DA ESTUPIDEZ
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
Todas as exceções confirmam a regra de que toda regra tem exceção…. Não sei se vale para as conversas de bar, principalmente quando termina a última sessão do cinema e os cinéfilos discutem os “filmes de arte”, reconhecidos como tais por uma meia dúzia de três ou quatro críticos.
Bem. Estou falando de um tempo antigo, do “meu” tempo, quando também se macaqueou a “happy hour” dos gringos, com a desculpa para deixar o trânsito amainar. Então se começava com o Chopp apreciado devagarinho ou com whisky diluído em água com gás. E assim se iniciava um papo ameno que, aos poucos, se alteava num crescendo, e a conversa de bar virava conversa de bêbado.
Descrevo coisas do Rio, lembrando que o bom é que tudo terminava às gargalhadas, abraços e “atés amanhãs”. … Saudades daqueles tempos….
Fico imaginando como se faz hoje em encontros protagonizados pelos extremistas bolsopetistas, assumindo-se fraudulentamente como de “direita” e de “esquerda” (entre aspas, pois me refiro a bolsonaristas e lulistas que não são conservadores nem progressistas). Estes assumem o que Stanislaw Ponte Preta considerou: – “Conversa de bêbado não tem dono”.
Uma coisa, porém, é certa. Com vistas à geopolítica física, comprovamos uma curiosa situação: nas conversas de bar desses “falsos adversários” dá-se um fim à hipótese matemática de que as paralelas se tocam no infinito. A estupidez leva-os a se juntar. Os dois lados defendem de uma maneira ou outra, a invasão russa na Ucrânia ou o ataque “preventivo” de Israel ao Irã.
Não podem esconder também alianças táticas em muitas outras situações. O bolsopetismo se iguala na política, seja internacional ou nacional; uma com base nas doutrinas da “guerra fria” há muito acabada, mas rediviva entre os semialfabetizados, e, de outro lado, remoem a visão anti-imperialista há muito ultrapassada….
Digladiando-se eleitoralmente para enganar os trouxas, arrebanhar fanáticos e recrutar mercenários, a obscena nudez do lulopetismo e do bolsonarismo está exposta além das conversas de bar. Está escancarada até nas redes sociais.
Não é para menos. Lembro o aforismo de Mark Twain afirmando que quatro quintos da humanidade é formada de desorientados. Fico imaginando este percentual de estúpidos pelo mundo afora…. No Brasil, pelas preferências eleitorais que as pesquisas divulgam, são milhões.
Para conhecer esta realidade que se hospeda nos quartos de fundo da política não é necessária uma observação acurada ou investigação policialesca; é transparente na mídia televisiva e na decadente mídia impressa.
Os “especialistas em tudo”, da Globo News e da CNN, chegam à insensatez de criticar a maior conquista da civilização, a Declaração dos Direitos do Homem; também os magistrados “garantistas” não se acanham de defender os políticos corruptos e chefes do tráfico, perdoando propinas e evitando prisões.
Até na Medicina se vê médicos que por ideologia distorcida ou falta dos estudos necessários ao profissionalismo, assumirem o negativismo científico, negando a eficácia das vacinas.
Temos também a tristeza de ver a cegueira fanática dos defensores da estúpida censura nas redes sociais, uma maquinação do Sistema para impedir críticas e denúncias ao poder, sufocando a liberdade de expressão.
O arbítrio repressivo vem acompanhado do argumento que aponta a presença na web de delinquentes, pedófilos e difamadores, ínfima minoria para quem a legislação vigente no código penal tipifica punições.
Os abusadores despóticos se qualificam como aqueles que enganam a si próprios, os que desvalorizam a liberdade, nostálgicos da escravidão, os que sofrem de ignorância histórica, e muitos que vendem opiniões. Todos vestindo igual camiseta da Estupidez.
“Elles” e “ellas” nos levam a relembrar máximas decoradas no curso secundário como o inesquecível enunciado do sábio Aristófanes: – “A juventude envelhece, a imaturidade é superada, a ignorância pode ser educada e a embriaguez passa, porém, a estupidez é eterna.”
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