PAPAI NOEL

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MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“A única pessoa que gosta de ficar de saco cheio é o Papai Noel” (Everton Medeiros)

Esperei, mas ainda não apareceu entre os auto-assumidos “direitistas” e pseudo “conservadores”, um que propusesse vestir Papai Noel de azul ou verde porque vermelho é cor de comunista…. Espero que não ocorra tal estupidez após a publicação deste texto….

Referi-me outro dia num dos textos polêmicos que de vez em quando escrevo, sobre as pessoas que insistem em deletar o passado. Entristecem-me por nunca terem lido o poeta Mário Quintana, sem tomar conhecimento do seu brilhante pensamento: “o passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente”.

O Vate Gaúcho foi maravilhosamente elucidativo, igualando-se à referência de Orwell ao “Ministério da Verdade” no “1984”…. Sempre foi de uso dos regimes totalitários várias maneiras de apagar o passado. A História registra a famosa fotografia dos revolucionários de 1917 em torno de Wladimir Lênin, que Stálin mandou os retocadores tirarem Trotsky, seu desafeto.

Nunca procurei saber (até fazer pesquisas para este texto) porque Papai Noel se veste de vermelho. O seu símile na Europa sob influência romana, São Nicolau, veste-se como bispo católico com a mitra na cabeça. Nos países nórdicos popularizou-se como Joulupukki, na Finlândia e Julenissen, na Noruega.

Atravessando o Atlântico, São Nicolau chegou aos Estados Unidos onde se transformou em Santa Claus (o nosso Papai Noel) graças ao desenhista Thomas Nast, que ilustrou o poema “Uma visita de São Nicolau”. Traçou uma caricatura do Santo tal como conhecemos Papai Noel: barbas brancas, barrigudo, com gorro e túnica vermelhos, botas e luvas brancas.

As transmutações do lendário personagem em tempo e espaço permitem que a qualquer época se proponha mudanças na sua imagem. No Brasil, na década de 1930, o líder integralista Plínio Salgado propôs que se usasse a figura do “Vovô Índio” no lugar de Noel, mas não colou, nem mesmo entre os seus partidários.

A tradição arraigada no consciente coletivo impede qualquer tentativa de mudar a conhecida figura; por isso aviso aos macarthistas brasileiros do século 21, que Papai Noel não é comunista.

Lembro-lhes que na finada URSS as festividades natalinas foram proibidas e que o Bom Velhinho (mesmo vestido de vermelho) foi exilado e substituído pelo “Ded Moroz” (em russo Дед Мороз), que significa “Avô Gelo”.

Assim, é muito bom que se mantenha a figura de Papai Noel como ela é, do mesmo jeito como devem ser preservados os personagens de Monteiro Lobato, as marchinhas carnavalescas, o frevo pernambucano, a lavagem das baianas na Igreja do Nosso Senhor do Bonfim, o Boi do Maranhão e as tradições gauchescas….

Por quatro ou cinco gerações a minha família – de ambos lados, materno e paterno -, manteve o costume de pintar ovos de galinha na Páscoa, escondendo-os para que crianças os achassem. Brinquei assim com os meus filhos e acho que eles mantiveram essa tradição.

Neste Natal, do Ano do Senhor de 2020, vivemos sob o medo de transmissão do novo coronavírus e a letal covid-19. Somos obrigados a enfrentar a pandemia sem as festividades que reúnem as famílias bem estruturadas; no meu caso, sofri bastante para encarar (telefonicamente) o meu filho mais velho, Henrique, abdicando da minha presença na festa que ele organiza todos os anos.

Felizmente Henrique concordou, e passaremos o Natal eu, minha mulher, Marjorie, e o nosso gato, Lennon, em casa. À mesa, uma salada de bacalhau, panetone e pudim de leite, todos feitos em casa, comporão a nossa ceia da saudade.

O nosso robô Alexa, será acionado para tocar canções natalinas e bonequinhos de Papai Noel movidos à pilha, que foram do meu neto Heitor quando pequenininho, dançarão para nós. Acenderemos uma vela, com o pensamento voltado para 2021, para um Natal livre da ignorância negacionista, portanto vacinados, e nos abraçando.

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