DA LIBERDADE

[ 2 ] Comments
Compartilhar

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Nos tempos em que Pátria, patriotismo e patriota, não eram palavras vãs, hoje usadas somente na demagogia populista, crianças e adolescentes cantavam hinos nas escolas, e, entre eles, o da Proclamação da República, de Medeiros e Albuquerque e Leopoldo Américo Miguez.

“Liberdade!/ Liberdade!/ Abre as asas sobre nós!” um verso que foi um grito de guerra na minha juventude, o sonho de uma terra livre de livres irmãos. De coração, garanto que ainda ecoa no meu nonagenário com mais se 70 anos de exercício jornalístico.

Já adulto e me iniciando no saudoso jornal “A Manhã”, escrevendo sobre o futebol amador, fuçando as estantes do meu pai encontrei a curiosa figura do arcebispo católico, escritor, filósofo, pedagogo e teólogo francês, François Fénelon, cujas ideias valeram-lhe uma forte oposição tanto da Igreja quanto do Estado.

A História registra que foi nos finais do século 17 que vieram de Fénelon as noções de liberdade, igualdade e fraternidade, usadas mais tarde como consigna da Revolução Francesa. Tiveram um alvo perfeito, atingindo o absolutismo monárquico no Estado e o arbítrio clerical na Igreja. É interessante registrar que François Fénelon é um dos espíritos da codificação espírita como um dos Espíritos da Verdade que se comunicou com Allan Kardec.

Mais tarde como bandeira revolucionária, a Liberdade teve grande relevância na França, surgindo na insurreição popular de 1871, conhecida como Comuna de Paris, evento estudado com afinco por Karl Marx, precedendo a publicação do Manifesto Comunista. Vivia-se naquela época a chamada Primavera dos Povos por causa da brisa da Liberdade que cobria a Europa e influenciou a Revolução Americana.

Dos ventos soprados do norte do continente americano, tivemos em 1817 a Revolução Pernambucana, um levante independentista que defendia a República e as liberdades de credo e de expressão. Foi lindamente romanceada no livro “Dezessete”, do escritor, jornalista e poeta paraibano, Eudes Barros.

“Dezessete” precedeu o último levante  pela independência do Brasil em 1824, a Confederação do Equador, que também eclodiu em Pernambuco e recebeu a adesão de quase todas províncias do atual Nordeste.

Este conflito teve as raízes do liberalismo iluminista de François Fénelon; defendeu uma Constituição que promovesse a descentralização política do governo, concedendo às províncias autonomia política, administrativa e financeira.

Seu idealizador e líder foi o frade Joaquim do Amor Divino Rabelo, popularmente conhecido como Frei Caneca, uma personalidade que expressava ideias liberais e republicanas. Sua formação ideológica nasceu na subversiva Academia do Paraíso, entidade que reunia admiradores da Revolução Francesa e da independência dos Estados Unidos da América.

A Confederação pouco durou; sofreu a violentíssima repressão de numerosas tropas terrestres e de uma esquadra de mercenários ingleses financiada pelo governo imperial.

Derrotado o movimento, Frei Caneca foi condenado à morte por enforcamento, indiciado como um dos chefes da rebelião. Terminou, porém, sendo fuzilado num muro vizinho ao Forte das Cinco Pontas em Recife, parede que continua de pé com o busto dele e uma placa alusiva promovidos pelo Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano.

A minha homenagem ao Herói e Mártir da brasilidade é deixar patente que o seu ímpeto revolucionário foi além do autoritarismo monárquico e da crise econômica que se abatia no país; defendeu acima de tudo, como princípio, liberdade, igualdade e justiça social.

O sonho de Caneca se insere num Estado Democrático de Direito. Atentar contra ele é fuzilá-lo outra vez; por isto, é um imperativo da consciência nacional condenar a trama golpista de Bolsonaro e das viúvas da ditadura militar que o cercavam.

A Liberdade é inegociável. O fundador da Filosofia Crítica, Immanuel Kant, considerou a liberdade como base do seu sistema filosófico, como ética e dever. Assim, a defesa da Liberdade se torna uma obrigação e exige rigorosa punição de quem a ameaça com um golpe ou com a censura….

 

 

 

 

 

 

 

2 respostas para DA LIBERDADE

  1. Mauro Motta disse:

    Verdade

  2. Ricardo Manchester disse:

    Excelente texto numa didática fácil de entender e o que é melhor uma aula de ordenamento pensamento .