PASSEATA

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MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Como seria bom se existisse impressa a Declaração Universal das Responsabilidades Humanas” (Jackson da Mata)

Manifestações políticas sempre foram organizadas para atrair o povo, existindo na Grécia Antiga a democracia ateniense realizava a Eclésia (em grego: Εκκλησία: ekklesia), uma assembleia reunindo cidadãos com mais de 21 anos que tinham servido o exército.

Essas reuniões chegaram à Roma republicana. Realizavam-se lá os comícios, comitiu, is, para as eleições do Senado; depois na Idade Média, com o fim dos governos despóticos europeus, também passaram a ocorrer comícios.

Muito mais tarde, essas demonstrações públicas atravessaram o Atlântico e o jeitinho brasileiro inventou showmícios com atrações lúdicas, apresentando artistas populares, sorteios de prêmios e distribuição de brindes. Estes, pela evidente compra de votos, foram proibidos em 2006 com a Lei Nº 11.300.

Lembrando manifestações políticas, a minha memória vai à infância, quando assisti comícios pedindo a declaração de guerra contra o nazi-fascismo, contra a ditadura Vargas, pela redemocratização do País; e depois, pelo inverso, na retumbante volta de Getúlio com o povo cantando “Bota o retrato do Velho, outra vez, / Bota no mesmo lugar”.

Nas manifestações nacionalistas do “Petróleo é Nosso” eu ia com meu pai, um patriota como poucos. Daí em diante, as passeatas tornaram-se rotineiras. O verbete “Passeata” é um substantivo feminino, derivado de passear e designando um passeio coletivo organizado, manifestação pública de alegria ou política.

Tem vasta sinonímia, como caminhada, cortejo, desfile, marcha, mobilização e protesto. Exprimindo religiosidade, procissão. Feita por jovens, rolê e giro. O Carnaval com o corso de automóveis e desfiles de carros alegóricos, inspirou o surgimento das carreatas político-eleitorais.

Em Campina Grande, Paraíba, assisti pela primeira vez à uma cavalgada, e soube que já era uma prática comum no Rio Grande do Sul; vi também em apoio político, cortejo de carroceiros, ronco de motocicletas e silenciosas bicicletadas.

Foram tão repetitivas as passeatas pela “redemocratização do País” que entrou para a História a “Passeata do 100 mil” em 1968, levando muitos da minha geração a continuar marchando até hoje, sem se dar conta de que os tempos mudaram; e que envelheceram sem ver a realidade.

Até entrou na gíria política a expressão “padres de passeata”, nomeando os sacerdotes politiqueiros (ainda os há muitos) que convocavam demonstrações pela queda de um palito no chão, da maneira como o Psol faz hoje para defender os aviõezinhos do tráfico da repressão policial…

A sequência de atos políticos, expressando várias vezes os mesmos slogans e palavras-de-ordem cai na trivialidade, tornam-se banais, corriqueiros e ordinários. Muitas vezes adquirem aspectos caricatos e até cômicos.

Compareci com familiares e amigos a Copacabana no dia 9 de setembro de 2018, ao comício-passeata de solidariedade a Jair Bolsonaro pelo brutal e covarde atentado sofrido em Juiz de Fora tendo como agente um pau mandado esquerdista.

Naquela altura Jair Bolsonaro representava o anti-ideologismo, postando-se contra tudo o que representava a corrupção e se expressava como terrorismo. Como o repúdio popular aos governos do PT cresceu como um tsunami, levou Bolsonaro à presidência da República.

Sinto reconhecer que como os “padres de passeata” e os eternos estudantes sem futuro, grupos auto assumidos como “bolsonaristas” ainda continuam desfilando em campanha eleitoral, dando-me vontade de gritar para eles, parodiando os cearenses: “Bolsonaro está eleito, babacas! ” .

O Presidente, que recuperou a saúde e se encontra em condições de cumprir as suas promessas, deve dar um exemplo de mandatário aos seus seguidores, para que evitem declarações e discursos que dividem o País. E, principalmente, não usarem a Internet com debates sem futuro.

Os manifestantes contínuos se exibem mais do que ajudam; para eles, lembro Sosígenes de Alexandria: “Quando se atravessa o tempo de manifestação e ela se torna permanente, o que atraiu torna-se repelente”.

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