Bertolt Brecht

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NECESSIDADE DA PROPAGANDA (leia-se “Marketing”)

1

É possível que no nosso país nem tudo ande como deveria andar.
Mas ninguém pode duvidar de que a propaganda é boa.
Até os famintos precisam reconhecer
Que o ministro do Abastecimento fala bem.

2

Quando o regime mandou num único dia
Trucidar milhares de pessoas, sem
Inquérito nem sentença judicial
O ministro da Propaganda elogiou a infinita paciência do Führer
Que tanto tempo esperou pela carnificina
E cumulou os canalhas com bens e postos de honra
Num discurso tão magistral, que
Nesse dia não só os parentes das vítimas
Como até mesmo os algozes choraram.

3

E quando num outro dia o maior dirigível do Reich
Se consumiu em chamas porque o encheram com gás inflamável
De modo a economizar o não-inflamável para fins militares
O ministro do Transporte Aéreo prometeu diante dos caixões dos mortos
Que não iria se deixar abater, no que
Arrancou aplausos efusivos. Até de dentro dos caixões
Dizem que as palmas retumbaram.

4

E que primorosa é a propaganda
Para o lixo e para o livro do Führer!
Qualquer um é levado a ler o livro do Führer
Onde quer que este se encontre jogado.
Para difundir o colecionismo de trastes, o poderoso Göring
Declarou-se o maior colecionador de trastes de todos os tempos e
Para abrigar os trastes, construiu no meio da capital do Reich
Um palácio que é
Ele próprio tão grande quanto uma cidade.

5

Um bom propagandista
Faz de um montão de estrume um lugar de passeio.
Quando não há gordura, ele demonstra
Que uma compleição magra nos embeleza.
Milhares que o escutam discursar sobre rodovias
Alegram-se como se possuíssem automóveis.
Nos túmulos dos que tombaram ou morreram de fome
Ele planta loureiros. Mas bem antes de se chegar a isso
Falava da paz quando os canhões desfilavam ao lado.

6

Somente através de uma propaganda excepcional
Foi possível convencer milhões
De que o incremento das forças armadas assinalava uma obra de paz
Que cada novo tanque era uma pombinha da paz
E cada novo regimento, uma nova demonstração
De amor à paz.

7

Todavia: ainda que se alcance muito com bons discursos
Não se alcança tudo. Escutou-se
Muitos dizerem: que pena
Que a palavra carne não sacie por si só, e pena
Que a palavra roupa aqueça tão pouco.
Quando o ministro do Planejamento tece loas ao valioso novo fio têxtil
Não pode chover, senão
Os ouvintes vão ser pegos de calça curta.

8

E mais uma coisa nos deixa apreensivos
Sobre os propósitos da propaganda: quanto mais propaganda há no nosso país
Menos há no resto do mundo.

1937

Trad.: Andre Vallias

Uma resposta para Bertolt Brecht

  1. “Ditado Popular” Propaganda a alma do negócio.