A Mandioca

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MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

A mandioca é um arbusto da família das euforbiáceas (manihot utilíssima), cujas raízes são tubérculos grossos, alguns enormes, ricos em amido e considerável uso na alimentação. Dela também se tira uma espécie de vinagre, o tucupi, muito usado no Norte do Brasil; e uma aguardente indígena de forte teor alcoólico chamada tiquira, Canjinjin ou Cataia.

Do seu tipo venenoso se faz a farinha-de-mesa e goma para tapioca. Diz-se autóctone das Américas, onde já existia há 5.000 anos. Expandiu-se pelo mundo levada por navegadores e colonizadores portugueses e já era encontrada largamente na Ásia e na África no início do século 17.

Mesmo sem ter estudado Botânica sei que são várias espécies encontradas no Brasil, e pela vivência conheço muitos nomes dados à mandioca, como aipim, aipi, macaxeira, maniva, manivieira, pão-de-pobre, pão-da-tarde e uaipi. No completo Dicionário de Gíria de J.B. Serra e Gurgel encontramos o verbete ‘mandioca’: Subs. Fem. O pênis.

Como no largo e variado emprego na cozinha, a palavra mandioca é freqüentemente usada na linguagem popular, referindo-se ao órgão reprodutor masculino no palavreado chulo. Vem de longe na História, em que o pênis aparece cultuado como o deus Priapo, provedor da fertilidade dos campos agrícolas e dos jardins.

Esta divindade foi da Ásia Menor para a Grécia, onde se tornou filho de Afrodite e Zeus na mitologia. A lenda contava que ainda feto, Priapo teve a forma humana substituída no ventre da deusa por um fálus que passou a ser adorado como o deus do sexo.

Chegou a Roma como filho de Baco, e tornou-se o deus da libido ocupando uma posição de destaque nas festividades orgíacas, saturnais e bacanais, nada diferentes das que ocorriam na Ásia e na África, concentrações de praticantes desse culto. Nas Américas dos incas, maias e astecas também foram encontradas representações de falos, em desenhos, estatuetas e jóias.

No Brasil, os cultos africanos primitivos dedicavam as noites de lua nova ao orixá Okô, regente da agricultura e da colheita. Okô ainda é venerado nos candomblés da Bahia e é encontrado à venda como adorno, amuleto e talismã, e como estatueta humana de ferro com um enorme falo.

A mandioca, para a presidente Dilma, sacerdotisa do besteirol, “é uma das maiores conquistas deste País”, afirmou no discurso de lançamento dos Jogos Mundiais Indígenas, e nos deixou perplexo… Não sei onde ela foi buscar isto, criando uma vertente além nas civilizações do arroz, do trigo e do milho…

Claude Lévi Strauss, vanguardeiro da corrente estruturalista da Antropologia, jamais ensinaria isto, embora tenha abordado nos seus estudos, investigações e reflexões filosóficas da alimentação como base da cultura dos povos.

Lévi Strauss foi do mel às cinzas, da canja de arara ao cozido de tatu e da farinha de milho à farinha de mandioca. Escreveu “O Cru e o Cozido”, um trabalho sobre a alimentação indígena e, evidentemente abordou a mandioca; e jamais afirmou que o tubérculo seria “uma conquista” de quem quer que fosse…

Esta asneira presidencial, pronunciada na presença de indígenas de vários países, envergonha os brasileiros letrados. E foi pior; Dilma falou com o sorriso alvar dos presunçosos manuseando uma bola artesanal de folha de palmeira que ganhou de presente dos representantes neozelandeses.

Sobre a bola, não negou sua ignorância: “esta bola é o símbolo da nossa evolução porque nós nos transformamos em homo sapiens ou mulheres sapiens”… Contribuiu dessa maneira para a separação de gêneros na Antropologia, motivo de chacota nos círculos científicos no mundo inteiro.

A tal “mulher sapiens” prostra-se diante do altar da mandioca invocada pela Presidente; não sei se a introdução dessa ritualística levará os lulo-petistas à adoração da Euforbiácea como raiz ou como pênis. Por uma proposta democrática, deixo-lhes à vontade para escolher o jeito desta reverência…

22 respostas para A Mandioca

  1. Franklin Jorge disse:

    Brilhante e espirituoso.

  2. Ajuricaba disse:

    Num “ano de travessia”, espero que a mandioca presidencial tenha bons usos anais….

  3. Adalberto Day disse:

    Muito show essa história da mandioca.
    Um alimento milenar e que tanta gente aprecia pelo mundo a fora.
    Parabéns pela postagem.
    Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau

  4. Existe muito mais mandioca no Executivo, do que sonha nossa vã filosofia contribuinte.

  5. elisabeth laval jede disse:

    Gostei muito do artigo Miranda!!tanto que ontem comprei mandioca em rama lavei descasquei e fiz um escondidinho delicioso!!!adoro fazer comida gostosa e a mandioca deixa tudo gostoso!!!abraçao e parabens!!!

  6. vileite disse:

    Parabéns pela forma verdadeira e adorável de mostrar a ignorância “”suis generis ” da “sacerdotisa – mor ” que só sabe manchar o nome do Brasil em cada evento que comparece .

  7. Ana Maria Ramos disse:

    Vindo dessa magnanima senhora, nada mais nos assusta.

  8. Geize Stella disse:

    Saudemos a sapiência!
    Texto leve e esclarecedor!

  9. Maria Silva disse:

    Parabéns pelo texto. Mandioca + Dilma = Vaca tolada.

  10. Mônica Torres disse:

    Não sei o que está melhor, se é o texto ou os comentários aqui. A matéria não economiza espirituosidade.. você se supera todos os dias. parabéns, amigo!

  11. Quando eu penso que você esgotou seu estoque de inteligência… você lança mais essa. Aplaudindo de pé, como sempre.

  12. lavinia gondim disse:

    Seu texto está delicioso.Embebe a Presidente com migalhas do seu conhecimento,talvez ela deixe de falar barbaridades.Talvez,digo,pq a ignorância faz parte do DNA petista,e ela ñ poderia restar sem esses impropérios.

  13. vicenteqf disse:

    Excelente texto. Caro Miranda: ,,,“é uma das maiores conquistas deste País”… “Não sei onde ela foi buscar isto”. Nós não sabemos onde ela busca todas as besteiras que fala.

  14. Jose Maria do Espírito Santo - @jmeso_jose disse:

    Parabéns pela aula de cultura.

  15. Quem pode acreditar num país dirigido por esta presidANTA?

  16. celia mancini disse:

    Sincramente, vc como homem letrado se sentiu envergonhado….imagine mulheres como eu , que temos o prazer do conhecimento por pessoas como vc….nos sentimos derrotadas por um ser que usa sua imbecilidade para dizer ao mundo que as brasileiras sāo cretinas , porque elegem mulas e palhaços. Qualquer animal pode ser presidente …até MANDIOCA se falar senta na cadeira do poder. É o fim da palhaçada.

  17. “A mandioca, para a presidente Dilma, sacerdotisa do besteirol, “é uma das maiores conquistas deste País”, afirmou no discurso de lançamento dos Jogos Mundiais Indígenas, e nos deixou perplexo… Não sei onde ela foi buscar isto, criando uma vertente além nas civilizações do arroz, do trigo e do milho…
    (…) Esta asneira presidencial, pronunciada na presença de indígenas de vários países, envergonha os brasileiros letrados. E foi pior; Dilma falou com o sorriso alvar dos presunçosos manuseando uma bola artesanal de folha de palmeira que ganhou de presente dos representantes neozelandeses.
    Sobre a bola, não negou sua ignorância: “esta bola é o símbolo da nossa evolução porque nós nos transformamos em homo sapiens ou mulheres sapiens”… Contribuiu dessa maneira para a separação de gêneros na Antropologia, motivo de chacota nos círculos científicos no mundo inteiro”.
    ACHO ESTRANHO FATO DESSAS PALAVRAS “dilmescas”…Não trazerem à lembrança dos que me precederam… A figura de Odorico Paraguaçu, prefeito da fictícia cidade baiana de Sucupira…
    Na memorável trama escrita por Dias Gomes, conhecida como “O BEM AMADO”.
    Não tenho autoridade para afirmar que Sucupira não é baiana, mas cidade capixaba situada há 50 quilômetros de Vitória, ES…
    Testemunhei .como espectador da TV GUARAPARI, um historiadora de quem não me recordo o nome, afirmar em “talk show” da única TV da desta última cidade…Que o cemitério local foi inaugurado com cadáver emprestado pela vizinha cidade onde morreu São José de Anchieta, porque depois de serem transcorridos vários meses da conclusão da obra…O prefeito local era acusado de haver desperdiçado o dinheiro do povo, na construção de um “elefante branco”.
    No dia da inauguração da necrópole, antes de dar por encerrada a cerimônia…A palavra foi franqueada. Então um afro-descendente metido a orador iniciou a sua fala mais ou meno assim:
    “Povo guarapariense!… Vejam como Deus ama esta que é uma da cidades fundadas pelo Pe. José de Anchieta!…
    Uma cidade belíssima plantada entre um MAR MARITAL e outro mar matagal. (Nesse ponto alguém dos presentes gritou: “CALA A BOCA CRIOULO BURRO…””

  18. Realmente esta sra Presidente da República Federativa do Brasil é uma Energúmena, em contra partida, interessante a história da mandioca, eu não conhecia.

  19. Reuber Vieira disse:

    Excelente!

  20. Ama Lucia disse:

    Muito bom! Parabéns

  21. deaC disse:

    Adorei Miranda. Ri muito com o termo “a sacerdotisa do besteirol” foi um achado. E parabéns pelo vasto conhecimento da mandioca.