COINCIDÊNCIAS
MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)
“Uma vez acontece. Duas vezes é coincidência. Três vezes é ação inimiga” (Ian Fleming)
A vida é cheia de coincidências; mas as coincidências que encontramos nos círculos políticos são exageradas. Como verbete dicionarizado, a palavra Coincidência é um substantivo feminino vindo do latim vulgar “coincidere”, significando a condição de dois fatos ocorrerem igualmente por acaso.
Não encontramos para Coincidência um sinônimo perfeito que represente claramente sua significação, a justaposição de situações distintas em tempo e espaço. Nada tem a ver com coexistência, nem concordância, nem semelhança; o mais próximo que achei foi simultaneidade, e mesmo assim passa raspando….
Encontra-se na História Geral o caso ocorrido na 2ª Guerra com o prodígio da engenharia naval alemã, que lançado ao mar fez o almirantado inglês temer pela sua invulnerabilidade; mas a 27 de maio de 1941, por uma coincidência, uma bomba lançada pelo encouraçado inglês Prince of Wales entrou em uma das chaminés do navio alemão e explodiu a casa de máquinas.
Até hoje nos círculos navais se discute este fato de um dos navios mais lendários do mundo afundar na primeira batalha naval de que participou.
Das situações que ocorrem simultaneamente podemos listar muitas delas, como a história de um milionário norte-americano que simples empregado numa granja, indo a uma barbearia ouviu do cabelereiro que tinha palhetas de ouro nos cabelos. O personagem lembrou-se que se banhava diariamente num riacho que corria num terreno devoluto e, comprovando a existência de ouro ali, foi ao órgão competente registrar o terreno como sua propriedade. E assim fez a sua fortuna.
Entretanto, o modo de pensar independente desconfia das coincidências. O grande ficcionista Ian Fleming, nosso epigrafado, disse, e é repetido por muitos, que um fato ocorre uma vez por acidente, duas vezes pode se considerar coincidência, mas na terceira vez vê-se um propósito.
Um humorista que fez sucesso no século passado, Leon Eliachar, enunciou no seu livro “Homem Ao Quadrado”, um problema brasileiríssimo: – “A pontualidade é a coincidência de duas pessoas chegarem ao encontro com o mesmo atraso”.
A pessoas livres dos dogmas religiosos e das intrincadas cadeias ideológicas que mantêm uma sincronia com a realidade, aprendem a se livrar dos chamados universos paralelos, a artificialidade mental que escraviza os fanáticos.
É esta, infelizmente, a identidade que se assentou no Brasil quando coincidentemente levou-se para a política a briga natural dos cordões azul e encarnado nas lapinhas folclóricas,,,. Antes eleitoralmente eram jogadas de compadrio com uma duração marcada; terminada a eleição tudo voltava à estaca zero.
Hoje impera como política esquizofrênica, introduzindo na sociedade malquerença entre amigos e familiares e leva tal alucinação para a vida comum, nos empregos, nas escolas e na vizinhança.
Entre todas as formas de desencontros entre as pessoas, o discurso do ódio é a pior delas; e os assemelhados extremistas de direita e esquerda fazem-no com a maior sem-cerimônia. Assistimos isto quando urdido nos porões do Planalto do Governo Bolsonaro, e estamos assistindo agora com o besteirol de Lula dizendo que o impeachment de Dilma foi um golpe.
Seria mera coincidência Bolsonaro fazer o mesmo que Hitler recomendou no “Mein Kampf”, armar seus partidários? Ou será com Lula falando de “golpe” contra a incompetente e transgressora Dilma?
Coincidentemente, o caso Bolsonaro terminou com os tiros das armas liberadas por ele saindo pela culatra do golpismo e lhe mutilando politicamente; com relação a Lula, alguém lembrou que o golpe mais recente executado no Brasil, foi com a anulação da sua condenação por corrupção e lavagem de dinheiro.
São estas coisas que nos alertam para o que Henry Miller repassou, curto e grosso: – “Não se esqueça: toda coincidência tem um significado!”
” A sociedade tem leis e regras dignas de respeito, mas geralmente os dramas da vida HUMANA são mais toleráveis no papel que na realidade.”