MEDO

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Ievguiéni  Ievtuchenko

 

O medo está morrendo na Rússia,

Como os fantasmas dos anos passados;

De vez em quando, no adro das igrejas,

Ainda pede esmola qual mendiga.

 

Mas eu me lembro quando ele era forte

E sua falsidade triunfava.

Em cada andar dos prédios se esgueirava

Sua sombra, em toda parte penetrando.

 

Tornava a todos nós obedientes;

Nas coisas todas punha o seu selo;

Fazia-nos gritar quando era a hora

De calar; e calar na vez do grito.

 

Isso tudo, hoje em dia, está distante.

Estranho hoje é lembrar como temíamos,

Em segredo, que nos denunciassem,

Que viessem bater à nossa porta.

 

E o medo de falar com um estrangeiro?

E o medo de falar com sua mulher?

E o medo ilimitado de ficar

Sozinho e em silêncio em meio à praça?

 

Ninguém temia andar no nevoeiro,

Nem enfrentar as balas na batalha.

Mas tínhamos o medo, tão frequente

E mortal, de falar conosco mesmos.

 

[…]

 

Eu queria que o medo que tivéssemos

Fosse o de condenar sem julgamento,

De degradar ideias com mentiras

E, com mentiras, exaltar pessoas,

 

O medo de ficar indiferente

Quando alguém sente dor, é perseguido,

o medo de não sermos destemidos

Quando pintamos ou quando escrevemos.

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