Mensalão verde

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A reunião ecológica de Copenhague já é um sucesso. Serviu para políticos de várias estirpes darem um tempo da vida real – essa chatice – e bancarem os salvadores do planeta.

A campanha presidencial brasileira, por exemplo, finalmente saiu do armário. Três candidatos apareceram lá, dando seus pitacos sobre o futuro da humanidade. Viva o fim do mundo.

Houve sutil divergência de propostas. A candidata Marina Silva fala em contribuir com 1 bilhão de dólares para salvar a Terra. Dilma Rousseff só topa falar de 100 bilhões para cima. São detalhes. O que vale é a inundação de boas intenções. Quanto mais românticas e abstratas, melhor.

Dilma, a gestora, que sabe tudo de meio ambiente (e tudo de tudo), chegou a Copenhague com uma prioridade: dar umas cotoveladas no colega Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente. Precisava combater o risco ecológico de Minc aparecer mais do que ela. Assim que conseguir tirá-lo da foto, ela volta a salvar o mundo.

Mas talvez nem Dilma, a enteada do filho do Brasil, possa fazer esse milagre. Os números divulgados em Copenhague são alarmantes. Três quartos das mortes no planeta em 2009 foram causados pelas mudanças climáticas, avisaram os aprendizes de Nostradamus. Pelo visto, o efeito estufa é a peste moderna.

O remédio para combatê-lo é conhecido: reuniões internacionais, banquetes para diplomatas e ONGs, pantomimas de ativistas fantasiados, implorando à polícia para aparecerem algemados nas fotos do dia seguinte.

Isso tudo dará frutos concretos, pelo caminho de sempre. Os governos serão forçados pela histeria coletiva a despejar dinheiro do contribuinte nos fundos salvacionistas – isto é, o velho sumidouro da eco-burocracia, dos relatórios científico-literários e dos projetos espertos. É o mensalão verde.

Como dar 1 bilhão, 100 bilhões ou 500 bilhões (aparentemente, tanto faz) para reduzir entre 25% e 45% das emissões gasosas (a precisão não é o forte dessa turma) em uma década? Imaginem esses dinheiros chovendo nas contas das autoridades e das ONGs que vão intermediar a salvação do mundo. No Brasil, dá para apostar que a grama da Fundação José Sarney ficará bem mais verde.

É claro que ninguém quer discutir coisas incômodas como o crescimento explosivo da população mundial. Melhor discutir o arroto das vacas. E exigir delas um pouco mais de educação – a peso de ouro, claro.

O spa de Copenhague faz bem a todo mundo. Daqui a pouco Arruda e sua turma aparecem por lá, com idéias incríveis para o clima.

Na cruzada contra o efeito estufa, todo mundo é bonzinho. Desde Jesus Cristo não aparecia uma idéia tão genial.

Guilherme Fiúza, jornalista e escritor

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