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O feio e o bonito na política brasileira

 MIRANDA SÁ, jornalista (mirandasa@uol.com.br)

Uso o adjetivo pátrio no título para esclarecer que essa conversa atoleimada de classificar candidatos a postos eletivos como “feio” ou “bonito” só pode ocorrer nesta terra que já foi dos índios Botucudos, extintos na década de 40 do século passado.

Esses nossos ancestrais que viveram a leste das Minas Gerais, sul da Bahia e do Espírito Santo, eram indivíduos bastante atrasados, da era da pedra lascada. Sofreram sangrenta perseguição restando deles, salvos pelo Serviço de Proteção aos Índios (SPI) em 1939, uma ínfima população de 68 indivíduos. Mas ficaram na linguagem popular como gente bruta.

Índios à parte, defendemos que o exame analítico dos políticos seja oferecido aos estudiosos através de intelectuais sérios, não caindo na mediocridade com que o pretendente à presidência da República, Ciro Gomes, quis deflagrar na sua pré candidatura.

Sempre tivemos o perfil dos agentes políticos de forma inteligente, através de valiosas observações por este Brasil afora. No Rio Grande do Norte, temos duas plaquetes de uma importância extraordinária. Um deles, do professor e escritor Itamar de Souza, estuda o prestígio do compadrio e a figura do compadre na atividade social e política, principalmente nas disputas partidárias e eleitorais. A outra obra cabe ao médico Maurilton Morais, com uma abordagem corajosa sobre a influência do sexo na política.

A temática é longamente explorada com aspectos de origem regional, hereditariedade, comportamental, racial e classista, tudo oferecendo uma base científica para o papel do indivíduo na sociedade e na História.

Eis, porém, que chega o Plano B de Lula, Ciro Gomes, escalado para atacar o candidato tucano, José Serra, enquanto o Plano A, a ministra Dilma, desempenhará o papel de administradora, mãe do PAC, madrinha do Bolsa Família e tia da Minha Casa Minha Vida. Uma ternurinha, se é que possamos dizer assim.

Ciro, furibundo, é quem vai partir para o ataque. Sentado no banco de reserva, tem que fazer a lição de casa para conquistar as boas graças do Chefe, pois dependerá da sua competência no ataque ao adversário, a boa vontade para substituir o Plano A se necessário.

A primeira investida de Ciro foi chamar José Serra de feio “de corpo e de alma”. Ele tentou usar a feiúra para queimar o concorrente pensando numa banca examinadora virtual, com pessoas de sensibilidade, exigentes quanto à beleza, perfeccionistas na comparação com os demais e estetas na apuração dos traços fisionômicos.

A sorte do governador de São Paulo é que ele não está disputando concurso de Mr. Brazil (com “z”), ou se apresentando para destaque de escola de samba; modelo da revista “Caras”, ou disputando com travestis, sempre apurados na qualidade do belo.

Existe um ditado antigo que reza: “Quem ama o feio, bonito lhe parece”. Se a sabedoria popular funciona, Serra não sofrerá prejuízo algum com a aleivosia de Ciro Plano B. Pelo contrário, é este – disputando a indicação pelo Partido Socialista Brasileiro – quem sairá prejudicado pelo primarismo.

Aos herdeiros de João Mangabeira e Miguel Arraes não deve agradar o discurso em comício de ponta de rua em subúrbio fortalezense. Os socialistas têm a tradição da cultura e elegância no trato da política. Ciro surge como a negação disso.

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