Artigo saído n’ O JORNAL DE NATAL. Nas bancas
PT-governo, recreação dos “distraídos”
MIRANDA SÁ, jornalista
E-mail: mirandasa@uol.com.br
Não sei por que o feriado de corpus-christis trouxe-me a lembrança um antológico verso de Chico Buarque, que é o “basta!” mais poético da língua brasileira: “Por qualquer desatenção, faça não, pode ser a gota d’água…”.
Os sucessivos descuidos das autoridades federais representam para mim e para muitos amigos e conhecidos que fundaram o PT na época em que eu e meus camaradas fundávamos o PDT, a gota d’água. É inadmissível que a única desculpa para os malfeitos seja a distração.
Ocorreu com a cueca cheia de dólares, com o Dossiê Vedoin, com a compra da tapioca pelo ministro Orlando Silva, dos Esportes, e nas compras em free-shops da ex-ministra Matilde Ribeiro, da Igualdade Racial. Pelos exemplos, o PT-governo parece uma recreação de distraídos.
Por isso não surpreende que a desculpa apresentada na CPMI dos Cartões Corporativos pelo vazador do Dossiê FHC, José Aparecido Nunes Pires, de que anexou num e-mail uma planilha eletrônica confeccionada na Casa Civil da Presidência da República “por engano”, e talvez por erro a correspondência tenha sido destinada ao assessor do senador oposicionista Álvaro Dias.
Esse tal Aparecido é tão distraído como os ministros que confundem cartão corporativo com o próprio cartão bancário. Mas não desconhece as fantásticas funções do o seu computador de modelo avançadíssimo, que se auto-programa, insere independentemente a senha pessoal e intransferível do usuário e trabalha com programas complexos, tipo Corel Drawn ou Excel.
É possível que por causa do seu computador José Aparecido tenha ocupado uma das funções mais importantes do PT-governo desde a posse de Lula da Silva, secretário de Controle Interno da Casa Civil. Veio indicado pelo ex-ministro e deputado federal cassado Zé Dirceu, e mantido pela ministra Dilma Rousseff desde que lá chegou.
Dilma – numa das inúmeras versões que apresentou e desapresentou para o Dossiê FHC e seus desdobramentos políticos e policiais – disse que vazar documentos sigilosos da Presidência da República era um crime. Mas descuidada, como é de praxe entre lulistas-petistas, não puniu o funcionário delinqüente. Foi ele, Aparecido, que pediu exoneração por iniciativa particular, como anteriormente haviam feito Waldomiro Diniz e a ministra Matilde.
Na CPMI dos Cartões Corporativos, o ex-secretário evitou apontar os autores do dossiê, fato que passou despercebido pelos desatentos membros. Ali, ele só falou de dois auxiliares seus, André e Marcelo Veloso, como participantes da feitura do documento. Mas na Polícia Federal falou de uma “força-tarefa” criada para levantar os dados.
Na PF, Aparecido disse que foram dez componentes da “força-tarefa”: Além dos seus auxiliares, cinco são subordinados à Secretaria de Administração, chefiada por Norberto Temóteo que recrutou o grupo e coordenou o trabalho.
Os demais integrantes são Francisco Soares de Souza, Adélio Pereira Gomes, Eli Pinheiro da Silva, Paula Alcântara Pereira, Angela Maria Mascarenhas Melis, Elmo José de Albuquerque, André Marcelo Gusmão Tavares de Oliveira, Joaquim Araújo Junior e José Roberto de Assis Possa.
Este último, José Roberto, é curiosamente o vice-campeão em gastos com os cartões corporativos acumulados entre 2003 e 2007. O cartão dele, nesse período, gerou despesa de R$ 1,4 milhão.
Pela omissão dessas informações, a CPMI nadou, nadou e morreu na praia o que já era esperado pelos que sabiam do acordo feito por debaixo do pano entre tucanos e lulistas-petistas. Assim, os comprometidos com a quebra do sigilo da Presidência na era FHC ficarão impunes.
Além da impunidade receberão afagos de Lula da Silva, como os outros companheiros “mensaleiros” e “aloprados” e outros condenáveis fora do círculo pelego, como Jáder Barbalho e Severino Cavalcanti que recolheram elogios presidenciais em público. Essa “distração” de Lula o favorece. Ajuda-o a não saber de nada o que se passa à sua volta.
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