INOCÊNCIA

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MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

                          “A inocência é uma coisa admirável; mas é muito triste que ela se possa preservar tão mal e se deixe tão facilmente seduzir”. (Immanuel Kant)

Nos primeiros anos da minha vida (lembro bem, a escola era “risonha e franca”) as crianças mais sabidas tinham obrigação de ler o livro “Inocência”, de Alfredo Taunay. A meninice na casa de minha avó, convivendo com duas tias e minha mãe, professoras, eu e a minha irmã mais velha éramos muito cobrados sobre a leitura.

A narrativa suave na obra de Taunay, trazendo de memória a sua vivência nos sertões de Mato Grosso, é considerada pelos estudiosos da literatura brasileira como a obra-prima do romance regionalista.

O meu saudosismo pelo passado evoca sempre uma descrição do livro, onde o autor diz com ironia: “Debaixo do céu há uma coisa que nunca se viu, é uma cidade pequena, sem falatórios, mentiras e bisbilhotice”. Pensou como um inocente…

Conheço muita gente que considera a inocência condenável, principalmente na vida pública. Diz-se que o governante inocente se preocupa com o opositor, mas convive com inimigos sem se dar conta…

A palavra Inocência vem do latim, “innocentia, ae” com classificação gramatical variada; é substantivo feminino no juridiquês, referindo-se a estado do que é inocente, e falta de culpa; e como adjetivo de dois gêneros, significando destituído de segunda intenção, de malícia, bonachão, cândido, crédulo, ingênuo, inofensivo, tolo.

O substantivo inocente jamais poderia ser usado para Lula da Silva, pelego sindical que segundo o seu ex-ministro Antônio Palocci, vendeu medidas provisórias no exercício da presidência da República e pediu a um lobista do setor automotivo propinas para um dos filhos. Está preso por ter recebido um tríplex de propina e em julgamento pelas reformas que uma empreiteira fez no sítio de um “amigo”, mas de uso exclusivamente seu…

Por outro lado, o adjetivo inocente irá para os crédulos que passam o dia rezando e pedindo orações contra o mal, s’esquecendo que Jesus Cristo dirigiu o Sermão da Montanha para os homens e mulheres de boa vontade, mas empunhou o chicote para expulsar os vendilhões do Templo.

Estas constatações nos levam a pensar se é por inocência que algumas pessoas ativas nas redes sociais ocupam todos e todo tempo dando mais atenção às passeatas de Hong Kong do que com o roubo do nióbio no Brasil… Ou extrapolam distribuindo exageradamente mensagens de “ONGs humanistas” sobre as baleias na Antártida, o crocodilo da Indonésia e a águia das Montanhas Rochosas… Sem olhar para as barragens ameaçadoras da Vale do Rio Doce.

Por conjecturas tiradas de notícias de jornal, o Brasil é, talvez, o país onde a condenação de inocentes é muito maior do que a absolvição, redução de pena ou tratamento privilegiado dos criminosos. Serão erros judiciários, argumentação inequívoca de advogados ou simples coincidência?

Neste cenário, uma coisa é certa; há quem confie apaixonadamente nesta coincidência, quem acredite que são infalíveis as poderosas bancas advocatícias, e que os juízes sempre são vocacionados para julgar.

Da minha parte, sinceramente, não vejo diferença de um museu que se incendeia por causa da displicência de uma administração que não viu fios elétricos decapados, e a sentença de um juiz que manda soltar corrupto baseado num indulto presidencial charlatanesco que ele próprio aprovou na Corte.

Como pensou Albert Camus, não podemos afirmar a inocência de ninguém, botar a mão no fogo, como se diz; mas quando há testemunhos irrefutáveis, bens adquiridos inexplicavelmente e sinais aparentes de riqueza, não pode haver dúvidas…. Foi o que a Lava Jato viu em vários atores da cena política, e daí advém o ódio mortal dos fanáticos lulopetistas que querem desmoraliza-la.

 

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