Poesia

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A ALMA DO VINHO

 

Cantava a alma do vinho à tarde nas botelhas:

“Homem, eu ergo a ti, que és deserdado e triste,

De minha prisão vítrea e de ceras vermelhas,

Um canto fraternal que só de luz consiste!

 

Sei de quanto precisa a colina acendida

De amargura, de suor e do sol mais ardente

Para que esta alma seja e que eu palpite em vida;

Mas eu nunca serei ingrato ou inclemente,

 

Sempre sinto prazer imenso quando desço

Uma garganta humana usada de refregas,

Sempre um cálido peito é um sepulcro sem preço

Em que eu vivo melhor que nas frias adegas.

 

Ouves dominicais refrões bem como a Graça

Da esperança que vibra em meu seio fremente?

Apóia as mãos à mesa, as mangas arregaça,

Glorifica-me após e serás mais contente.

 

Acenderei o olhar de tua bem-querida;

Ao teu filho darei os músculos e as cores,

Serei para este fraco atleta desta vida

Óleo a robustecer bíceps de lutadores.

 

Eu tombarei em ti, vegetal ambrósia,

Precioso grão que atira o eterno Semeador,

Para que nosso amor desemprenhe a Poesia,

Brotando para Deus como uma rara flor!”

 

 

Baudelaire

 

 

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