Arquivo do mês: novembro 2019

João Cabral de Melo Neto

ÁGUA

          Água, água, água;
Água do mar e do copo;
Da sede e do navio;
Distância
Entre mim e o náufrago.

          Presença futura na nuvem
Voando sobre Nova Iorque;
No inverno
Molhando nossas almas.

          Água ausente da lua,
Das pedras, dos fantasmas
Que surpreendemos imitando
Nossos gestos aquáticos

          Água sempre pronta
Para fugir, para partir:
(Fuga no ar como os sonhos)
Água do vapor de água.

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Julio Cortázar

Amo-te por sobrancelhas

 

Amo-te por sobrancelhas, por cabelo, debato-te em corredores

branquíssimos onde se jogam as fontes da luz,

Discuto-te a cada nome, arranco-te com delicadeza de cicatriz,

vou pondo no teu cabelo cinzas de relâmpago

e fitas que dormiam na chuva.

Não quero que tenhas uma forma, que sejas

precisamente o que vem por trás de tua mão,

porque a água, considera a água, e os leões

quando se dissolvem no açúcar da fábula,

e os gestos, essa arquitectura do nada,

acendendo as lâmpadas a meio do encontro.

Tudo amanhã é a ardósia onde te invento e desenho.

pronto a apagar-te, assim não és, nem tampouco

com esse cabelo liso, esse sorriso.

Procuro a tua súmula, o bordo da taça onde o vinho

é também a lua e o espelho,

procuro essa linha que faz tremer um homem

numa galeria de museu.

Além disso quero-te, e faz tempo e frio.

J’ACUSE

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“A acusação contra os maus é necessária para que o ser humano se respeite e respeite os seus iguais” (Clarice Lispector)

Muito aplaudido e com algumas vaias, não pela fita, mas pela indicação, o excelente cineasta Roman Polanski lançou o seu novo filme, “J’Acuse”; em que aborda o julgamento por espionagem do capitão Alfred Dreyfus, que abalou a França nos fins do século 19.

O roteiro segue a carta aberta que o escritor Émile Zola dirigiu ao presidente da República, publicada no dia 13 de janeiro de 1898 pelo L’Aurore, jornal parisiense com a impressionante tiragem de 300 mil exemplares na época.

O processo foi uma manifestação típica de racismo. Como judeu, Dreyfus tinha inimigos no exército e foi injustamente incriminado por alta traição e julgado às escondidas, sendo condenado à prisão perpétua.

Um investigador policial, Picquart, resolveu por uma questão de consciência seguir as pistas que levaram à denúncia, e conseguiu mostrar fraudes que ocorreram por trás da punição aplicada pelo tribunal.

Daí Émile Zola comprou a briga e terminou revertendo a pena. Ainda hoje, em forma de livro, a defesa de Dreyfus por ele é um best-seller.

Curioso é que Polanski sofre durante muitos anos, mais da metade de sua vida, incriminações, que considera falsas, e usou a sua arte como uma metáfora do seu caso.

Temos assistido no Brasil contemporâneo processos de flagrante injustiça, e uma Corte Constitucional à mercê do ex-presidente corrupto Lula da Silva, já condenado por três instâncias, e envolvido em vários processos por corrupção e lavagem de dinheiro.

Na onda dessas atitudes seletivas, a culpabilidade de criminosos no País passou a ser tratada com leniência – sem exclusão -, após a suspeita decisão de seis ministros do STF.

Os brasileiros, estão cônscios do perigo que representa a soltura de verdadeiros criminosos do crime organizado, estupradores, homicidas, ladrões, pedófilos e traficantes, por causa da intromissão da política no Supremo graças à maioria que tem bandidos de estimação.

E além do favoritismo flagrante, os togados interferem no Legislativo e no Executivo, o que se reflete numa pesquisa recente – ah, como deveriam ter crédito as pesquisas! -, para 45% dos brasileiros, Judiciário interfere nos outros Poderes.

Não é por acaso que já não se dá crédito à Justiça. As manifestações de rua deveriam influenciar na realidade das evidências judiciárias que favorecem o crime. As multidões refletem a opinião pública e deveriam derrubar a ditadura da meia dúzia que se arvora dona da verdade com as suas próprias mentiras.

Como Émile Zola, eu acuso o STF. Atribuo aos seus integrantes a culpa de zombarem do povo. Acusar é um verbo transitivo direto, bitransitivo e intransitivo significando atribuir falta, infração ou crime a alguém; e também, verbo pronominal que exprime julgamento moral desfavorável a quem está errado.

Este “Acuso” não é somente meu; é de todos aqueles que desejam um Brasil respeitado no concerto das nações como um Pais igualitário e justo.

E a acusação deveria ser sempre vinda por quem comete um erro e se arrepende, se culpe e se corrija, o que não é o caso dos que agem ideológica e partidariamente neste jogo em que o povo chuta com a bola do patriotismo, faz gol, e os inimigos da justiça boa e perfeita apelam para o VAR da impunidade.

 

BRASILÍADAS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Encontrar lugares por setores e endereços que são coordenadas cartesianas, parece um mistério” (Alexandre Orrico)

Jantando em Brasília com um amigo de priscas eras, jornalista que cobre o setor militar e possuidor de fontes seguras e informações valiosas, como antigo profissional de imprensa ouvi coisas de arrepiar os cabelos.

Entraram na pauta da conversa, relacionamentos vis em parcerias obscuras, investigações bem-sucedidas engavetadas na Justiça, compromissos inimagináveis entre parlamentares e multiplicação de dossiês envolvendo figuras palacianas.

Este filme de horror onde as vítimas são a República e a Democracia obedecem a scripts utilizados em filmagens feitas nos 16 anos de ocupação do poder pelo lulopetismo. Com boa vontade poder-se-ia recuar no tempo e recordar fitas antigas em preto e branco…

Em verdade, a corrupção veio com as caravelas do almirante Pedro Álvares Cabral e foi institucionalizada a partir das Capitanias Hereditárias. Esteve presente nos Governos Gerais, no Império e na República, mas, sem apadrinhamento, em escala bem menor.

Comentava-se na década de 1950 sobre a existência de avanços ao Erário no Governo Juscelino Kubitschek, principalmente na construção de Brasília e na transferência da capital do País do Rio de Janeiro para o Planalto Central.

O futuro demonstrou que houve desvios de dinheiro público naquela época, como ocorria em São Paulo nos governos “que roubavam, mas faziam”. Eram, porém, gotas d’água no oceano que transbordou no território nacional após a “redemocratização”.

Pode-se reconhecer erros de JK e na sua politicagem que pôs de lado as astúcias e malandragens dos seus auxiliares diretos. É indubitável historicamente que ele fez um governo que trouxe esperança e consequentemente a alegre torcida dos brasileiros por um futuro melhor.

Tudo isto, negação e afirmação, está no Memorial JK para quem olhos de ver e ouvidos de ouvir. É uma visita obrigatória para quem visita o Distrito Federal. É de Juscelino a frase: “O otimista pode errar, mas o pessimista já começa errando.”

Mais adiante, a derrubada de Jango e a ascensão dos governos militares ainda são avaliadas pelos historiadores isentos de ideologias. E mais recentemente não é preciso pesquisar para que se passe uma vista nas consequências da chamada redemocratização.

As práticas corruptas estiveram presentes na Assembleia Constituinte que pariu uma Constituição filha bastarda de advogados lenientes com o crime, na Nova República de Sarney, na compra da reeleição por Fernando Henrique Cardoso e nos impeachments de Collor e Dilma.

E Brasília assistiu tudo isto placidamente como os espelhos d’água projetados por Niemeyer…. Uma coisa, porém, é certa: os protagonistas políticos em sua maioria – será injusto não citar que há honrosas exceções –, os brasilienses reagem inconformados com a corrupção, a impunidade e a enganação lulopetista.

Diz-se que para cada 10 pessoas em Brasília, oito são flamenguistas…. Podem usar os mesmos números e afirmar que repudiam do mesmo jeito Lula e os seus quadrilheiros do PT. O povo da capital brasileira conhece muito bem a hipocrisia dos lulopetistas que se harmoniza entre o comportamento e o discurso.

Em Brasília se afirma, e é verdade, você pode sair às ruas a qualquer hora do dia sem medo, porque os ladrões não agem ao ar livre e sim dentro dos palácios na Praça dos Três Poderes…

Comenta José Coutinho que “notícias vindas de Brasília nos dão o pânico nosso de cada dia” e a presença fantasmagórica de Enéas Carneiro responde: “Miasmas pútridos emanam no Congresso em Brasília, contaminando o ar da metrópole”.

4 HORAS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança” (Camões)

Muitos anos atrás, no meu tempo de repórter político cobrindo a Câmara dos Deputados ainda no Palácio Tiradentes, no Rio de Janeiro, corria uma piada sobre os parlamentares mineiros. Exemplificavam um deles que ficava quase sempre em cima do muro, e que o seu voto não era sim, nem não, mas pelo contrário…

Foi mais o que se viu no voto estendido por quatro horas do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, sobre um recurso que questionava uma decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região.

Apesar da origem do recurso Toffoli iniciou a sua intervenção dizendo que “aqui não está em julgamento o senador Flávio Bolsonaro; e que a sua decisão monocrática paralisante da Justiça, atingiu apenas “poucos processos”.

Primeiro, não viu que, por interesse profissional, estava presente na sessão o advogado de Flávio Bolsonaro e que ninguém iria deduzir que mesmo que fossem meia dúzia de processos a Justiça havia sido prejudicada. Na verdade, foram 935 processos brindados com os dados do Coaf.

Encerrados os trabalhos no plenário do STF, correspondentes que faziam a cobertura da sessão, publicaram que o ministro Luís Roberto Barroso disse que chamaria um “professor de javanês” para explicar o resultado do voto relatado.

Os que traduziram, entretanto, dizem que o antigo advogado do PT quer impor limites para a atuação da Receita Federal e do antigo Coaf, transferido a pedido dele e feito pelo presidente Jair Bolsonaro e rebatizado como UIF.

Quem ouviu, ou leu mais tarde, comprovou que Toffoli, na sua dicotomia empolada não recuou na tentativa de acessar ilegalmente dados sigilosos dos contribuintes listados no sistema do antigo Coaf, atentando contra a Constituição.

Quatro horas foi tempo gasto, bastante para uma autocrítica, o reconhecimento de um equívoco e, quem sabe, voltar atrás com uma certa dignidade, mas isto não ocorreu. Se conhecesse o filósofo Millôr Fernandes teria aprendido que “quem mata o tempo não é um assassino: é um suicida. ”

O verbete Tempo, dicionarizado, é um substantivo masculino de origem latina (tempus, oris) significando uma série ininterrupta e eterna de instantes e, após a invenção da ampulheta, avó do relógio, uma medida arbitrária da duração das coisas.

Mário Quintana, o inesquecível poeta gaúcho, filosofou que “o mais feroz dos animais domésticos é o relógio de parede: conheço um que já devorou três gerações da minha família. ”

A determinação de uma época nos faz olhar para o passado e pensar no futuro, dando-nos o ensejo de pensar como mudaram os tempos para pior no Brasil; da Academia Brasileira de Letras que se empobreceu de valores, até ao Congresso, invadido por uma orla de aproveitadores – com honrosas exceções -, e ao Supremo Tribunal Federal, onde alguns ministros se esforçam para desacreditá-lo.

Isso nos leva a meditar como Gandhi, que ensinou aos seus discípulos que “o futuro dependerá daquilo que fazemos no presente. ”

Vivemos um tempo de perigo, com a Nação insegura pelo descrédito na Justiça e na Política. É chegada a hora de pensarmos nisto.

Está ficando insuportável para os brasileiros que querem legar um País democrático, justo e desenvolvido para os pósteros, se reunir, discutir e traçar um projeto para nos libertar desta situação.

Só a conscientização do povo nos apontará o caminho.

 

 

SIMBOLISMO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Um símbolo sozinho pode não representar nada, mas se todos se juntam, um símbolo pode significar muito, pode significar a mudança de um Pais” (‘V’ de Vingança)

Plotino, um dos principais filósofos gregos da antiguidade, que os estudiosos de sua obra notabilizaram criando para ele o termo “neoplatonismo”, deixou-nos um notável pensamento: – “Tudo é símbolo. E sábio é quem o lê em tudo. ”

A palavra Símbolo vem da Grécia Antiga, “symbolon” (σύμβολον), significando um tipo de signo que, mesmo de simplicidade extrema, representa algo abstrato. Uma figura que vai de propostas interpessoais até algo grandioso como uma divindade, uma ideia, uma nação, um protesto, uma revolução.

O verbete dicionarizado é um substantivo masculino figurando num desenho, num som e até num gesto, algo relacionado com o cotidiano das pessoas. A química o adota para os elementos atômicos da tabela periódica e o cristianismo com a cruz, o ícone do martírio de Jesus.

Aliás, os primeiros cristãos adotaram como símbolo a configuração de um peixe; só mais tarde a cruz se popularizou quando foi adotada como religião oficial do Império Romano. História ou lenda, registrou-se que Constantino, tornado imperador sem muita legitimidade, para conquistar o apoio do cristianismo divulgou que olhando para o céu viu nuvens em forma de cruz e a inscrição: “In hoc signo vinces” (“Com este sinal vencerás“).

Eram vésperas da batalha em Adrinopla e os cristãos se negavam a pegar em armas (como fazem ainda hoje as Testemunhas de Jeová), decidiram acompanhá-lo, saindo vencedores. Ele, garantindo o poder; e eles, legalizando a sua religião.

A força do símbolo alcançou o dia-a-dia de todos os povos, nos quatro cantos do mundo. A publicidade é riquíssima de logotipos e logomarcas, reconhecidas até por habitantes das regiões mais remotas; a Internet trouxe para as redes sociais os emojis, emoticons ou smiley, com as representações artísticas de animais, caveira, coração, estrelas, flores, gestos mímicos e sinais matemáticos.

Os partidos políticos procuram com símbolos atrair aderentes, uns que passam despercebidos, outros que ficam marcados pela tendência totalitária das ideologias e a disposição ao fanatismo dos seguidores, como a foice e o martelo dos comunistas, o fascio dos fascistas italianos e a cruz gamada dos nazistas.

Desses mais consideráveis signos da política contemporânea, nasceram algumas caricaturas derivadas, e entre elas surgiu a estrela petista roubada dos arquétipos fixados primitivamente no inconsciente coletivo.

Assim, pela vocação lulopetista de se apropriar do poder e de tudo que o poder concilia, eles começaram roubando a estrela dos poetas, namorados, seresteiros e sonhadores para depois assaltar a Petrobras, as empresas estatais e os fundos de pensão.

Não deveria ser a estrela a alegoria do Partido dos Trabalhadores como se comprovou no desprezo pelo povo que o levou ao poder elegendo o pelego Lula da Silva, corrupto e corruptor, presidente da República.

Pela ingratidão demonstrada e a adoção do anagrama de símbolo, “lobismo”, na imaginação popular o PT exprimiria o que o fabulista La Fontaine propôs:  “o símbolo dos ingratos não é a Serpente, é o Homem”. É por isso que Lula se assume como “jararaca”.

Um símbolo curioso é imagem da Justiça. É estranha e imponderável os seus olhos vendados; os otimistas dizem que é para não fazer distinção entre os que estão sendo julgados… esses distintos veem também equilíbrio na balança e a força na espada. Será que esse julgamento é imparcial ou igual ao dos togados que atropelam a lei para soltar os seus bandidos de estimação?

ESQUERDISMO

MIRANDA SÁ (mirandasa@uol.com.br)

“O maior perigo para as ideias, para a cultura e para o espírito, pode mais facilmente vir de um inimigo sorridente” (Aldous Huxley)

Vitoriosa a revolução bolchevique na Rússia, o seu venerado líder Vladimir Ilitch Lênin (cuja múmia é exibida num Mausoléu em Moscou), escreveu o livro “Esquerdismo: Doença Infantil do Comunismo” alertando os fundadores da Terceira Internacional Comunista para os desvios ideológicos esquerdistas na “construção do socialismo”.

Esta preocupação com a estreiteza e as ambições inexequíveis dos “revolucionários tresloucados” como chamou, vigora até hoje entre os herdeiros de Stálin, inconformados com o fracasso do regime na União Soviética. Efetivaram-se como defensores do “quanto pior melhor”, e para isto topam tudo todo tempo.

Embora alguns aceitem o Esquerdismo como uma “teoria praticista”, móvel das contestações sociais que sempre existirão, não sabem que foi o suporte midiático de apoio à ditadura stalinista e dos tentáculos imperialistas soviéticos nas chamadas “Repúblicas Populares” do Leste Europeu.

Sem a formação fatalista do islamismo, o esquerdismo de hoje tornando-se um braço do globalismo, adota o terrorismo de gabinete nas democracias praticado pelas minorias parlamentares, como os pelegos fazem nos sindicatos. Tem atuação nos quatro cantos do mundo, mas na América Latina, e principalmente no Brasil, se veste com os trajes do populismo.

Aqui, é praticado pelas frações infiltradas nas organizações sociais, corporações e movimentos populares servindo-se destes para fazer manifestações rumorosas assustando os detentores do poder. Aparecem como defensores dos explorados e perseguidos em qualquer reivindicação que surja. Usam-nos para fins partidários.

Além dos sindicatos e órgãos representativos de profissionais liberais, de estudantes, mulheres, camponeses sem terra e trabalhadores sem moradia, é visível na multiplicação de partidos inexpressivos eleitoralmente, mas mamando nas verbas públicas para sabotar as instituições republicanas.

Mesmo com os seus dirigentes corrompendo-se com os benefícios governamentais e propinas empresariais, o esquerdismo se mantem na massa influenciável pela repetição de slogans; e isto estimula o carreirismo dos doutrinadores que algemam os fanáticos à causa.

Os que se assumem humanistas, sentem-se devedores da humanidade, e se propõem a pagar essa dívida com o dinheiro dos outros, como disse G. Gordon Liddy. Os outros travestem-se de bonzinhos para conquistar espaços políticos aliando-se aos corruptos políticos, corruptos empresários e corruptos sindicalistas. Tal parceria rende-lhes posições nas estruturas do poder, que usam para miná-las. Isto fica transparente no engavetamento do projeto AntiCrime de Sérgio Moro na Câmara e o favorecimento ignóbil de alguns togados do STF à campanha do “Lula Livre”.

É indesmentível que o esquerdismo armou uma conjuração contra a Lava Jato no Congresso, no STF e, por oportunismo, de alguns membros do círculo presidencial, conchavando com conhecidos protagonistas do Legislativo e do Judiciário. Só não vê isto quem não quer, ou usa antolhos para não ver o envolvimento dos seus mitos.

Entretanto, queiram ou não os defensores de uma volta ao passado, o Brasil acordou; o povo continua reagindo contra os políticos corruptos, o crime organizado, os privilégios de minorias e o carreirismo dos oportunistas. Ouvimos isto nos trens, nos ônibus, nas filas de banco e dos supermercados.

Em comunhão com o povo, os patriotas precisam voltar às ruas e às praças neste momento crucial para o País. Vamos a um Verão Democrático para impedir a volta apocalíptica da pelegagem corrupta e do esquerdismo degenerado, narcopopulista e corrupto.

 

 

 

INCORREÇÃO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Se o homem falhar em conciliar a justiça e a liberdade, então falha em tudo” (Albert Camus)

Na época ingênua da minha infância os parques de diversão tinham uma Sala dos Espelhos, aonde a gente via a nossa imagem distorcida, gordíssima, magérrima, agigantada ou mirrada. É o que assistimos agora no cenário de insegurança jurídica criado pelo STF no caminho sinuoso da impunidade.

A Corte Suprema, dominada pelo Bando dos Quatro, abriu os portões das cadeias para os bandidos políticos de estimação e, em consequência, para criminosos de alto coturno, aqueles que podem pagar os advogados que conhecem as artimanhas dos togados.

Na antiga Grécia, nascedouro da Filosofia, o sábio Platão alertou que “o juiz não é nomeado para fazer favores com a Justiça, mas para julgar segundo as leis”. Como pensaria o sábio grego se vivesse atualmente no Brasil dos juízes nomeados para fazer favores? …

Em tempos passados, nos meados do século 18, Joseph-Marie de Maistre escritor, filósofo, diplomata e advogado escreveu: – “Posso dizer que nunca serei assassino, nunca hei de furtar; mas ninguém pode afirmar que nunca irá para a prisão”. Entre nós, esta observação se aplica ao cidadão comum, mas não aos que roubaram da Petrobras quantias suficientes para assegurar que o crime compensa.

Como a cabeça (de alguns) é um cofre que guarda pensamentos, os que refletem sobre a Justiça brasileira entendem que as últimas sentenças do STF foram lenientes e seletivas, satisfazendo os criminosos de colarinho branco e suas organizações criminosas.

Convencido que o destino do ser vivente é a morte (não é uma conclusão da ciência materialista, mas a Bíblia), vejo que este destino biológico dos homens não é admitido pelos imortais togados. Se aceitassem isto destinariam os seus nomes para o futuro, para os seus netos, ao inexorável julgamento dos seus contemporâneos.

O último ato dos ministros do STF contra a prisão de 2ª Instância, afronta a consciência nacional, porque foi sustentado por fraudulenta argumentação e a tentativa de iludir a Nação inventando salvaguardas constitucionais na sua incorreção.

Incorreção. Este substantivo feminino de pouco uso na linguagem corrente, vem do latim vulgar interpretando erro, imprecisão e inexatidão. Acho o seu uso literário melhor, “comportamento incorreto ou impróprio, desonestidade e deslealdade”.

Negar evidências criminosas, impedir investigações, interpretar as leis de acordo com os próprios interesses conspurcam um magistrado; as consequências das suas incorreções o levarão para o lixo da História.

O uso correto das palavras é para ser aplicado como defesa do nosso idioma, conforme Rui Barbosa alertou: “a degeneração de um povo, de uma nação ou raça, começa pelo desvirtuamento da própria língua”.

Seguindo esta lição, aponto a incorreção dos seis ministros do STF, Marco Aurélio Mello, Ricardo Lewandowski, Rosa Weber, Gilmar Mendes, Celso de Mello e Dias Toffoli, acusando-se de que terão o sangue dos brasileiros nas mãos, por ter estimulado a guerra civil que Lula, o criminoso solto por eles, está convocando.

Se lhes restasse um mínimo de patriotismo, se colocassem o Brasil acima dos interesses pessoais, poderiam pensar no que disse Juscelino Kubistchek: – “Costumo voltar atrás, sim. Não tenho compromisso com o erro”, e usar o título deste artigo do jeito como as imprensas oficiais fazem de vez em quando:

“Republicado por incorreção, tendo em vista erro na grafia do valor do instrumento contratual na publicação anterior. ” A admissão de um erro é um sinal de força e não uma confissão de fraqueza.

 

 

APARÊNCIA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“A mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta” (Caio Júlio César)

Não me lembro se já contei a história recolhida de um livro, cujo título e autor se perderam na memória, mas cujo conteúdo ficou inesquecível. Guardei-a “de cabeça”:

– Quando estavam sendo concluídas as obras da Catedral de Colônia, em 1880, o seu arquiteto, Ernst Friedrich Zwirner, mandou que um escultor que aplicasse melhor o polimento num dos demônios que se projetam nos nichos do teto.

– “Como poderão vê-lo daqui, a 50 metros de distância? ”, ponderou o artífice, que recebeu de pronto uma resposta transcendente:

– “Nós não construímos esta catedral para homens, mas para Deus. Por isso deve ser perfeita”.

A aparência deveria receber cuidados de todas as pessoas. Não da aparência física que o tempo desgasta, mas do que está além da percepção formal.  Segundo Platão, desse mundo das aparências sensíveis só se pode ter conhecimento verossímil ou provável, dada a sua natureza incerta e fugaz; o conhecimento racional que tem por objeto o ser”.

Como verbete dicionarizado, “Aparência” é um substantivo feminino de origem latina (apparentia.ae), aquilo que se mostra à primeira vista; exterioridade, aspecto; e/ou um fato contradiz todas as configurações, engano, ilusão.

Enganoso e ilusório é o poder político. O sábio Machado de Assis que não me canso de ler e reler, refere-se à aparência da politicagem dizendo que “não será difícil achar semelhança entre uma eleição e uma mágica; avultam em ambas as visualidades e tramoias”.

Vemos tristemente que o carreirismo, o egocentrismo e fraude são desvios morais que não se limitam aos poliqueiros no exercício dos seus mandatos. É verdade que a eleição é o começo de tudo na corrida pelo poder, mas há os que chegam lá sem precisar de votos e são os que mais criam conflitos na sociedade.

Estes, de autoridade questionável entre os cidadãos e cidadãs que não lhes outorgaram força moral com liberdade de escolha, ministros do Supremo Tribunal Federal parecem os personagens sinistros dos filmes de terror programados para o Halloween…

Destaca-se um deles levando-nos à locução “Vergonha Alheia” no que ocorreu entre o ministro Marco Aurélio Mello e a advogada Daniela Lima de Andrade Borges.

Ela iniciava a defesa oral de um processo com as palavras “… inclusive queria confessar aqui para vocês, que nessa causa se discute…” quando foi interrompida por Mello que, indignado, repreendeu-a rispidamente pela referência “vocês” e não “excelências” como manda a “liturgia”.

A personalidade psicopática deste senhor exige um tratamento médico. Ele se coloca no Olimpo, como se o STF metaforicamente fosse. Acredita ter a força sobre raios e trovões, como Zeus; e evocar tempestades e maremotos como Netuno…

Revoltante é que este devaneio efêmero de alguém que urina e defeca como todos os mortais, torna-se coletivo com o comportamento deformado dos seus colegas, despindo-se de toda dignidade ao abrir os portões dos presídios somente para soltar um bandido de estimação.

Estes usurpadores do Poder Judiciário não se acovardaram porque contam com apoio nos porões dos outros poderes republicanos, no Legislativo controlado pelos picaretas do Congresso Nacional e no Executivo, pela tibieza comprometida que transita nos corredores do Palácio do Planalto.

Vemos assim, na Catedral dos interesses nacionais, os demônios da prepotência de um ministro do STF, a ditadura do Judiciário e o silêncio cúmplice dos políticos cuja formação patriótica se resume a discursos demagógicos.

30 anos

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Papai Balzac, já dizia, / Paris inteira repetia, / “Balzac acertou na pinta, / Mulher só depois dos trinta” (Nássara e Wilson Batista)

Vou usar um clichê idiota, reconheço, mas não consegui encontrar outro: o “Mundo Livre” comemora no dia 9, os 30 anos da queda do Muro de Berlim, a sombria evocação que marca o poder e o fim da Era Stalinista.

A Alemanha, particularmente, festeja este aniversário trazendo vivos os horrores soterrados sobre os escombros do Muro, e as esperanças de um novo tempo de distensão, desarmamento e paz.

Embora estes anseios humanos não tenham sido totalmente realizados, a parte que cabe ao modelo democrático, seja liberal ou do chamado bem-estar social, experiências que a Europa tem vivido já vale a comemoração.

A memória coletiva, embora muitas vezes infiel, registra esta vitória, mesmo parcial, sobre a barbárie de um regime policialesco que dividiu o mundo por 28 anos, suprimindo a liberdade, dividindo famílias e impedindo o progresso. A celebração nos leva a este capítulo da História, magistralmente descrito no livro “Muro de Berlim – Um Mundo Dividido” de Frederick Taylor.

Gosto muito de dizer que a História como as cartas do baralho cigano, não mente, e mostra que os berlinenses e os alemães em geral foram abandonados pelos Estados Unidos, Reino Unido e França, sem que seus líderes, Kennedy, Macmillan e De Gaulle se dispusesse a pagar para ver o jogo nuclear na chamada “guerra fria”.

E no resto dessa narrativa é de assinalar que a derrubada do Muro deu início à dissolução do chamado “socialismo real” e a morte da União Soviética, que deixaram herdeiros psicopáticos e viúvas psicossociais do stalinismo que nesses 30 anos, assexuadas, sem comparação com a graça das mulheres de 30 anos de Balzac…

“La Femme de Trente Ans”, romance escrito no século XIX, descreve o amor entre os Carlos de Vandenesse e Julia d’Aiglemont, ambos com 30 anos que se apaixonam perdidamente. Balzac sustenta que a mulher se supera ao passar desta idade tornando-se “sete ou oito vezes mais interessante, sedutora e irresistível”.

Os excelentes compositores Antônio Nássara e Wilson Batista lançaram no carnaval de 1950 a antológica marchinha “Balzaquiana” interpretada por Jorge Goulart. A música estourou e patenteou mundialmente para os foliões brasileiros a expressão “balzaquiana”.

Este neologismo não se aplica de jeito nenhum às horríveis viúvas do Muro de Berlim, seduzidas diabolicamente pela fantasia de uma propaganda massiva, cujos restos ainda se vêem em algumas colunas de jornais e revistas e inúmeros blogs.

Balzac, além de romancista, foi um pensador político. É dele a notável reflexão, que deve ser observada pelos políticos brasileiros: “As leis são teias de aranha pelas quais as moscas grandes passam e as pequenas ficam presas”.

É dos políticos, os que se sentam no Congresso teoricamente para legislar, que gostaríamos de ver atenção para o aprimoramento das antigas e a elaboração de novas leis em benefício da Nação.

Ao contrário disso, deputados cegam para a iniciativa louvável do ministro Sérgio Moro para combater a bandidagem com o seu Pacote AntiCrime. “Cegar” é bondade minha, recordando a queda do Muro e romantizado após relembrar os tempos em que adolescente cantei: “Não quero broto, não quero, / Não quero não, / Não sou garoto/ Prá viver mais de ilusão, / Sete dias da semana/ Eu preciso ver, / Minha balzaquiana…”.