Poesia

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A***

 

Falo a ti – doce virgem dos meus sonhos,

Visão dourada dum cismar tão puro,

Que sorrias por noites de vigília

Entre as rosas gentis do meu futuro.

 

Tu m’inspiraste, oh musa do silêncio,

Mimosa flor da lânguida saudade!

Por ti correu meu estro ardente e louco

Nos verdores febris da mocidade

 

Tu vinhas pelas horas das tristezas

Sobre o meu ombro debruçar-te a medo,

A dizer-me baixinho mil cantigas,

Como vozes sutis dalgum segredo!

 

Por ti eu me embarquei, cantando e rindo,

– Marinheiro de amor – no batel curvo,

Rasgando afouto em hinos d’esperança

As ondas verde-azuis dum mar que é turvo.

 

Por ti corri sedento atrás da glória;

Por ti queimei-me cedo em seus fulgores;

Queria de harmonia encher-te a vida,

Palmas na fronte – no regaço flores!

 

Tu, que foste a vestal dos sonhos d’ouro,

O anjo-tutelar dos meus anelos,

Estende sobre mim as asas brancas.

Desenrola os anéis dos teus cabelos!

 

Muito gelo, meu Deus, crestou-me as galas!

Muito vento do sul varreu-me as flores!

Ai de mim – se o relento de teus risos

Não molhasse o jardim dos meus amores!

 

Não t’esqueças de mim! Eu tenho o peito

De santas ilusões, de crenças cheio!

– Guarda os cantos do louco sertanejo

No leito virginal que tens no seio.

 

Podes ler o meu livro: – adoro a infância,

Deixo a esmola na enxerga do mendigo,

Creio em Deus, amo a pátria, e em noites lindas

Minh’alma – aberta em flor – sonha contigo.

 

Se entre as rosas das minhas – Primaveras –

Houver rosas gentis, de espinhos nuas;

Se o futuro atirar-me algumas palmas

As palmas do cantor – são todas tuas!

 

Casimiro de Abreu

 

O Poeta

 

Casimiro de Abreu (1837-1860), poeta romântico brasileiro. Dono de rimas cantantes, ao gosto do público, Casimiro de Abreu publicou apenas um livro, As Primaveras (1859). Filho de um rico comerciante, Casimiro de Abreu nasceu em Barra de São João (Rio de Janeiro) e cresceu no Rio, então capital do Império e centro cultural do país. Entre 1853 e 1857, estudou em Portugal.

A vocação literária, porém, suplantou a vida acadêmica. Em Lisboa, iniciou-se como poeta e dramaturgo. A peça Camões e Jaú estreou no teatro D. Fernando e, nela, o autor proclama sua brasilidade, as saudades dos trópicos e refere-se a Portugal como “velho e caduco”. De volta ao Brasil, dedicou-se à atividade comercial, com o apoio paterno. Mas definia este trabalho como uma “vida prosaica…que enfraquece e mata a inteligência”.

Morreu aos 21 anos, de tuberculose, em Nova Friburgo, estado do Rio de Janeiro. Seu poema mais famoso é Meus Oito Anos. Da segunda geração romântica brasileira, Casimiro de Abreu cultivava um lirismo de expressão simples e ingênua. Seus temas dominantes foram o amor e a saudade. Embora criticado por deslizes de linguagem e falta de embasamento filosófico, Casimiro de Abreu é admirado, justamente, pela simplicidade. Alguns versos acabaram se incorporando à linguagem corrente como, por exemplo, simpatia é quase amor, hoje nome de um famoso bloco do carnaval carioca.

 

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