Arquivo do mês: fevereiro 2022
SEI LÁ, NÃO SEI…
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
“A vida não é só isso que se vê/ É um pouco mais/ Sei lá não sei…/ Sei lá não sei…” (Paulinho da Viola)
Conta-se no anedotário político a história do parlamentar mineiro que em declaração de voto disse que não era a favor, nem contra, muito pelo contrário…. E também das Alterosas o registro histórico autêntico, da antológica frase de Magalhães Pinto, quando perguntado sobre uma mudança de posição: – “A política é como uma nuvem, você olha, ela está de um jeito; olha de novo, ela já mudou…”
Magalhães Pinto, velha raposa política, viveu na Câmara Federal a crise nascida com a renúncia de Jânio Quadros e a tentativa golpista de impedir a posse de João Goulart, legitimamente eleito vice-presidente da República e que estava fora do Brasil em missão oficial na China.
Foi de Magalhães Pinto a ideia do Congresso promulgar a Emenda Constitucional do Parlamentarismo permitindo a posse de Jango no dia 7 de setembro de 1961. Daí em diante, como presidente da UDN, assumiu a liderança de uma ferrenha oposição ao governo trabalhista que culminou com o golpe militar de 1964.
As inconstâncias observadas no comportamento dos políticos são incompatíveis nos meios científicos; nestes, os estudos e pesquisas exigem uma materialidade tangível para atingir resultados positivos.
Lembro, embora esqueça a fonte, um pensamento de Claude Bernard recomendando aos cientistas que “ao entrar no laboratório, devem guardar no armário, além dos pertences, a sua imaginação…”
É isto, na minha opinião. Os devaneios e presunções não têm lugar aonde se pretende apurar, inquirir e investigar prospectando dados para cumprir um objetivo e solucionar problemas. Foi o que se viu na corrida louca para enfrentar a pandemia do novo coronavírus, no afã de descobrir remédios para combater o vírus e criar vacinas.
Enquanto isto ocorria nos laboratórios do mundo inteiro, as nuvens mutáveis que correm nos céus da política deram forma à ideologia retorcida do negativismo da Ciência.
Foi o que se viu nos Estados Unidos da América com Donald Trump na presidência e no Brasil, por espirito de imitação, com o capitão Bolsonaro. A partir daí, grassou o fundamentalismo no mundo deles, aonde há quem acredite que a Terra é plana, apesar das fotografias tiradas do espaço.
Um materialista do século 18 escreveu que ao expulsar Adão do Jardim do Éden, Deus enxertou-lhe no cérebro a alienação e a razão…. Creio que pensou dotar o renegado do Paraíso com fundamentos de reflexão, crítica e criação, mas, ao mesmo tempo ficar indiferente com quem se sentir prejudicado pelo seu poder.
Se esta idílica concepção é verdadeira ou não, vale a pena garimpar exemplos na bateia da Ciência. A busca esbarra, porém, nos que negam Darwin, Pasteur e Einstein; e esta insanidade obscurantista atinge PHDs de todos os doutorados, os que se excitam vendo Jesus em galhos de árvore, devotos de Nostradamus e os abduzidos por discos voadores.
Assim, não é por acaso que saem dos tubos de ensaio e provetas do laboratório do negativismo as drogas que enuviam o processo mental dos que se prendem ao culto da personalidade de políticos e ao fanatismo religioso. É pela alucinação que funcionam as algemas da ignorância.
Biruta ao sabor dos ventos da improvisação, o capitão Bolsonaro orienta a sua tropa (ou seria trupe?) de alienados do cercadinho acendendo uma vela a Deus e outra ao Diabo. Na Rússia, homenageia os soldados soviéticos do Exército Vermelho caídos na guerra contra o nazismo que ele tanto admira; e na Hungria fascistóide, se assume citando Mussolini com o slogan hipócrita, “Deus, Pátria e Família”.
O que fazer diante desta ensandecida situação que o Brasil atravessa? “Ouvir e obedecer” como fazem os bonzos do gabinete do ódio ou resistir à insensatez que nos envergonha e revolta. A vida não é só isto que se vê; da minha parte vejo muito mais e sei: não tenho dúvidas….
GAZPACHO
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
“Essa história de confusão mental é típica dos reacionários, que acham necessário ter ideias claras sobre tudo, interpretar tudo de modo racional, sem precisar duvidar de nada” (Frederico Fellini)
Marjorie Taylor Greene, deputada norte-americana que coleciona polêmicas na política dos Estados Unidos pelo extremismo negacionista, virou piada nas redes sociais ao confundir o nome da polícia secreta da Alemanha Nazista, a Gestapo, com o nome de um prato tipicamente espanhol, o Gazpacho.
Essa troca de nomes ocorreu num programa One America News onde Greene era entrevistada defendendo a invasão ao Capitólio; e, ao fazer uma crítica à presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, disse que ela “que mantém uma ‘Polícia de Gazpacho’, embaraçando os nomes.
Um capítulo negro da História Universal registra que a Gestapo foi a polícia secreta oficial da Alemanha Nazista, criada em 1933 por Hermann Göring que reuniu várias agências de polícia. A tenebrosa “Geheime Staatspolizei” passou a ser chefiada em 1936 pelo assassino e torturador Heinrich Himmler, do círculo íntimo de Hitler.
A Gestapo realizou a maioria dos assassinatos dos opositores ao regime nazista e, controlando os campos de concentração, foi responsável pelo genocídio de eslavos, judeus, ciganos, testemunhas de Jeová e homossexuais.
Somente uma mente doentia poderá confundir essa figura horrenda mantida pelo nazismo com o Gazpacho, iguaria espanhola apreciada pelos gastrônomos do mundo inteiro. Trata-se de uma sopa de tomate (pode ser servida fria ou quente) temperada com alho, cebola, vinagre e, principalmente, azeite; é acompanhada com croutons de frigideira…
Reclama-se por se levar para zombaria e rebaixamento intelectual os radicais da extrema direita, esses que encontramos nas redes sociais divulgando falsos profetas para envenenar as fracas mentes aptas ao misticismo.
Investidos pela vaidade de amealhar cultura livresca, esses abstrusos e confusos divulgadores de Nostradamus e de infinitas mensagens diversionistas pessoais, julgando que convencem ter “independência política”; imprimem, na verdade, a marca das simpatias pelo totalitarismo, como um gato escondido com o rabo de fora….
Infelizmente eles aparecem como “especialistas” em mistificação. Estão sempre presentes nas redes sociais, mas são desmascarados por não verem disparidade no culto à personalidade do capitão Bolsonaro a disparidade entre os dedos e os anéis.
“Especialista é alguém que lhe diz uma coisa simples de maneira confusa, de tal forma a fazer você pensar que a confusão é culpa sua”, disse alguém de quem esqueci o nome e me desculpo repetindo o seu pensamento, completando-o com Dorothy Parker: – “… não são as tragédias que nos matam, são as confusões”.
A confusão é plantada pelos pastores evangélicos politiqueiros que não distinguem a diferença entre a religião e os falsos profetas, nem entre a crença e os fiéis, e, muito menos, entre o Gazpacho e a Gestapo. Quem os desmascara é o autêntico Martin Luther King, que num dos seus brilhantes sermões disse que “a religião mal-entendida é uma febre que pode terminar em delírio”.
Quanto aos outros, direitistas de oportunidade, surfam desengonçados nas ondas do populismo. É fácil encontrá-los no pântano da fraude e da mentira vigentes na Era Bolsonaro, onde há muitos a comandar e distorcer os conceitos de conservadorismo e honestidade.
O conservador não é insuficiente nas ideias de Justiça, Ordem e Progresso, nem se alia a trapaceiros; é por isso que não entendo que pessoas educadas não repudiem aqueles que criam estas confusões. Se honestos, penso, por exemplo, ser-lhes impossível apoiar o Governo Bolsonaro na política anti-vacina, aliada do vírus letal.
Da minha parte, sigo combatendo a necrofilia bolsonarista; e sinto-me compensado porque não estou só. Somos milhões os que nos sobrepomos ao redemoinho dos distúrbios do negativismo, colocando-nos acima da ignorância obscurantista.
BRIOCHES
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
“A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”. (Karl Marx)
É um privilégio ser casado com uma mulher conhecedora dos mistérios da padaria. É o meu caso; em casa, no cafezinho da tarde temos sempre novidades, principalmente receitas francesas…. Apreciamos Brioche, Croissant e Madeleine…. O primeiro é famoso; o Brioche entrou na História Universal como uma das causas da Revolução Francesa….
Trata-se de um pão de origem muito antiga; e, segundo o receituário, é feito com massa leve, fermentada, com alto teor de manteiga e ovos; a sua apresentação é atraente pela crosta dourada escura e escamosa, com o brilho acentuado pela aplicação de claras após a correção.
Como o Brioche entrou para a História? Segundo muitos historiadores franceses, presos ao anedotário popular, o gostoso pãozinho envolveu a rainha Maria Antonieta, de notória ingenuidade. Diz-se que assustada com a multidão que se aglomerava nos portões de Versalhes, perguntou a razão do povo parisiense estar revoltado.
– “É por que não têm pão para comer… ”, informou um dos cortesãos; ao que a princesa austríaca retrucou: – “Se as pessoas têm fome e não tem pão, que comam brioche”.
Talvez essa historieta confirme o alheamento simbólico dos ocupantes do poder com relação às revoltas populares. Pode até ser falsa, criada por um marqueteiro revolucionário à época, mas se materializou.
Futuramente, no Brasil, quem sabe, entre para História a narrativa picaresca do capitão Bolsonaro, que abstraído na sua obsessão negacionista procure saber o motivo das críticas que recebe dos cientistas e médicos pela falta de vacinas e insumos contra a pandemia do novo coronavírus.
E o com a amoralidade que nem o Exército aguentou, o Capitão achegue-se ao “cercadinho” e exclame – “Se não tem vacinas, deem Cloroquina, Hidroxicloroquina e Invermectina…”
Esta continuada ausência de princípios morais ofende a opinião pública e causa revoltas. E tornou-se tão ruim que somente os autoproclamados “direitistas” – na verdade apenas fanáticos bolsonaristas – aplaudem.
O resultado dessa “melódia” – a proclamada farsa presidencial – repete-se agora comp farsa a volta da corrupção lulopetista à cena política, com suspeitas pesquisas mostrando a liderança do corrupto Lula, condenado em três instâncias judiciais e livre pelo duvidoso garantismo judicial.
Invertendo para a tragédia vê-se que o retorno do corrupto lulopetismo é fruto das rachadinhas e dos não explicados cheques de Fabrício Queiroz, que levaram Bolsonaro a sabotar a Lava Jato e favorecer medidas jurídicas para garantir a polarização eleitoral….
Temos também a volta das propinas, conhecidas como “comissionamentos”, nas transações do Ministério da Saúde bolsonarista como comprovou a CPI da Covid, apontando a frustrada transação da vacina Covaxin, abortada pela denúncia do deputado Luiz Miranda.
O paralelismo dos populistas de direita e esquerda convergiu para o “bolsopetismo”, a fusão de ambos para o irrefreável mergulho no pântano da polarização. Mesmo enlameados, mantém o controle de 40 % do eleitorado oportunista e cúmplice. Daí a imoral e criminosa disputa midiática.
Nestas artimanhas, lembremos o pensamento de Michel de Montaigne – “Quantas coisas, que ontem eram artigos de fé, são hoje meras fábulas”…. Em 2018, muitos acreditaram na honestidade de Bolsonaro, desconhecendo os cambalachos das ligações familiares com milicianos e a prática de “rachadinhas”; viu-se apenas a luta da Lava Jato combatendo a roubalheira lulopetista na Petrobras e as propinas auferidas por Lula & Família.
Quem decide praticar o mal, encontra sempre um pretexto. E como todos sabem – até mesmo os fanáticos cultuadores de personalidades -, não se deve ignorar a verdade factual; é impossível ser ignorada e, por isto, quem a conhece e diz que é mentira, é criminoso.
EDUCAÇÃO
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
“O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele” (Immanuel Kant)
Já é a terceira ou quarta vez que abordo este tema desde que iniciei a publicação de artigos pelo Blog. Faço-o agora pela necessidade de reciclá-lo em virtude de um fato que ocorreu semana passada quando acompanhei a minha mulher no hospital aonde se submeteu a um procedimento médico.
Enquanto esperávamos a autorização do Plano de Saúde (cuja burocracia é revoltante no nosso caso, pela Unimed) os assentos na sala de espera estavam ocupados; o porteiro amavelmente me ofereceu a sua cadeira defronte da entrada.
Dali passei a observar as idas e vindas de funcionários, pacientes e visitantes. O jovem atendente abria a porta para todos, que o agradeciam com palavras, meneios de cabeça ou gesticulação simpática.
Então chegou um cidadão de jaleco com identificação “dr. fulano-de-tal”; homem de meia idade, corado e bem fornido como aqueles personal trainer da propaganda televisiva. O porteiro abriu a porta e ele adentrou sem sequer olhar para o atendente e voltou alguns minutos depois com o mesmo comportamento deplorável.
Esse “doutor” é o tipo que não recebeu educação nem aprendeu com os pais e professores que “bom dia”, “obrigado” e “por favor”, não custam nada, pode-se gastar à vontade…. Aquele indivíduo a quem minha mãe chamava “filho de chocadeira”….
É quando entra o entendimento do que é Educação. Muito mais do que a simples ministração cultural acumulada por gerações; é a práxis da polidez, que a sabedoria popular ensina que se deve tratar os outros como gostaria de ser tratado…
Indo aos dicionários, encontramos o substantivo feminino Educação de etimologia latina (educatio, -onis) derivada do verbo (educare), que contém a ideia de conduzir às normas do trato social.
O verbo educar significa instruir sobre a importância da capacidade intelectual, moral e física da pessoa humana, um aprendizado que é necessário ao desenvolvimento da personalidade.
A transmissão do saber é relativamente ampla em todos os níveis escolares presenciais, além do acesso aos conteúdos educacionais disponíveis na rede mundial de computadores, o chamado “on-line learning”.
O estudo exige disciplina, método e reflexão. Quatro mil anos se passaram da época em que Confúcio ensinava que “aprender sem refletir é desperdiçar a energia”; o que nos leva a ver a didática requerendo dos educadores atenção, experiência e principalmente boa formação intelectual.
Trata-se de um investimento para o futuro como alertou Pitágoras ao ensinar que “eduquem as crianças e não será necessário castigar os homens”. E não são poucos homens e mulheres que merecem castigo pelo despreparo, incompetência e ignorância.
Sofremos no Brasil com isto ao assistir a falta de educação cívica dos governantes no enfrentamento da epidemia do novo coronavírus. Restam poucos e realçam mais os mercenários do que os iludidos, entre os que apoiam a diabólica procrastinação e até a estúpida desconfiança sobre a vacinação infantil.
No meio desses acompanhantes do negativismo, há alguns auto-assumidos “monarquistas”, grosseiros seguidores do capitão Bolsonaro – o presidente necrófilo, que deu “boas vindas” à variante “ômicron”.
São “monarquistas” que desconhecem a brilhante figura do imperador Pedro II, cuja cultura humanista nos deixou a bela alocução: “Se eu não fosse imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro”.
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