Artigo saído n’ O Jornal de Natal
O Enem e a bandidagem generalizada
MIRANDA SÁ, jornalista (mirandasa@uol.com.br)
Uma insistente pergunta adejou pelo twitter: A quem interessa os danos causados ao Enem pelo roubo das provas e o consequente adiamento das provas, com sérios prejuízos morais e materiais para esta importante iniciativa educacional?
O Enem, prejudicado pela bandidagem generalizada que aflige os brasileiros, é uma das medidas governamentais que merece aplausos. Sua dimensão traça o caminho de uma socialização evolutiva no ensino e comporta a visão de futuro que necessitamos na educação.
Embora o malefício causado não tenha volta, faz-se necessário refletir e analisar a situação que está em todas as cabeças pensantes do país. Uma das questões em pauta é de que a idéia central do Enem é centrar bases múlti e interdisciplinares, fugindo aos esquemas tradicionais do conhecimento limitado às apostilas e aos livros.
Levando o aluno a raciocinar – fugindo da simples memorização – a nova visão do índice de aproveitamento mudaria muita coisa nas escolas de nível médio, demandando dos professores e administradores de ensino uma obrigatória reciclagem nos currículos e na própria ocupação das salas de aula.
Esta ilação não interfere nem procura induzir nada nas investigações que procuram os responsáveis (ou irresponsáveis) pelo vazamento das provas. O que tinha de ser feito o Ministério da Educação fez, o cancelamento da data prevista para as provas, e o resto fica por conta dos indicados para elaborar o novo exame.
Quanto às investigações, a cargo da Polícia Federal, irão se desenvolver certamente a partir da denúncia de vazamento dos quesitos feita pelos repórteres Renata Cafardo e Sérgio Pompeu ao ministro Fernando Hadad, que estudou a condição real do problema com o presidente do Inep, Reynaldo Fernandes,
No momento em que as autoridades ministeriais reconheceram a veracidade da comunicação feita pelos jornalistas, foram tomadas as medidas corretas, a suspensão das provas e o pedido de intervenção da PF.
É triste ver-se que uma iniciativa valorosa como o Enem chegue às páginas policiais dos jornais e não nos suplementos de cultura; mas nos desperta para o fato de que deve haver alguém (ou “alguéns”) interessado(s) em acusar o Ministério de incompetência para desgastar Hadad.
Isto, porém – que é comum no campo da política profissional – não atinge apenas a figura do Ministro, nem sequer arranha o Governo Federal. Parece-me que o objetivo do defraudador ou defraudadores vai mais adiante – atingindo na realidade o novo modo de aferir o aproveitamento do alunato nas universidades públicas.
Não foi uma transação de camelô, para ganhar dinheiro vendendo gabaritos. Teve uma articulação cuidadosa para a adulteração chegar a um órgão de imprensa conceituado, o que inevitavelmente levaria a uma grande repercussão na mídia.
É por aí, na minha modesta opinião – que devem ser feitas às investigações. Se nos contos policiais o investigador volta-se primeiro para o mordomo, neste caso a procura deverá ser dirigida a quem poderia interessar este contrabando político-ideológico.
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