Comentário (I)
Uma mulher incomum
Ruth Cardoso foi uma intelectual internacionalmente reconhecida que não escondia sua ojeriza aos rituais do poder e uma especial antipatia por jornalistas, fossem eles interessados em detalhes fúteis ou estivessem sinceramente empenhados em ouvir o que a professora, mestre, doutora e escritora tinha a dizer sobre os destinos do País.
Ruth chegou a provocar um contido escândalo quando, depois da eleição e antes da posse, cogitou da hipótese de não se mudar para a capital. Queria ficar em São Paulo, levando “vida normal”. A corte sentiu-se rejeitada. Enxergou antipatia, soberba e um resquício de impertinência na novidade da rejeição ao título de “primeira-dama”. Ruth não dizia com todas as letras, mas estava claro que achava a denominação antiquada e, sobretudo, cafona.
Tinha toda razão. Nem por isso, entretanto, insistiu na imposição de novas leis. A recíproca foi verdadeira e, aos poucos, os espíritos foram se desarmando. A capital desistiu de enquadrar Ruth nos parâmetros conhecidos e ela, enquanto fazia concessões na forma, conquistava respeito na exposição do conteúdo. Falava pouco, mas era sempre certeira na análise dos problemas brasileiros, não abria mão das opiniões, ainda que polêmicas.
Dora Kramer, jornalista
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