Poesia

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TELHA DE VIDRO

 

Quando a moça da cidade chegou

veio morar na fazenda,

na casa velha…

Tão velha!

Quem fez aquela casa foi o bisavô…

Deram-lhe para dormir a camarinha,

uma alcova sem luzes, tão escura!

mergulhada na tristura

de sua treva e de sua única portinha…

 

A moça não disse nada,

mas mandou buscar na cidade

uma telha de vidro…

Queria que ficasse iluminada

sua camarinha sem claridade…

 

Agora,

o quarto onde ela mora

é o quarto mais alegre da fazenda,

tão claro que, ao meio dia, aparece uma

renda de arabesco de sol nos ladrilhos

vermelhos,

que — coitados — tão velhos

só hoje é que conhecem a luz doa dia…

A luz branca e fria

também se mete às vezes pelo clarão

da telha milagrosa…

Ou alguma estrela audaciosa

careteia

no espelho onde a moça se penteia.

 

Que linda camarinha! Era tão feia!

— Você me disse um dia

que sua vida era toda escuridão

cinzenta,

fria,

sem um luar, sem um clarão…

Por que você na experimenta?

A moça foi tão bem sucedida…

Ponha uma telha de vidro em sua vida!

 

Rachel de Queiroz

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