DO JORNALISMO
MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)
“Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data” (Millôr)
Com uma breve História do Jornalismo, tento chegar ao que fazem hoje em dia os jornalistas mundo afora e particularmente no Brasil. Tenho credenciais para fazê-lo porque nos meus 91 anos exerço a feitura de jornais a mais de 70 anos….
Comecei criança com dez ou 11 anos, junto com a minha irmã Lúcia, já falecida, e com a ajuda da nossa mãe; fazíamos um jornalzinho manuscrito que circulava nos 48 apartamentos do edifício em que morávamos. Chamava-se “Folha da Glória”.
Depois editei periódico datilografado no colégio e, na escola técnica, por um mimeografo a álcool. Na faculdade, um avanço; usei o mimeógrafo elétrico…. Quando fui trabalhar em jornais, exerci a composição tipográfica e cheguei ao offset.
O jornal é um veículo de informação. Os manuscritos vêm de tempos muito antigos. Registra-se o primeiro no Ocidente criado por Júlio César (100 – 44 a.C), “Acta Diurna”, circulando 12 exemplares, distribuídos um a um para o Senado e para os governos provinciais.
Em 713 d.C., circulou em Pequim (China), um boletim intitulado Kayuan e mais tarde, também na China, circulava entre 713 e 734 já composto em tipos de madeira o Kaiyuan Za Bao (Boletim da Corte) da Dinastia Tang.
Os tipos chineses de madeira chegaram na Europa no século 15 do Calendário Gregoriano como uma “invenção” de Johann Gutenberg, moldados em chumbo e cobertos levemente de tinta, eram repassados numa prensa de madeira e impressos em papel.
Como anteriormente tudo era escrito à mão, exigia-se o trabalho de escribas caligráficos profissionais, levando uma enormidade de tempo. Na época, a maior biblioteca inglesa, da Universidade de Cambridge, possuía apenas 122 livros.
Pela técnica gutemberguiana de impressão foram editadas em menos de um mês cerca de cem bíblias com exemplares que ainda existem; um deles encontra-se na Biblioteca do Congresso em Washington.
Imagine-se a revolução abrangente que ocorreu. Iniciou-se uma nova realidade com os jornais de grande tiragem atendendo à economia, política e religião. Registra-se como primeiro jornal impresso o “Relation aller Fürnemmen und gedenckwürdigen Historien” editado por Johann Carolus, em 1605, circulando em Estrasburgo.
Daí em diante a imprensa escrita se firmou como um meio majestático da informação, mas entrou em decadência e a sua importância caiu devido às novas tecnologias, rádio, televisão e internet. Em virtude deste definhamento, o jornalismo ganhou novas formas de expressão.
Entre os atributos de atração da imprensa escrita pelo talento de jornalistas vocacionados, amadores e profissionais, tínhamos o jornalismo investigativo, que persiste em pequena escala nas ondas do rádio e praticamente inexistente na Televisão, salvo em alguns poucos programas.
A reportagem especializada não se limitava a desvendar crimes e fatos escabrosos, mas principalmente trazia à luz o que o poder político queria esconder. Os exemplos mais notáveis da investigação jornalística estão registrados com a publicação pelo jornal francês “L’Aurore” do “Acuso”, de Emile Zola, no século 19; e mais recentemente com o caso Watergate divulgado pelo Washington Post.
Hoje constatamos a derrocada dos jornais impressos que leva com isto a queda da qualidade do jornalismo tradicional, e perde a importância que possuía até o século passado.
… E quando o jornalismo foi levado para os veículos auditivos e visuais, perdeu a magia que atraía os antigos leitores. A leveza do texto e a confiança depositada no jornal foram trocadas pela linguagem direta do deboche, da galhofa e a conversão da veracidade do fato pelo sensacionalismo.
Na telinha, desapareceu a reportagem que descobria fatos ocultos e os levava ao conhecimento público. A principal rede de televisão brasileira, o Sistema Globo, tem somente uma meia dúzia de três ou quatro repórteres “amestrados”, para dezenas de “comentaristas” e “especialistas” que repetem dia e noite mesmices.
Os canais de televisão recebem polpudas verbas para omitir as falcatruas anteriores do presidente Lula e dependeram das sentenças do STF para informar sobre o anunciado, ensaiado e transparente golpe tramado pelo capitão Bolsonaro, filhos e milicos saudosistas da ditadura….
Assim, os “watergates” tupiniquins passam ao largo dos “analistas globais” e é impensável encontra-los nas demais emissoras, aparecendo apenas de viés algumas observações “à moda americana”, pela CNN…
Diante disto, dá vontade de parodiar François Guizot dizendo que “quando o varejo da politicagem chega às redações, o jornalismo vai para a sala da publicidade e a seguir vai à contabilidade…
Prezado Miranda Sá,
Saudações!
Meu nome é Samuel Amaral, sou jornalista e escritor da Paraíba. Estou entrando em contato para convidá-lo a participar de uma reportagem especial que estou escrevendo para o Correio das Artes, o suplemento literário mais antigo em circulação no Brasil. O tema da matéria é a vida e a obra de José Leal da Silva, jornalista paraibano que completaria 100 anos se estivesse vivo.
Descobri a história de José Leal de forma inesperada, ao ler a reportagem “Repórteres Famosos Contam Suas Proezas”, publicada por Elmo Lins em 1952, na antiga Manchete. Fiquei surpreso ao perceber que José Leal, um jornalista paraibano de tamanha relevância, era ainda pouco conhecido em sua própria terra. A partir dessa descoberta, iniciei uma pesquisa mais aprofundada, mas encontrei poucas referências online, exceto uma breve menção do O Globo sobre a reportagem “180 Dias na Fronteira da Loucura”, que lhe rendeu o Prêmio Esso em 1956. Felizmente, consegui acessar o livro de mesmo nome, e percebi a riqueza de sua obra.
Através do seu blog, soube que você trabalhou com José Leal e que ele teve um papel importante em sua carreira na imprensa, inclusive na Editora Abril. Gostaria muito de incluir seu depoimento na reportagem, pois acredito que suas memórias trarão uma visão única sobre ele. Também entrei em contato com Álamo, filho de José Leal, que aceitou contribuir com uma entrevista.
Seria um prazer contar com a sua participação. Aguardo seu retorno!
Atenciosamente,
Samuel Amaral
Um dos perigos que a Humanidade atravessa é a vulgarização do sofrimento. De tanto assistir a ele pela necessária mídia, parcela dos povos pode passar a tê-lo como coisa que não pode ser mudada. Eis o assassinio da tranquilidade entre pessoas nações quando se deixam arrastar pelo “Irremediável”. Ora tudo é possível melhorar ou corrigir nesta vida.
Se, pelo massacre das notícias se acostumarem ao absurdo, este irá tomando conta de suas existências.