Poesia

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Queixa antiga

É uma dor que me dói muito longe…
Dor antiga, separada do corpo.

É uma dor que me dói não sei onde,
meio física, metade celeste.

Um tanto minha, outro tanto da terra.

Veja o galho cortado a uma fronde
e que ainda dá flores sentidas
e que assim à sua árvore responde.

Seu futuro parece o meu passado:
minhas longas raízes ficaram
no chão duro de onde fui arrancado.

(No chão duro onde arroios felizes
ainda cantam pelos vãos do passado)


Cassiano Ricardo


O Poeta

(1895-1974)

Cassiano Ricardo (1895-1974) nasceu em São José dos Campos, formado em Direito, foi um dos líderes do Modernismo , iniciado em 1922, tendo participado dos grupos “Verde-Amarelo” e “Anta”. Estréia em 1915, com o livro Dentro da Noite, de cunho sentimental, passou pelo parnasianismo com A Flauta de Pã e define-se como modernista e nacionalista, a partir de 1925, com Vamos caçar papagaios, Borrões de Verde e Amarelo.

Sua obra mais notável é Martim Cererê, dentre muitas outras, cabendo destacar O Arranhacéu de Vidro (1956) e o notável Jeremias sem chorar (1965). Versátil, criativo, lírico e satírico, crítico e memorialista, valeu-se de uma técnica sempre ousada e renovada, às vezes desconcertante mas sempre fascinante.

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