HISTÓRIA
Hitler no Brasil
De repente, no palanque, Hitler e seu bigodinho preto, discursando com seu alemão gutural de sotaque austríaco. Os cadetes explodiram numa vaia poderosa, seguida de assovios e gritos: “Fora, palhaço”! O filme foi interrompido, acenderam-se as luzes e falou o capitão Menezes Cortes:
“O comandante coronel Fiúza de Castro está decepcionado com o procedimento dos senhores. Manda avisar que quem tomou parte na vaia não será mais digno de usar o espadim de Caxias. Vamos descobrir quem começou essa molecagem. A luz vai apagar e o filme voltará a ser exibido”.
Voltou. E, mal Hitler reapareceu, as vaias também voltaram ainda mais estrondosas. As luzes reacenderam, os cadetes foram abruptamente retirados, levados para o pátio da escola e postos virados para o sol, por mais de duas horas. E o capitão Menezes Cortes desfilando e ameaçando:
“Só sairão daqui quando soubermos quem começou a vaia”.
Nunca souberam. Dedo-duro no Exército foi invenção do golpe de 64.
Sebastião Nery, jornalista
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