Arquivo do mês: outubro 2021

RETRATO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“A Democracia deve correr certos riscos, se quiser ser digna desse nome”. (Osvaldo Peralva)

A epígrafe que complementa este artigo foi tirada do livro “O Retrato” do jornalista Osvaldo Peralva, uma leitura necessária para quem quer estudar a história negativa do comunismo no Brasil que a idiotia anticomunista da “direita conservadora bolsonarista” é incapaz de alcançar com a sua real visão neonazista.

Peralva publicou em 1960 o seu esclarecedor livro sobre o stalinismo em pleno conflito político-ideológico entre os EUA e a URSS, conhecido como a “Guerra Fria”, que terminou com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e a derrocada do sistema soviético.

A apresentação das críticas e denúncias do Jornalista, são de um observador e ativista que viveu o interior da organização comunista internacional. É uma reportagem de excelente qualidade, cujo enfeixe traz, já naquele tempo, o alerta: “A Democracia deve correr certos riscos, se quiser ser digna desse nome”.

Nos dias de hoje constatamos a importância do sobreaviso de Peralva. Assiste-se no mundo inteiro sinais do ressurgimento do nazi-fascismo e, entre nós, é revoltante se ver este fenômeno surgir no Brasil, governado por psicótico obsessivo que recebeu no palácio presidencial uma deputada neonazista alemã, neta de um ministro de Hitler.

Assisti a pouco o documentário dirigido e comentado por Joachim Fest – “Hitler, uma carreira” -, que apesar de omissões históricas e visível lenidade oferece cenas reais da ascensão do nazismo na Alemanha, das agressões militares contra as democracias, dos campos de concentração e dos 50 milhões de mortos.

Entre trechos dos discursos de Hitler, não foram mostrados censuravelmente aqueles em que ele determina a “solução final”, a morte de eslavos, judeus, ciganos e homossexuais; nem a ordem execrável para que Paris fosse incendiada.

Isto ficando claro, não sei por qual doença mental existem pessoas que aceitam e respaldam as aberrações das SS e da Gestapo, das prisões, torturas e mortes de pessoas indefesas; mas que as há, há.

Poucos dias atrás tivemos a notícia de uma jovem estudante da Universidade de Pelotas, que comemorando o seu 24º aniversário teve o “Bolo de Hitler”, com o retrato do abominável führer nazista fardado e ostentando a suástica.

A mídia informou que essa mensagem nas redes sociais foi apagada após compartilhar a intolerável mostra da simpatia ao nazismo de uma saudosista da Bund Deutscher Mädel, a “Liga das Moças Alemãs”, defensoras da morte de quem não fosse da raça superior.

A sua defesa – própria do chicanismo fascistóide – já ensaia em dizer que foi uma brincadeira para sacanear os colegas, e que a moça tem atitudes inconstantes…. Na verdade, não foi um divertimento nem uma piada o bolo festivo com o retrato oficial de Hitler em uniforme militar.

Mais do que tristeza, é criminosamente repelente a gente saber que não se trata de um caso isolado. Tivemos no Rio Grande do Sul uma demonstração inequívoca de apoio aos crimes contra a humanidade de Hitler e seus asseclas: um grupo contra o passaporte vacinal invadiu a Câmara de Vereadores de Porto Alegre que apreciava um projeto para evitar as contaminações pela covid-19.

Estes ativistas portavam cartazes com a suástica, símbolo de “identidade ariana”, xingando as vereadoras negras, Tássia Amorim e Bruna Rodrigues; eles são, sem dúvida, membros da nova Hitlerjugend, a juventude hitlerista ressurgida no Brasil para apoiar o genocídio das pessoas condenadas à morte pela política necrófila do capitão Bolsonaro.

Vê-se, dessa maneira, o retrato em grande angular do Brasil de hoje. A marcha a passo de ganso dos extremistas da direita contra a nossa Democracia, alguns deles usando a máscara de “conservador”, mas todos agindo livres e confiantes sob o comando invisível e estratégico do aprendiz de ditador Bolsonaro e sua Schutzstaffel – guarda de proteção -, formada por candidatos a guardas de campos de concentração.

EXEMPLOS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“O exemplo é a escola da humanidade e só nela os homens poderão aprender. ” (Edmund Burke)

Como observador da vida, mais científico do que filosófico, Einstein escreveu que “o exemplo não é uma maneira de ensinar, é a única maneira de ensinar”. Esta afirmação nos leva a pesquisar e avaliar o peso do exemplo como avaliação de honestidade.

O verbete “Exemplo” é um substantivo masculino de origem latina, “exemplum,i”,  ‘cópia, reprodução, traslado’. Dicionários citam Exemplo como uma frase ou palavra usada como reforço à uma definição, o que pode ou deve ser imitado. Modelo.

Para valorizar um exemplo capaz de influenciar pessoas levando-as a adotar a cultura da honestidade e conquistar a confiança dos que o cercam, leva-nos à milenar sabedoria árabe e sua notável coleção de contos na joia da literatura oriental, as “Mil e Uma Noites”.

Uma das proverbiais histórias ali encontradas narra a passagem de um príncipe que para suceder ao sultão, seu pai, deveria estar casado. Como uma rainha não pode ser qualquer uma, e além da beleza e da virtude deve ser educada, formava-se uma comissão de notáveis para selecionar mulheres e submete-las à aprovação do futuro rei.

Escolhidas em diversas províncias, seis jovens foram levadas ao palácio real, onde receberam presentes e a oportunidade de indicar alguém de sua vontade para compor o conselho real.  Cinco delas aceitaram as joias oferecidas e indicaram nomes para o importante cargo junto ao trono; uma delas, porém, se recusou a receber os regalos oferecidos e negou-se a gozar o privilégio de designar um conselheiro do reino.

A rebeldia da moça causou estranheza dos cortesões e irritou o Príncipe que a condenou ao degredo; mas antes exigiu-lhe que dissesse qual o motivo de desprezar os antigos costumes enjeitando os presentes e declinando da escolha do conselheiro. Já estando presa pelos eunucos, ela levantou a cabeça com altivez e disse: – “Fiz, meu Senhor, aquilo que deve ser o exemplo para a sua futura esposa: rejeitei as ofertas para não ficar em dívida com alguém, e jamais indicaria um conselheiro sem antes combinar com o meu marido”.

Diante disto, o Príncipe ordenou que os guardas soltassem a pretendente e levassem as outras candidatas de volta para suas casas. Sentiu no seu íntimo a sabedoria e a honestidade daquela que deveria ser a sua consorte e mãe dos seus filhos….

Este conto reflete no espelho do exemplo de quem deve ser a esposa de um governante e me parece que muitas pelo mundo afora nem freiam seus maridos e algumas até participam em prováveis corridas para o mal.

Agora mesmo nas investigações publicadas pelos “Pandora Papers”, encontramos oito chefes de Estado e de Governo; e para nos revoltar, os dois homens que controlam a nossa economia, Paulo Guedes e Roberto Campos Neto estãona lista…. O capitão Bolsonaro, com mentalidade de baixo clero, não está, se conforma com as “rachadinhas”.

É riquíssima a sinonímia de Exemplo. Arquétipo, bitola, cânone, espelho, molde, modelo, padrão e paradigma. Quando estudamos a História do Brasil e nos preocupamos com o futuro da nossa Pátria, projetamos o exemplo que acumulamos ao longo do tempo; e vemos que infelizmente a chamada “classe política” nada aprendeu com o passado.

E o grande Confúcio deixou a todos nós uma inolvidável lição:  “Quando encontramos pessoas de valor, devemos pensar em como podemos ser iguais a elas. Quando, ao contrário, encontramos pessoas sem caráter, devemos nos voltar para o nosso interior e examinar o que se passa lá dentro”.

Ao ocupar o poder, a melhor maneira de um governante disciplinar e conduzir uma Nação é pelo exemplo pessoal. No Brasil, tristemente, ele não recebe (ou recusa) conselhos na passagem nesta maligna pandemia: tornou-se um indivíduo cuja mente é bi polarizada entre a imaturidade e a obsessão psicopática.

O exemplo do capitão Bolsonaro é negativo: imprime insegurança ao subestimar o perigo letal do novo coronavírus, desdenhando dos cuidados para evita-lo e negando a imunização pela vacina. Preferiu acolher drogas e tratamentos ineficazes, baixando como um espírito do mal no terreiro do curandeirismo, dos feijões mágicos e dos intermediários da Morte.

E o pior de tudo: o negacionismo lucrativo acobertou vigaristas no Ministério da Saúde.

ALGORÍTIMO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Nada há que seja verdadeiramente livre nem suficientemente democrático. Não tenhamos ilusões, a internet não veio para salvar o mundo” (José Saramago)

Nos dias de hoje, em que assistimos uma sequência de ondas espumando tendências para tudo, arte, linguagem, literatura, política, e até vícios, deixando para trás a moda que era só o vestuário com sua presença vulcânica no cinema.

A moda nasceu dos costumes de vestir-se no dia-a-dia, diferenciando as roupas de casa e da rua, alimentando a criatividade e a escolha de desenhos e cores que atraía multidões, enriquecia costureiros, e estimulava o jeito de se pentear, se maquiar e se comportar.

Hoje é protagonista nas orientações publicitárias e na aceitação das pessoas pela influência da tecnologia nos meios de comunicação. A atualidade sócio-política estendeu a moda para além das celebridades, que embora ainda cativem muita gente, perdem-se entre os milhões de usuários das redes sociais.

O que entra na moda agora são as novidades que a Internet trás. Vão da terminologia até a importância do algoritmo, uma palavra e um conceito que estão em todos os meios e conversas de bar, como eram antigamente os filmes de Ingmar Bergman e Almodóvar….

Algoritmo virou mania em alguns círculos, aconselhado para ser aplicado em todos níveis das atividades humanas, seja para conquistar uma posição no trabalho, ou atuações políticas e sociais, e até na cozinha e no trato dos animais domésticos….

Para muitos, parece uma coisa nova, mas não é. Trata-se do estímulo ao raciocínio, a busca sistemática de instruções ou operações para alcançar um objetivo, limitando-se a dados concretos.

Não sei como é o ensino atual no curso que no meu tempo se chamava Ginásio; só sei que há 80 anos já aplicávamos o algoritmo nos cálculos matemáticos e na minha paixão que era a geometria. Trago até hoje decorado o enunciado do Teorema de Pitágoras: “Nos triângulos retângulos, o quadrado do comprimento da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos comprimentos dos catetos”. Meus contemporâneos lembram?

Pois está aí o algoritmo. Esta relação matemática entre o comprimento dos lados de um triângulo retângulo é um algoritmo puro, um nome antiquíssimo que vem do árabe, um antropônimo do matemático Al-Huuarizmi, que chegou ao latim vulgar como “algorismus” ou “algorithmus”.

Chegando à Informática, compreende o conjunto de regras e operações bem definidas e não ambíguas, que, aplicadas aos dados coletados num número finito de etapas, solucionam o problema apresentado.

Dessa maneira, como vimos acima, uma imensa parte da população global está vinculada à tecnologia da informação e sabe as ferramentas da web, smartphones, computadores, smart, TVs e tablets funcionam com sistemas baseados em algoritmos.

Eis que de repente toda a evolução tecnológica caiu no mundo inteiro exigindo mais do que comandos seguros, mas principalmente explicações do porquê ficarem fora do ar os serviços do Facebook, sejam WhatsApp, Facebook e Instagram.

Foram ruidosas as reclamações pela indisponibilidade do Instagram, mas não superaram o desespero dos usuários do WhatsApp, o aplicativo de troca de mensagens via celular, que é o maior veículo das fake news. No Brasil, deixou desesperados os negativistas aliados do coronavírus, incapacitados de disseminar notícias falsas sobre a vacinação.

Mas não faz mal: diferentemente das redes atingidas pelo apagão, o Twitter não usa exclusivamente o algoritmo para determinar o feed e foi mantido disponibilizando o acesso e a informação.

Assim, os tuiteiros, críticos independentes dos defensores da política necrófila do capitão Bolsonaro, se alegraram com o silenciamento por seis horas sem precisar desmentir as suas contumazes mentiras do bando de Carluxo….

 

VALOR

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Quem não conhece o valor das palavras não saberá conhecer os homens” (Confúcio)

Enquanto o povão, eu, tu, nós e eles, gasta a palavra valor como custo para regatear preços na feira ou para elogiar heróis históricos ou imaginários, conferindo-lhe bravura, coragem e valentia, os alunos dos primeiros anos de Economia quebram a cabeça para compreendê-lo.

Antes de chegar na Universidade, os jovens conheceram apenas a palavra pela sabedoria popular com o provérbio “só percebemos o valor da água depois que a fonte seca”; e refletida poeticamente com o verso – “Mulher, fostes o copo d’ água que eu bebi no deserto”. (Parece-me que é do poeta paraibano Raymundo Asfora).

Quando cursei a Faculdade de Economia descobri que a melhor definição de Valor está no popular livro de Daniel Defoe, publicado em 1719, trazendo a história romanceada do jovem Robinson Crusoé, que naufraga e vai parar numa ilha deserta, desconhecida e selvagem.

Ao dar-se conta da situação em que se encontra, o náufrago se angustia e vai se desesperando quando a maré atira às pedras da praia o navio desmastreado em que viajava, e nele encontra açúcar, armas, barris de rum, biscoitos, fumo, pólvora e diversas ferramentas e utensílios de cozinha, que leva à terra e vão ajudá-lo a sobreviver sete anos….

Neste capítulo vem a lição de Valor: Robinson acha na cabine do comandante, mapas, navalhas, facas e tesouras que recolhe com alegria; e, num cofre, descobre um maço de títulos bancários e muitas moedas de ouro e prata; despreza-os, falando de si para si: – “O diabo que carregue estes cheques e o vil metal que de nada me servirá”.

Está nesta exclamação a definição da teoria do valor de uso e do valor de troca criada pelo principal representante do liberalismo econômico, Adam Smith; uma teoria econômica surgida no século XVIII, que compôs mais tarde o conceito de Marx que “na sua forma natural uma coisa de valor de uso é portadora do valor de troca contido nela”.

O verbete “Valor” dicionarizado é um substantivo masculino de etimologia latina, (valor,oris), significando o quanto vale uma pessoa ou coisa qualquer. Outros preceitos vão de preço a atributos pessoais e até a duração de uma nota musical.

A ciência econômica que explica a produção, distribuição, acumulação e consumo de bens materiais, estuda a movimentação de títulos de renda, ações, obrigações, letras de câmbio, etc., representando seu valor em dinheiro.

Quando se trata do Estado, temos a macroeconomia, divisão da ciência econômica que abrange a economia regional ou nacional, visando basicamente a contenção ou moderação nos gastos, orientando os governos a não esbanjar recursos nos serviços da administração pública.

Com vistas à cidadania, encontramos os valores morais que estabelecem princípios de comportamento dos indivíduos e a interação social e política de cada um. Estas normas classificam as pessoas como “certas” ou “erradas” na sua participação comunitária e na própria vida pessoal.

É quando se torna fundamental esclarecer até onde vão as liberdades individuais tão decantadas politicamente. Será, por exemplo, que devemos respeitar como “liberdade de expressão” um discurso que investe contra a saúde de outrem, a farsa que é usada em defesa do estúpido negativismo?

Este é o comportamento desvalorizado do capitão Bolsonaro e dos seus seguidores, criando argumentos adversos às defesas contra o vírus, condenando o uso de máscaras, ignorando o mal das aglomerações e negando-se a tomar vacinas; ignoram que isto de nada servirá para eles e muito menos para nós. Não têm valor humanitário.

O arquiteto da linguagem Fernando Sabino adorna a palavra Valor lembrando que “o valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem”. É o que se vê na Era da Negação implantada pelo bolsonarismo em nome de uma religião mal compreendida.

… E vai durar muito, chegará aos futuros livros de História a condenável política necrófila repudiada por 73% dos cidadãos e cidadãs que despem de qualquer valor o negativismo  que condenou ao genocídio de 600 mil brasileiros.