DO ESPELHO
MIRANDASA (E-mail: mirandasa@uol.com.br)
Encadeando respostas coletivas (as individuais, respondo diretamente) trago aos que levantaram dúvidas sobre o pensamento de Baruch Spinoza citados no meio artigo “DA DEFINIÇÃO”. Em consideração aos que creem num Deus com imagem e semelhança do homem, reafirmo que embora divirja deles, os respeito…
Não poderia, entretanto, deixar de lado o que a História capitula sobre o cristianismo primitivo e o seu desvirtuamento pelo papado no Primeiro Concílio de Niceia, em 325 d.C., ao escolher quatro, entre dezenas de memórias sobre Jesus Cristo de diversas pessoas usando o nome de contemporâneos dele.
Além de dogmatizar os textos escolhidos dos pseudo João, Lucas, Marcos e Mateus, ao sabor de interesses da burocracia eclesial, desprezou-se diversos outros relatos que circulavam entre os crentes no Oriente Próximo e na África. Estes últimos foram considerados apócrifos, isto é, destituído de aprovação dogmática do Papado.
É interessante constatar que muitos dos textos exorcizados continuaram circulando nas igrejas Armênia, Copta, Etíope, Maronita, Siríaca, Siro-Malancar e na federação das igrejas ortodoxas Russa, Grega, Melquita, Rutena e Ucraniana. E, o que é importante para os cristãos, trazem informações que não constam dos Evangelhos Canônicos.
Algumas passagens literárias dos evangelhos apócrifos são tão importantes para o cristianismo que incentivaram a criação de festas adotadas pela Igreja Católica, em nome dos avós de Jesus, Joaquim e Ana. E detalhes como os nomes dos Reis Magos….
Muito piores foram as distorções surgidas na Idade Média sob o domínio imperial do papado. Ainda bem que os próprios jesuítas condenaram o revisionismo doutrinário e os abusos individuais dos papas; um deles, Gerard Manley Hopkins, conhecido e laureado como um dos maiores poetas da língua inglesa, escreveu: – “O mundo medieval foi aquele em que tudo teve sujeira e mal cheiro de gente”.
A nova realidade desfigurada de uma religião, felizmente, fica restrita aos teólogos que aceitam o dogmatismo sem discussão; curiosamente, somente encontramos a fraude vaticana em denominações evangélicas a gosto dos vendilhões do Templo…. A massa popular a ignora, mantendo a fé apenas nas crenças primitivas guardadas no inconsciente coletivo.
É por isto, que entre os missivistas aos quais respondo, veio a pergunta de como o Deus-Natureza disciplina a ética e a moral da humanidade; ora, até o budismo, uma religião sem deus, tem princípios que regem o comportamento humano. Lembro de fábula moderna condenando a usura que sequer consta nos mandamentos….
É de origem judaica. Conta que um milionário judeu acumulador de dinheiro foi à Sinagoga se queixar com o rabino das críticas ofensivas que sofre da comunidade; o sacerdote, de respeitada cultura humanista além da Torah, levou-o até a janela e perguntou-lhe o que via através da vidraça.
– “Vejo pessoas passando na calçada defronte”, disse o ricaço. O rabino pegou-o pelo braço e levou-o para frente de um espelho: – “O que vês agora?”, perguntou. E o reclamante respondeu que via a si mesmo.
O rabino, sentando-se e mandando-o sentar-se também, falou: – “Você comprovou, irmão, a diferença entre o vidro e o espelho, pelo vidro a gente vê os outros, mas quando este é revestido de prata só vemos a nós mesmos”.
A simplicidade humanista é como o cristal, através do qual se vê a solidariedade humana, razão da nossa existência social e política, enquanto a prata espelha o egoísmo egocêntrico dos corruptos, moucos aos gemidos lamentosos do povão.
É por isso que se vê embaciada a realidade brasileira da politicagem reinante, aqui está presente um espelho feiticeiro como aquele dos irmãos Grimm aproveitado do conto de fadas folclórico escandinavo “Schneewittchen” – Branca de Neve.
Como a rainha bruxa monitorou o crescimento corporal e a beleza da sua enteada, a princesinha, os polarizadores da política brasileira Bolso e Lula se olham no reflexo e veem um ao outro, sem se envergonhar de fazer a pergunta clássica, nas vésperas da eleição do candidato dos dois à presidência do Senado: “Há alguém no mundo mais corrupto do que eu?”
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