Poesia
Resíduo
Tanta cal, tanta cinza, tanto incenso
e o vôo impraticável e o pesado
projeto de cruzar o rio a nado
e o caminhar feito um esforço imenso.
Raro sujeito mostra-se propenso
a alar as rédeas do seu próprio fado:
objeto, o mais geral aceita alheado
toda a cal, toda a cinza, todo o incenso.
Contra a revolta, a palha da rotina;
há aquele gesto ou grito que termina
trocando uma bandeira por um lenço,
e então seguir é ir carregando a estrada
nos ombros – e com ela carregada
vai a cal, vai a cinza, vai o incenso.
Geir Campos
O Poeta
Geir Nuffer Campos nasceu em São José do Calçado (ES) no dia 28/02/1924. Foi piloto da marinha mercante e ex-combatente civil na Segunda Guerra Mundial. Formou-se em Direção Teatral (FEFIERJ-MEC, Rio), mestre e doutor em Comunicação Social pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da qual foi professor.
Sempre engajado nas lutas de seu tempo, foi um dos fundadores do Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro e da Associação Brasileira de Tradutores, hoje Sindicato Nacional dos Tradutores, de que foi presidente, lutando pela conscientização dos que traduzem profissionalmente no Brasil e pela regulamentação desta profissão.
Traduziu várias obras de Rilke, Brecht, Goethe, Shakespeare, Sófocles, Whitman e outros, sendo merecedor de um ensaio da professora Maria Thereza Coelho Ceotto da Universidade Federal do Espírito Santo.
Destacou-se como ativista cultural de grande influência e presença na literatura brasileira, tornando-se o grande representante capixaba da “Geração de 45”. Foi um dos poucos poetas brasileiros a comporem uma coroa de sonetos.
Dele falou Aníbal Bragança, professor do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense e doutor em Ciências da Comunicação pela ECA/USP, “Geir Campos não foi apenas um artesão da palavra e um operário do canto. Esteve em todas as frentes de ação pelo fortalecimento do livro, como editor, como bibliotecário, como tradutor, como líder da categoria, como professor e como autor. Autor, diga-se, de uma obra sólida e múltipla, rica e diversificada, que marcou a literatura brasileira da segunda metade deste século”.
Geir Campos faleceu no dia 08 de maio de 1999, aos 75 anos, em Niterói (RJ).
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