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Artigo temático sobre o Mensalão

Em época de eleição, um voto de qualidade

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Tenho convivido, eu e minha mulher, com uma situação de convalescência dela, com um problema que os médicos classificam como a “memória da dor”. É que a memória, como um gravador, retém situações da biologia molecular e requer um tratamento (demorado) para esquecer a desagradável sensação da dor física.

Em psiquiatria, a memória é a capacidade de fixar, recordar ou reconhecer qualquer tipo de fatos psicobiológicos, psicológicos ou de natureza sociológica. Estuda-se a Lei de Ribot, que assegura a retentiva de fatos mais antigos sobre os mais recentes.

Acho que é o que encontramos no que considero uma ‘lavagem cerebral’ sofrida por alguns setores ‘de esquerda’ após a redemocratização do País. E a primeira persuasão ideológica foi o que os marxistas chamam ‘doença infantil do comunismo’: o obreirismo.

Na sua genialidade, o general Golbery – planejando a abertura lenta e gradual da ditadura militar, frustrou o PCB e o PTB criando um novo partido ‘à esquerda’. Encontrou o agente ideal para isso; o sindicalista pelego da Volkswagen, Lula da Silva, com perspicácia e carisma capazes de encantar os intelectuais da USP…

O obreirismo dos acadêmicos perfilou virtualmente um operário metalúrgico, virgem do manobrismo político, para liderar o País no caminho de uma utopia socialista. E assim diluiu na memória de muitos idealistas a nostálgica ideologia do ‘socialismo real’, sepultado nos escombros do muro de Berlim.

Não dá tempo (e falta espaço) para historiar como esse grupo conquistou o poder político; apenas ressaltar que foi através de um estelionato eleitoral.

Ajudou-os na empreitada a massa de seguidores sebastianistas, trazendo na memória uma mescla de ilusão e realidade, uma obsessão esquizofrênica. Esses robôs obedecem às palavras-de-ordem dos chefes do partido sem pensar, e por isso os vemos defender os corruptos do Mensalão, e, o que é pior, atacar o Supremo Tribunal Federal, uma das últimas instâncias da moralidade nacional.

A última sessão do julgamento do Mensalão no STF revelou com clareza meridiana que houve corrupção passiva e ativa, lavagem de dinheiro e compra de votos parlamentares para apoiar o governo Lula.

Até com o voto de um ministro ligado e comprometido com o esquema lulo-petista, Dias Toffoli, surpreendeu votando pela condenação dos parlamentares denunciados por corrupção passiva e refugando a tese do ‘Caixa 2′.

Essa farsa do ‘Caixa 2’ e uma ilusória ‘falta de provas’ moveram nos últimos sete anos o núcleo do partido interno, hoje sem militância voluntária, na defesa dos companheiros envolvidos no esquema corrupto.

Mesmo assim, os robôs se mantiveram defendendo os mensaleiros, apesar da contundente denúncia da Procuradoria-Geral da República, com provas bastantes para convencer os juízes da mais alta corte de Justiça do País. A PGR desfez a astuciosa invenção das sobras de campanha distribuídas sem contrapartida…

O tiro de misericórdia partiu do decano do Supremo, Celso de Melo, com um voto de qualidade afirmando: “Esses atos de corrupção significam tentativa imoral e penalmente ilícita de manipular criminosamente o processo democrático”. E classificou os mensaleiros como‘marginais do poder que formaram uma quadrilha de assaltantes de cofres públicos’.

Lembrou-me um personagem de Brecht que recebendo justiça num pleito sob o regime nazista, exclamou: “ainda há juízes em Berlim!”

Apesar disso, uma manada de fanáticos (na sua maioria pendurada no aparelho de Estado ou obtendo benesses governamentais) lança um manifesto sem qualquer ressonância social ou intelectual, defendendo os criminosos e atacando o STF.  Justapõe-se entre as assinaturas Oscar Niemeyer, cuja secular respeitabilidade lhe dá o direito de assinar o que bem quiser e entender…

Lula quebra uma promessa eleitoral

O imediatismo e a idiotia dos intelectuais defensores de Lula da Silva podem estar confusos e perturbados neste período pós-eleitoral de férias, viagens e descansos de Sua Excelência, mas espero que não tenham esquecido os seus discursos eleitorais.

Acredito sinceramente que muitos se influenciaram e divulgaram a campanha contra as privatizações do tucanato. Denúncias e críticas mais do que justas usadas para cobrar votos e eleger o Guia Amado da pelegagem.

Ainda não se passaram 50 dias da posse do homem e já desvaneceu o tema eleitoral que derrubou a candidatura de Geraldo Alckmim no segundo turno. A patota palaciana estuda a privatização das estradas, entregou o sistema securitário à iniciativa privada e se prepara para vender ações das empresas controladas pelo Estado.

A queridíssima Petrobrás, o mimado (e bastante usado Banco do Brasil), a Caixa Econômica, o Banco do Nordeste, os Correios, todas as entidades carimbadas como patrimônio do povo brasileiro, serão alienadas proximamente.

Segundo os arautos do lulismo-petismo a meta é levantar finanças para as obras estruturantes do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, lançado hoje com pompa e cerimônia. Para Lula da Silva dizer que não sabia de nada, registre-se que foi ele próprio quem mandou o Ministério da Fazenda listar as empresas estatais em condições de atrair investidores.

O célebre diversionismo do PT-governo trombeteia que não se trata de privatizações. Vão transar as ações, mas garantir o controle das empresas levadas ao mercado. Trata-se de uma novidade semântica na novilíngüa da República dos Pelegos, onde privatizar é coisa de tucanos e para o lulismo-petismo trata-se de uma contribuição para o desenvolvimento econômico.

Quando anunciou as metas do crescimento do segundo mandato, Lula da Silva não sabia (como sempre) que não havia caixa para os investimentos. Então apelou para a venda dos ativos das alegóricas empresas do nacionalismo tradicional, atropelando a opinião pública e agredindo os agentes das estatais tão ciosos em defendê-las contra o imperialismo.

Não sei quantas reuniões se fizeram durante as férias do Chefe, outras tantas na sua viagem ao Equador, mais algumas durante a reunião do Mercosul e os justificados dias de descanso, concluíram que se deve assumir outro estelionato eleitoral ou não haverá condições de acumular verbas entre R$ 17 e R$ 20 bilhões previstos para as obras de infra-estrutura.

Os tecnocratas do PT-governo apontam a quebra das promessas eleitorais e a complacência ideológica para materializar o PAC. Diante disso, valeria a pena ouvir os dirigentes sindicais das entidades envolvidas no novo programa de Lula da Silva.

Desfazer-se das ações do Banco do Brasil, da Petrobrás, da Caixa Econômica, Banco do Nordeste, Correios e outras menos votadas, é ou não é uma forma de privatização?

O discurso anti-privativista foi o trunfo para enfrentar o segundo turno contra um candidato que crescia nos últimos dias do primeiro. Ecoou tão fortemente nos setores intelectuais, nacionalistas e mesmo sindicais, que levou o adversário a nocaute com um soco de peso: 58 milhões de votos.
Forçado a conseguir dinheiro vivo para o estabanado projeto de crescimento econômico do País, Lula da Silva volta a fazer a mesma safadeza que os tucanos fizeram e foram repudiados pelo povo brasileiro. Certamente contará com o apoio dos êmulos do PSDB (porque não?) e sairá garboso do episódio apoiado na propaganda que tentará nos convencer que o Estado não perderá o controle das companhias deixando escondido o fato de que os brasileiros terão seu patrimônio escorrendo pelo ralo…

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Compadre, palavras o vento as leva, principalmente saídas de bocas irresponsáveis