteriosa que está sempre de bom humor.

Termina por penetrar nos jardins do palácio real onde assiste os guardas discutirem sobre rosas, descobrindo que a governante odeia as rosas brancas. É um dia de festa na corte; e, convidada a participar, Alice é apresentada ao casal monárquico, o Rei e a Rainha.

A Rainha está sempre ordenando à decapitação das pessoas com quem não simpatiza; e um dos condenados foi o Gato de Cheshire, o que entristeceu menina, mas alegrou-se depois ao ver o capataz se recusar a cumprir a ordem, porque o gato aparece sem corpo, só com a cabeça cheia de sorrisos…

A aventura desenrolou-se cheia de surpresas, com a Rainha ordenando que Alice fosse levada ao tribunal para ser julgada, e chegou ao fim com a menina condenada e os guardas levando-a ao cadafalso; diante da guilhotina ela acorda, e vê que as peripécias não passaram de um sonho…

Ao acordar, lembrou-se que ouvira falar de uma CIDADE MARAVILHOSA, do outro lado do Atlântico, no Brasil… Na sua pureza, foi incapaz de imaginar que a beleza deslumbrante da paisagem, estava além, muito além das fantasias oníricas. Viu, entretanto, que a cidade presidida pela imagem do Cristo Redentor do alto do Corcovado, tinha virado de cabeça para baixo.

A causa foi um furacão provocado por uma quadrilha comandada pela Jararaca do ABC paulista e o Rato da Abolição. O vendaval da roubalheira de Lula e Cabral, arrasou a administração pública e a cidade caiu sob o domínio de pedras de dominó.

A Jararaca, em vez de mandar cortar cabeças como a Rainha de Copas, mandava seus partidários roubarem, ordem de que o Rato se aproveitou embolsando tudo que via pela frente; e meteu a mão nas verbas da Educação, do Esporte, Saúde, da Segurança e até na merenda das crianças das creches…

Assim, a Cidade Maravilhosa terminou dividida entre dois partidos, ambos com a mesma intenção de avançar no dinheiro público: o Partido das Pedras de Dominó e o Partido das Peças do Xadrez…

Dessa maneira, Alice, decepcionada com o que viu, voltou para Londres lamentando a desgraça que se abateu no Rio de Janeiro e partiu para outras aventuras, contadas nos livros “O Que Alice Encontrou Por Lá” e “Alice Através do Espelho”…

 

VÍRUS

MIRANDA SÁ (EMAIL: mirandasa@uol.com.br)

“Quando se sugerem muitos remédios para um só mal, quer dizer que não se pode curá-lo”                         (Tchecov)

Chegamos à Internet, e com ela a libertária comunicação das redes sociais, sem que muita gente saiba que esta ferramenta é tataratatara neta do sistema mecânico com tipos móveis de madeira para impressão gráfica em bloco, criado em 1450 pelo ourives alemão Johannes Gutemberg.

Gutemberg se inspirou em antigos métodos de impressão dos carimbos de ideogramas usados desde o século 8 na China e no Japão, e os aperfeiçoou.

Com a facilidade de multiplicar livros, o Ocidente viveu uma autêntica e espontânea revolução cultural; popularizaram-se as obras clássicas e surgiram os primeiros jornais exercendo um imprescindível e indispensável papel para o alvorecer da Renascença, o surgimento da Reforma Religiosa e o desenvolvimento científico.

Com a primeira Bíblia impressa por Gutemberg no século 15, tivemos a primeira reação à caça às bruxas. Com os evangelhos à mão, o cientista João Batista van Helmon, descobridor do suco gástrico, levou ao tribunal a defesa de uma mulher acusada de feiticeira e associação com o diabo, baseado nas escrituras divulgadas.

Van Helmon, mostrando aos juízes o que estava escrito, alegou que o homem é feito à imagem de Deus, por isso o diabo é dispensável na prática do bem ou do mal. Afirmou que “o ser humano tem em si uma energia, que apenas com a força de vontade e de imaginação pode exercer influência sobre qualquer ocorrência, mesmo à distância”.

Diante desta argumentação é de se perguntar como recorrer à força mental para enfrentar as inumeráveis hostes invisíveis dos vírus, principalmente dos agentes infecciosos como este desgraçado novo coronavírus que se alastra numa pandemia planetária.

O verbete Vírus é um substantivo masculino de etimologia latina “vírus,i” – sumo, veneno e toxina. São organismos microscópicos existentes na Natureza capazes de infectar seres vivos; mas nem todos penetram no organismo humano, podem contagiar animais e plantas sendo ineficazes aos seres humanos.

Também dicionarizados temos os seus derivados “viral”, “vírico” e “virótico” significando a ação do vírus, cuja maioria é causadora de várias doenças, se reproduzindo com incrível celeridade no interior das células hospedeiras espalhando a infecção como endemia, epidemia, pandemia e surto.

Segundo um estudo saído recentemente – que infelizmente não gravei, não me lembro a origem, nem o nome do cientista entrevistado, diz que 100 gramas de determinados vírus doentios poderiam exterminar toda a população da Terra.

Além do mais, segundo estudos divulgados pela revista Science, os vírus representam a maior diversidade biológica do planeta, sendo mais diversos que bactérias, plantas, fungos e animais juntos. Só nos oceanos há cerca de 200 mil tipos diferentes deles…

Esta apavorante perspectiva do apocalipse provocado por partículas virais, nos leva a ver como está faltando aos povos uma governança capaz de enfrentar o flagelo que se abateu pelo mundo afora com a pandemia do novo coronavírus, infectando e matando milhões de pessoas.

Atravessando a pandemia, lembro da minha mãe, espírita kardecista, que falava de “doenças providenciais” para despertar o espírito para o bem… Se viva fosse, diria que foi necessário este vírus para causar um terremoto em nosso orgulho e nos lembrar que “a vida é um espetáculo único, irrepetível e imperdível”, no dizer do culto psiquiatra Augusto Cury.

Refletimos, porém, que há outro vírus tão venenoso que age no cenário político pela revisão dos valores éticos e humanitários, o chamado “negacionismo”. É adotado por personalidades psicopáticas que não se envergonham de considerar a covid-19 uma’gripezinha’ e um ‘resfriadinho’, exibindo-se sem máscara e promovendo aglomerações, como faz o presidente Jair Bolsonaro em suas manifestações oligofrênicas.

Ultrapassando 100 mil óbitos em consequência do novo coronavírus, a dor dos pais, esposas, filhas e filhos, transparece a desumanidade do negacionismo genocida. E o pior, como disse Francis Bacon, é que “as condutas, assim como as doenças, são contagiosas”.

MOINHO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Preste atenção, o mundo é um moinho/ Vai triturar teus sonhos, tão mesquinhos/ Vai reduzir as ilusões a pó” (Cartola)

Escrevi em artigo anterior que a Lei de Contravenções Penais, herança da ditadura Vargas, ainda vigora apesar de superada no tempo e no espaço… Nas minhas pesquisas mais recentes, encontrei um artigo da professora Maíra Zapater considerando-a “tão vetusta quanto vigente”. A especialista comprova a minha tese.

Vê-se, pelo menos entre nós, que a legislação mesmo renovada, lapidada, burilada, sobrevive na cabeça de muita gente e, infelizmente no entendimento de alguns juízes, uns demandando e outros julgando e muitas vezes condenando respaldados nela…

Não é, porém, a Lei, o moinho que tritura as pessoas. Aos maus, sim, e infelizmente aos inocentes por acaso envolvidos num delito ou suspeitos pela convizinhança com crimes, sem condições de provar a inocência e sem poder pagar um bom advogado…

O mundo é que é o moinho, como viu o genial Cartola no seu samba clássico. Também citado outro dia, Hermes Trismegisto disse na Tábua de Esmeralda que todos somos, sob certas condições, um minúsculo deus, e complementou:  “porque o que está no alto é como o que está embaixo”; fazendo-nos refletir que também somos demônios…

Em verdade, deuses e diabos super-habitam o nosso Brasil, infestando o cotidiano da gente – e dariam um belo filme do cineasta baiano Glauber Rocha. Acho que são eles as tais “forças ocultas” de que falou Jânio Quadros quando renunciou à Presidência da República na década de 1960…

Eleito com a vassoura na mão para fazer uma faxina no País, Jânio recusou aliar-se com os picaretas do Congresso e a nefasta burocracia, ambos cafetizando a Nação, explorando-a como se fora sua escrava sexual.

De lá para cá não sofremos mudanças, pelo contrário, nos criminosos governos lulopetistas assistimos o aparelhamento da velha burocracia e a aliança com os picaretas nas esquinas do meretrício das empreiteiras corruptas e corruptoras.

Atravessando nos dias atuais as borbulhantes inovações da técnica, com a Internet superando as emissões radiofônicas e as pautas televisivas, a coisa está mudando; aos poucos, mas está mudando.

As redes sociais definidas por Diego Beas como “uma ferramenta eficaz que subtrai o poder do Estado e enfrenta de igual os maus governos” não permitem as distorções, as omissões e a seletividade da chamada “grande imprensa” e muito menos os cambalachos governamentais.

A nova técnica de comunicação, accessível à cidadania, aproveita o que a Natureza empresta ao moinho para moer: as energias eólica e hidráulica: o vento da denúncia e a água da faxina…. E faz o movimento de rotação, como a Terra: O moinho moendo o grão e o mundo triturando sonhos mesquinhos.

A palavra Moinho é um substantivo masculino e a flexão do verbo moinhar, ambos de etimologia latina molinum,i, engenho de moer grãos, um mecanismo montado sobre duas pedras duras, circulares, uma fixa e outra movida por um eixo vertical.

As pedras lembram a Sefirá, no plural Sefirot (em hebraico: סְפִירוֹתsəphîrôṯ, as potências pelas quais o Sem-nome que governa o universo, manifestou a Sua vontade quando criou o mundo. Num dos seus salmos, Davi se referiu a estes atributos da Cabala, confessando não ser forte em “Sefirot”, isto é, na razão de ser.

Uma doutrina mística como a da Cabala não é compreendida por qualquer um que se atreva a conhecer o mundo através dos simbolismos que apresenta, principalmente o sistema hierárquico desenhado na Árvore da Vida com seus dez galhos, cada um com o seu fruto diferente do outro.

Vê-se nesta assimetria os fatos e os seus protagonistas, variáveis no tempo e no espaço. Relembro, por exemplo, o discurso de Jair Bolsonaro contra a corrupção, denunciando a picaretagem política e que faria uma faxina na burocracia governamental dissoluta e aparelhada pelo lulopetismo.

Revirando pelo avesso as suas promessas eleitorais por egocentrismo e pouca formação ética, Bolsonaro renunciou ao que prometia, mas tenta assumir o personagem eleitoral que deixou para trás. Volta, na verdade, a ser o deputado medíocre que foi durante 30 anos no baixo clero da Câmara Federal.

Ao acenar com novas promessas, o que se vê é aliar-se com o PT contra a Lava Jato, defender (e depois recuar) uma nova CPMF, agir irresponsavelmente na pandemia do novo coronavírus e aparecer nas páginas policiais recebendo cheques de Fabrício Queiroz.

Sua personalidade compõe o ditado popular: “Águas passadas não movem moinhos”.