MIRAGEM
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br
“Procure a verdade numa aparição, num eco, numa imagem, numa miragem, num sonho, num tato…” (Subhuti, discípulo de Buda)
Sócrates – o filósofo da Grécia Clássica -, passeava modestamente pelo mercado de Atenas sob os comentários dos feirantes que o achavam um tolo abestalhado…. O que ocorria, entretanto, é que ele vivia abstraído na ânsia de encontrar explicações para a realidade.
O grande pensador deu razão antecipada ao poeta e compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues, que cantou: – “O pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa, quando começa a pensar”….
É com a ajuda socratiana que me obrigo, constrangido, a acusar os que elegem gurus infalíveis. Na sua maioria, não conseguem usar os sentidos para raciocinar e pensar por conta própria, envolvendo-se no encantamento ilusório da politicagem.
Estes néscios se algemam ao fanatismo e morrem de medo de pensar diferente dos seus condutores, acreditando fazer a coisa certa, mas terminam envolvendo-se numa miragem.
“Miragem” como verbete dicionarizado é um substantivo feminino originário do francês “mirage”, significando um efeito da refração e reflexão, fenômeno óptico frequente nos desertos. Cria na atmosfera imagens próximas e invertidas de objetos distantes.
Miragem tem como sinônimos: engano dos sentidos, fantasia, ilusão, quimera, sonho, e, figurativamente, chega a decepção. Será, por exemplo, algo que nos parece muito bom e por não ser real, nos desaponta.
Todos encontramos esta falsa realidade no correr de nossas vidas e alguns até acreditam que é real. Conta-se nos círculos intelectuais que o poeta italiano Giacomo Leopardi, ensaísta, filólogo e pensador, era de um pessimismo irremediável, e certa vez pensou em se suicidar; mas desistiu de fazê-lo. Mais tarde, escreveu vaidoso que considerava o suicídio coisa de gente simplória…
A desistência de enfrentar as adversidades atentando contra a própria vida, é um ato de coragem para alguns; e, para outros, o desvirtuamento da essência de viver. Para os espiritualistas é uma visão retorcida e condenável da própria existência.
Quando a pessoa humana falha como ser pensante, e foge dos valores éticos e morais, degrada-se; e na sua baixeza se afasta do meio social seguindo a banda dos seus bandidos de estimação….
Nem todos se entregam à facilidade de acompanhar o poder. Sem obter vantagens nem ter preguiça de se assumir como pessoa independente, exigem dos políticos um comportamento ético, principalmente daqueles que fazem da Política uma profissão. Os verdadeiros cidadãos intimam os ocupantes dos poderes republicanos a serem honestos, não praticarem corrupção, não desvirtuarem os cargos seja explorando empresas estatais ou praticando o “roubozinho” das rachadinhas.
O verdadeiro patriota não cai na miragem de que as atividades corruptas podem ser escalonadas como grandes e pequenas. Considera o político criminoso tanto embolsando um tostão quanto um milhão.
Esta demanda pela honestidade na política não é para medíocres; esses estão sempre a espera de tirar proveito de alguma coisa no joguete das ações governamentais ou na demagogia do capitão Bolsonaro vivendo uma campanha eleitoral permanente e ininterrupta em vez de governar.
Persegue a remota chance da reeleição; e como esta fica cada vez mais longe, tenta um autogolpe, investindo contra o Estado Democrático de Direito. Para isto, elege continuamente inimigos, tornando-os alvos do ódio do seguidor “maria-vai-com-as-outras”, dos fariseus auto-assumidos “cristãos” e dos militares revanchistas.
Para os primeiros lembro Oscar Wilde assegurando não haver pecado igual ao da estupidez, e para os segundos, sugiro o axioma que “o mal não é ter uma ilusão, o mal é iludir-se”.
Além disto, no seu carreirismo desenfreado, o capitão Bolsonaro cria a caricata miragem de uma cruzada anticomunista fora de época, levando-nos a perguntar com Jô Soares: – ”E se o comunismo acabar, quem é que vai levar a culpa?
Sempre Magnifico Mestre