DOS MILAGRES

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MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

O filósofo David Hume argumentou que milagres são violações das leis naturais e que os testemunhos sobre eles são geralmente pouco confiáveis. Ele afirmou que é mais provável que o testemunho esteja errado do que um milagre realmente tenha ocorrido. (Volume d’ Os Pensadores, editado pela Nova Cultural em 1989).

Hume enfrentou a crítica de alguns teólogos com tímidas referências diversionistas, um deles, Eugen Drewermann, considerando-os “simbólicos” como expressão da psique humana mais do que eventos sobrenaturais…. Outro, Richard Swinburne, defende que a ocorrência dos milagres deve ser defendida pelos crentes como uma cosmovisão teísta…

O campo da religião esquematiza mais ou menos o que expressam estes pensadores da   teologia sistemática (ou dogmática). Como organismos burocraticamente constituídos, o cristianismo, o judaísmo e o islamismo usam relatos de milagres como base das suas crenças.

Com isto, enfrentam a visão naturalista de Spinoza que no seu Tractatus Theologico-Politicus sustenta que tudo ocorre conforme as leis imutáveis da Natureza, e o que chamam “milagres” são eventos pontuais cuja causa desconhecemos.

O Catolicismo medieval exagerou, realçando os milagres de Jesus para dogmatizar a sua divindade; aproveitou-se dos relatos evangélicos pouco confiáveis, mas eficientes para fortalecer a fé dos seus seguidores.

Entre muitas descrições, destacamos milagres porventura praticados pelo Carpinteiro de Nazaré quando vivia entre pescadores no lago da Galileia; fazia-os em nome do “Pai”, como se referia a Deus. Para um evangelista, alimentou com eles milhares de pessoas com alguns poucos pães e peixes (Mateus 14:13-21)… E andou sobre as águas, para acalmar os discípulos em meio à tempestade (Mateus 14:22-33).

A palavra Milagre, como verbete dicionarizado, é um substantivo masculino de etimologia latina “miraculum“, que significa “prodígio, maravilha, coisa extraordinária”; e no nosso brasilês refere-se a um ato ou acontecimento fora do comum, inexplicável pelas leis naturais. Na religião, é qualquer referência de participação divina na vida humana.

Como a Ciência procura entender o mundo pesquisando ocorrências que não deixam dúvidas pela evidência concreta, esbarra na convicção de eventos inexplicáveis que são aceitos convictamente pela crença em coincidências pontuais aceitas pela fé sem ser comprovadas.

Será razoável depositar numa hipotética caixa que recolhe dúvidas, todas as questão discutíveis. Assim ouviríamos Orson Welles sabiamente alertando para a necessidade impositiva de duvidar, dizendo: – “Só os estúpidos têm uma confiança absoluta em si mesmos”.

Cedendo à teoria e apelando mais uma vez para Hume, temos dois níveis explicativos da causalidade; a precisão de uma explicação para fenômenos, e o esclarecimento para a relação entre o fato e o desejo de crer em algo sem comprovar a sua existência.

Concordo que é preciso guardar dúvidas sobre os antigos milagres praticados pelo Deus judaico-cristão, mas gostaria que se Ele os teria feito antigamente, seria razoável que viesse a fazê-los na contemporaneidade.

Isto levou-me à surpresa em saber que na PUC/RJ existe uma cadeira “Ciência da Religião”, e considero importante ver que os teólogos de hoje aceitam a Ciência como a busca para atitudes racionais conforme as leis que a Natureza oferece.

Assim, gostaria de encontrar condições objetivas para que os milagres voltassem a ocorrer; e que fossem através de um Deus cósmico, atemporal e onipresente, para nos encher de alegria fazendo um milagre com os togados do STF que se metem e falam em tudo, quando não deviam. O miraculoso os faria romperem o silêncio (que seria normal não fora a sua parlapatice) diante do roubo tsunâmico no INSS pelos pelegos lulopetistas.

Sem fugir da lógica e sem intervenção divina, eu voltaria a crer em milagres também, se a omissão da Suprema Corte perante a criminalidade fosse considerada por todos brasileiros e brasileiras.

Com esta unanimidade comprovar-se-ia dessa maneira o repúdio nacional ao terrorismo dos corruptos e corruptores instalados nos poderes republicanos….

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