DOS FASCISMOS
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
Antes de mais nada é preciso esclarecer que o fascismo não tem nada a ver com as “direita” e “esquerda”, posições políticas definidas e consagradas historicamente pela Revolução Francesa.
O fascismo, como sistema de governo, apareceu no século passado entre o stalinismo soviético e o mussolinismo italiano; na URSS pelo autoritarismo stalinista e, na Itália, pela proposta de Mussolini de um socialismo nacional.
Na Rússia czarista os bolcheviques fizeram a “revolução progressista” e na Itália o “Risorgimento” propôs a “revolução conservadora”; ambos críticos do capitalismo que explorava a industrialização atrasada dos seus países, e mantendo certa diferença com relação aos proprietários rurais.
As duas “revoluções” conquistando o poder, sofreram inicialmente a incapacidade de conciliar a proposta teórica com a realidade. Na URSS, decretou-se a extinção da propriedade privada e os proprietários (kulacs) foram obrigados a deixar suas terras que passaram a pertencer ao Estado. Sofreram o diabo.
Na Itália, Mussolini formou uma aliança com os grandes proprietários feudais do Sul, o que lhe permitiu realizar a venda dos bens rurais da Igreja Católica, o quê, na prática política transpareceu a semelhança programática do Partido Fascista e dos Socialistas Revolucionários na Rússia.
Finda a Primeira Grande Guerra (1914-1918) a Revolução Bolchevique despertou esperanças para os trabalhadores do mundo inteiro; esperanças que foram desfeitas com a morte de Lênin, e a implantação da “ditadura do proletariado”, eufemismo para substituir a participação pessoal de Stálin.
Isto decepcionou a intelectualidade revolucionária e repercutiu entre os partidos socialistas do mundo inteiro. Na Itália o PSI rachou, levando à formação do Partido Comunista obediente a Stálin.
Assim, enquanto socialistas e comunistas digladiavam, os italianos foram atraídos pela proposta da “Unione Socialista Italiana”, com a proposta de um “socialismo nacional”, substituindo o conceito da luta de classes pelo conceito de pátria-nação. Criou-se desta maneira uma relação com a dissidência socialista da Unione Italiana del Lavoro.
Este revisionismo era divulgado pelo jornal do Partido Socialista Italiano, o “Avanti”, defendido por Benito Mussolini, jornalista e agitador, que defendeu a formação de uma “santa vingança popular”, como vimos n’ “As origens do Fascismo”, livro de Robert Paris.
O PSI expulsou Mussolini do jornal; então, ele fundou o “Popolo d’Itália” que chamou de “o diário dos combatentes e dos produtores”; dali passou a patrocinar uma posição “antipartido”, com o quê recebeu milhares de adesões.
Contando com o apoio de antigos sindicalistas revolucionários, Mussolini propôs uma medida extrema, reconhecendo a “capacidade do proletariado em dirigir diretamente a fábrica”; e, após a formação de conselhos de trabalhadores, iniciou uma campanha entre amigos e simpatizantes para formar os “fasci di combattimento”, semente do Partido Nacional Fascista.
Na URSS, Josef Stálin assumiu o comando geral do partido e do governo na URSS, eliminando seus adversários através de processos fraudulentos, levando o ex-ministro da defesa de Lênin, León Trotsky, a fugir para o exílio, denunciando pelo livro “A Revolução Traída” a instalação de um governo atrabiliário, policialesco, totalitário e violento.
O desvio da revolução leninista serviu de lição para Mussolini já ocupando em 1922 o governo italiano, ocupado após a marcha dos “camisas negras” sobre Roma, o que determinou o fim da “monarquia constitucional” e do liberalismo econômico.
Iguais aos stalinistas, os fascistas aparelharam o Congresso, a Justiça, o Exército e a Polícia, controlando todas as instituições do Estado, e se apoiaram na burocracia partidária e policial sob o pretexto de acabar com os antagonismos sociais; e, como ocorreu na URSS, também eliminaram os seus oponentes.
Desta memória histórica vemos que as duas posições foram apenas ditatoriais e não “direitistas” ou “esquerdistas”; ambos são fascistas com a mesma ideologia autocrática inseparável dos ditadores.
Encontramos similitudes no Brasil com os exemplos que descrevemos, tendo de um lado, os fascistas de Bolsonaro, reacionários que defendem torturadores e, do outro lado, os fascistas de Lula, populistas alinhados com as teocracias do Oriente Médio, ditaduras africanas e defensores do ditador Maduro.
Fascistas, vermelho e negro, implantaram no país a imunda polarização eleitoral com ajuda da “grande mídia”; e acusam a resistência contra isto de “fascista”. Churchill tinha razão quando profetizou que “os fascistas do futuro chamarão a si mesmos de antifascistas”.
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