DO HUMOR
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
Estive passando a vista na excelente antologia História da Caricatura Brasileira onde o Humor está presente, lembrei-me da observação de Aldous Huxley ao constatar que as paródias e as caricaturas são as formas mais agudas de crítica.
E senti que o Humor está perdendo os caricaturistas, humoristas e menestréis temerosos de repressão sócio-política do regime judicial que infelizmente sofremos na atualidade brasileira.
Isto sempre ocorreu nos regimes ditatoriais que temem o potencial subversivo que o Humor provoca, com a História da Humanidade registrando que o nazismo na Alemanha criou uma rigorosa censura artística, proibindo obras consideradas “degeneradas” e deviam ser banidas ou destruídas.
É um importante capítulo histórico a “Bücherverbrennung” – queima de livros ocorrida em 10 de maio de 1933 -, no início da tomada do poder por Adolf Hitler. Teve apoio das SS e da Hitlerjugend, Juventude Nazista e Liga das Moças Alemães repugnando autores considerados “não-arianos”.
Foram à fogueira as obras de Brecht, Erich Maria Remarque, Erich Kästner, Freud, Hemingway, Heine, Ibsen, Ricarda Huch, Stefan Zweig e Thomas Man. Lamentando a desgraça o poeta Heinrich Heine alertou: – “Onde se queimam livros, acaba-se queimando pessoas”. O que veio a acontecer.
E, exilado em Londres, o grande Sigmund Freud lamentou a queima de livros pelos nazistas: “Os livros foram queimados nas chamas fumacentas do nosso ódio!”
Indo à minha infância e adolescência encontrei algo interessante: Getúlio Vargas, que como ditador do “Estado Novo” (1937-1945), manteve ferrenhas censura e repressão policial contra críticos ao regime, quando voltou em 1950, eleito pela imensa maioria do eleitorado, afagou artistas, cômicos, humoristas e intelectuais, rindo-se muitas vezes das próprias caricaturas e imitações cômicas em peças teatrais.
Vargas encontrou um seguidor deste abrandamento e convivência com a crítica. O presidente Juscelino Kubitscheck levou ao Palácio o compositor e intérprete Juca Chaves, autor da sátira mordaz e bem-humorada “Presidente Bossa Nova”.
Embora sustentando a censura sobre diversos setores culturais, a ditadura militar (1964-1985), fez vista grossa para “O Pasquim”, semanário humorístico que com o anedotário, caricaturas e quadrinhos fazia críticas gerais, tornando-se um dos símbolos da resistência cultural contra o arbítrio.
Afinal, o Brasil é o Brasil. O povo brasileiro é brincalhão, sempre bem humorado, com uma forma própria de ser ou de estar. Vê o Humor das marchinhas de carnaval e das comédias de teatro, televisão e rádio, como dicionário o define: este substantivo masculino de origem latina, humor,ōris, ‘fluido, linfa’, uma situação orgânica que produz um estado de ânimo nas pessoas.
É esta disposição que representa a aquiescência ao que é cômico ou que provoca riso ao longo da História. Desde a Antiguidade, o Humor é utilizado para satirizar costumes e comportamentos sociais. Como exemplo, temos na Grécia Antiga as comédias de Aristófanes, como “Lisístrata” e “As Rãs“, provocando risos ao criticar os políticos da época.
Vou repetir: vemos que entre nós, o humor perdeu a inspiração dos caricaturistas, humoristas e menestréis, acovardados com a repressão sócio-política do regime judicial instalado no Brasil.
É difícil manter publicações como foi o Pasquim e mesmo na sua expressão literária, como “As Farpas”, de Ramalho Ortigão e Eça de Queirós… É inimaginável publicar-se uma caricatura ou a imitação caricata dos semideuses de toga.
Os amantes da liberdade lamentam que se tornou quase impossível divulgar paródias ou piadas jocosas na mídia impressa, televisiva e radiofônica. Saem pontualmente nas redes socais que não dão acesso do povão, ficando este sem compreender o porquê do silêncio ensurdecedor do STF sobre as fraudes do INSS.
Fica dessa maneira coberto o roubo dos aposentados e pensionistas do INSS pelos pelegos sindicais lulopetistas sem que nenhum seja preso ou restitua os valores do saque; e assim, o Humor, como ferramenta poderosa para questionar e refletir sobre a sociedade, está silenciado.
Hoje mirandei, o quê?
Sim, dicionarizei, não entendi.
Ora, vi filmes, passei em Roma, será?
Pelo Egito, na Mesopotâmia, tem mais?
Mundo afora sobre gente inteligente, e daí?
Nas ciências, literaturas, teatros e filmes, tá
bom?
Mas, quem lhe trouxe tudo isso?
Um certo Sá que de tanto mirandar brilha!
Como é que é? Leia seus artigos e tenha fé que a verdade lhe dirá, sem pestanejar ou metaforizar.
Por que tantos verbos incomuns há de usar? Para dizer sobre alguém diferente temos que ousar e verbar! Verbar?
Ora, ora, são as palavras que dão sentido à vida.
Em cada artigo uma história a ser contada por quem tem lastro em quantidade de leituras variadas.
Eis que octogenário chegou à sabedoria, uma fase que se é escolhido não pela forja sobre elas e sim porque este ser humano tem respeito ímpar por todas as palavras, inclusive sobre as esquecidas.
Quer mais? Honre-no com sua leitura! Aprenda a filosofar com quem sabe e não faz alarde sobre! Mirandei no Mirandalês e talvez ensinarei o Mirandar!
Agosto de 2023
Um ausente no governo STF/Lula: o humor.