Arquivo do mês: janeiro 2023

COINCIDÊNCIAS

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“Uma vez acontece. Duas vezes é coincidência. Três vezes é ação inimiga” (Ian Fleming)

A vida é cheia de coincidências; mas as coincidências que encontramos nos círculos políticos são exageradas. Como verbete dicionarizado, a palavra Coincidência é um substantivo feminino vindo do latim vulgar “coincidere”, significando a condição de dois fatos ocorrerem igualmente por acaso.

Não encontramos para Coincidência um sinônimo perfeito que represente claramente sua significação, a justaposição de situações distintas em tempo e espaço. Nada tem a ver com coexistência, nem concordância, nem semelhança; o mais próximo que achei foi simultaneidade, e mesmo assim passa raspando….

Encontra-se na História Geral o caso ocorrido na 2ª Guerra com o prodígio da engenharia naval alemã, que lançado ao mar fez o almirantado inglês temer pela sua invulnerabilidade; mas a 27 de maio de 1941, por uma coincidência, uma bomba lançada pelo encouraçado inglês Prince of Wales entrou em uma das chaminés do navio alemão e explodiu a casa de máquinas.

Até hoje nos círculos navais se discute este fato de um dos navios mais lendários do mundo afundar na primeira batalha naval de que participou.

Das situações que ocorrem simultaneamente podemos listar muitas delas, como a história de um milionário norte-americano que simples empregado numa granja, indo a uma barbearia ouviu do cabelereiro que tinha palhetas de ouro nos cabelos. O personagem lembrou-se que se banhava diariamente num riacho que corria num terreno devoluto e, comprovando a existência de ouro ali, foi ao órgão competente registrar o terreno como sua propriedade. E assim fez a sua fortuna.

Entretanto, o modo de pensar independente desconfia das coincidências. O grande ficcionista Ian Fleming, nosso epigrafado, disse, e é repetido por muitos, que um fato ocorre uma vez por acidente, duas vezes pode se considerar coincidência, mas na terceira vez vê-se um propósito.

Um humorista que fez sucesso no século passado, Leon Eliachar, enunciou no seu livro “Homem Ao Quadrado”, um problema brasileiríssimo: – “A pontualidade é a coincidência de duas pessoas chegarem ao encontro com o mesmo atraso”.

A pessoas livres dos dogmas religiosos e das intrincadas cadeias ideológicas que mantêm uma sincronia com a realidade, aprendem a se livrar dos chamados universos paralelos, a artificialidade mental que escraviza os fanáticos.

É esta, infelizmente, a identidade que se assentou no Brasil quando coincidentemente levou-se para a política a briga natural  dos cordões azul e encarnado nas lapinhas folclóricas,,,. Antes eleitoralmente eram jogadas de compadrio com uma duração marcada; terminada a eleição tudo voltava à estaca zero.

Hoje impera como política esquizofrênica, introduzindo na sociedade malquerença entre amigos e familiares e leva tal alucinação para a vida comum, nos empregos, nas escolas e na vizinhança.

Entre todas as formas de desencontros entre as pessoas, o discurso do ódio é a pior delas; e os assemelhados extremistas de direita e esquerda fazem-no com a maior sem-cerimônia. Assistimos isto quando urdido nos porões do Planalto do Governo Bolsonaro, e estamos assistindo agora com o besteirol de Lula dizendo que o impeachment de Dilma foi um golpe.

Seria mera coincidência Bolsonaro fazer o mesmo que Hitler recomendou no “Mein Kampf”, armar seus partidários? Ou será com Lula falando de “golpe” contra a incompetente e transgressora Dilma?

Coincidentemente, o caso Bolsonaro terminou com os tiros das armas liberadas por ele saindo pela culatra do golpismo e lhe mutilando politicamente; com relação a Lula, alguém lembrou que o golpe mais recente executado no Brasil, foi com a anulação da sua condenação por corrupção e lavagem de dinheiro.

São estas coisas que nos alertam para o que Henry Miller repassou, curto e grosso: – “Não se esqueça: toda coincidência tem um significado!”

BURRICE

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“Contra a burrice os próprios deuses lutam em vão” (Schiller)

Está se tornando intolerável o culto da personalidade dos líderes políticos das duas facções que polarizam o pronunciamento eleitoral do Brasil. Parece-me menos uma opção ideológica e mais uma demonstração da ignorância política reinante. Pura burrice.

Dicionarizada, a palavra Burrice é um substantivo feminino, um derivado regressivo do latim (bur(r)ĭc(h)us), jumento, usado desde lá como “indivíduo estúpido, pouco inteligente, teimoso”.  Abrasileirado, o Burrus,a,um latino ampliou-se como “Burrice”, significando asneira, besteira, estupidez, parvoíce, tolice.

Tem uma vasta sinonímia, da qual encontrei uma preciosidade no Dicionário Popular Paraibano, de Horácio de Almeida, que registra “Burralidade”, que encontrou no versejar de um cantador: “Você conte o que souber/ Eu não lhe empato a vontade/ É tolo o homem que teima/ Com sua burralidade”.

A burrice é um atributo dado a alguém ou determinada situação, pela condição de falta de inteligência ou de bom senso; também para uma decisão equivocada de uma pessoa despreparada.

Atrevo-me a criticar os que elaboraram as perguntas do Censo 2022, qualificando o questionário como burrice. No meu caso, eu e minha mulher somos mestiços, com brancos europeus, negros africanos e indígenas; Quisemos responder “Mestiços”, mas não foi aceito; classificaram-nos como “pardos”.

Vou além. Excluíram do registro as pessoas que vivem em situação de rua. Assim, sem uma classificação censitária, temos que apelar para um duvidoso registro de uma tal de Secretaria Especial de Desenvolvimento Social, do Ministério da Cidadania do Governo Bolsonaro, que estima em 161,8 famílias inscritas no Cadastro Único da citada Secretaria.

O chamado “Povo da Rua” vai muito além dos classificados como “famílias”. Estas têm a condição dos retirantes nas grandes secas ou dos refugiados estrangeiros fugindo à guerra. Os demais, a grande maioria, são doentes, drogados ou simplesmente vagabundos.

Antes restritos às grandes cidades, já se espalham em situação de rua pelos rincões do País e a demagogia dos políticos e os que querem ganhar o céu “fazendo caridade” alimentam este cenário desabonador para qualquer sociedade.

Dados divulgados por grupos religiosos e Ongs apontam a formação de um sistema, controlado pelos traficantes de drogas, incentivando toda espécie de crimes. Então, aqueles que se preocupam com esta conjuntura procuram soluções para o problema.

Evidentemente não é com a burrice da ajuda que em vez de ajudar os doentes, multiplicam o número de drogados e vagabundos. No pensamento de muitos, os doentes precisam de assistência médica; os drogados necessitam hospitais psiquiátricos que estão sendo fechados; e, para os vagabundos, obrigá-los ao trabalho.

Na década de 1940, quando eu era pré-adolescente, já pensava em tirar a Carteira de Trabalho, porque nos governos de Getúlio e Dutra era o documento exigido nas batidas policiais, a vagabundagem era uma transgressão que deveria vigorar até hoje, mas o falso humanismo não deixa por pura burrice….

Do Pitecantropos ao Homo Sapiens, vale o que Jeová disse quando expulsou Adão do Paraíso: – “Comerás do fruto do teu trabalho, serás feliz e próspero”; mas vivemos num mundo em que somos governados por políticos e clérigos que não trabalham e comem o fruto do trabalho de outrem…

Assim nascem as “bolsas” para silenciar a massa. Não é fala de um anarquista, mas de alguém de longa vivência, que encontrou a maior burrice da História: Foi do imperador da Boêmia, Venceslau, que suspeitando da infidelidade da esposa, exigiu do confessor dela que revelasse o que ouviu no confessionário. O prelado recusou-se a revelar a confissão e foi torturado e morto por isto. Ninguém sabe quem foi Venceslau, enquanto aquele que respeitou o sigilo sacramental foi canonizado e virou santo, São João Nepomuceno.

As burrices menores ficam entre nós, como a do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, que “perdeu” o celular, ignorando que seu conteúdo pode ser recuperado na nuvem; e as dos novos ministros de Lula, com Marina Silva dizendo no Fórum Econômico Mundial que a metade da população brasileira passa fome; e, para melhor polarizar o país, Haddad sugere “boicotar” empresas de opositores políticos….

 

 

 

 

FASCISMO

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“Escrevo às apalpadelas no silêncio e pelo caminho descubro partículas de verdade” (Izabel Allende)

Não me venham com chorumelas, é fascista o grupo político que adota o slogan “Deus, Pátria, Família” da Ação Integralista Brasileira, partido criado por Plínio Salgado cópia tupiniquim do Partido Nacional Fascista (Partito Nazionale Fascista), de Benito Mussolini

E o que vem a ser “Fascismo”? Pela História, é a representação política, como ditadura totalitária, de grupos políticos, econômicos e financeiros. Nasceu na Itália (1922) e teve a sua maior expressão na Alemanha como Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Surgiu também notadamente na Bulgária, Espanha, Hungria, Polônia, Portugal e Romênia.

Na Itália, atuou como imperialista levado pelo ímpeto personalista de Mussolini, na Alemanha, pelo racismo e o conceito da “raça superior”, na Espanha, Bulgária e Finlândia com caráter militar, na Hungria e Portugal com base mística, religiosa. Nos países em que ocupou o poder houve uma disposição comum, nacionalismo extremado, racismo e anticomunismo.

Estabelecido como governo, o fascismo usou a máscara de “nacional socialismo” para disputar com os sociais-democratas e como reação aos sindicatos de trabalhadores cujos membros esquerdistas foram presos. Sob este manto, competiu com os círculos científicos, culturais e estudantis.

Assim, criou sindicatos governistas e/ou partidários, facilitando o ingresso dos membros a empregos, condenou a intelectualidade independente, artistas, escritores, teatrólogos e cineastas, que foram perseguidos “por sua cultura judaica”. Recrutou estudantes para organizações partidárias financiando-os, e impondo-lhes a ideia do sangue racial para um futuro hegemônico.

Outro ponto digno de nota era a promessa das lideranças fascistas de uma “ruptura radical com o passado”, sob um governo totalitário “de direita”; copiando o exemplo da ditadura do proletariado imposta na URSS stalinista.

As experiências históricas registradas na Alemanha e na Itália são abomináveis, com

os campos de extermínio de eslavos, ciganos e judeus; fogueiras de livros de “origem semita e marxista” e a negação da Democracia como um regime liberal, “burguês-capitalista”, sustentando-se no ateísmo e imoralidade.

Na verdade, os partidos fascistas por seus líderes, pregavam para as massas um “revolucionarismo verbal”, mas praticavam um conservadorismo obscurantista e se fortalecia pela valorizando e fomentando o aparato militar.

Dessa maneira, encontramos os discursos dos mandatários fascista e nazista; Mussolini, tinha no seu escritório uma flâmula com os dizeres: “Todos os homens são idiotas; alguns são idiotas engraçados; Deus me livre desses humoristas chatos”. E no seu longo discurso já no governo, vociferou: – “Muitos italianos ainda conservam o pensamento podre de uma Democracia; nego a estes senhores o direito de falar em liberdade”.

Quanto a Hitler, na sua doutrina exposta no “Mein Kampf” (Minha Luta), encontramos a expressão máxima do racismo: – “As causas exclusivas da decadência de antigas civilizações são a mistura de sangue e o rebaixamento do nível da raça”, e chega a uma conclusão condenável por quem tem cabeça de pensar: – “Só depois da escravização de raças inferiores será para eles ter a mesma sorte dos animais domesticados”.

Estas falas de Hitler e Mussolini citadas, são encontradas nos livros “Minha Luta”, Edição Mestre Jou, e “O Dia do Leão”, biografia de Mussolini, da Editora Nova Fronteira.

Chega à lembrança a forma de como seus fanáticos seguidores agiram para tomada do poder, a Marcha sobre Roma e a  “Noite dos Cristais”, nome dado ao quebra-quebra promovido pelos nazistas deixando cacos de vidro nas ruas,  das janelas  estilhaçadas das sinagogas e vitrines de lojas dos que não aderiram. Depois veio a “solução final”, o massacre de opositores de judeus.

Nesta síntese da história dos fascismos italiano e alemão (que podemos classificar como clássicos) contribuímos para ajudar a combate-los nas suas cópias histriônicas e façanhudas, mas sempre danosas pelas marchas totalitárias e o terrorismo vandálico, como assistimos na tragédia de 8 de janeiro em Brasília.

 

 

ENTENDIMENTO

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“O cilício que cega o entendimento, e nega à vontade, afoga a alma e tira a vida” (Pe. Antônio Vieira)

O grande orador sacro padre Antônio Vieira, no seu Sermão de Santo Inácio, prega o que todos os brasileiros de boa vontade querem, um entendimento nacional que avalie um futuro radioso para o nosso País.

Não adianta procurar outras citações, seja dos gregos antigos Aristóteles ou Platão, ou seja dos pensadores modernos como Bertrand Russel e Schopenhauer, para mostrar a importância da união nacional para enfrentar as seitas políticas do tipo místico e o ativismo irracional.

É  inútil procurar a resposta que nos faça entender a mobilização permanente das massas fanáticas, obedientes ao discurso pseudorrevolucionário do ex-capitão Bolsonaro com as  promessas de criar uma nova realidade fantasiosa. Da minha parte, suponho que é esta fraude ideológica, o conduto que leva à política populista da “direita” ao berçário do fascismo.

Pior do que tudo isto foi a criação de uma frente de pastores evangélicos politiqueiros, e a atuação subversiva de oficiais da reserva remunerada, insuflados pela obsoleta doutrina anticomunista da guerra fria do seu tempo.

Assim, juntaram-se o culto da personalidade e o desejo de transferir para as Forças Armadas do poder decisório sobre o resultado das eleições presidenciais. E deu no que deu: a perturbação da ordem pública e a depredação e o saque dos poderes republicanos.

Investiga-se se houve cumplicidade, leniência ou incompetência de órgãos federais, e particularmente do governo do Distrito Federal; mas uma coisa é certa, prevaleceu nas FFAA os princípios da hierarquia e da legalidade.

Do outro lado, a sociedade civil, o governo federal eleito no ano passado, o Supremo Tribunal, as lideranças parlamentares do Congresso Nacional e os governadores estaduais, se uniram e entenderam que é preciso garantir o Estado Democrático de Direito.

Dessa maneira, vivemos o interstício entre a paz pública e o terrorismo e, encontrada a mola impulsionadora do pandemônio bolsonarista, os financiadores de agentes provocadores, é preciso puni-los exemplarmente para encerrar de uma vez por todas a agitação antidemocrática.

Daí em diante poderemos relaxar e estimular os rebanhos religiosos de maus pastores recitando o Sermão da Montanha ou lembrando-lhes Lucas 2:14 com a passagem bíblica do “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu favor”.

A desobediência a este preceito é pecado, como pecou aquele alucinado que estava no quebra-quebra do Congresso Nacional com uma Bíblia na mão, ou aquela senhora que declarou ter sido induzidas à participar da invasão por prédicas ouvidas no seu templo.

Quanto aos leigos, tão fanáticos quanto os auto assumidos religiosos, vamos lhes qualificar como o Marquês de Maricá descreveu: “alguns ‘patriotas’ dizem em voz alta que é doce morrer pela Pátria, mas em segredo reconhecem que é mais doce viver para ela e à custa dela”.

No meu artigo anterior, “Vandalismo”, lembrei que os indivíduos que ocuparam Brasília por um dia, pareciam estar acobertados naquela ação orquestrada com táticas de estado maior pelo governo do Distrito Federal e outros agentes públicos.

Repito, a invasão, depredação e saque dos símbolos da República Democrática, foi treinada, financiada, vazada nas redes sociais e detectada por órgãos federais de inteligência.

Para os que se revoltaram com o desatino dos inconformados com a derrota do seu candidato, lembro uma homilia natalina do papa Bento 16, recém falecido, onde ele pregou o entrelaçamento da graça e da liberdade, o entrelaçamento do apelo e da resposta, advertindo que um homem sozinho, mesmo com a maior boa vontade, nada pode fazer.

Então compartilhemos pela união pela Democracia dos brasileiros de qualquer crença religiosa, princípio político ou ideológico, numa comunhão espiritual que ponha a Pátria no caminho do futuro, pela paz, justiça social e desenvolvimento econômico.

 

 

 

VÂNDALOS

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“O discurso do contra, é eficaz no barulho e no vandalismo” (Nino Carneiro)

Após os criminosos eventos terroristas na capital da República, com depredação e saques do patrimônio público, vê-se uma segunda contribuição da extrema direita para consolidar o poder do seu adversário empossado na presidência da República. Da primeira vez, elegeram Lula graças ao extremismo para fascista e a política necrófila do negativismo na pandemia do ex-capitão Bolsonaro.

O crime perpetrado também calou os liberais do Centro e da Centro-esquerda que iniciavam uma oposição democrática e vigilante ao novo governo, pela lembrança das administrações anteriores corruptas.

As ações da direita extremista, inconformada com a derrota eleitoral sofrida pelos próprios erros, fracassaram graças a uma poderosa unidade nacional em defesa do Estado de Direito, na certeza de que os tresloucados agiram supostamente orientados por agentes estrangeiros importados do trumpismo norte-americano com a intenção de derrubar o governo legítimo.

A mídia os chama de vândalos. O que é um vândalo? A palavra dicionarizada é um substantivo masculino, originário da antiga língua alemã “wandeln”, que chegou ao latim como “vandalus(la)”, designando o indivíduo dos vândalos.

Os vândalos eram tribos germânicas do Norte que se unificaram para resistir às invasões romanas e, fortalecidos, moveram guerras na Europa, ocupando e devastando a região ibérica de Alandalus. Da Península Ibérica atravessaram o Mediterrâneo e atacaram a África do Norte estabelecendo-se em Cartago, cidade fenícia ocupada pelos romanos na segunda Guerra Púnica.

Chamados de bárbaros, os vândalos invadiram e saquearam Roma no ano de 455, onde depredaram parte da cidade antiga, demolindo monumentos e destruindo inúmeras obras de arte e livros. Ficou marcada a sua característica de devastar as nações invadidas, destruindo, incendiando e dilapidando bens públicos, coisas belas, valiosas e históricas.

Os indivíduos que se apoderaram de Brasília por um dia, acumpliciados com o governo do Distrito Federal e agentes públicos, travestiram-se de vândalos antigos e realizaram um violento ataque aos poderes republicanos, degradando as sedes do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto.

Com esta ação habilmente orquestrada com táticas de estado maior, deixaram a memória da depredação e do saque do patrimônio público. A invasão aos símbolos da Democracia brasileira, foi treinada, financiada, vazada nas redes sociais e detectada por órgãos federais de inteligência.

Foi, porém, subestimada pelo Governo Lula; sem assessoramento, o ministro da Justiça Flávio Dino aceitou como verdadeiras as informações do governo do Distrito Federal; mas para vitória da Democracia, o golpe fez o inverso do que planejado; em vez de tomar o poder, fortaleceu o presidente Lula da Silva.

O impacto da barbárie praticada teve a sua força e violência provocando uma reação vigorosa dos integrantes dos três poderes republicanos com um maciço apoio dos defensores da Democracia de todos os matizes políticos e ideológicos.

As exceções ficaram restritas aos filhos de Bolsonaro, aos militares da reserva que perderam as boquinhas e à horda de fanáticos amedrontados pelo fantasma do comunismo, pesadelo que só existe nas cabeças tolas, como previu o próprio Marx n’ O Capital.

Esqueci o autor de um juízo e que volta agora pelas cenas destrutivas de Brasília. É mais ou menos assim: “Um vândalo é pior do que um ladrão, o ladrão rouba alguém e deve ser condenado pelo que fez; o vândalo saqueia e destrói o patrimônio de uma comunidade, e é abominável”.

Para os que têm dúvida, o que é muito salutar, peço que abram as cabeças para receber a aragem da realidade; e admitam que o que ocorreu é imperdoável. Serviu apenas para fortalecer um governo que merece pela experiência anterior uma ampla e permanente vigilância oposicionista.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CONSTRUÇÃO

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“Por imprescindível ao edifício em construção o trabalho deve prosseguir apesar do sofrimento que se mistura ao cimento” (Inspirado em Vinícius de Moraes)

Não é preciso filosofar para concluir que não se pode construir um arranha-céu sobre areia movediça ou num pântano. A engenharia já encontrou soluções para outras situações de risco, inclusive para enfrentar terremoto, mas para estas duas possibilidades, não.

Trata-se de uma metáfora para levarmos ao campo político, onde é impossível fazer-se uma boa administração com desonestidade e incompetência…. Não se atende a Nação fazendo do governo capanga de idiossincrasias pessoais, como alertou Ulisses Guimarães.

Nem mesmo governar democraticamente com esquerdismo e economismo para acender uma vela aos ruralistas e outra vela para os assalariados. Com isto, deixa-se as classes médias como os mariscos no choque entre as ondas do mar e os rochedos da costa.

Àqueles que se dizem socialistas deveriam aprender o que V. I. Lenin alertou. dizendo que “o esquerdismo é a doença infantil do comunismo” e o “economismo” é uma forma de oportunismo para a realização de políticas populistas.

O Estado Democrático de Direito fica longe disto. Outro dia o ex-dirigente do partidão, Roberto Freire, atual presidente do Cidadania, alertou ao Governo Lula sobre a experiência negativa de desprezar o Mercado, um dos motivos da derrocada da URSS….

Entretanto, vê-se a influência nefasta dos “esquerdistas” tentando aplicar a sua defasagem em tempo e espaço, desconhecendo a nova realidade brasileira e desprezando a frente ampla que elegeu Lula. Incitam uma presença hegemônica do PT envelhecido, como se vê pelas as múmias que circulam nos corredores do poder.

Parece não preocupar essa fração petista a troca dos valores do governo fascistóide e negacionista que caiu pelo voto popular, e não pode desconhecer que a eleição teve um quase empate entre os dois candidato. Com isto, precisa admitir que só o PT com os seus puxadinhos não venceria a eleição.

Do outro lado, os protagonistas da “Frente Ampla”, ainda não esboçam reação contra a tentativa hegemônica dos “esquerdistas”, excetuando-se os discursos de posse de Marina Silva e Simone Tebet nos ministérios; o Centrão é incobrável pelo mercenarismo, e Geraldo Alckmin, deslumbrado, cala e consente.

É preciso que o Centro e a Centro-esquerda sejam coerentes e se manifestem sem medo, pois os extremismos de direita e de esquerda se assemelham e são sempre minorias. Lembre-se que o extremismo direitista foi a principal causa de derrota de Bolsonaro que, ignorante e ensimesmado, adotou assessorias ilógicas, desprezando os movimentos sociais e impondo o negativismo necrófilo na pandemia como política de governo.

Pela opinião generalizada da maioria do povo brasileiro, a defesa da Democracia e do liberalismo econômico recebe apoio amplo, geral e irrestrito. Esta defesa popular se multiplica e se enraíza como o Cajueiro de Pirangi, no Rio Grande do Norte. São grandes galhos que se prendem à terra e dela recebem o humo necessário para expandir a sua fronde e sua sombra.

Como reconhecer a verdade é meritoso, reconheçamos que nem todo petista sofre o mal do extremismo esquerdista e nem todos os auto assumidos bolsonaristas se nivelam com os fanáticos acampados na porta dos quarteis.

Do discurso de posse de Lula dizendo que “quero governar para os 217 milhões de brasileiros”, depende a construção do futuro do País, contanto que receba o apoio real dos seus companheiros de partido, mesmo mantendo a luta interna pela ascendência, cargos e privilégios.

Pela Pátria, precisamos ouvir os brasileiros de quaisquer partidos ou religiões, que adotem ideologias diversas e se apresentem como cidadãs e cidadãos de qualquer cor, gênero ou idade. Que todos discutam um projeto político e social obedecendo ao princípio de Milton Friedman que reza: “A sociedade que coloca a igualdade à frente da liberdade irá terminar sem igualdade e liberdade”.

JORNALISMO

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.bra

“Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data” (Millôr)

Com uma breve História do Jornalismo, tento chegar ao que fazem hoje em dia os jornalistas mundo afora e particularmente no Brasil. Tenho credenciais para fazê-lo porque nos meus 89 anos (completo 90 em julho) exerço a feitura de jornais a mais de 70 anos….

Comecei criança com dez ou 11 anos, junto com a minha irmã Lúcia, já falecida, e com a ajuda da nossa mãe; fazíamos um jornalzinho manuscrito que circulava nos 48 apartamentos do edifício em que morávamos. Chamava-se “Folha da Glória”.

Depois editei periódico datilografado no colégio e, na escola técnica, por um mimeografo a álcool. Na faculdade, um avanço; usei o mimeógrafo elétrico…. Quando fui trabalhar em jornais, exerci a composição tipográfica e cheguei ao offset.

O jornal é um veículo de informação. Os manuscritos vêm de tempos muito antigos. Registra-se o primeiro no Ocidente criado por Júlio César (100 – 44 a.C), “Acta Diurna”, circulando 12 exemplares, distribuídos um a um para o Senado e para os governos provinciais.

Em 713 d.C., circulou em Pequim (China), um boletim intitulado Kayuan e mais tarde, também na China, circulava entre 713 e 734 já composto em tipos de madeira o Kaiyuan Za Bao (Boletim da Corte) da Dinastia Tang.

Os tipos chineses de madeira chegaram na Europa no século 15 do Calendário Gregoriano como uma “invenção” de Johann Gutenberg, moldados em chumbo e cobertos levemente de tinta, eram repassados numa prensa de madeira e impressos em papel.

Como anteriormente tudo era escrito à mão, exigia-se o trabalho de escribas caligráficos profissionais, levando uma enormidade de tempo. Na época, a maior biblioteca inglesa, da Universidade de Cambridge, possuía apenas 122 livros.

Pela técnica gutemberguiana de impressão foram editadas em menos de um mês cerca de cem bíblias com exemplares que ainda existem; um deles encontra-se na Biblioteca do Congresso em Washington.

Imagine-se a revolução abrangente que ocorreu. Iniciou-se uma nova realidade com os jornais de grande tiragem atendendo à economia, política e religião. Registra-se como primeiro jornal impresso o “Relation aller Fürnemmen und gedenckwürdigen Historien” editado por Johann Carolus, em 1605, circulando em Estrasburgo.

Daí em diante a imprensa escrita se firmou como um meio majestático da informação, mas entrou em decadência e a sua importância caiu devido às novas tecnologias, rádio, televisão e internet. Em virtude deste definhamento, o jornalismo ganhou novas formas de expressão.

Entre os atributos de atração da imprensa escrita pelo talento de jornalistas vocacionados, amadores e profissionais, tínhamos o jornalismo investigativo, que persiste em pequena escala nas ondas do rádio e praticamente inexistente na Televisão, salvo em alguns poucos programas.

A reportagem especializada não se limitava a desvendar crimes e fatos escabrosos, mas principalmente trazia à luz o que o poder político queria esconder. Os exemplos mais notáveis da investigação jornalística estão registrados com a publicação pelo jornal francês L’Aurore do “Acuso”, de Emile Zola, no século 19; e mais recentemente com o caso Watergate divulgado pelo Washington Post.

Hoje constatamos  a derrocada dos jornais impressos que leva com isto a queda da qualidade do jornalismo tradicional, e perde a importância que possuía até o século passado.

… E quando o jornalismo foi levado para os veículos auditivos e visuais, perdeu a magia que atraía os antigos leitores. A leveza do texto e a confiança depositada no jornal foram trocadas pela linguagem direta do deboche, da galhofa e a conversão da veracidade do fato pelo sensacionalismo.

Na telinha, desapareceu a reportagem que descobria fatos ocultos e os levava ao conhecimento público. A principal rede de televisão brasileira, o Sistema Globo, tem somente uma meia dúzia de três ou quatro repórteres “amestrados”, para dezenas de “comentaristas” que repetem dia e noite mesmices óbvias.

Seus canais de televisão omitem as falcatruas anteriores do presidente Lula e nada encontraram de concreto sobre o anunciado, ensaiado e transparente golpe tramado pelo capitão Bolsonaro e seus filhos….

Assim, os “watergates” tupiniquins passam ao largo dos “analistas globais” e é impensável encontra-los nas demais emissoras, aparecendo apenas de viés algumas observações “à moda americana”, pela CNN…

Diante disto, dá vontade de parodiar Guizot dizendo que “quando o varejo da politicagem chega às redações, o jornalismo vai para a sala da publicidade ou passa na contabilidade…