DAS PROCISSÕES

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MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

A canção de Gilberto Gil, “Procissão”, é um clássico da MPB cuja letra por pressão e covardia do autor, foi modificada três vezes, mas não se perdeu a original que começa assim: “Olha lá vai passando a procissão/ Se arrastando que nem cobra pelo chão/ As pessoas que nela vão passando/ Acreditam nas coisas lá do céu…”

As procissões religiosas são atos de fé e devoção com raízes antigas, remontando ao longo da História manifestações multifacetadas que refletiam a cultura popular das sociedades em que ocorreram.

No antigo Egito, a festa de Opet compreendia uma grande procissão ao longo da avenida das esfinges, onde o deus Amon, sua consorte Mut e filho Khonsu, cada um sobre uma barca dourada, eram levados do templo de Karnak até Luxor.

O budismo leva os seus seguidores a dar voltas silenciosas em torno de uma Árvore Bodhi, invocando forças espirituais para apoio ou proteção. Segundo a tradição, foi sob a árvore sagrada que o primeiro ser humano alcançou a iluminação e onde Siddharta Gautama no século VI antes de Cristo, tornou-se Buda.

Os gregos e romanos as apresentavam em homenagem a Dionísio ou Baco, ao final da colheita das uvas. Do outro lado do Atlântico, os maias realizavam procissões com dança, música, e mesmo sacrifícios humanos, para comemorar diferentes períodos do calendário maia, como o ano novo e eclipses solares.

Também faziam procissões os antigos judeus, na Páscoa, em Pentecostes e na Festa do Tabernáculo. Na Torah são relatadas diversas procissões: (Êxodo 25:10-15, Josué 3:5-6;14-16, Josué 4:4-5;15-18, Josué 6:4, Números 10:33-34).

Este Velho Testamento deixou a tradição de procissões como herança para cristãos, e com o catolicismo elas se multiplicaram, eclodindo na Idade Média com a exibição de imagens e suspeitas relíquias….

Dicionarizado, o verbete Procissão é um substantivo feminino que se refere a um cortejo com pessoas caminhando na mesma orientação de crendice e de roteiro. Este desfile em diversas religiões é organizado pela burocracia sacerdotal com versificadas orações cantadas em refrão.

A etimologia da palavra é latina, “processĭo, -ōnis“, proviniente de “procedere”, no sentido verbal de “ir adiante”, “avançar”, “caminhar”, mencionando pessoas em grupo caminhando de maneira formal ou cerimonial.

Émile Durkheim, psicólogo, filósofo e sociólogo francês que emancipou a Sociologia como autônoma, argumenta que as procissões reforçam a solidariedade entre os membros de uma comunidade.

E esta observação nos leva aos desfiles políticos, marchas cívicas e cortejos religiosos; manifestações que passaram a ser exploradas eleitoralmente nas democracias ou como demonstração de apoio nos regimes totalitários.

Durante muitos anos, assistimos as Marchas de 1º de Maio, em desfiles de protesto e propostas sindicais em defesa dos trabalhadores. Muitas vezes iam às ruas enfrentando a repressão dos governos a serviço do patronato reacionário.

As conquistas do Mercado de Trabalho, lentas, graduais, mas sempre revitalizando e atendendo reivindicações, esvaziaram os slogans revolucionários, afastando os extremistas da movimentação; e a última pá de cal sobre o túmulo do anarco-sindicalismo, foi a criação fascista da pelegagem que mercenarizou os líderes de classe vendidos aos governos ou ao patronato.

Neste Ano do Senhor de 2025, o 1º de Maio trouxe o exemplo mais-do-que-perfeito da degenerescência sindical no Brasil, com os pelegos roubando os aposentados e pensionistas com ajuda governamental, uma ação criminosa que impediu a presença demagógica de Lula da Silva nos comícios esvaziados.

Em verdade, diante da enxurrada de corrupção em seu governo, o traidor da classe trabalhadora, corrompido, corrupto e corruptor nada tinha a dizer a não ser as mentiras marqueteirizadas de sempre.

Isto nos leva à realidade seguindo uma Procissão compromissada em ajudar o novo papa, Leão 14, agostiniano, que quer construir pontes para relacionar toda a gente sem distinção, em defesa da Paz; e assim vislumbra  um mundo melhor.

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