Poesia

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O Barco Ébrio

 

Como descesse ao léu nos Rios impassíveis,

Não me sentia mais atado aos sirgadores;

Tomaram-nos por alvo os Índios irascíveis,

Depois de atá-los nus em postes multicores.

 

Estava indiferente às minhas equipagens,

Fossem trigo flamengo ou algodão inglês.

Quando morreu com a gente a grita dos selvagens,

Pelos Rios segui, liberto desta vez.

 

……………………………..

 

Mais doce que ao menino os frutos não maduros,

A água verde entranhou-se em meu madeiro, e então

De azuis manchas de vinho e vômitos escuros

Lavou-me, dispersando a fateixa e o timão.

 

Eis que a partir daí eu me banhei no Poema

Do Mar que, latescente e infuso de astros, traga

O verde-azul, por onde, aparição extrema

E lívida, um cadáver pensativo vaga;

 

……………………………..

 

Se há na Europa uma água a que eu aspire, é a mansa,

Fria e escura poça, ao crepúsculo em desmaio,

A que um menino chega e tristemente lança

Um barco frágil como a borboleta em maio.

 

Não posso mais, banhado em teu langor, ó vagas,

A esteira perseguir dos barcos de algodões,

Nem fender a altivez das flâmulas pressagas,

Nem vogar sob a vista horrível dos pontões.”

 

 

Arthur Rimbaud (1854-1891)

 (Tradução de Wyatt Mason)

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