O BONDE
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
“Perdi o bonde e a esperança” (Carlos Drummond de Andrade)
Ainda trago na memória as minhas viagens de bonde para a escola, quando decorei o reclame (como a gente chamava anúncio no meu tempo) afixado bem à frente do carro, atrás do condutor:
“Veja ilustre passageiro/ Que belo tipo faceiro/ O senhor tem ao seu lado;/, no entanto, acredite, / Quase morreu de bronquite, / Salvou-o o ‘Rhum Creosotado’”. Corria à boca pequena que o verso era de Olavo Bilac; pesquisei, mas não encontrei esta referência.
O bonde foi um meio de transporte coletivo muito popular. Na sua origem, era puxado por tração animal e depois com motor a vapor em 1873, e finalmente, em 1881, pelo motor elétrico. Os primeiros elétricos foram construídos nos Estados Unidos, surgindo um ano depois na França. Ainda hoje circulam na Europa, trafegando na Suíça, Alemanha e algumas cidades da França. No Brasil, o pioneirismo coube à Cidade de São Paulo.
O verbete “Bonde”, dicionarizado, é um substantivo masculino, de origem brasileira, pois em todos países de mundo o veículo sobre trilhos movido à eletricidade, era chamado “Elétrico” nos seus idiomas nacionais.
A História registra que designação brasileira foi criada pelos paulistas, que o associaram ao lançamento de títulos a receber (em inglês “bonds”) da empresa “The São Paulo Tramway Light and Power Co. Ltda.”.
Hoje o vocábulo “Bonde” está quase esquecido para indicar o transporte urbano elétrico sobre trilhos; atualmente temos a sua evolução conhecida por VLT (Veículo Leve sobre Trilhos).
A palavra “Bonde” foi mais tarde adotada em usos diversos, principalmente na gíria; serve para mau jogador de futebol, negócio que dá prejuízo, ônibus que transportam presos e para grupos de amigos, aparecendo nas letras de funk e nomes de bandas como Bonde do Tigrão.
Partindo do consagrado princípio de que a voz do povo é a voz de Deus, a ideia do transporte coletivo subsistiu, determinando o arrastão de bando de assaltantes. Este “bonde” é o desastre contemporâneo, retrato da violência nas grandes cidades do mundo.
Mostra com clareza o confronto do mal com o bem que ocorre também em vários setores da sociedade, contrariando as alocuções conformistas do “sempre se fez assim”. Esta mentira reforça os malefícios, porque antes os registros de malfeitos e crimes espetaculosos foram pontuais; como também eram raras, embora conhecidas, situações desabonadoras nos meios políticos.
Pode-se até apontar males herdados do passado longínquo, como o autoritarismo governamental, o oportunismo parlamentar e os julgamentos pouco ortodoxos dos tribunais superiores, mas isto não foi generalizado.
Agora as organizações criminosas de ladrões, ou para o tráfico de drogas, ou ações corruptas de homens públicos como regra geral, estão institucionalizadas graças aos governos lulopetistas, uma constatação que refuta o pensamento cúmplice do “sempre se fez assim”.
São intoleráveis as decisões políticas do STF – onde alguns ministros sonham com a volta ao Senatus Populusque Romanus, quando juízes eram também senadores legislando e decretando – e revoltante o aviltamento do Centrão chantageando o governo.
Entretanto, nada disso se compara com a ação da conspiração criminosa para livrar da cadeia o chefe da Orcrim política, Lula da Silva, e aplainar a volta ao poder da quadrilha lulopetista que arrasou o País.
É o que se vê através do esquema da bandidagem cibernética das conexões lulopetistas internacionais contra a Lava Jato; o pior é que se trata de uma organização sofisticada e sua trama reforça o desejo do Bando dos 4 do STF e os picaretas do Centrão de implantar a censura nas redes sociais.
Isto sim, seria uma volta ao que já se fez, a Inquisição torturando e queimando em praça pública os que diziam que a Terra é redonda…
Miranda Sá, com maestria, disse tudo que eu diria.
Gostei da denominação Bando dos 4 do STF.