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Cinismo, mentiras e estratégia

MIRANDA SÁ, jornalista
E-mail: mirandasa@uol.com.br

Depois das denúncias de que Lula da Silva interferiu na negociata da Varig-Variglog, através da Casa Civil da Presidência da República, assistiu-se neste país a estratégia da blindagem do governo e da pessoa do Presidente baseada, como sempre, em cinismo e mentiras.

Quando se vislumbrou o escândalo, deflagrou-se uma visível ação dos pelegos no poder com o objetivo de blindar o governo. O primarismo do estratagema é o mesmo de sempre: primeiro um tempo de silêncio; depois uma versão defensiva e persecutória para distrair a opinião pública; e, finalmente, atestada a verdade, uma matreira expiação de culpa.

Com isso pode um ou outro assessor ou até ministro assumir omissões e responsabilidades para os jornalistas chapa-branca levarem à opinião pública a versão derradeira que afasta Lula da Silva do foco e de qualquer comprometimento.

A ex-diretora da Anac, que jogou lama no ventilador, disse que em 2006 havia se reunido “inúmeras vezes” com a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil – o que foi oficialmente negado por falta de registros na agenda ministerial. Posteriormente ficaram esclarecidos esses encontros.

O mesmo ocorreu com as informações de que Lula da Silva recebia regularmente o seu compadre, Roberto Teixeira, intermediário do negócio sujo da compra da Varig. Foi peremptoriamente negado o fato, agora comprovado e indesmentível. Pelo menos seis visitas estão registradas.

Os encontros não registrados na agenda do Presidente, o que sugere que a influência do amigo na administração federal é bem maior do que o governo admitia até então.

Fortalece as suspeitas de que a Casa Civil interferiu para viabilizar a venda da VarigLog e da Varig para um grupo que não reunia todas as condições legais para fechar o negócio. Confirma igualmente a acusação de Denise Abreu de que Dilma Rousseff atuou decisivamente nas negociações.

Segundo informações da imprensa, pelo menos duas idas de Teixeira ao Planalto para falar com Lula estão ligadas ao caso Varig/Variglog. No dia 15 de dezembro de 2006, o compadre foi ao gabinete presidencial acompanhado dos sócios da Varig um dia depois de a companhia receber autorização para voar. O outro ocorreu em 28 de março de 2007, quando o advogado foi ao Planalto acompanhado de dois empresários para comunicar a Lula a compra da Varig pela Gol.

As pedras se ajustam para formar o mapa da incúria administrativa do PT-governo. Para não dizer cumplicidade com os corruptos. Por isso, deve ser motivo de preocupação que continue a passar o filme já visto do cinismo e da mentira, componentes da estratégia governamental para blindar Lula da Silva e a mãe do PAC.

Principalmente essa última, dona Dilma, cuja assessoria negou as visitas do compadre Teixeira ao seu gabinete, negativa que fere o decreto 4.334, de agosto de 2002, que determina que audiências de autoridades públicas com representantes de interesse privado sejam registradas e acompanhadas por outro servidor.

O decreto não especifica os motivos desses contatos entre Lula da Silva e o compadre e de Dilma com o compadre do Presidente. Pode ser visita de cortesia, encontro familiar ou relacionamento amoroso. A Ministra e o Presidente estão enquadradas na Lei.

Chamem a Justiça!

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